EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

sábado, 21 de maio de 2011

AULA DE INDIGNAÇÃO

EDITORIAL ZERO HORA, 21/05/2011


Uma jovem professora potiguar transformou-se de um dia para o outro em símbolo da indignação dos docentes da rede pública no país, por conta de um pronunciamento contundente feito no dia 10 último, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte. Convidada para falar sobre a greve dos professores estaduais durante uma audiência do parlamento e na presença da secretária de Educação daquele Estado, a professora Amanda Gurgel de Freitas exibiu o seu contracheque de R$ 930 e afirmou que é impossível sobreviver com tão pouco. Disse, alto e bom som, que os educadores são submetidos a jornadas de trabalho extenuantes, não têm tempo nem recursos para se qualificar e ainda são responsabilizados pelos problemas da educação.

Seu grito de indignação ganhou amplitude na internet e nas redes sociais, ultrapassou as 500 mil visualizações no YouTube, entrou na lista dos trending topics do Twitter e escancarou uma mazela do ensino nacional: a desvalorização histórica e sistemática dos mestres, que inclusive afasta novos pretendentes à profissão.

Nada do que a professora Amanda disse é novidade – e isso talvez seja o elemento mais perturbador de seu pronunciamento. Ela apenas teve a coragem e a lucidez de expor com clareza, diante das autoridades de seu Estado, o drama vivido diariamente por profissionais que enfrentam dificuldades para exercer o seu ofício, são mal remunerados e acabam sendo responsabilizados pela precariedade do ensino público no país.

Infelizmente, por conta do descaso continuado dos governantes, o sistema de educação pública em nosso país entrou num círculo vicioso difícil de ser rompido. Estados e municípios pagam salários insuficientes, professores malpagos trabalham desmotivados, não conseguem se qualificar, utilizam subterfúgios para compensar o desapreço, tornam-se reféns de sindicatos e de interesses políticos e acabam aparecendo como vilões de um processo em que, inquestionavelmente, as vítimas maiores são os estudantes. Um ministro da Educação dos anos 90 resumiu ironicamente esta situação com uma frase que ficou célebre na época: “O aluno finge que estuda, o professor finge que ensina e nós fingimos que pagamos”. Mais de duas décadas depois, o grito indignado da professora potiguar comprova que nada mudou.

Na verdade, houve uma mudança: os indivíduos ganharam novos canais para se manifestar. Ao expor suas queixas e reivindicações para o auditório da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, a professora Amanda jamais imaginou que seu manifesto ganharia uma divulgação planetária e que sua fala com sotaque nordestino se transformaria em poucas horas no libelo de toda uma categoria profissional contra a negligência e a hipocrisia dos governantes.

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