EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

domingo, 29 de maio de 2011

A DERROCADA DAS ESCOLAS PÚBLICAS

Colégios outrora símbolos da educação gaúcha e alvos de grande concorrência entre os estudantes, como o Julinho e o Instituto de Educação, amargam a perda de mais de 40% de seus alunos ao longo dos últimos 10 anos. Antigos símbolos do ensino público gaúcho hoje lutam contra a debandada de alunos. JOÃO FELIPE BRUM E MARCELO GONZATTO, zero hora 29/05/2011

Dois dos colégios estaduais de maior tradição da Capital, o Julio de Castilhos e o Centro Estadual de Formação de Professores General Flores da Cunha – mais conhecido como Instituto de Educação – perderam mais de 40% dos estudantes ao longo dos anos 2000.

O encolhimento das matrículas, que reflete fenômenos como a fuga de famílias para o sistema particular e a perda do velho prestígio, repete-se em instituições de outras cidades do Estado.

Famílias como a do engenheiro mecânico Alexandre Pegoraro ajudam a entender o destino das escolas que auxiliaram a construir a história do Estado. Quando ingressou no chamado Julinho, no começo dos anos 80, a escola já não estava no ápice. Ainda assim, fervilhava de alunos a ponto de exigir a realização de um exame de admissão para selecionar candidatos.

– Fiz todo o antigo 2º Grau no Julinho e passei para Engenharia Mecânica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – recorda Pegoraro.

Apesar da história pessoal de sucesso, o empresário de 44 anos evitou que suas filhas estudassem no mesmo local. Mariana, 13 anos, e Eduarda, seis, foram matriculadas no colégio particular Rosário.

– Quando se procura um colégio privado, observa-se uma linha pedagógica e disciplinar bem definida. Na rede pública, não se vê mais isso – complementa Pegoraro.

Na virada dos anos 60 para os 70, a instituição chegou a abrigar 9 mil alunos, conforme registra o livro Julinho: 100 Anos de História. Por lá, passaram nomes como Moacyr Scliar, Leonel Brizola e Paixão Côrtes – que fez do estabelecimento berço do movimento tradicionalista gaúcho. No Flores da Cunha, a situação não era diferente. A instituição teve como professora de teatro ninguém menos do que Olga Reverbel. O rigor pedagógico formava as professoras mais conceituadas de todo o Estado.

A era de ouro perdeu o brilho. Apenas na década passada, o Julinho viu esvair-se quase a metade do alunado. As 3.916 matrículas registradas em 2002 caíram para 2.050 em 2010 – uma retração de 47,6%. A Secretaria Estadual da Educação (SEC) não dispõe de dados anteriores a 2002, e os números de 2011 ainda não são oficiais. No Flores da Cunha, a derrocada é semelhante ao se levar em conta apenas o Ensino Médio: os 1.504 alunos em 2002 se resumiram a 855 no ano passado, o equivalente a uma retração de 43,1%.

Proximidade de casa pesa mais

Uma das explicações é que, antes, famílias de vários bairros e até de outras cidades faziam questão de matricular seus filhos nessas escolas – o que inchava o número de matrículas.

– Essas instituições deixaram de corresponder a alguns dos anseios da sociedade, na medida em que outros fatores, como a proximidade de casa ou do local de trabalho, passaram a pesar mais em um contexto em que há a oferta de muitas outras escolas públicas – avalia a professora da Faculdade de Educação da PUCRS, Helena Sporleder Côrtes.

Parte do fenômeno pode ainda ser explicada por mudanças mais abrangentes, como a redução populacional de 9% na faixa etária entre 15 e 19 anos e a consequente diminuição geral de matrículas no Ensino Médio – 11%.

O retrocesso verificado nas instituições que ajudaram a moldar décadas de educação no Estado, porém, chega a ser quase cinco vezes superior a essas médias.


Interior também registra diminuição nas matrículas

O encolhimento de escolas consideradas outrora centros de excelência da educação gaúcha não é exclusivo da Capital. Outros colégios de renome em grandes cidades do Interior também vem despertando menor interesse entre possíveis candidatos.

O Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendoza, de Caxias do Sul, por exemplo, registrou uma retração nas matrículas de quase um terço apenas nos últimos cinco anos. Na mesma cidade, o Santa Catarina perdeu 20% dos alunos em igual período.

Para o especialista em economia da educação Gustavo Ioschpe, reduções como essas são observadas em várias regiões do Brasil. Ele avalia que nem todos os jovens planejam fazer Ensino Superior atualmente.

– O currículo no país é muito acadêmico, com o objetivo de formar pessoas para a universidade. Mas muitos não pensam em ir para a faculdade e querem uma educação básica de qualidade para entrar no mercado de trabalho – afirma.

A professora da Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Elizabeth Krahe avalia, ainda, que muitos estudantes não se sentem estimulados a cursar os três anos do Ensino Médio e optam pela facilidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA), o antigo supletivo, ou dão preferência a cursos técnicos.

– Em qualquer país europeu, vemos que existe uma faixa de pessoas com formação técnica de excelente qualidade e um bom padrão de vida. O bacharelismo é coisa brasileira – afirma Elizabeth.

2 comentários:

  1. Vamos prestar a atenção na moda do jornalismo atual: Não há derrocada alguma nas escolas públicas! Quem lê a manchete pensa que há é o fim, o fechamento, a falência total das escolas públicas!

    O que há é redução de matrículas em razão diminuição da população, e em razão da preferência por escolas próximas a casa ou o trabalho. E ainda há um fator citado nas entre linhas: a busca pela formação técnica.

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  2. As manchetes são mesmo só o que o povão lê; assim se pode fazer grandes manobras de massa e ainda poder se defender, pois a reportagem é bem diferente...

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