EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A REFORMULAÇÃO DO ENSINO

ZERO HORA 31 de agosto de 2012 | N° 17178

EDITORIAL

Como conciliar, numa mesma época de mutações aceleradas como a atual, escolas do século 19, professores do século 20 e alunos do século 21? Autor do desafio, o professor Mozart Neves Ramos, conselheiro do movimento Todos pela Educação, arriscou uma alternativa, depois de definir dessa forma a realidade do ensino no país, durante o lançamento da campanha A Educação Precisa de Respostas, do Grupo RBS: é preciso trazer tudo isso para o nosso tempo. A tarefa exige, entre outras providências, uma ampla reformulação do Ensino Médio, tornando o currículo mais atraente e mais inovador, sob o ponto de vista do professor e, principalmente, do aluno. A atualização dos conteúdos aos novos tempos é uma necessidade urgente e deveria ocorrer sempre na mesma frequência das transformações do mercado.

O Ministério da Educação, como adiantou no encontro, nesta semana, o ministro Aloizio Mercadante, estuda reduzir o elevado número de disciplinas do Ensino Médio, concentrando-o em quatro grandes áreas. Seria um avanço se as mudanças pretendidas pudessem ser postas em prática com o objetivo de facilitar a vida de quem estuda, sem prejuízos ao conteúdo necessário para a formação de jovens. Uma das grandes dificuldades de quem ingressa hoje no Ensino Médio, na maior parte das vezes com sérias dificuldades de formação herdadas do Ensino Fundamental, é se organizar frente a um número tão elevado de disciplinas, de professores, de cadernos de exercícios e de livros. Devido ao impacto que provocariam, os planos precisam ser acompanhados de perto pelos educadores, como forma de evitar problemas mais à frente.

Um dos aspectos que precisam estar presentes na redefinição de conteúdos é se o Ensino Médio vai continuar insistindo em preparar – e mal – alunos para a universidade, num país em que apenas 30% seguem esse caminho de imediato, ou se haverá mais atenção a quem precisa ingressar logo no mercado de trabalho. Independentemente da decisão de direcioná-lo mais para um lado ou para outro, melhores resultados sob o ponto de vista de um aprendizado de qualidade vão depender de maior atenção também ao Ensino Fundamental, que se constitui num pilar do conhecimento.

Cada geração tem suas características específicas, moldadas por transformações típicas da época nas quais os jovens se preparam para chegar à vida adulta. O currículo do Ensino Médio que serviu para os pais, portanto, nem sempre será o ideal também para os filhos, particularmente num período marcado por transformações profundas e rápidas como o atual. De nada valerão as mudanças, porém, se nem os professores nem as escolas estiverem devidamente preparados para implementá-las. A preocupação central precisa ser a de atrair mais jovens em sala de aula e de oferecer-lhes uma educação de qualidade, em condições de contribuir para melhorar sua vida em todos os níveis, incluindo o pessoal e o profissional.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - O editorial "A reformulação do ensino" acerta ao concluir com  a preocupação central de que a educação precisa oferecer ensino de qualidade para "contribuir para melhorar a sua vida em todos os níveis, incluindo o pessoal e o profissional" do aluno. Entretanto, é necessário oferecer melhores condições, dignidade, aperfeiçoamento, capacidade e motivação aos professsores para alavancar esta "qualidade"  integrando os conhecimento científicos, técnicos, artísticos e desportivos, identificando talentos e abrindo oportunidades motivadoras de conquista da autonomia.

QUALIDADE DA EDUCAÇÃO

ZERO HORA 31 de agosto de 2012 | N° 17178. ARTIGOS

MARIA TEREZA LUNARDINI CARDOSO*

Não há dúvida de que o Brasil potencializou-se através do esporte. No futebol, conquistou várias copas mundiais. No automobilismo, subiu ao pódio com o imortal Ayrton Senna. Nas olimpíadas, muitos atletas brasileiros vêm se consagrando vencedores e ostentando medalhas no peito. No vôlei, na natação e em outras modalidades esportivas, o país já venceu os “invencíveis”. Na economia, o Brasil passou de devedor a credor do FMI. O mercado internacional abriu as portas para os produtos brasileiros.

Na educação, o Brasil deu a largada; já venceu a barreira da quantidade – mais de 95% das crianças já estão nas salas de aula. Muitos governantes estão conscientes de que investir em educação infantil é garantir um futuro promissor para muitos pequenos brasileiros; já entenderam que “as flores do futuro estão nas sementes de hoje”. No entanto, o Brasil não conseguiu erguer a bandeira da vitória: os resultados da educação brasileira não são alentadores. Os índices de evasão, de repetência e a qualidade do ensino são incompatíveis com os avanços que o país vem conseguindo nesses últimos anos. Na última edição trienal na prova do programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa), referente a 2009, o Brasil ficou no 54º lugar num ranking de 65 países. Segundo o Inaf (Indicador do Analfabetismo Funcional), os índices de analfabetismo apresentaram declínio nos últimos anos. No entanto, os níveis da avaliação externa sobre as habilidades de leitura e escrita e matemática dos brasileiros entre 15 e 64 anos ainda são preocupantes. Avaliar a situação dessa população-alvo quanto à capacidade de acessar e processar as informações escritas como ferramentas para enfrentar as demandas cotidianas indica que não basta codificar e decodificar palavras ou expressões. Ler e entender diferentes gêneros de textos que circulam socialmente, escrever com clareza e com domínio das noções básicas da língua escrita são hoje condições imprescindíveis para a inserção plena na sociedade letrada. São também requisitos básicos para a promoção pessoal e para conquista de um espaço no mercado de trabalho.

Indiscutivelmente, a educação é o alicerce para o progresso do país; é, portanto, o grande passaporte para o sucesso individual e para a construção do desenvolvimento coletivo de uma nação. É preciso dar a grande largada para o Brasil concorrer em nível de igualdade com as outras nações do mundo e dar a tão sonhada volta olímpica, ostentando a bandeira da vitória na educação.

*Professora, mestre em Educação

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

TJ-RS DETERMINA PAGAMENTO DO PISO AOS PROFESSORES


ZERO HORA 30 de agosto de 2012

PROFESSORES DO RS


Justiça determina pagamento de piso


Os professores estaduais obtiveram uma vitória na Justiça na terça-feira, quando o Tribunal de Justiça do Estado decidiu favoravelmente ao restabelecimento do acordo, feito em maio, entre governo e Ministério Público Estadual. 

A decisão reafirma a obrigação do Estado de pagar um complemento ao vencimento básico dos professores estaduais, de forma que eles recebam o piso nacional.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - E qual é a punição em caso de descumprimento? Aliá, a novela segue, pois, com certeza, o Executivo irá entrar com recursos no STJ.

PACTO PELA ALFABETIZAÇÃO

ZERO HORA 30 de agosto de 2012 | N° 17177

 

EDITORIAL


Longe de ser um diagnóstico assimilável apenas por especialistas, a ideia de que o desenvolvimento brasileiro exige atenção especial à educação tornou-se, com o passar dos anos, voz corrente nas ruas. Nos últimos 30 anos, obedecendo a um movimento que não se deve a este ou àquele governo, mas acompanha o ritmo de modernização de nossa sociedade, houve avanços significativos nesse terreno. Em relação ao analfabetismo, por exemplo, o Censo de 2010 revela uma redução de 29% em relação aos números de 2000. Apesar disso, ainda somos (e o emprego da primeira pessoa do plural nesta sentença é plenamente justificado pela gravidade do problema social) 14 milhões de analfabetos, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A fim de se encontrarem soluções, cumpre, antes de tudo, encarar o problema de frente.

Consciente de que o combate ao analfabetismo passa por uma abordagem totalizante e não parcial ou acessória, o ministro Aloizio Mercadante disse na terça-feira, durante o Painel RBS de lançamento da campanha A Educação Precisa de Respostas, que a prioridade nacional é a alfabetização na idade certa. Ora, sabe-se que o mapa do analfabetismo coincide, em muitos aspectos, com o da pobreza e do baixo acesso a serviços básicos. Lembrou o ministro que, na Região Sul, o índice de crianças que não se alfabetizam até os oito anos é baixo, ficando entre 6% e 7%. No Norte e no Nordeste, onde se localizam os grandes bolsões de miséria e concentração de renda, esses percentuais sobem para até 35%. Ao completar oito anos sem saber ler nem fazer contas elementares, esses contingentes se tornam fortes candidatos a reforçar a legião de deserdados sociais que povoa o lado sombrio da vida brasileira. Se não for concretizada em tenra idade, a alfabetização se torna mais difícil, uma vez que passa a concorrer com a maratona pela sobrevivência. Some-se a isso o fato de que, em regra, os cursos de magistério existentes no país não enfatizam alfabetização de adultos. Abandonados na infância, aqueles que ultrapassam os oito anos de idade sem saber ler e fazer as quatro operações dificilmente encontrarão, mais tarde, um cenário mais favorável para a aprendizagem.

É com o intuito de buscar remédio para esses males que o governo federal planeja lançar em setembro, ainda segundo as palavras do ministro, um pacto nacional pela alfabetização na idade adequada. Uma ajuda de custo será oferecida a 315 mil professores alfabetizadores que terão seu trabalho monitorado pelas autoridades na área da educação. Note-se que um dos calcanhares de aquiles históricos dos programas de alfabetização em nosso país está justamente no fato de que não costumam ser aproveitados professores nas atividades, bastando, na maioria das vezes, ter Ensino Médio completo para ser admitido como responsável por turmas de alunos. Essa iniciativa já recebeu o apoio de todos os secretários estaduais e de mais de 4,5 mil prefeituras. O Ministério da Educação fornecerá gestores e monitores para acompanhar as ações, que serão submetidas a avaliação externa, que terá também a participação das melhores universidades brasileiras. Merece apoio e comprometimento uma iniciativa dessa monta, indissociável da construção de um Brasil socialmente justo e desenvolvido.

O DESAFIO DA ALFABETIZAÇÃO PLENA

ZERO HORA 30 de agosto de 2012 | N° 17177. ARTIGOS

Antonio Matias*


A publicação do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) 2011, pesquisa realizada pelo Instituto Paulo Montenegro/Ibope e pela Ação Educativa, evidencia um triste diagnóstico cujo conhecimento é de fundamental importância para mobilizar a sociedade a desenvolver estratégias que superem esse grave problema: o aumento de escolarização, embora tenha sido essencial nas últimas décadas, não foi suficiente para assegurar a alfabetização plena.

A análise da série histórica do estudo mostra que apenas um em quatro brasileiros atinge nível pleno nas habilidades de leitura, escrita e matemática. Ou seja, é capaz de ler e interpretar textos mais longos, analisa e relaciona suas partes, realiza inferências e sínteses, além de resolver problemas que exigem maior planejamento e controle.

Além disso, apesar de ter ocorrido uma redução do analfabetismo absoluto e da alfabetização rudimentar, só 62% dos que têm curso superior e 35% dos que têm Ensino Médio completo estão no patamar dos plenamente alfabetizados. Em ambos os casos, essa proporção é inferior à observada no início da década. O Inaf também revela que um em cada quatro brasileiros que cursam ou cursaram até o Ensino Fundamental II ainda está classificado no nível rudimentar, sem avanços em todo o período.

Olhar a estagnação dos dados de plena alfabetização entre 2001 e 2011 nos permite vislumbrar a situação de uma geração: são poucas as chances de um jovem que já concluiu o Ensino Médio ter alterado na última década sua proficiência linguística, adquirindo desta forma condições para se desenvolver no mundo profissional, social e desfrutar todas as possibilidades de uma sociedade que exige cada vez mais capacidade de expressão e de absorção de conhecimento.

A constatação de que mais anos de escolaridade não têm representado maior aprendizado nas competências de alfabetização plena aponta a necessidade de repensar formas de ensino para aqueles que frequentam hoje as escolas públicas.

Nesse ponto, institutos e fundações empresariais podem ser parceiros importantes do poder público para contribuir com o desenvolvimento de metodologias inovadoras, aproveitando sua possibilidade de trabalhar com pequenos grupos, sem o compromisso inicial de ganho de escala.

Importante ainda estruturar estratégias de mobilização social em favor do tema e o fortalecimento de ações de advocacy junto ao poder público, com o intuito de contribuir para dar suporte a boas iniciativas políticas, que passam a ser respaldadas pela demanda qualificada da sociedade.

O conhecimento dos dados do Inaf aponta para uma reorientação importante na forma de atuação do investimento social privado na educação. É necessário investir com foco em resultados, com a expectativa de gerar retorno. O retorno social esperado do investimento na área educacional é a boa formação humana das novas gerações. E nosso país somente será plenamente desenvolvido se enfrentar seu mais importante desafio, colocando a educação como a grande prioridade nacional.

*Vice-presidente da Fundação Itaú Social e membro do Conselho de Governança do Todos pela Educação

RESPOSTAS...E AS PERGUNTAS?

ZERO HORA 30 de agosto de 2012 | N° 17177. ARTIGOS

Romério Gaspar Schrammel, professor.

“Orientada desde a sua fundação pela crença de que uma empresa de comunicação deve ter responsabilidade diferenciada para com seu público, a RBS decidiu concentrar suas ações e seus investimentos na educação...” Esta foi, para mim, entre todo o trabalho de lançamento da campanha A Educação Precisa de Respostas, a frase-chave. Ela tocou o meu coração, o coração de um educador. Tenho certeza de que a educação está no DNA de muitos pais, como deveria estar no DNA de todas as empresas brasileiras. A cobrança por melhor qualidade na educação deve começar nas empresas.

Por que a maioria das empresas não se mostra insatisfeita? Talvez por estarmos em sexto lugar na economia mundial, mesmo sem uma boa educação. Empresários mostram-se insatisfeitos com a alta taxa de impostos – não sabem eles que pagam muito pela falta de educação. Os números da educação são preocupantes.

Educação não é coisa de momento. Educação é debate, é reflexão, é a procura por qualificação em todas as áreas, é pesquisa, é investimento. Educação não faz parte do cardápio brasileiro. Todos têm algo a dizer. Todos têm respostas. Respostas sem perguntas. Passamos a vida escolar estudando para encontrar a resposta adequada. Quando adultos, descobrimos que não aprendemos a perguntar. Perguntar, questionar, faz avançar.

Houve avanços na educação. Não há como negar, mas há uma lacuna entre o aluno, digital, como definiu o ministro da educação, Aloizio Mercadante, e o mercado, que necessita de profissionais qualificados. Esta lacuna está nos pais e na escola. Frutos de sua época. Educação é resultado em longo prazo.

Os pais vivem o seu trabalho, distante da vida dos filhos. A maioria dos filhos está anos à frente dos pais. A muitos pais já não é permitido cumprir o seu papel. Para uma mudança, até mais rápida, é preciso encontrar uma medida mais consistente para chamar os pais à responsabilidade. Pais que investem na educação dos filhos são pessoalmente beneficiados, mas investem também nos netos, bisnetos...

Sabemos que, os professores, viemos da classe social menos assistida. Os professores, em sua grande maioria, não vêm de famílias em que a educação era prioridade, aprenderam a valorizá-la, a criar paixão, no caminho para a escola. Para outros muitos, ser professor foi o que lhes restou. Também não estudaram nas melhores escolas. Os resultados da educação são da Educação – os professores também. O Brasil já importou escravos e já exporta mão de obra qualificada. O professor vê em cada aluno um cidadão, uma nação. Uma nação que não vê, não qualifica e não paga o professor. A educação deve fazer parte do cardápio diário, em todas as famílias. Empresas, assim como o Grupo RBS, podem, e muito, ajudar neste trabalho.

POR QUE ESTAMOS NO 88º LUGAR DO RANKING MUNDIAL?


ZERO HORA 30/08/2012

Por que o Brasil está no 88º lugar no ranking mundial da educação?

A gestão ineficiente, o desprestígio do magistério e a má formação dos professores são alguns dos empecilhos ao salto educacional brasileiro


Marcelo Gonzatto



Os problemas da educação brasileira extrapolam os limites da sala de aula. O desempenho pífio revelado em avaliações internacionais se deve a uma combinação de falhas de educadores, governantes e famílias, na opinião de especialistas. Essas deficiências incluem erros de gestão, falta de recursos e pouca cobrança social por resultados que façam jus ao atual peso econômico e político do Brasil.

O desafio de alcançar um ensino de qualidade foi eleito o tema da nova campanha institucional do Grupo RBS, deflagrada na terça-feira sob o slogan A Educação Precisa de Respostas. Para investigar quais são os principais nós que comprometem a aprendizagem no país e descobrir como desatá-los, uma série de reportagens em rádios, tevês e jornais vai responder a questionamentos concretos sobre o atual cenário da educação nacional.

A primeira dessas perguntas é como pode um país que alcançou a sexta posição entre as maiores economias do planeta ostentar um constrangedor 88º lugar em um ranking mundial publicado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no ano passado. As respostas, oferecidas por especialistas nacionais na área, resumem os principais entraves ao avanço educacional brasileiro.

Superados estes obstáculos, o país poderia experimentar nos próximos anos um acréscimo de qualidade significativo nas escolas e vencer um atraso histórico.

— Temos de levar em conta que começamos a nos preocupar com educação com quatro, cinco séculos de atraso em relação a outros países. É impossível recuperar isso do dia para a noite, mas temos de investir melhor para não perdermos mais tempo — observa o economista Claudio de Moura Castro.

Confira, a seguir, alguns dos principais empecilhos ao salto educacional brasileiro.

GESTÃO INEFICIENTE

Especialistas em educação sustentam que não basta apenas despejar mais dinheiro no sistema educacional brasileiro. Outra disciplina em que o país encontra dificuldades é como aplicar bem os recursos disponíveis — que este ano devem somar R$ 114 bilhões.

— Há mau gerenciamento, e não é porque as pessoas são incompetentes. As estruturas são viciadas por clientelismo e corporativismo. Há nomeações políticas de diretores, em muitos lugares há dois professores para cada classe, tem muita gente que não trabalha. É uma cultura gerencial difícil de desmontar — avalia o presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira.

DESPRESTÍGIO DO MAGISTÉRIO

Falhas na gestão do ensino explicam, em parte, a dificuldade para desatar outro nó da educação brasileira: a baixa remuneração dos professores — tanto na rede pública quanto na particular. Os baixos salários têm duplo impacto: além de oferecerem pouco estímulo aos profissionais em ação, afugentam da carreira muitos dos melhores alunos.

– A baixa aprendizagem decorre da ausência de professores com qualidade. Tornar o magistério um objeto de desejo dos jovens é fundamental. Nos países com boa educação, ser professor tem bom retorno financeiro e reconhecimento social — avalia Mozart Neves Ramos, conselheiro do movimento Todos pela Educação.

No Painel RBS realizado na terça, o especialista observou que, enquanto um professor ganha, em média, R$ 1,8 mil, outro profissional com titulação equivalente recebe R$ 2,8 mil. Países que estão no topo da educação mundial, como Coreia do Sul e Finlândia, pagam bem seus professores, o que lhes permite atrair mais interessados e selecionar os melhores.

MÁ FORMAÇÃO DOS PROFESSORES

Para especialistas, o modelo de treinamento dos mestres brasileiros é uma das razões principais para o desempenho pífio dos estudantes nas avaliações nacionais e internacionais. A principal crítica é de que os cursos não preparam adequadamente.

— Em primeiro lugar, para se formar um bom professor, você tem de aprender o conteúdo a ser ensinado. Em segundo, você tem de aprender a dar aula. O terceiro é tudo mais, ou seja, cultura, ideologia, identidade do professor, antropologia e sociologia da educação, legislação, tudo o que é periférico. No Brasil, as faculdades só ensinam o “tudo mais”, o periférico. Faltam os temas centrais — diz o economista e especialista em educação Claudio de Moura Castro.

BAIXO INVESTIMENTO NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Um dos problemas que o país precisa resolver para elevar a qualidade do seu ensino é de matemática. O Brasil aplica, em média, um valor muito baixo para cada estudante da educação básica. O gasto público, em 2010, era de apenas R$ 3,5 mil ao longo de um ano. Isso representa todo o investimento estatal feito diretamente em educação dividido pelo número de alunos.

— Ainda investimos menos do que países como Argentina, México ou Chile — compara Mozart Neves Ramos, conselheiro do movimento Todos Pela Educação.

Uma comparação internacional feita com base nas cifras aplicadas em 2008 convertidas para dólar demonstra que, em uma lista de 34 países, o Brasil só aplicou mais dinheiro por aluno de qualquer nível de ensino do que a China. Outro problema é o desequilíbrio entre os níveis educacionais. Enquanto há R$ 17,9 mil disponíveis ao ano para cada universitário, o estudante do Fundamental ao Médio conta com cinco vezes menos.

POUCA INOVAÇÃO NA SALA DE AULA

As dificuldades de formação e remuneração dos profissionais da educação, somadas às restrições de orçamento, resultam em outro problema: a dificuldade para apresentar um sistema de ensino renovado, inovador e capaz de despertar o interesse dos estudantes.

— Temos hoje uma situação em que a escola é do século 19, o professor é do século 20, mas o aluno é do século 21. Precisamos colocar todos no mesmo século. Para isso, é preciso ter um currículo atraente, com inovação e criação de mecanismos que estimulem a pesquisa. O aluno do século 21 não quer coisa pronta, enlatada – analisa Mozart Neves Ramos.

BAIXA PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE

Os problemas da educação brasileira não estão apenas dentro do colégio. Um dos elementos apontados para o mau desempenho internacional é o pouco envolvimento de quem está do lado de fora dos muros escolares no universo da educação. A pouca intimidade foi demonstrada pela pesquisa Educar Para Crescer, realizada pelo Ibope: 72% das famílias brasileiras se dizem “satisfeitas”com a educação nacional, e dão uma média 7 (em uma escala de zero a 10) para as escolas públicas e privadas.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

AS PRIMEIRAS RESPOSTAS

 
ZERO HORA 29 de agosto de 2012 | N° 17176

EDITORIAL

Foi promissora a largada da campanha proposta pelo Grupo RBS para qualificar a educação no país, especialmente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Já no seu lançamento, a iniciativa denominada A Educação Precisa de Respostas alcançou os primeiros resultados positivos: as exposições do ministro Aloizio Mercadante e dos secretários estaduais Jose Clovis de Azevedo e Eduardo Deschamps, as sugestões dos especialistas Mozart Neves Ramos e Cláudia Costin, e a adesão significativa do público que acompanhou a programação multimídia do Painel RBS, no qual os convidados do programa interagiram com representantes de diversas cidades dos dois Estados.

“Quem estuda vai escolher o que fazer na vida. Quem não estuda vai ser escolhido ou não” – advertiu o ministro da Educação ao apresentar as prioridades de sua pasta para resgatar a qualidade do ensino. Ele elege como principal objetivo a alfabetização na idade certa, lembrando que a criança que não aprende a ler e escrever, nem a dominar o básico de matemática, fatalmente ficará pelo caminho. E há Estados brasileiros, lembrou, em que 35% dos estudantes chegam aos oito anos sem aprender a ler. Por isso, o MEC está coordenando um pacto nacional pela alfabetização, que conta com a adesão de todos os secretários estaduais de Educação e de cerca de 4,5 mil prefeitos. O segundo ponto que o ministro considera importante abordar é o choque da passagem da quinta para a sexta série do Ensino Fundamental, quando os alunos saem do professor único para várias disciplinas. Aqui, o MEC trabalha com propostas que permitam uma inserção mais suave no universo multidisciplinar. Também o Ensino Médio, de péssimos resultados no último Ideb, está recebendo total atenção, devendo passar por uma reformulação de currículo que transforme mais de uma dezena de disciplinas em quatro áreas. Ao mesmo tempo, o governo preocupa-se com a formação e a capacitação de professores.

Pois foi exatamente a valorização do professor, o investimento em quem ensina, o primeiro tema destacado pelo conselheiro do movimento Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos, que apontou quatro aspectos essenciais para a qualificação dos docentes: “Salário atraente, plano de carreira pautado na formação continuada e no compromisso com a aprendizagem, formação inicial sólida e insumos para o bom desempenho em sala de aula”. A secretária de Educação do Rio de Janeiro, Cláudia Costin, defendeu a criação de um currículo nacional e relatou a experiência do seu Estado com escolas de turno integral.

Assim, com um debate em torno de ideias pragmáticas, construtivas, voltadas para o bem comum, deu-se a partida de uma campanha que não é só do Grupo RBS, mas também e principalmente das comunidades gaúcha e catarinense. Todos podem – e devem – contribuir para que os jovens, como disse o ministro, possam escolher o que fazer na vida.

APENAS O PRIMEIRO PASSO

ZERO HORA 29 de agosto de 2012 | N° 17176

PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA



De tudo o que se ouviu do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, no lançamento da bandeira institucional A Educação Precisa de Respostas, ficou a certeza de que o governo federal tem um diagnóstico preciso dos problemas e um conjunto de programas para resolvê-los. O problema é a distância entre a teoria e a prática.

Se tudo o que o ministro mencionou funcionasse a contento, a educação brasileira teria evoluído mais nos últimos anos. Lamentavelmente, os resultados ainda estão aquém do esperado pela sociedade.

Leonel Brizola e Darcy Ribeiro teriam aprovado a constatação de Mercadante de que o Brasil precisa caminhar na direção do turno integral ou, no mínimo, aumentar o número de horas que as crianças passam na escola. Diagnóstico inquestionável, mas como chegar lá? O ministro também reconhece que um dos problemas é a deficiência na formação de professores, algo que não se resolve no curto prazo.

A secretária municipal da Educação do Rio, Claudia Costin, trouxe para a pauta temas que inflamam o debate no Rio Grande do Sul: a meritocracia, a fixação de metas de melhoria continuada e de um núcleo comum do currículo, com conteúdo mínimo para todo o país.

Todos os participantes do Painel RBS foram unânimes em apontar a participação da família na vida escolar como fator que contribui para bons resultados na educação. A pergunta que vem depois dessa constatação é: como atrair os pais e integrá-los à escola?

PROJETO DE TODOS

ZERO HORA 29/08/2012

PAINEL RBS | Ângela Ravazzolo


No dia 15 de agosto, 99 alunos do interior gaúcho celebraram uma vitória: alcançaram a nota 8,2 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A receita do sucesso começara 12 anos antes, quando os 1.596 habitantes de Vista Alegre do Prata decidiram transformar a Escola Municipal Giuseppe Tonus em um modelo de qualidade. Além de um significativo investimento financeiro, uma outra característica marca a rotina da instituição: as decisões são divididas com a comunidade escolar. Resumindo: um trabalho bem-feito, em conjunto.

O Brasil também tem avançado na área educacional nos últimos anos, mas há um desafio importante que ainda não se concretizou completamente: transformar a educação em uma prioridade nacional, um valor absoluto e determinante. A prática da qualidade precisa extrapolar as teses, os discursos, as estatísticas e invadir imediatamente as salas de aula e contaminar a sociedade.

Não há uma única receita. A mudança pode começar entre os alunos, com a invenção de uma emissora de rádio que transforma o colégio. Ou com um professor ousado que consegue transformar Dom Casmurro em leitura preferida entre adolescentes de periferia. Ou ainda com uma diretora que convoca todos os pais para participarem do cotidiano escolar. E essa grande mudança também depende da família, dos gestores, dos pesquisadores. O projeto precisa ser de todos.

Participe: www.precisamosderespostas.com.br

O ESTUDO DA 1ª PERGUNTA

ZERO HORA 29/08/2012

PAINEL RBS

O estudo da 1ª pergunta

O contraste entre o papel de protagonista do país no campo econômico e o desempenho em termos de educação é explorado pela primeira pergunta da campanha A Educação Precisa de Respostas: “Por que, mesmo sendo a sexta economia do mundo, o Brasil ainda está no 88º lugar no ranking mundial da educação?”

O estudo selecionado pelo Grupo RBS é um dos mais respeitados da área: trata-se do Education For All Development Index, desenvolvido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Esse indicador foi elaborado para avaliar o desempenho dos países em relação a um conjunto de metas que devem ser atingidas até 2015.

Para compor o índice, foram selecionados quatro fatores: universalização do acesso, alfabetização de adultos, igualdade entre os gêneros e qualidade da educação. Segundo Denise Souza Costa, consultora da Unesco e presidente da Comissão Especial de Defesa e Promoção do Direito Fundamental à Educação da seção gaúcha da Ordem dos Advogados do Brasil, o relatório serve de parâmetro para avaliar o desempenho do ensino ao combinar indicadores como a alfabetização da população adulta e percentual de alunos que conseguem chegar ao 5º ano.

A repercussão da campanha


Já entre a plateia que acompanhou o lançamento da campanha A Educação Precisa de Respostas, no estúdio da RBS TV, ontem, surgiram as primeiras manifestações, otimistas, sobre os efeitos que a mobilização da sociedade gaúcha e catarinense pode gerar para qualificar a educação. Confira abaixo alguns dos comentários sobre o projeto:


A SITUAÇÃO DO PROFESSOR

ZERO HORA 29 de agosto de 2012 | N° 17176

PAINEL RBS



Na avaliação dos especialistas, a volta por cima da educação precisa ter como base uma melhor formação e a valorização dos professores.

– A base de toda a aprendizagem começa por um bom professor. O Brasil tem um enorme dever de casa. A gente precisa responder a uma pergunta: por que a carreira do magistério não é atrativa no Brasil? – questionou Mozart Neves Ramos.

O próprio especialista ofereceu uma hipótese: enquanto um professor ganha, em média, R$ 1,8 mil, outro profissional com titulação equivalente recebe R$ 2,8 mil. Países que estão no topo da educação mundial, como Coreia do Sul e Finlândia, pagam bem seus professores, o que lhes permite atrair mais interessados e selecionar os melhores. Outros desafios a serem superados, segundo Ramos, é a criação de planos de carreira baseados em formação continuada e desempenho, uma formação inicial sólida e condições adequadas de trabalho.

– Nada substitui o brilho nos olhos de um bom professor – resume.

Para Claudia Costin, é preciso superar o ranço de que professores não podem ser avaliados externamente:

– Por que não se pode reconhecer o professor? Mais importante do que premiar o professor é premiar toda a equipe escolar. A educação é um processo coletivo.

Mercadante lembrou que há 170 mil educadores no país sem formação adequada para lecionar no Ensino Médio. Sustentou que o governo oferece bolsas de estudo para aprimorar a formação prática do magistério, e promovendo a formação por meio da Universidade Aberta do Brasil.

REFORMULAÇÃO DO ENSINO MÉDIO

ZERO HORA 29 de agosto de 2012 | N° 17176

PAINEL RBS


A situação do Ensino Médio hoje no país, com excessivas 13 disciplinas básicas, 19 optativas e um currículo antigo e pouco atrativo para os jovens, foi considerada pelos especialistas e autoridades uma das grandes deficiências da Educação Básica. O ministro Aloizio Mercadante sustenta que esse currículo deve ser redesenhado, com o agrupamento das disciplinas em quatro áreas principais: matemática, português e redação, ciências da natureza e ciências humanas.

– Os alunos têm dificuldade de organizar esse volume de informações e ter um bom desempenho, principalmente com as deficiências anteriores. Estamos buscando uma integração dessas disciplinas em quatro áreas, que são as áreas do Enem – observa o ministro.

O secretário catarinense, Eduardo Deschamps, porém, demonstrou preocupação com a vinculação entre o nível Médio e o Enem:

– Com a definição do Enem como um indicador de qualidade, me preocupa que a gente foque demais a formação do Ensino Médio na preparação para a universidade, sabendo que apenas 30% vão para a universidade imediatamente. Um dos pontos é: de que maneira diversificar o Ensino Médio, preparando o aluno para a universidade e, ao mesmo tempo, para o mercado de trabalho? A reformulação curricular passa por isso.

O secretário gaúcho, Jose Clovis Azevedo, lembrou que o Estado iniciou no ano passado uma discussão sobre a reformulação do Ensino Médio, que começou a ser colocada em prática este ano:

– Estamos implantando uma reforma que dialoga com questões como a interdisciplinaridade, do ensino por áreas do conhecimento, com 200 horas a mais por ano e estímulo aos alunos para fazerem pesquisa.

NÓS DO ENSINO FUNDAMENTAL

ZERO HORA 29/08/2012

PAINEL RBS


O ensino brasileiro enfrenta dois gargalos principais na Educação Básica. Um deles se encontra no começo do Ensino Fundamental, quando as crianças devem ser alfabetizadas. O segundo está no meio do caminho, no momento em que o currículo se diversifica e o número de professores é multiplicado.

– Nossa prioridade é a alfabetização na idade certa, porque, na Região Sul, 6%, 7% das crianças não se alfabetizam até os oito anos. Mas temos Estados no Brasil em que 35% das crianças não aprendem a ler e a escrever até os oito anos. Se não aprendeu, toda a vida escolar está comprometida – afirmou o ministro Aloizio Mercadante.

Em setembro, o governo federal promete lançar um pacto nacional pela alfabetização na idade certa, em que uma ajuda de custo será oferecida para 315 mil professores alfabetizadores, cujo trabalho será monitorado.

– O material está sendo elaborado e vai ser coordenado pelas melhores universidades do Brasil. Vamos ter gestores e monitores para acompanhar todo esse processo, e vamos fazer uma avaliação externa, para fins pedagógicos, para verificar se aos sete anos e aos oito anos de fato estão aprendendo a ler – promete Mercadante.

Mesmo após a superação desse obstáculo inicial, os estudantes deparam com outra provação ao longo do Ensino Fundamental: quando chegam ao 6º ano e passam a ter várias disciplinas e diversos professores, em vez de um só. Nesse período, aumenta a reprovação de maneira geral no país. O governo também pretende estimular uma transição mais suave para os anos finais do Fundamental, reformulando currículo e oferecendo melhor formação aos educadores.

EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL

ZERO HORA 29/08/2012

PAINEL RBS

Aumentar a presença diária dos estudantes na escola foi uma das principais estratégias apontadas por algumas das autoridades presentes ao Painel RBS para melhorar os indicadores da educação brasileira. O ministro Aloizio Mercadante se mostrou um dos maiores entusiastas da proposta.

– Todos os países desenvolvidos que têm escola de excelência têm escola de tempo integral. O Brasil precisa caminhar nessa direção. É um processo, mas estamos avançando – avaliou o ministro da Educação.

Mercadante ressaltou que pouco mais de 30 mil escolas em todo o Brasil aderiram neste ano ao programa federal Mais Educação, que prevê a ampliação da jornada escolar de quatro para sete horas diárias. Nessas três horas excedentes, o colégio pode oferecer reforço de disciplinas como matemática ou português, atividades envolvendo teatro ou música, responsabilidade ambiental, de conhecimento das leis de trânsito ou cultura regional, por exemplo, somando 10 campos de conhecimento que cada estabelecimento pode escolher.

– Eu vi uma jovem, outro dia, que tinha abandonado a escola, voltou no Mais Educação, entrou no judô e virou campeã brasileira – comentou o ministro.

Claudia Costin citou o exemplo carioca e também destacou a importância de oferecer mais tempo de estudo nos colégios públicos a fim de turbinar o desempenho do alunado:

– Temos investido nisso, porque os 15 primeiros no Pisa (ranking que compara desempenho de alunos em diferentes países) têm sete horas de aula. Precisamos colocar o professor para trabalhar em uma única escola, sem perder tempo para deslocamentos e criando vínculos afetivos com alunos daquela escola.

PAINEL RBS

 
29 de agosto de 2012 | N° 17176

PAINEL RBS

Grandes temas de um grande desafio

Painel RBS, ontem, debateu as principais questões do ensino brasileiro, marcando o início da campanha A Educação Precisa de Respostas

Um debate realizado ontem, em Porto Alegre, deu início a uma busca conjunta por soluções para problemas crônicos do ensino brasileiro. O evento deflagrou a nova campanha institucional do Grupo RBS, que enfoca a necessidade de melhorar a aprendizagem no país sob o slogan A Educação Precisa de Respostas. As primeiras delas começaram a ser discutidas no encontro de duas horas que contou com a participação do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, de outras autoridades e de especialistas.

O Painel RBS, transmitido ao vivo por TV, rádio e internet, teve a participação de jornalistas e de representantes da sociedade civil que fizeram perguntas ao ministro, aos secretários estaduais do Rio Grande do Sul, Jose Clovis Azevedo, e de Santa Catarina, Eduardo Deschamps, à secretária municipal do Rio de Janeiro, Claudia Costin, e ao conselheiro do movimento Todos pela Educação Mozart Neves Ramos.

Ao longo dos quatro blocos do programa, que contou com a presença na plateia do governador gaúcho, Tarso Genro, foram destacados alguns dos principais entraves ao avanço da qualidade do ensino no país e possíveis caminhos para apressar a elevação dos indicadores de qualidade. As discussões, a partir de agora, serão ampliadas e aprofundadas em todos os veículos de comunicação da RBS a fim de mobilizar as sociedades gaúcha e catarinense e intensificar a procura de soluções para as mazelas do ensino nacional.

As reportagens terão como eixo seis perguntas sobre o tema, incluindo as razões para o mau desempenho em avaliações internacionais, a distorção entre idade e série e o desinteresse dos jovens pela profissão de professor.

– A educação, quando se pensa no futuro, é um tema central do interesse coletivo da nossa sociedade. A RBS definiu que, a partir desta iniciativa, vai focar prioritariamente as suas ações institucionais no tema da educação. Começamos com esta bandeira, buscando respostas, com o firme propósito de criar uma mobilização das sociedades gaúcha e catarinense – sustentou o presidente do Conselho de Administração do Grupo RBS, Nelson Sirotsky.

Diante dos questionamentos dos convidados, que apresentaram suas dúvidas ao vivo de diversas cidades do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, os participantes do painel se debruçaram sobre alguns dos principais temas da educação brasileira, como o baixo aproveitamento escolar, a necessidade de valorizar e qualificar os professores, o desafio de melhorar o processo de alfabetização e como tornar o Ensino Médio mais atrativo. O desempenho preocupante demonstrado pelo Rio Grande do Sul no mais recente Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) também foi debatido. No Ensino Médio, a média caiu de 3,9 para 3,7, abaixo da meta de 4.

– O que joga o Ideb gaúcho para baixo é a reprovação. Ela é uma derrota da escola, mas a aprovação automática não é a solução. Temos de ter um projeto de recuperação desses alunos – avaliou Mercadante.
ZERO HORA 29 de agosto de 2012 | N° 17176

Grandes temas de um grande desafio

Painel RBS, ontem, debateu as principais questões do ensino brasileiro, marcando o início da campanha A Educação Precisa de RespostasUm debate realizado ontem, em Porto Alegre, deu início a uma busca conjunta por soluções para problemas crônicos do ensino brasileiro. O evento deflagrou a nova campanha institucional do Grupo RBS, que enfoca a necessidade de melhorar a aprendizagem no país sob o slogan A Educação Precisa de Respostas. As primeiras delas começaram a ser discutidas no encontro de duas horas que contou com a participação do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, de outras autoridades e de especialistas.

O Painel RBS, transmitido ao vivo por TV, rádio e internet, teve a participação de jornalistas e de representantes da sociedade civil que fizeram perguntas ao ministro, aos secretários estaduais do Rio Grande do Sul, Jose Clovis Azevedo, e de Santa Catarina, Eduardo Deschamps, à secretária municipal do Rio de Janeiro, Claudia Costin, e ao conselheiro do movimento Todos pela Educação Mozart Neves Ramos.

Ao longo dos quatro blocos do programa, que contou com a presença na plateia do governador gaúcho, Tarso Genro, foram destacados alguns dos principais entraves ao avanço da qualidade do ensino no país e possíveis caminhos para apressar a elevação dos indicadores de qualidade. As discussões, a partir de agora, serão ampliadas e aprofundadas em todos os veículos de comunicação da RBS a fim de mobilizar as sociedades gaúcha e catarinense e intensificar a procura de soluções para as mazelas do ensino nacional.

As reportagens terão como eixo seis perguntas sobre o tema, incluindo as razões para o mau desempenho em avaliações internacionais, a distorção entre idade e série e o desinteresse dos jovens pela profissão de professor.

– A educação, quando se pensa no futuro, é um tema central do interesse coletivo da nossa sociedade. A RBS definiu que, a partir desta iniciativa, vai focar prioritariamente as suas ações institucionais no tema da educação. Começamos com esta bandeira, buscando respostas, com o firme propósito de criar uma mobilização das sociedades gaúcha e catarinense – sustentou o presidente do Conselho de Administração do Grupo RBS, Nelson Sirotsky.

Diante dos questionamentos dos convidados, que apresentaram suas dúvidas ao vivo de diversas cidades do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, os participantes do painel se debruçaram sobre alguns dos principais temas da educação brasileira, como o baixo aproveitamento escolar, a necessidade de valorizar e qualificar os professores, o desafio de melhorar o processo de alfabetização e como tornar o Ensino Médio mais atrativo. O desempenho preocupante demonstrado pelo Rio Grande do Sul no mais recente Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) também foi debatido. No Ensino Médio, a média caiu de 3,9 para 3,7, abaixo da meta de 4.

– O que joga o Ideb gaúcho para baixo é a reprovação. Ela é uma derrota da escola, mas a aprovação automática não é a solução. Temos de ter um projeto de recuperação desses alunos – avaliou Mercadante.


Aloizio Mercadante, ministro da Educação ‘‘ A escola é uma instituição secular, mas os professores são do século 20, são analógicos; os alunos são do século 21, são digitais. Os alunos são nativos digitais, os professores são imigrantes digitais. A tecnologia da informação vai ser vital em todos os setores da sociedade, e a escola tem de estar à frente de seu tempo."

A EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

 

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Humberto Martins Tischler
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Antigamente se ensinava e cobrava tabuada, caligrafia, redação, datilografia...
Havia aulas de Educação Física, Moral e Cívica, Práticas Agrícolas, Práticas Industriais e cantava-se o Hino Nacional, hasteando a Bandeira Nacional antes de iniciar as aulas...

Leiam o relato de uma Professora de Matemática:

Semana passada, comprei um produto que custou R$ 15,80. Dei à balconista R$ 20,00 e peguei na minha bolsa 80 centavos, para evitar receber ainda mais moedas. A balconista pegou o dinheiro e ficou olhando para a máquina registradora, aparentemente sem saber o que fazer.

Tentei explicar que ela tinha que me dar 5,00 reais de troco, mas ela não se convenceu e chamou o gerente para ajudá-la. Ficou com lágrimas nos olhos enquanto o gerente tentava explicar e ela aparentemente continuava sem entender.

Por que estou contando isso?
Porque me dei conta da evolução do ensino de matemática desde 1950, que foi assim:

1. Ensino de matemática em 1950: Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é igual a 4/5 do preço de venda. Qual é o lucro?

2. Ensino de matemática em 1970: Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é igual a 4/5 do preço de venda ou R$ 80,00. Qual é o lucro?

3. Ensino de matemática em 1980: Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é R$ 80,00. Qual é o lucro?

4. Ensino de matemática em 1990: Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é R$ 80,00. Escolha a resposta certa, que indica o lucro:
( )R$ 20,00 ( )R$ 40,00 ( )R$ 60,00 ( )R$ 80,00 ( )R$ 100,00

5. Ensino de matemática em 2000: Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é R$ 80,00. O lucro é de R$ 20,00.
Está certo? ( )SIM ( ) NÃO

6. Ensino de matemática em 2009: Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é R$ 80,00. Se você souber ler, coloque um X no R$ 20,00.
( )R$ 20,00 ( )R$ 40,00 ( )R$ 60,00 ( )R$ 80,00 ( )R$ 100,00

7. Em 2010 ...:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é R$ 80,00. Se você souber ler, coloque um X no R$ 20,00. (Se você é afro descendente, especial, indígena ou de qualquer outra minoria social, não precisa responder pois é proibido reprová-lo).
( )R$ 20,00 ( )R$ 40,00 ( )R$ 60,00 ( )R$ 80,00 ( )R$ 100,00

E se um moleque resolver pichar a sala de aula e a professora fizer com que ele pinte a sala novamente, os pais ficam enfurecidos pois a professora provocou traumas na criança.

Também jamais levante a voz com um aluno, pois isso representa voltar ao passado repressor (Ou pior: O aprendiz de meliante pode estar armado)

- Essa pergunta foi vencedora em um congresso sobre vida sustentável:

Todo mundo está 'pensando' em deixar um planeta melhor para nossos filhos...

Quando é que se "pensará" em deixar filhos melhores para o nosso planeta?







REFORMA ESTAPAFÚRDIA

FOLHA.COM, 29/08/2012

PAULO GHIRALDELLI JR.



A ideia que o Ministério da Educação (MEC) tem para melhorar a educação brasileira é a extinção do "professor de colégio". Nunca pensei que se chegaria nisso. É fantástico: não havendo mais a figura do professor, tudo se resolve.

A reforma que o MEC propõe para o ensino médio se resume nisto: ficam extintas as disciplinas tradicionais --português, história, física, filosofia etc. Seus conteúdos devem ser diluídos em "áreas", criadas sem respaldo epistemológico, mas apenas como reflexo do mal arrumado Enem.

A proposta foi tema de dois textos nesta seção no último sábado. Com ela, o MEC atual repete o erro da ditadura militar. Pela Lei de Diretrizes e Bases de 1971, foi feito algo parecido, tendo sido necessário voltar atrás sete anos depois, quando foi constatado o fracasso da reforma.

Como não nasci ontem, posso dizer quais as principais consequências da reforma atual proposta.

1) A primeira é gravíssima: desaparecendo a disciplina, desaparece a figura do professor da escola média, ou seja, o tradicional professor de colégio, uma vez que é pelo domínio de um conteúdo específico que ele se caracteriza.

O professor do ensino médio será um generalista igual ao professor do ensino das primeiras séries do ensino fundamental. Ele poderá ser despejados dentro das tais áreas e, conforme o jogo de forças interno a elas, descartado. Professor sem disciplina no âmbito do colégio não é professor.

2) Não havendo mais a profissão de, por exemplo, professor de física, de filosofia ou de história, para que serviriam os cursos de licenciatura na universidade brasileira? Para nada. Isso vai causar desprestígio ainda maior da carreira do magistério e o fechamento das licenciaturas na universidade.

3) Não existindo mais disciplinas na escola média, queiram ou não, haverá um vácuo de três anos na vida do jovem.

As áreas não funcionarão de imediato (se é que algo assim possa funcionar um dia!), como sempre ocorre nesses casos de mudanças esdrúxulas. Haverá, então, o caos na escola: não se saberá que tipo de professor deverá ficar com os alunos e, ao fim e ao cabo, teremos rapidamente na universidade duas ou mais gerações com três anos a menos de ensino.

4) Descaracterizada dessa maneira, a escola média irá se configurar como um "lugar de espera". Será um tipo de playground para adolescentes (!), que deverão ficar lá, "na bagunça" --provavelmente eles próprios perceberão que não se sabe o que fazer com eles. A escola será um lugar para segurar uma juventude que deverá esperar a universidade para voltar a ter professor especialista!

A universidade, por sua vez, terá de arcar com a tarefa de suprir o que se perdeu nesses três anos. Obviamente, não conseguirá dar conta disso. O ensino universitário sofrerá pressão no sentido de baixar seu nível, uma vez que a maioria dos alunos não estará entendendo coisa alguma em sala de aula.

Tecnicamente, no jargão da sociologia da educação, trata-se aí de "expropriação do saber" do professor, uma conhecida antessala para arrocho salarial e contenção de despesa.

PAULO GHIRALDELLI JR., 55, é filósofo, professor da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) e autor de "As Lições de Paulo Freire" (Manole)

ESCOLA TERÁ REFORMA APÓS QUEIXA EM REDE SOCIAL

ZERO HORA 29/08/2012

NATÁLIA CANCIAN

Em menos de um dia, a estudante catarinense Isadora Faber, 13, viu a página que criou no Facebook para mostrar os problemas de sua escola ganhar mais de 100 mil seguidores e precisou faltar à aula para atender a todos os pedidos de entrevistas.

O "Diário de Classe", uma espécie de comunidade virtual, foi criado por Isadora para apontar e buscar soluções para os problemas da escola municipal Maria Tomázia Coelho, onde ela estuda há sete anos.

Além de alterar a rotina da estudante, a repercussão do caso motivou, ontem, uma reunião entre a diretoria da escola, educadores e membros da Secretaria de Educação de Florianópolis.

Segundo a diretora Liziane Diaz Farias, parte dos problemas de infraestrutura mostrados na página -como fios desencapados e janelas quebradas- foi corrigida. O restante, afirma, deve ser solucionado nos próximos dias.

Em nota, a Secretaria de Educação diz que determinou uma reforma na escola. Também afirma que fará campanhas para preservação do patrimônio e estuda substituir um dos professores -segundo a aluna, a turma tem dificuldade de aprender com ele.

A nota diz ainda que a diretora da escola "assume publicamente a fragilidade na administração" da escola.

APOIO

À Folha a diretora negou que tenha pedido para retirar a página do ar. "Em nenhum momento fomos contra. Só tivemos cuidado para que ela e outras pessoas tivessem a imagem preservada."

Liziane afirma que a equipe pedagógica achou a iniciativa positiva. "Nosso objetivo, que é formar uma pessoa crítica, nós conseguimos."

A mãe de Isadora, Mel Faber, conta que a família apoia a menina. Após a repercussão, Isadora diz que tem três planos: voltar hoje mesmo à aula, continuar a fazer o "Diário de Classe" e, no futuro, tornar-se jornalista. 

CIDADANIA NA INTERNET

ZERO HORA 29 de agosto de 2012 | N° 17176

Aluna critica escola e vira febre na web. Adolescente de 13 anos criou página para expor problemas de instituição
ROBERTA KREMER 

Com despretensão, Isadora Faber, 13 anos, começou a postar no Facebook os problemas pedagógicos e de infraestrutura da Escola Municipal Maria Tomázia Coelho, onde estuda, na Praia do Santinho, em Florianópolis (SC). Esperava ganhar a atenção de uns cem colegas, mas até as 22h de ontem havia alcançado 127 mil curtidores.

Com comentários feitos até da França, a página de Isadora virou febre, com posts chamando a garota de revolucionária, saudando a ação e vibrando com a atitude avaliada como corajosa. A fanpage Diário de Classe: a verdade, criada em 11 de julho, passou de espaço de desabafo da adolescente – que pedia para fazer as provas de matemática na biblioteca para fugir do barulho –, a um espaço de debate sobre a educação que ultrapassaram os limites de Florianópolis.

O assunto ganhou as páginas de jornais, revistas e os sites. Ontem, no fim do dia, após atender jornalistas de todo o país, confessou estar satisfeita com a repercussão gerada pelas fotos e pelos vídeos tirados de seu celular cor de rosa e postados no facebook.

– Estudo naquela escola desde a primeira série (Ensino Fundamental). Não aguentava mais ver tudo quebrado e assistir às aulas de matemática que não rendiam. Minha irmã mais velha foi quem deu a ideia de postar os problemas da escola. Ela me disse que tinha uma garota da Europa que fotografava as refeições do colégio e colocava na internet. Como as dificuldades aqui são maiores, resolvi mostrar o péssimo estado da quadra de esportes, os fios desencapados, as fechaduras quebradas e fiz um o vídeo da bagunça em sala de aula – conta a garota magra, tímida e de poucas palavras.

Com a atitude inesperada, já que sempre foi quieta na escola, teve de enfrentar a desaprovação da direção, de professores e até de colegas. Os pais foram chamados a comparecer à instituição. O pedido: tirar a página do ar.

– Não aceitei, disse que não iria fazer minha filha andar para trás. Cheguei em casa e perguntei se ela aguentaria a pressão. Aceitou. Achei melhor deixar exercer a cidadania – lembra a mãe, Mel Faber, produtora de vídeos.

Garota diz ter sofrido represálias na escola

Se Isadora demonstrou coragem, alguns colegas e pais de alunos nem tanto. A menina conta que, na internet, muitos a apoiavam, mas quando chegavam à escola, retraiam-se. A adolescente diz ter sofrido represálias.

– Uma professora deu uma aula inteira sobre internet dizendo o que deveria ou não ser postado no Facebook. Ficou claro que aquilo era para mim. Sei que era para me humilhar. Teve uma outra que me chamou de burra no face – relata.

Secretária de Educação elogia estudante

Depois do “choque”, como a diretora da escola, Liziane Diaz Farias, referiu-se à repercussão que o diário de Isadora Faber alcançou nas redes sociais e nos principais jornais, portais e blogs do país, uma força-tarefa foi organizada na Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis para tratar do assunto. Mais de duas horas depois da reunião, ontem à tarde, uma equipe de oito profissionais da pasta atendeu a imprensa no prédio da órgão.

– Não podemos ficar contra uma aluna que usa tecnologia do século 21 e que a escola oferece nas aulas de informática. Ela (Isadora) foi bastante inteligente, inovadora e está fazendo crítica com meio que a escola viabiliza – disse a secretária de Educação, Sidneya Gaspar de Oliveira.

– Conseguimos formar um ser crítico. É válida a atitude dela. Liberdade de expressão é um direito que se tem – afirmou a diretora da Escola Básica Maria Tomázia Coelho, onde Isadora frequenta a 7ª série.

Liziane negou que tenha havido pressão ou humilhação por parte dos funcionários contra a estudante. A diretora disse ter pedido para a garota retirar o vídeo de uma aula do ar para não expor o professor cujo desempenho está passando por avaliação.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

VÂNDALOS DEIXAM 193 ALUNOS SEM AULA

 
ZERO HORA 28 de agosto de 2012 | N° 17175

PORTO ALEGRE. Vândalos deixam 193 sem aula na Capital

Devem retornar às aulas hoje os 193 alunos da Escola de Educação Infantil Florência Vurlod Socias, no bairro Restinga, em Porto Alegre. Na manhã de ontem, ao chegarem para trabalhar, os funcionários descobriram que a escola da Zona Sul havia sido arrombada. Além de um computador furtado, o colégio do Acesso Um da Rua Tenente Arizoly Fagundes teve os vidros de sete janelas quebrados.

Segundo a Secretaria Municipal de Educação (Smed), os vândalos invadiram a cozinha, a sala da secretaria e direção e uma sala de aula. O computador levado ficava na secretaria. Com vidros quebrados e a sujeira deixada, não foi possível que as crianças tivessem aula ontem. Durante a manhã, a escola ficou fechada também para que fosse realizada a perícia no local.

Segundo a Smed, que falou em nome da direção da escola, 193 crianças ficaram sem aula ontem. O valor do prejuízo causado pelo arrombamento não foi divulgado. O caso será investigado pela 16ª DP.

EDUCAÇÃO FORMAL VERSUS APRENDIZAGEM

ZERO HORA 28 de agosto de 2012 | N° 17175. ARTIGOS

 

Paulo César Pereira Machado*


São muitas as preocupações que assombram o mundo das competências pedagógicas dos “professores orgânicos”, ou seja, comprometidos com os resultados e as consequências de uma educação formal que não pode se dar ao luxo de falhar.

Não obstante depararmos com uma realidade em que, majoritariamente, as novas tecnologias da informação são apontadas como instrumentos essenciais à atratividade e à motivação dos estudantes, o que se constata é que, independentemente da utilização desses recursos, não tem havido (e nem se vislumbra que haja) mudança que possa ser encarada com um sentido qualquer de “progresso”.

De forma alguma é intenção atacar os artefatos tecnológicos que nos dão acesso à realidade virtual e que fazem do mundo – estranha e maravilhosamente – acelerado e “pequeno”. Também não parece apropriado utilizar o termo “virtual” em sentido pejorativo; antes, com o significado de uma performance que permite ao indivíduo estar “em mais de um lugar a um só tempo”, ainda que possa “não estar de fato em lugar algum”. De resto, também parece óbvio que esse é um aspecto da cultura tecnológica que caminha no sentido do enraizamento e da ramificação.

Ocorre que, mesmo utilizando as TIC – Tecnologias da Informação e Comunicação – nas escolas, percebe-se que é muito maior a habilidade de manuseio tecnológico do que a mudança qualitativa de competências consideradas básicas para o sucesso pessoal e coletivo – em um mundo (talvez uma cultura pós-moderna) em que a interação articulada, ponderada, dinâmica, imediata, com precisão, tem sido um referencial àqueles que reúnem competências desejáveis à vida profissional e social.

Longe de considerar a não utilização dessas tecnologias que podem tornar mais colorido, ou menos acinzentado, o espaço pedagógico de aquisição do saber. Não é esse o caso. A questão que se coloca é que, apesar desses recursos, ou por causa deles, as mudanças que esperávamos pudessem indicar melhoria em competências básicas como “falar, ouvir, ler e escrever textos, pensar de maneira criativa, tomar decisões e resolver problemas”, por exemplo, não se realizam no tempo que se considera adequado, mesmo observando conceitos que alargam nossas expectativas, tais como “respeitar o tempo do aluno”, ou “o ato de conhecer é um processo permanente e indefinido”.

Então, o que está errado? É óbvio que “uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa”: investimento em educação é essencial em todos os pontos cuja discussão é interminável, mas, ao mesmo tempo, acaba se mostrando uma das partes do problema. Por outro lado, toda uma vasta pesquisa acadêmica não tem conseguido ou tentado dar solução aos problemas cotidianos da prática pedagógica em sala de aula.

As dificuldades e mazelas do ensino batem todos os dias à nossa porta sob diferentes formas. As soluções não dão solução. Concepções políticas várias insistem em reduzir os significados dos conceitos e fenômenos ao tamanho de suas interpretações. A vida escolar, ou se torna o calvário do professor, ou a mazela do aluno. O quadro só não é aterrador para quem não quer ver, ou vê com olhos de vidro sua própria paisagem vitral.

De resto o tema é polêmico e não raras vezes motivo de cólera. Mas não é aceitável o discurso fácil que transfere responsabilidades. Temos um problema imediato e insuperável sob o ponto de vista segmentado. É preciso um mutirão que envolva todos os recursos humanos, financeiros, acadêmicos e políticos para superar essa estagnação que envolve a educação pública no Brasil. O debate é longo, e as consequências, imprevisíveis. Como diz o clichê, “melhor mesmo é não pagar pra ver!”.

*Professor de História e supervisor educacional

GAROTA DE 13 ANOS USA O FACE PARA RECLAMAR DAS DIFICULDADES DE SUA ESCOLA

ZERO HORA QG DIGITAL - 27/08/2102

Garota de 13 anos mostra no Facebook as dificuldades do ensino público 27 de agosto de 2012

Juliana Sakae



Isadora Faber, 13 anos, tem um celular na mão e uma conta no Facebook. Mesmo com uso proibido durante as aulas, os dois se tornaram instrumento de uma pequena revolução na Escola Básica Maria Tomázia Coelho, no Santinho, em Florianópolis. No começo de julho, a garota criou a página Diário de Classe em que publica fotos e vídeos das dificuldades da escola pública, como a falta de manutenção na escola e de professores titulares.



Na timeline, é possível ver imagens de fiação exposta, vidro, mesa e maçaneta quebrados, lixeira usada com balde para conter goteiras. "Eu e meus colegas estávamos sempre reclamando. Aí um dia minha irmã mais velha me mostrou um blog de uma aluna e resolvi fazer algo parecido", conta Isadora. Não apenas reclamações são postadas, mas também a evolução ou solução do problema. Quando a porta foi consertada e enfeitada, a garota escreveu: "Antes tínhamos colocado uma porta toda quebrada, só que trocaram por essa que está novinha e queremos mostrar pra vocês" (foto ao lado).

A página, que na quinta-feira tinha 4 mil curtidores, tem hoje mais de 20 mil fãs que apoiam a estudante - e o número não para de crescer. Mas o sucesso alcançado se limita ao mundo virtual. Segundo a mãe de Isadora, Mel Faber, professores, colegas e até as merendeiras da escola a discriminaram por considerarem a atitude da garota negativa para a instituição. "Foi bem difícil para ela, mas estou com esperança de que isso vai mudar", diz Mel, se referindo aos acontecimentos do último dia. Jornais do Brasil inteiro ligaram para entrevistar a garota nesta segunda-feira, e junto com a repercussão, uma das professoras pediu desculpas à Isadora. "Quando ela criou, falei que ela teria de enfrentar a vida real, fora do Facebook. No início, um dos colegas disse que ela deveria procurar outra escola. Ela respondeu que queria melhorar a escola, e não fugir da situação", conta.

Para a mãe, a garota sofreu pressões e represálias grandes para uma adolescente de apenas 13 anos. Mas a garota sustenta com a voz doce: "Sempre vai ter gente contra. Mas pelo menos muitas coisas melhoraram".

Segundo a Agência Estado, a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis dará seu posicionamento apenas após uma reunião agendada com a secretária de Educação e a diretora da escola. O objetivo é checar o que procede e o que não procede nas postagens.

COMENTÁRIOS

maurício diz: 27 de agosto de 2012 - parabéns Isa! continue assim! Eu sou acadêmico da 5ª fase de Psicologia e sou deficiente visual, e você merece realmente os parabéns, pela coragem! Eu não te conheço, você não me conhece, mas está de parabéns! Pois são das pequenas atitudes que se surgem as grandes espectativas, as grandes oportunidades e herois como você! Parabéns pela garra e valentia! Mostrastes aos teus colegas, que ao invez de desistir e fugir, você enfrentou de verdade a batalha. Pena que nem todos os jovens da minha e da sua idade são tão valentes para lutar contra as adversidades da vida e do nosso país tão desigual. Qualquer coisa que queira algum tipo de ajuda, nem que seja um amigo, conte comigo para o que for, meu e-mail é mauriciohp17@gmail.com
Mais uma vez parabéns!

Fabrício Kayser diz: 27 de agosto de 2012  - O principal problema da crise da educação brasileira, é sem dúvida alguma, a falta de investimento (dinheiro) em educação. Assistir a fala institucional de nossos governantes e de seus secretários, beira o deboche, pois a educação infelizmente não é prioridade e sem recursos financeiro pouco se pode fazer.

Luis diz: 27 de agosto de 2012 - Tomara que a moda pegue. Vamos expor aquilo que os governantes nos impedem de ver, que a imprensa não consegue mostrar, ou pior, não quer . Aquilo que as assessorias de imprensa tentam abafar. Hospitais, postos de saúde, etc, etc. E o vice do candidato \"oficial\" do Babaluf vendendo a ilusão das mil maravilhas com escolas e crreches. Nada como um choque de realidadse, de verdade. Voces da imprensa, vigiem as pressões que esta família vai sofrer.

Sidney Souza diz: 28 de agosto de 2012 - Isa, você fez o que muita gente não faz, prefere reclamar, reclamar e reclamar acabando com isso fazendo parte do problema, você tá de parabéns, resolveu fazer parte da solução, continue assim.

Carlos Eduardo diz: 28 de agosto de 2012 - Está acontecendo o seguinte: uma pessoa com a coragem e atitude do exercício democrático encontra a principal dificuldade no ambiente, nada democrático de um espaço público do estado. Ela tem atitude positiva,construtiva e desenvolve o senso crítico de modo saudável,o que a educação deve primar. A idade em nada é precoce, o que a mãe expressa é o passado mas o presente exige de um jovem algo deste nível, basta ver nos paises desenvolvidos a juventude em todo o potencial e com todo o suporte da sociedade. Somos um país retardatário, isto é uma realidade, e em muito se deve exatamente ao modelo subproducente que é aplicado no ensino, imposto a nós pelos maiores concorrentes, os norteamericanos, os mesmos que sempre disseram que não teriam menor interesse no sucesso do Brasil em desenvolver a tecnologia de foguetes espaciais, em ver a base de Alcântara ter sucesso.

Maurício Oliveira de Souza diz: 28 de agosto de 2012  - Enquanto não valorizarnos os professores com bom salário, a educação vai ficar cada vez pior. Quem vai querer ser professor hoje em dia para enfrentar muitos adolescentes sem limites e educação dentro de uma sala com 40 pessoas diferentes. A família não cobra mais dos seus filhos. A educação vai mal também porque os jovens não estudam mais em casa como antigamente. É melhor trabalhar atrás de um balcão, ganhar mais e não se encomodar. Quem tem hoje um bom estudo não vai querer ser professor, por isso os profissionais que chegam na sala de aula são aqueles que não tiveram outra opção. O advogado, piscólogo,médico atende uma pessoa por vez e o professor tem que atender 40 ao mesmo tempo. Tomara que falte professor no futuro, para a sociedade dar valor. Tomara que ninguém queira fazer faculdade para ser professor pois assim esse país vai ter que pagar um salário muito alto para os professores voltarem para a sala de aula.

paulo pereira diz: 28 de agosto de 2012 - Parabéns Isadora. Sou filho da REVOLUÇÃO de 64, depois dos CARAS PINTADAS, não houve manifestações de qualquer aluno por uma educação de qualidade. Só o Professor ou poucos Professores nas escolas não qualificam uma EDUCAÇÃO na sua TOTALIDADE. Os GOVERNOS deveriam primeiro oferecer uma ESTRUTURA FÍSICA após, contar com PROFISSIONAIS (PROFESSORES QUALIFICADOS), depois oferecer a quem de DIREITO ( O ALUNO) Pena que eles (governo) sempre começam com o ALUNO, depois dão um JEITINHO na estrutura física e por último vão achar o Professor.

Thiago diz: 28 de agosto de 2012  - Onde estão os direitos humanos? Devem estar preocupados mais com as condições dos presídios e esquecerão das escolas.

O FUTURO DA EDUCAÇÃO


ZERO HORA 28/08/2012

Debate pelo aprendizado
Painel RBS reunirá hoje o ministro da Educação, secretários estaduais e especialistas para o lançamento da campanha institucional “A Educação Precisa de Respostas”


Um encontro entre autoridades e especialistas da área da educação vai marcar o início de uma busca por respostas para os principais dilemas da educação brasileira. A realização de um painel para debater os desafios do ensino no país dará início na manhã de hoje à nova campanha institucional do Grupo RBS, que pretende mobilizar a sociedade para esse tema, fiscalizar e cobrar ações eficazes do poder público e destacar exemplos positivos que podem inspirar outras iniciativas exitosas.

Anova bandeira institucional tem como mote a procura por soluções para os principais obstáculos à aprendizagem de qualidade. Por isso, tem como slogan A Educação Precisa de Respostas. Nos próximos meses, todos os veículos da RBS – jornais, TVs, rádios e sites – vão se debruçar sobre seis questões específicas (veja ao lado) que, uma vez respondidas, serão capazes de iluminar problemas pouco conhecidos do ensino no Brasil e apontar possíveis caminhos para a melhoria dos indicadores. Para iniciar essa busca, especialistas foram consultados e aderiram à campanha, contribuindo com suas respostas.

As perguntas, que procuram despertar a reflexão, foram elaboradas por uma equipe multidisciplinar a partir das metas de qualidade definidas pela ONG Todos pela Educação. O primeiro passo dessa busca por uma melhor qualidade nas escolas, já que o Brasil ocupa uma constrangedora 88ª posição no ranking mundial da educação elaborado pela Unesco, será dado às 9h de hoje com a realização de um Painel RBS sobre educação. Deverão estar presentes o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, os secretários estaduais do Rio Grande do Sul, Jose Clovis de Azevedo, e de Santa Catarina, Eduardo Deschamps, a secretária municipal do Rio de Janeiro, Claudia Costin, e o conselheiro do movimento Todos Pela Educação Mozart Neves Ramos.

Primeira pergunta da campanha questiona posição brasileira em ranking internacional

Como parte dessa mobilização, Zero Hora e os demais veículos deverão publicar séries de reportagens envolvendo temas como a formação e valorização dos professores, a participação das famílias no universo escolar e o baixo aproveitamento dos alunos ao final dos níveis Fundamental e Médio. A campanha também inclui a veiculação de anúncios em que especialistas de todo o país avaliam o cenário nacional. A logomarca do projeto tem como símbolo um dedo erguido, gesto habitual de quem quer fazer uma pergunta.

A questão a servir como ponto de partida para reportagens e debates é “Por que, mesmo sendo a sexta economia do mundo, o Brasil ainda está no 88º lugar no ranking mundial da educação?”.

O Painel RBS será transmitido para o Rio Grande do Sul e para Santa Catarina pela TVCOM. O evento também poderá ser acompanhado por rádio ou pela internet. Zero Hora trará a cobertura no site www.zerohora.com e na edição impressa do jornal de amanhã.


O ALUNO É A PRIORIDADE

ZERO HORA 28/08/2012

A EDUCAÇÃO PRECISA DE RESPOSTAS

O Brasil está na antessala do futuro.

Já é a sexta economia do mundo, vive uma era de pleno emprego, a renda per capita dos brasileiros ultrapassou os US$ 10 mil e nosso país começa a ser reconhecido como potência mais do que emergente no novo mundo multipolar.

É um país que cresce e que conseguiu reformatar sua pirâmide social, mas que ainda precisa superar obstáculos decisivos para alcançar o pódio do desenvolvimento. O maior deles é o déficit educacional, que continua excluindo gerações de brasileiros das promissoras oportunidades que se abrem para o nosso país.

São constrangedoras nossas posições nos rankings internacionais: 88º lugar entre 127 nações na aferição da Unesco; 53º em leitura e ciências e 57º em matemática, entre 65 países no Pisa, que é a avaliação educacional mais importante do mundo; temos um percentual de 9,6% de analfabetos e apenas uma universidade entre as cem melhores do mundo. Rio Grande do Sul e Santa Catarina ostentam bons indicadores sociais, mas ainda estão longe da excelência na área educacional.

O Grupo RBS não aceita esta realidade.

Temos compromissos históricos com o desenvolvimento econômico e social dos dois Estados do Sul e acreditamos que a educação é a arma mais poderosa para transformar as pessoas e tornar o mundo melhor. Fazem parte do DNA desta organização a responsabilidade social, a atenção aos jovens, a promoção dos valores locais e da cultura regional.

Por isso, orientado desde a sua fundação pela crença de que uma empresa de comunicação deve ter responsabilidade diferenciada para com o público, a RBS decidiu concentrar suas ações e seus investimentos sociais na educação, com prioridade nos estudantes e o propósito transparente de mobilizar a sociedade no sentido de participar do processo, fiscalizando a qualidade do ensino e valorizando a escola, os professores e as práticas inovadoras.

Neste contexto, ao completar 55 anos de fundação, o Grupo RBS reafirma o compromisso de colocar todas as suas empresas e seus veículos de comunicação a serviço da qualificação da educação nos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, por meio das seguintes ações que compartilha com a sociedade:

A EDUCAÇÃO PRECISA DE RESPOSTAS

ZERO HORA 28 de agosto de 2012 | N° 17175

POR QUÊ?

Se somos um povo pacífico, ordeiro, criativo e empreendedor; se somos o maior país da América do Sul e a sexta economia do mundo; se temos uma democracia consolidada e desfrutamos de plenas liberdades; se contamos com uma produção agrícola exuberante, uma indústria forte e um promissor parque tecnológico; se a renda do trabalhador brasileiro está aumentando e milhões de pessoas estão ascendendo socialmente; se temos recursos naturais abundantes para promover a qualidade de vida de 190 milhões de brasileiros; se reduzimos significativamente o analfabetismo e ampliamos a rede escolar, por que o Brasil ocupa o constrangedor 88º lugar no ranking mundial de educação medido pelo Relatório de Monitoramento Global da Unesco entre 164 países?

Se temos uma juventude saudável; se nos orgulhamos da mistura racial de nossa população; se somos pentacampeões mundiais de futebol e multilaureados na alegria do Carnaval; se nossos talentos esportivos brilham nas competições internacionais; se nossas crianças e adolescentes são recordistas no uso de internet e de novas tecnologias digitais; se praticamente eliminamos as disparidades de gênero no acesso ao ensino e nossas mulheres conquistam cada vez mais espaço no mercado de trabalho; se nove entre 10 jovens brasileiros sonham com uma profissão que beneficie a sociedade; se as crianças e adolescentes brasileiros contam com um dos mais modernos códigos de proteção do mundo, por que 34,5% dos alunos do Ensino Médio não estão na série correspondente a sua idade?

Se 90% dos nossos jovens têm orgulho de serem brasileiros e 75% acreditam que o país está mudando para melhor; se está comprovado que a escolaridade é a principal porta da ascensão social; se o magistério é uma profissão digna e admirada pelas crianças, que amam as mestras quase como uma segunda mãe; se a sociedade reconhece a importância dos educadores na formação dos brasileiros do futuro; se existe um déficit significativo de docentes no Ensino Médio e Fundamental; se a era digital representa um desafio para profissionais que realmente desejam fazer a diferença, por que apenas 2% dos estudantes querem seguir a carreira de professor?

Se o progresso de um povo depende do desenvolvimento da matemática; se essa disciplina é a base de todas as ciências e todas as artes; se o domínio dos números e das operações é decisivo para o sucesso numa sociedade competitiva; se o desenvolvimento tecnológico está fundamentado em cálculos e logaritmos; se o Brasil é a terra de Malba Tahan, o professor, educador e pedagogo que usou álgebra e aritmética para escrever maravilhosos contos ao estilo das Mil e Uma Noites; se somos um povo criativo e vocacionado para os mais intrincados desafios, por que 89% dos estudantes chegam ao final do Ensino Médio sem aprender matemática?

Se o país já oferece escola para praticamente todas as crianças em idade escolar; se as escolas brasileiras vêm adotando sucessivos antídotos para a repetência, entre os quais a progressão continuada, e algumas redes públicas não mais reprovam nas três primeiras séries; se o trabalho infantil, um dos motivos do afastamento dos estudantes das escolas, está proibido no Brasil; se os jovens brasileiros têm facilidade para dominar as complexidades da tecnologia digital; se a infância e a adolescência são os períodos da vida em que o cérebro humano está mais propenso ao aprendizado, por que a maioria dos alunos brasileiros não aprende o esperado para a sua idade?

Se a escola é o caminho mais seguro para a formação dos jovens e para ascensão social de camadas expressivas da população; se a idade escolar é um dos períodos mais importantes e significativos da vida de um ser humano; se é nessa época que melhor se desenvolvem valores positivos, como a camaradagem, a ética e a cooperação; se um bom aluno será, sem muita margem para erro, um cidadão ordeiro, responsável e produtivo; se a oferta de aprendizado é a melhor herança que as famílias podem deixar para suas crianças e adolescentes; se a educação é reconhecida como o passaporte para um futuro digno, por que muitos pais não participam da vida escolar de seus filhos?

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

PAINEL RBS SOBRE EDUCAÇÃO

ZERO HORA 27 de agosto de 2012 | N° 17174

CAMINHOS DO ENSINO

Painel RBS marca lançamento de campanha sobre educação

Debate vai reunir o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, secretários e especialistas da área


A realização de um Painel RBS sobre os rumos do ensino no país, com a presença do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, de especialistas e gestores da área marca o início da nova campanha institucional do Grupo RBS que tem como tema a qualidade da Educação Básica.

Sob o slogan A Educação Precisa de Respostas, todos os veículos do grupo – jornais, TVs, rádios e sites – estarão mobilizados para produzir reportagens sobre os empecilhos e as saídas para a conquista de resultados melhores nas escolas do país. A nova bandeira institucional será deflagrada por meio de um debate entre especialistas e autoridades a partir das 9h de amanhã, com transmissão para o Rio Grande do Sul e para Santa Catarina pela TVCOM.

O Painel RBS também poderá ser acompanhado pela Rádio Gaúcha (RS) e CBN Diário (SC) ou por meio da internet, nos sites de Zero Hora, G1 ou Diário Catarinense (veja quadro).

Além do ministro da Educação, estão previstas as presenças dos secretários estaduais do Rio Grande do Sul, Jose Clovis Azevedo, e de Santa Catarina, Eduardo Deschamps, e a secretária municipal do Rio de Janeiro, Claudia Costin. Também deve fazer parte das discussões o conselheiro do movimento Todos Pela Educação Mozart Neves Ramos.

A nova campanha do Grupo RBS vai procurar mobilizar a sociedade para a busca de respostas a perguntas fundamentais sobre o que impede o avanço da educação brasileira e o que pode ser feito para desatar os nós do ensino nacional.

– Temos de fazer um grande esforço, nos próximos anos, para aumentar os anos de escolaridade da população e fazer isso com qualidade – resume um dos convidados, Mozart Neves Ramos.

A INFÂNCIA DESASSISTIDA

ZERO HORA 27 de agosto de 2012 | N° 17174

 

EDITORIAL


São preocupantes os dados levantados pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) sobre o descumprimento das metas, por parte de administradores de municípios gaúchos para creche e pré-escola, fixadas há mais de uma década pelo Plano Nacional de Educação. O fato de o atendimento nessa faixa situar-se abaixo da média nacional ajuda a explicar o mau desempenho também do Ensino Básico no Estado, pois crianças com uma boa educação infantil costumam se dar melhor nos estudos. Num ano de eleições municipais, é importante que esta questão esteja bem presente nos debates, pois precisa sair de vez do plano das promessas para a prática.

Inegavelmente, a educação de meninas e meninos de até cinco anos ou menos tem um custo elevado, que muitos prefeitos encontram dificuldade de assumir. Nada justifica, porém, que apenas 29 dos 496 municípios gaúchos, ou 6% do total, estejam em dia com as metas fixadas para essa faixa. O governo federal tem programas que colaboram para que os municípios arquem com a estrutura física, mas os recursos para o custeio precisam sair dos cofres das prefeituras. Se não há esses recursos em caixa, é preciso que os gestores municipais tratem de encontrá-los, nem que para isso precisem cortar verbas de outras áreas, como as destinadas às Câmaras, por exemplo.

O TCE age certo ao evitar punir prefeitos menos preocupados com a questão. É preciso, porém, que haja cobrança permanente para avanços nessa área, além de ênfase em programas de conscientização sobre a importância do aprendizado nos primeiros anos de vida.

Crianças bem assistidas pelo poder público nessa faixa permitem que seus pais possam trabalhar com mais tranquilidade. Ao mesmo tempo, ficam em melhores condições de enfrentar o Ensino Básico, o que tende a gerar ganhos nos planos pessoal e profissional.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

LIVROS DIDÁTICOS NO LIXO

ZERO HORA 23 de agosto de 2012 | N° 17170


DESPERDÍCIO PÚBLICO. Livros didáticos são encontrados no lixo


Enquanto o Ensino Médio agoniza, livros didáticos que deveriam estar na mão de estudantes nem sequer são abertos em Caxias do Sul Pelo menos 17 exemplares novos foram encontrados no lixo ou jogados na rua em menos de uma semana.

Cinco livros de geografia e sete de português já haviam sido encontrados na rua Dias depois, uma dona de casa achou mais cinco, de biologia, no bairro Cidade Nova. Todos os livros deveriam ser entregues em 2008 ao Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendoza.

Os cinco livros de biologia estavam em um saco plástico na Rua Senador Teotônio Vilela. Na semana passada, Nadir Pires da Silva, 54 anos, saía quando a filha Ana Paula viu um pacote. Um papel emitido pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) informava o colégio Cristóvão como destinatário.

Surpresa com o material encontrado, Nadir guardou os livros e ligou para a escola pensando em devolvê-los, mas, segundo ela, não houve interesse algum.

– Os livros são de 2008, mas o corpo humano não muda, por que não foram usados? Isso não tem explicação, é por isso que a educação está desse jeito – disse ela, indignada.

A diretora do Cristóvão, Leila Macuco, afirma não saber o que houve, mas garante que os alunos não ficaram sem livros.

Contraponto - O que diz a 4ª Coordenadoria Regional de Educação

A coordenadora da 4ª Coordenadoria Regional da Educação (4ª CRE), Eva Márcia Borges Fernandes, estava em viagem a Porto Alegre no início da semana e disse desconhecer o caso:

– Quando a quantidade é muito grande, os livros vão direto para a escola. A escola recebe, tem que conferir e cobrar a devolução no final do ano. Ainda não sei o que ocorreu.

PANCADARIA JUVENIL

ZERO HORA 23 de agosto de 2012 | N° 17170

VIOLÊNCIA JUVENIL. Pancadaria perto de escola em Santa Maria

VINÍCIUS DIAS 

Uma briga generalizada registrada perto da Escola Estadual Augusto Ruschi chamou a atenção para uma série de atos violentos semelhantes que têm acontecido em Santa Maria, na região central do Estado. Em comum, todos ocorreram perto de colégios e foram protagonizados por alunos.

Não há levantamento que ateste a frequência deste tipo de ocorrência, mas Brigada Militar (BM) e Guarda Municipal confirmam que são praticamente diários os pedidos de reforço no policiamento em horários de entrada e saída nas instituições de ensino. 

No caso que chamou a atenção, no final da tarde de terça-feira, cerca de 20 jovens e adolescentes, enfrentaram-se perto da Augusto Ruschi. 

Um policial militar teve de intervir e acabou trocando agressões com o grupo. A Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente instaurou um inquérito e um procedimento para averiguar se houve ato infracional por parte dos envolvidos.

Polícia Civil e BM confirmam que alguns dos adolescentes seriam alunos do colégio. A reportagem tentou contato com a direção da escola ontem, mas não teve retorno.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

MODELO DE ENSINO QUE INTERAGE COM A COMUNIDADE

ZERO HORA 21 de agosto de 2012 | N° 17168

EDUCAÇÃO EM ALTA. Santa Catarina, um modelo de ensino. Interação com a comunidade é um dos fatores para explicar o sucesso


Enquanto o Rio Grande do Sul amarga pontuação abaixo do esperado e metas inalcançadas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), Santa Catarina ocupa os primeiros postos da avaliação, que analisa o desempenho dos estudantes brasileiros. Qual o segredo dos catarinenses, que têm investimentos semelhantes – e por vezes menores – em educação, na comparação com os gaúchos?

O Estado vizinho, primeiro lugar no Ensino Médio, líder nos anos finais do Ensino Fundamental e segundo colocado nos anos iniciais, vem crescendo nas avaliações do Ideb desde 2005 não por acaso. Com valores nada estratosféricos investidos por aluno – R$ 3.526,17 em 2011, enquanto o Rio Grande do Sul registrou R$ 4.460,61, segundo o Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Educação (Siope) –, os educadores catarinenses têm apontado a interação com a comunidade, a boa formação dos professores e o acesso facilitado a cursos no Interior como fatores primordiais para explicar o sucesso.

O secretário de Educação de Santa Catarina, Eduardo Deschamps, destaca que 92% dos professores do Estado têm graduação e 60% fizeram alguma especialização, mestrado e doutorado. Para o coordenador do curso de Pedagogia da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), Jorge Alexandre Cardoso, o alcance das universidades comunitárias a 100% das regiões do Estado permite a formação de professores em todos os cantos do Estado.

Estabelecimento de ensino catarinense de melhor pontuação, a Escola Municipal Adolpho Bartsch, de Joinville, alcançou nota 7,9 nos anos iniciais (primeiro ao quinto ano) do Ensino Fundamental. Construída em mutirão pela comunidade nos anos 80, tem suas ações acompanhadas de perto pelos pais dos alunos.

– Temos um forte apoio dos pais, da comunidade – explica o diretor Fábio de Almeida Doin.

DADOS

- 92% dos professores de Santa Catarina têm graduação
- 60% fizeram alguma especialização, mestrado ou doutorado

ANDRÉ MAGS

CONTRAPONTO: 

RS terá uma avaliação própria

A Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul respeita a avaliação do Ideb, mas questiona suas prioridades. Para o titular da pasta, Jose Clovis de Azevedo, o exame deveria englobar disciplinas além de matemática e português. Segundo ele, o ensino no Estado é mais diversificado do que o dos catarinenses, que é muito focado em “avaliações externas”. Se outras disciplinas integrassem o Ideb, o resultado poderia ser outro, entende o secretário.

– Nós achamos que o Ideb é um indicador importante, que devemos levar em consideração, mas ele não faz a leitura de toda a diversidade curricular. Nós temos na nossa rede muita música, muitos projetos de estudo de geografia, história, sustentabilidade, meio ambiente – argumenta.

Diante desse cenário, a secretaria planeja lançar, no mês que vem, uma avaliação própria no Rio Grande do Sul. Ao lado do Ideb, o Sistema Estadual de Avaliação Participativa (Seap) servirá para identificar problemas e buscar melhorias para o ensino gaúcho.

O Seap incluirá um programa de computador que armazenará dados coletados por meio de um questionário, composto de 50 indicadores educacionais.
As medidas gaúchas para melhorar na educação

l. Criação de uma avaliação própria, o Seap;
2. Recuperação da infraestrutura de escolas por meio de 428  obras;
3. Reestruturação curricular;
4. Introdução de novas tecnologias: 100 mil novos computadores para as escolas e 30 mil tablets para professores do Ensino Médio;
5. Substituição de 21 mil professores temporários por efetivos;
6. Reposição salarial de 76% nos salários dos professores até 2014;
7. Retomada das promoções por merecimento..


segunda-feira, 20 de agosto de 2012

SEM EDUCAÇÃO NÃO HÁ FUTURO

ZERO HORA 20 de agosto de 2012 | N° 17167. ARTIGOS

Paulo Brossard*



Levei um choque na manhã em que li a notícia estampada na primeira página da Zero Hora, como faço todos os dias, segundo a qual o pior resultado apurado pelo Ministério da Educação mediante a avaliação processada pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) estava no sul do país. Eu não ignorava que a qualidade do ensino sul-rio-grandense estivesse em nível pouco desejável, mas também não esperava que lhe fosse reservada esta deplorável qualificação, até porque o resultado nacional não é lisonjeiro... Basta dizer que foram tímidos os avanços no Ensino Fundamental, que envolve 98% dos alunos entre 7 e 14 anos, e em relação ao Ensino Médio, que atende os jovens de 15 a 18 anos, foi de estagnação. Neste quadro geral e neste cenário, forçoso é reconhecer, é lamentável a posição do ensino na Província de São Pedro.

Ela é tanto mais desairosa quando o ensino no Rio Grande era um dos dois melhores em todo o Brasil, tempos que lembram o saudoso secretário Coelho de Souza. A verdade é que hoje a realidade é outra e a indagação que deve ser feita é como e por que isto ocorreu. Dispensável dizer que a causa não será única, mas várias como sói acontecer, e não será no espaço de um artigo que se poderá apontá-los. Com esta ressalva, mencionarei apenas um. Não direi novidade que o ensino supõe a conjugação de variados elementos, a partir do professor, a cordialidade, o respeito, a cordura, a serenidade, o exemplo, sem falar na competência referente ao que ensina e na maneira de ensinar e em quanta coisa mais. Ora, parece-me inegável a emergência de um fator novo, pouco ou nada compatível com as qualidades exemplificativamente aludidas, que chamarei de belicosidade, na ausência de melhor designação. Ontem não entrava no colégio, hoje tomou conta do ensino e foi além. O ensino e a belicosidade são incompatíveis. Não sei se diga que na medida em que o ensino se foi desfigurando a belicosidade crescente ou se na medida em que a belicosidade chegou à sala de aula a qualidade do ensino entrou a mermar. O fato é que parece ter havido uma convergência da violência com o declínio da qualidade do ensino. A violência ou a belicosidade tem ou vem tendo várias modalidades, inclusive a do sindicato ou que outro nome tenha. Não ignoro que a menção a este dado poderá desagradar a um ou outro setor, mas tenho o hábito de dizer o que penso ainda que pedindo desculpas pelo eventual desgosto que possa causar. Estou convencido de que o sindicato consorciou-se com o ensino, impurificando o ambiente com seu mau hálito. Um fato é inconteste: o sindicato agigantou-se e o ensino decaiu.

A propósito, lembro que quando a senhora presidente mostrou-se desgostosa com a aferição do PIB em determinado triênio e sua influência com o PIB do ano de 2012, desprezou-o publicamente, como se a sua medição tivesse alguma culpa no caso, e não se limitasse a medir o que vira e sentira, preferindo os maravilhosos benefícios da educação como critério a revelar as realidades nacionais, lembrei que além da educação nada ter com o pífio resultado do PIB, e o que era mais, o ensino brasileiro não estava em condições de recomendar o país. Infelizmente, ficou confirmado que a emenda fora pior que o soneto. A senhora presidente ficaria melhor servida se voltasse ao PIB como é em todo o mundo e também na Alemanha, na França e na Itália, que são as três maiores economias da Europa, e ainda na Espanha e no Reino Unido tiveram “crescimento negativo” e nem por isso romperam relação com o respectivo PIB.

O PIB mostra que o momento presente é grave, tanto que aí está o perigo da desindustrialização. Os dados do ensino alarmam, pois sem educação não temos futuro.

Mal no presente, comprometidos para o futuro, será que nos resta só o passado?

*JURISTA, MINISTRO APOSENTADO DO STF