EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A ARTE DE DESAPRENDER

Volnei Carlin, Doutor em Direito - Diário Catarinense, 31/10/2011

A diversidade cultural vigente encontra dificuldades de abrir caminhos para o pensamento crítico das artes capaz de elaborar realidades e paradigmas sensíveis de criatividade que (re)encantem o mundo.

De maneira que as linhas sociais existentes, através de vivências e referenciais, não externizam conteúdos valorativos ampliadores das ambições sociais. Com isso inapdatam-se as identidades, diria Balzac.

E onde não há arte, a vida se afunda no cotidiano e perde significado. Daí decorre que é necessário um grande esforço para entender as transformações das culturas diferentes, que se realizam a partir da ação humana, pois cada uma é produto de certo tipo de experiências e convicções.

Assim, na “desaprendizagem” da reconstrução de preceitos, ideias, juízos, questionamentos, veredictos ou mesmo certas palavras, como culpa, família, igualdade e responsabilidade; devem ser entendidos conforme seu trajeto e domínio concreto a que pertence o nexo dinâmico atual.

Na verdade, na “desaprendizagem” dos significados estratificados pela mentalidade e pelo senso social comum que nos ensinam a compreender o que estamos realmente a falar ou escrever quando empregamos as palavras, expressões e pensamentos de nosso virtuoso comportamento cotidiano e que sustentamos, constantemente, no mundo do bem e do mal, do justo e injusto, do válido e inválido ou do certo e errado.

De resto, seríamos nós uma geração menor que não somos capazes de atualizar os discursos, romper com o velho, propor, com solidez, mudanças de paradigmas ou não termos coragem de correr riscos. Também é uma maneira de desafiar as ligações anteriores e limpar a mente de preocupações que impedem a sincronia com a evolução e benefícios do conhecimento (Discurso do Método, René Descartes).

JUVENTUDE SEQUESTRADA

Carlos Alberto Di Franco, doutor em Comunicação, é professor de Ética e diretor do Master em Jornalismo. E-mail: difranco@iics.org.br - O Estado de S.Paulo, 31/10/2011


O crescimento dos casos de aids, o aumento da violência e a escalada das drogas castigam a juventude na velha Europa. A crise econômica, dramática e visível a olho nu, exacerba o clima de desesperança. Para muitos jovens os anos da adolescência serão os mais perigosos da vida deles.

Desemprego, gravidez precoce, aborto, doenças sexualmente transmissíveis, aids e drogas compõem a trágica equação que ameaça destruir o sonho juvenil e escancarar as portas para uma explosão de violência. A juventude não foi preparada para a adversidade. E a delinquência é, frequentemente, a manifestação visível da frustração.

A situação é reflexo de uma cachoeira de equívocos e de uma montanha de omissões. O novo perfil da delinquência é o resultado acabado da crise da família, da educação permissiva e do bombardeio de setores do mundo do entretenimento que se empenham em apagar qualquer vestígio de valores.

Tudo isso, obviamente, agravado e exacerbado pela crise econômica e pela ausência de expectativas.

Os pais da geração transgressora têm grande parte da culpa. Choram os desvios que cresceram no terreno fertilizado pela omissão. O delito não é apenas reflexo da falência da autoridade familiar. É, muitas vezes, um grito de revolta e carência. A pobreza material agride o corpo, mas a falta de amor castiga a alma. Os adolescentes necessitam de pais morais, e não de pais materiais.

Reféns da cultura da autorrealização, alguns pais não suportam ser incomodados pelas necessidades dos filhos. O vazio afetivo - imaginam, na insanidade do seu egoísmo - pode ser preenchido com carros, boas mesadas e um celular para casos de emergência. Acuados pela desenvoltura antissocial dos seus filhos, recorrem ao salva-vidas da psicoterapia. E é aí que a coisa pode complicar. Como dizia Otto Lara Rezende, com ironia e certa dose de injusta generalização, "a psicanálise é a maneira mais rápida e objetiva de ensinar a odiar o pai, a mãe e os melhores amigos". Na verdade, a demissão do exercício da paternidade está na raiz do problema.

Se a crescente falange de adolescentes criminosos deixa algo claro, é o fato de que cada vez mais pais não conhecem os próprios filhos. Não é difícil imaginar em que ambiente afetivo se desenvolvem os integrantes das gangues juvenis. As análises dos especialistas em políticas públicas esgrimem inúmeros argumentos politicamente corretos. Fala-se de tudo, menos da crise da família. Mas o nó está aí. Se não tivermos a firmeza de desatá-lo, assistiremos, acovardados e paralisados, a uma espiral de violência sem precedentes. É uma questão de tempo. Infelizmente.

Certas teorias no campo da educação, cultivadas em escolas que fizeram uma opção preferencial pela permissividade, também estão apresentando um amargo resultado. Uma legião de desajustados, que cresceu à sombra do dogma da educação não traumatizante, está mostrando a sua face criminosa.

Ao traçar o perfil de alguns desvios da sociedade norte-americana, o sociólogo Christopher Lasch - autor do livro A Rebelião das Elites - sublinha as dramáticas consequências que estão ocultas sob a aparência da tolerância: "Gastamos a maior parte da nossa energia no combate à vergonha e à culpa, pretendendo que as pessoas se sentissem bem consigo mesmas".

O saldo é uma geração desorientada e vazia. A despersonalização da culpa e a certeza da impunidade têm gerado uma onda de superpredadores.

O inchaço do ego e o emagrecimento da solidariedade estão na origem de inúmeras patologias. A forja do caráter, compatível com o clima de verdadeira liberdade, começa a ganhar contornos de solução válida. Pena que tenhamos de pagar um preço tão alto para redescobrir o óbvio.

O pragmatismo e a irresponsabilidade de alguns setores do mundo do entretenimento estão na outra ponta do problema. A era do mundo do espetáculo, rigorosamente medida pelas oscilações do Ibope, tem na violência uma de suas alavancas. A transgressão passou a ser a diversão mais rotineira de todas. A valorização do sucesso sem limites éticos, a apresentação de desvios comportamentais num clima de normalidade e a consagração da impunidade têm colaborado para o aparecimento de mauricinhos do crime. Apoiados numa manipulação do conceito de liberdade artística e de expressão, alguns programas de TV crescem à sombra da exploração das paixões humanas. Ao subestimar a influência perniciosa da violência ficcional, levam adolescentes ao delírio em shows de auditório que promovem uma grotesca sucessão de quadros desumanizadores e humilhantes. A guerra pela conquista de mercados passa por cima de quaisquer balizas éticas. Nos Estados Unidos, por exemplo, o marketing do entretenimento com conteúdo violento está apontando as baterias na direção do público infantil.

A onipresença de uma televisão pouco responsável e a transformação da internet num descontrolado espaço para a manifestação de atividades criminosas (a pedofilia, o racismo e a oferta de drogas, frequentemente presentes na clandestinidade de alguns sites, desconhecem fronteiras, ironizam legislações e ameaçam o Estado Democrático de Direito) estão na origem de inúmeros comportamentos patológicos.

É preciso ir às causas profundas da delinquência. Ou encaramos tudo isso com coragem ou seremos tragados por uma onda de violência jamais vista. O resultado final da pedagogia da concessão, da desestruturação familiar e da crise da autoridade está apresentando consequências dramáticas na Europa. Escarmentemos em cabeça alheia. Chegou para todos a hora de falar claro. É preciso pôr o dedo na chaga e identificar a relação que existe entre o medo de punir e os seus efeitos antissociais.

A POLÊMICA DO ENEM

EDITORIAL ZERO HORA 31/10/2011


Ovazamento de questões do Enem para alunos de uma escola do Ceará poderia ser recebido como um problema pontual e pouco significativo numa prova de proporções gigantescas, que foi aplicada em todos os Estados da federação. Embora o incidente não deva ser minimizado, pois até o ministro da Educação acusa a escola e alguns de seus professores de envolvimento na fraude, é importante destacar que 4 milhões de estudantes realizaram os exames dentro da mais absoluta normalidade. Por isso, soam desproporcionais as manifestações contrárias ao Enem que começaram a pipocar em todo o país na última sexta-feira, a maioria delas resultante de convocação pelas redes sociais. O exame de avaliação do Ensino Médio é uma ferramenta moderna, necessária e útil, tanto para qualificar a educação neste nível quanto para democratizar o acesso às universidades públicas. O que cabe é o seu aperfeiçoamento – e não a sua extinção.

Também chama a atenção, no rastro do novo episódio, o mau uso da internet e das redes sociais por pessoas descomprometidas com os princípios éticos da educação. De forma absolutamente discriminatória e xenófoba, vários internautas postaram xingamentos e piadinhas sobre os nordestinos, mas especificamente sobre os cearenses, com verdadeiras agressões a alunos da escola referida, como se eles fossem os responsáveis pelo problema.

Por fim, há o oportunismo político. Com um histórico de problemas, o Enem é sempre uma oportunidade para quem torce pelo fracasso do governo de plantão, mesmo que essa torcida do contra sirva para sepultar uma boa ideia. E parece haver, também, um boicote, pois a cada ano, por mais que o governo se previna, sempre aparece alguém para burlar a vigilância e levar o exame ao descrédito.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Não acho que deve ser aperfeiçoado. Deveria ser extinto. O Brasil, além da condição de república federativa prevista na constituição, é um país grande demais para centralizar serviços e decisões. Está na hora dos Poderes da União deixarem de lado a vontade totalitária para delegar aos Estados serviços e decisões. Temos uma justiça morosa centralizada nas cortes supremas; temos um Congresso que legisla casos simples e de interesse federativo; e temos o Executivo da União que centraliza a maior parte dos impostos e serviços, sucateando e enfraquecendo Estados e Municípios.

QUE TIPO DE SUJEITO ESTAMOS FORMANDO?

ROMUALDO MONTEIRO DOS SANTOS, PROFESSOR DE FILOSOFIA - ZERO HORA 31/10/2011

O sujeito socrático estava fundado num espectro de beleza interior. E ele nascia num diálogo ou numa conversa descomprometida. Sócrates sempre teve um discurso crítico acerca do espírito hedonista, narcísico ou de qualquer tipo de beleza fundada na estética humana. Seu prazer estava numa vida alicerçada na virtude (a porta de entrada para a Felicidade, através do Bem). E o melhor, isto deveria ser “arrancado do interior do homem”, por um ato dialético. Esta virtude nasceria do interior do ser. Entretanto, na atualidade, ao que parece, a estética física ganhou um estereótipo, no mínimo, comparável à sabedoria, à inteligência e à perfeição. O padrão de qualidade do esteticismo humano é, porém, quase desumano. Justamente por este sujeito não passar de um simples utensílio “oco”, “perecível” e com “prazo de validade vencido”. O oco é quando uma cinturinha fina, seios volumosos, bumbum arrebitado (jargão de beleza utilitarista), ou o musculoso, todo sarado. Ambos têm mais valor que um cérebro ter a capacidade de pensar, refletir, instigar ou analisar minuciosa e racionalmente.

Talvez o “pensar” possa pesar muito! Por isto é melhor mantê-lo vazio, afinal de contas, que utilidade tem um cérebro que reflita? O perecível é quando o ser humano se torna refém de um modelo padronizado, enlatado ou engessado de determinado tipo cultural. Exemplo clássico desta sociedade são as crianças e as pessoas idosas, presas frágeis desta parafernália midiática do consumo. As primeiras, com alguns meses de vida e já fazem parte do manancial mercadológico da indústria infantil. Bundinhas de fora ou súper bem vestidas, sorrisos inocentes, enfim, todos se maravilham com estas crianças e não discernem o malogro esteticista que já começa tomar forma na infância. Já as segundas, muitas sexagenárias, setuagenárias e até octogenárias são estimuladas ou, quem sabe, estigmatizadas a se produzirem como se fossem eternas menininhas que vez e outra tomam um banho na fonte da juventude. E esta só existe graças àqueles cérebros vazios que reportamos anteriormente.

Tal fonte não passa de uma miragem que teima em surgir nos momentos de torpor, a fim de aliviar o desespero humano. Aqui encontramos o utensílio com o prazo de validade vencido. Pois sabemos que nesta fase final da vida o ser humano precisa se aceitar. Deve, no mínimo, aceitar seu corpo físico já todo enrugado, conviver com suas limitações, no que diz respeito à sua saúde, a fim de ter, no mínimo, certo preparo frente à morte que teima em se aproximar e, velozmente. Vale recordar o que disse Heidegger, filósofo alemão – o homem é um ser para a morte – e às vezes, por causa desta histeria esteticista, nos esquecemos de uma realidade tão concreta, verdadeira e factual.

domingo, 30 de outubro de 2011

VIOLÊNCIA CONTRA DOCENTES DEIXA MARCAS

Ameaçados e agredidos por alunos, professores sofrem de estresse pós-traumático - 30 de outubro de 2011 | 3h 04 - MÁRCIA VIEIRA / RIO , MARCOS DE PAULA / FOTO - O Estado de S.Paulo

A primeira ameaça veio após 23 anos de magistério. "Você é muito abusada. Aqui nesta escola não se manda bater. Se manda matar." Nádia de Souza, de 55 anos, sentiu as pernas tremerem e o coração disparar, mas insistiu. Por cinco meses, apartou brigas entre alunos e ouviu barbaridades, como a do menino de 13 anos que colocou a mão em formato de pistola na sua cabeça e disparou a sentença: "Você aqui não é nada".

Nádia é professora por vocação. Formada em Ciências Sociais, História e pós-graduada em História da África, recebeu prêmios por resultados com alunos do ensino fundamental de uma escola em Realengo, na zona oeste do Rio, e de Botafogo, na zona sul, no pé da favela Dona Marta.

Sempre achou que valia a pena ensinar, apesar das salas superlotadas e do salário baixo (com horas extras e matrícula em duas escolas, ganha em torno de R$ 3 mil). Há um ano, depois das ameaças num colégio no Centro, está em tratamento psiquiátrico. Toma antidepressivos, não sai de casa sozinha e nunca mais pisou em uma escola. Só de passar por perto tem taquicardia e falta de ar. "Eu ando na corda bamba." O nome científico para o mal que a aflige é síndrome do estresse pós-traumático, doença psíquica que começou a ser diagnosticada nos anos 1960 com ex-combatentes da guerra do Vietnã.

Casos como o de Nádia mostram como estão tensas as relações nas salas de aula. É um fenômeno nacional, que não se restringe às escolas de periferia. Em São Paulo, segundo dados do Observatório da Violência do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), os casos de agressão a professores cresceram 40% por semestre nos últimos três anos.

Em Minas, agressão física e verbal a professor virou tão frequente que o Sindicato dos Professores das Escolas Particulares acaba de lançar uma campanha. O slogan é "Tem algo de errado na escola. Está na hora de corrigir".

O disque-denúncia aberto para ouvir as queixas dos professores mineiros registrou em oito meses um caso de violência contra docentes a cada três dias. "Um conjunto de fatores leva a esse processo. O professor perdeu prestígio. A sociedade está mais violenta. Só que ficamos jogando lixo debaixo do tapete. Não são tomadas medidas para enfrentar o problema", diz Gilson Reis, presidente do sindicato dos professores da rede particular de Minas.

Ainda não se sabe o tamanho do problema. "Precisamos de dados sobre violência nas escolas. Não temos ideia do que acontece no ambiente escolar", diz Miriam Abramovay, coordenadora de Juventude e Políticas Públicas da Faculdade Latino-Americano de Ciência Sociais, que investiga o tema há dez anos.

Mas há pistas. Uma pesquisa realizada pelo Apeoesp em 2006 mostra que os professores apontam a superlotação das salas e a aprovação automática como as maiores causas do aumento de violência dentro de sala. "A escola foi esvaziada nos últimos anos", arrisca Edna Félix, diretora do sindicato dos professores do Rio. "Não tem mais o professor que ajudava na organização da sala, o supervisor pedagógico, o professor-substituto. Não tem inspetores em número suficiente. O professor hoje não tem tempo para preparar aula. E entrar numa sala com 40 alunos sem ter planejamento é uma loucura."

Apesar disso, segundo Edna, os professores não gostam de denunciar. "No ano passado, a direção de uma escola em Vila Isabel foi agredida, os alunos fizeram motim, parecia revolta de presídio. E ninguém quis dar queixa. Há uma pressão grande da coordenação regional e da Secretaria de Educação para não tornar os casos públicos", diz.

Segundo dados da Secretaria Municipal de Educação do Rio, em 2010 apenas dois casos de agressão a professores tiveram sindicâncias abertas.

A coleção de horrores que Edna acompanha é variada. Um aluno de 13 anos quebrou o dedo da professora de português porque ela mandou que ele desligasse seu tocador de MP3. Numa escola da zona norte, duas alunas colocaram veneno no café da sala de professores. Ninguém bebeu porque uma professora desconfiou do cheiro. Em outra escola, uma mãe deu soco numa professora porque não gostou da nota do filho.

"É preciso mais apoio. Uma escola só funciona bem quando há respeito entre alunos e professores. Ensinar é maravilhoso, mas o clima de violência afasta os professores", diz Edna.

Tão triste quanto afastar os professores é impedir que os alunos aprendam. "Todos são vítimas. Professores e alunos. Está todo mundo infeliz", pondera Miriam Abramovay. "Tem de mudar a escola toda. Os professores estão muito pouco preparados para receber alunos do século 21 numa escola que está no século 18."

Há movimentos para tentar melhorar o clima. "Estamos conversando com o Ministério da Educação para fazer cursos de capacitação, para que os professores possam entender o que está acontecendo", diz Miriam.

Em Minas, a secretaria fez um acordo com o Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da Universidade Federal do Estado.

"Estamos oferecendo curso de mediação de conflito para mais de cem professores e diretores", anuncia Maria Céres Pimenta, secretária adjunta de Educação do Estado de Minas. "Não adianta ter só uma perspectiva repressora. Nós precisamos educar as crianças para respeitarem os professores. Para isso, elas também precisam ser respeitadas."

A BADERNA A SERVIÇO DO CRIME


OPINIÃO, O Estado de S.Paulo - 30/10/2011

A Cidade Universitária voltou a ser palco de confrontos entre estudantes e a Polícia Militar (PM). Os incidentes ocorreram na noite de quinta-feira e começaram depois que os policiais militares detiveram três alunos que fumavam maconha no estacionamento do prédio de História e de Geografia. Quando os levavam para o 91.º DP, a fim de registrar a ocorrência, os policiais militares foram atacados por cerca de 200 estudantes.

Além de terem apedrejado seis viaturas policiais e ferido três soldados, os estudantes invadiram o prédio administrativo da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), onde praticaram atos de vandalismo, e anunciaram que só sairão do local após a revogação do convênio que permite à PM garantir a segurança na Cidade Universitária. O convênio foi assinado após o primeiro caso de latrocínio no local, ocorrido em maio deste ano. A vítima foi um estudante de economia, assassinado ao reagir a uma tentativa de roubo. Entre janeiro e abril, os roubos na Cidade Universitária aumentaram 13 vezes e os atos de violência - tais como estupros e sequestros relâmpago - cresceram 300%.

Até então, a Cidade Universitária - situada ao lado de uma favela - dispunha apenas de uma Guarda Universitária, que não pode portar armas e que conta com 130 agentes de segurança patrimonial, divididos em dois turnos, para proteger dezenas de prédios e fiscalizar seus estacionamentos, além das 100 mil pessoas que circulam diariamente pelo câmpus. Mas, apesar da crescente violência, minorias radicais constituídas por servidores, alunos e professores resistiam e continuam resistindo à presença da PM no câmpus. Militantes de micropartidos de esquerda, eles associam a PM à "repressão", alegam que a presença de policiais militares fere a autonomia universitária e classificam o câmpus como "território livre".

Alegando que a Cidade Universitária estava se convertendo em terra de ninguém, o Comitê Gestor da USP - apoiado pela maioria da comunidade acadêmica - superou as resistências políticas, elaborou um plano emergencial de segurança para a Cidade Universitária, definiu um modelo de policiamento aprovado por entidades de professores, alunos e funcionários e, em junho, fechou um acordo com a PM para colocá-lo em execução. É esse convênio que os invasores do prédio administrativo da FFLCH querem revogar.

Para confirmar que se trata de movimento ideológico, eles apresentaram uma lista de reivindicações absurdas, impossíveis de serem atendidas, do ponto de vista jurídico. Além de aproveitar o incidente para fazer novas críticas ao reitor João Grandino Rodas e acusar a PM de agir como "o braço armado dos exploradores", pedindo sua imediata retirada do câmpus, os invasores querem autonomia absoluta nos "espaços estudantis". Reivindicam, ainda, a extinção de todos os processos administrativos e criminais contra estudantes, professores e funcionários. São centenas de sindicâncias e de ações judiciais instauradas pela reitoria para apurar desvios de conduta e punir quem depredou o patrimônio da USP e ameaçou a integridade física de colegas em assembleias, greves e piquetes. Em nota, o Diretório Central dos Estudantes (DCE-Livre) classificou a invasão da FFLCH e a oposição à presença da PM no câmpus como uma luta pelos "direitos civis".

Na realidade, o que está em jogo no câmpus da USP não são as liberdades públicas nem os direitos fundamentais de estudantes, professores e funcionários. Quando invocam o princípio da autonomia universitária e pedem que a PM seja expulsa do câmpus, os baderneiros fazem o jogo dos assaltantes, assassinos, estupradores e traficantes de drogas. É evidente que, desde o início do convênio firmado com a reitoria, a presença de policiais militares na Cidade Universitária vem prejudicando os negócios dos fornecedores de drogas, reduzindo seus lucros. Além de se colocarem - consciente ou inconscientemente - a serviço do crime organizado, os invasores cometem outro erro. Eles confundem "território livre", expressão usada na academia para designar a livre troca de ideias, com uma república independente - como se a USP existisse à margem do Estado e da sociedade que a sustentam.

O que ocorreu no embate com a PM e com a invasão da FFLCH não são atos de rebeldia intelectual - são apenas demonstrações de irresponsabilidade e de alienação ideológica.

DESRESPEITO AOS ESTUDANTES

Renan Plotzki, ZERO HORA 30/10/2011

O processo seletivo nacional que a maioria das universidades federais do Brasil utiliza para escolher os seus novos alunos é constrangedor. A falta de ética do brasileiro não permite que seja realizado um vestibular da grandeza do Enem. Embora a ideia desse modelo de seleção seja um avanço para a nação, a efetivação do projeto é ridiculamente desastrosa. Tal incompetência prejudica milhares de alunos que se preparam ao longo de todo o ano para realizar a prova.

O primeiro erro do Enem ocorreu logo na primeira tentativa de unificação dos vestibulares, em 2009. Mau sinal. O furto de uma cópia da prova em uma das gráficas responsáveis pela impressão do caderno de questões fez com que a data de realização do concurso fosse adiada por quase 60 dias. Entretanto, essa falha vergonhosa não foi suficiente para abalar o “prestígio” do exame, o qual ainda foi considerado “um grande sucesso” pelo ministro da Educação, Fernando Haddad. O despreparo dos organizadores e dos aplicadores do Enem é, anualmente, exposto devido a falhas sucessivas na efetivação desse processo seletivo. O mais novo erro desse modelo de vestibular é um desrespeito ao estudante: enquanto mais de 4 milhões de pessoas preparam-se para encarar uma prova com questões inéditas, uma minoria é beneficiada por ter acesso a exercícios idênticos – dias antes da data de realização do concurso – aos que foram aplicados no teste.

Após tantos erros, fica evidente que há falhas na efetivação do projeto. Entretanto, a pergunta a ser respondida é: onde está o equívoco? Será que o problema é mesmo o vazamento de questões, ou tudo isso é uma fraude mal elaborada visando beneficiar determinados alunos? As evidências fazem surgir suspeitas sobre a veracidade do concurso. A falta de explicações convincentes abre espaços para se levantar hipóteses sobre o caso; não se pode descartar a versão de que o vazamento de questões da prova seja proposital e que a falha do projeto encontra-se em tornar público esse fato. A resposta para essa pergunta, contudo, dificilmente será conhecida pelos brasileiros. Assim como ocorre em outros escândalos do governo, o caso – provavelmente – será arquivado e fugirá da memória dos brasileiros até que, no próximo ano, novas falhas venham à tona e, por mais uma vez, milhares de estudantes sejam desrespeitados por esse sistema.

O Brasil, definitivamente, não está preparado para usufruir as vantagens proporcionadas pelo Enem. Na teoria, o exame é um grande avanço; na prática, é vergonhoso! As sucessivas falhas na realização das provas e as suspeitas de fraude tornam esse modelo unificado de vestibular um desastre no país. Enquanto não houver seriedade e comprometimento dos gestores da educação nacional, o sistema de ensino brasileiro permanecerá inerte e, por consequência, estará adiando o desenvolvimento da nação.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

FALHA NO ENEM

EDITORIAL ZERO HORA 28/10/2011


Quando o Ministério da Educação (MEC) já comemorava o sucesso do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que reuniu mais de 4 milhões de estudantes no último final de semana, surgiu a suspeita de vazamento de questões da prova numa escola de Fortaleza (Ceará). O problema, em investigação pelo MEC e pela Polícia Federal, envolve 639 estudantes que terão de refazer o teste.

A suposição é de que algumas das 180 questões do Enem – composto ainda pela Redação –, já tivessem sido usadas num simulado organizado pelo MEC em outubro do ano passado no colégio cearense para testar a eficácia do exame, como é de praxe antes da formulação final da prova nacional.

Já não é a primeira vez que o exame criado em 1998 enfrenta percalços. Em 2009, quando de sua reformulação, ele teve de ser reaplicado em todo o país por causa de vazamento dos cadernos de provas. No ano passado, parte dos alunos foi obrigada a retornar à sala de aula para novos testes por erros em algumas questões.

É lamentável que tenham ocorrido esses fatos, mas eles não podem servir de pretexto para desmerecer o esforço do governo federal em promover uma avaliação séria, consequente e necessária do Ensino Médio no país, responsável também por democratizar o acesso às universidades – estima-se que ele servirá para selecionar ao menos 260 mil vagas ao Ensino Superior.

A falha verificada nesta última edição é pequena, se considerada a dimensão do exame, e não pode ser argumento para exageros como a anulação de todo o concurso, como chegou a pedir o Ministério Público Federal do Ceará. Deve, sim, contribuir para que o Ministério da Educação reveja e aprimore os mecanismos de sua confecção e garanta sua lisura e eficácia.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Não consigo entender os programas, projetos e ações governamentais que tentam centralizar tudo num lugar num país federativo e extenso com o Brasil? Justamente, por ser extenso e federativo que estes programas, projetos e ações deveriam ser descentralizados pela burocracia desenvolvida e pela dificuldade de controle e aplicação. As provas desta inoperância podem ser vista na Educação e na Justiça.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

REFLEXÕES SOBRE O ENEM

JUREMIR MACHADO DA SILVA, CORREIO DO POVO, 26/10/2011


Todo ano, na época do Enem, reflito sobre o vestibular. É o sistema mais cruel já aplicado por um país contra os seus jovens. Está baseado na falsa justiça da meritocracia. Um país sério estabelece o escore mínimo a ser alcançado por um estudante para entrar na universidade e banca vagas para todos os aprovados. Esse conhecimento mínimo é exigido em nome do bom acompanhamento das atividades universitárias. Já o vestibular cria uma competição entre os adolescentes, isenta o Estado de abrir vagas para todos e gera a ideia de que só os "melhores" devem chegar à universidade. O primeiro erro é pensar que os vencedores são, de fato, os melhores. Fazer a mesma prova no mesmo horário não estabelece igualdade na competição. As condições de preparação são profundamente desiguais. Salvo exceção, vence o que teve mais tempo e melhores condições de preparação. O vestibular reproduz a desigualdade social.

A segunda falácia do vestibular diz respeito à ideia de que só os melhores devem entrar na universidade. Por quê? É uma concepção elitista, discriminatória e oportunista. Permite a um extrato social manter a ocupação dos melhores espaços da sociedade. A universidade deve receber todo mundo e "melhorar" os menos bons ou os piores. Cada jovem deve ter o direito de ser "melhorado" nos bancos do ensino superior. Deve ser fácil entrar na universidade. Difícil tem de ser a saída. A justificativa para a utilização do vestibular sempre foi a de que não haveria recursos para bancar todo mundo na universidade. É conversa fiada. Por trás dessa racionalização esconde-se a mentalidade meritocrática de reprodução do modelo social dominante. Aos ricos, a universidade. Aos pobres, o ensino técnico. Salvo, obviamente, as exceções que confirmam as regras. O Brasil ficará muito mais decente quando o vestibular acabar.

Volta e meia alguém deixa escapar seu elitismo com um "agora qualquer um entra na universidade" ou "o ensino superior já não é mais o mesmo, pois recebe todo mundo". É isso aí. A universidade precisa receber qualquer um. Exames de saída do ensino médio também são seletivos. Podem ser feitos por fileiras (científica, literária, ciências humanas). Para vencer em cada fileira é adequado fixar um rendimento mínimo em certas matérias. Todos que atingem a meta passam a ter direito a uma vaga. Claro que é mais fácil jogar os jovens numa luta fratricida e lavar as mãos. Chama-se isso de seleção dos melhores. O governo economiza e a sociedade atualiza o mecanismo, denunciado pelo sociólogo Pierre Bourdieu, da distinção social reproduzida pela educação classificatória. O Chile escolheu um modelo ainda mais perverso: a privatização total da educação. Só estuda quem pode pagar caro. É o mesmo que muitos desejam para a saúde. Um tiro no pé.

O Enem precisa transformar-se no exame único de saída do antigo segundo grau e de entrada no mundo do ensino superior. As resistências são óbvias. É muito mais simples organizar tudo como se fosse um campeonato com troféus para quem faz mais gols. Só que é injusto. A época do vestibular passou. Já é tempo de um novo tempo.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

TRÊS ESCOLAS ARROMBADAS EM PORTO ALEGRE

Pelo menos 22 vidros foram quebrados na Escola Luiz Gama. Três escolas amanheceram arrombadas e invadidas ontem, em Porto Alegre. A Brigada Militar e a Polícia Civil foram acionadas. CORREIO DO POVO, 25/10/2011

A Escola Estadual de Ensino Fundamental Luiz Gama, na rua Honduras, entre os bairros Lomba do Pinheiro e Belém Velho, foi atacada a pedradas e teve 22 vidros das janelas dos pavilhões quebrados. Segundo a vice-diretora Liana Albuquerque, as aulas para cerca de 480 alunos dos turnos da manhã e tarde foram suspensas. "Havia risco de os alunos se cortarem nos vidros quebrados", disse. Segundo Liana, os invasores entraram pela cerca de tela em volta da escola, no final de semana. Há dois meses, foi furtado um ar-condicionado. Uma equipe volante da DPPA isolou o local para a perícia do Departamento de Criminalística.

Na Escola Estadual de Ensino Fundamental General Neto, na estrada Edgar Pires de Castro, no bairro Aberta dos Morros, quatro salas de aula foram arrombadas e foi furtado material escolar e esportivo. Pichações com palavrões foram deixadas no local. As aulas para quase 500 alunos dos turnos da manhã e tarde foram mantidas.

Na zona Norte, na Escola Estadual de Ensino Fundamental Humaitá, na rua Chuí, no bairro Sarandi, também foi registrado arrombamento em salas de aula.

ESCOLAS ARROMBADAS

EDITORIAL ZERO HORA 25/10/2011


Alunos e professores de três escolas da Capital tiveram uma desagradável surpresa ao retornar às atividades ontem: encontraram salas arrombadas, paredes pichadas e sumiço de material escolar. Infelizmente, não são casos isolados. Não passa fim de semana sem que alguma escola seja invadida por delinquentes, que provocam danos de toda ordem, saqueiam equipamentos e merenda escolar, destroem instalações e provocam desestímulo em quem trabalha e estuda para ter um futuro melhor.

Falta vigilância, evidentemente. Ainda que as secretarias de Educação e Segurança desenvolvam programas preventivos, como o do PM Residente, muitas escolas continuam abandonadas à própria sorte. Por mais que se protejam, colocando grades e cadeados, tornam-se alvo fácil para os arrombadores, que invariavelmente têm o fim de semana inteiro para realizar o seu trabalho sujo.

Como os órgãos de segurança não dispõem de efetivos para manter policiamento permanente em toda a rede de ensino, as incidências de roubos e vandalismo podem ser reduzidas com o envolvimento da comunidade. Cabe aos gestores escolares, além de pressionar as secretarias para que tomem as devidas providências, também desenvolver programas de parcerias com lideranças comunitárias, de modo que a escola se torne um centro de referência. Quando pais, vizinhos e os próprios alunos assumem responsabilidade pela segurança e pela proteção das instalações, a ação dos delinquentes fica dificultada. Evidentemente, ninguém está sugerindo que cidadãos façam o trabalho da polícia. Basta que observem atitudes suspeitas e denunciem para as autoridades, sempre com o cuidado de não se exporem a riscos.

O importante é que se crie uma rede preventiva de proteção, tanto no período de atividade escolar quanto nos finais de semana.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O DESAFIO DE VIVER EM REDE

EDITORIAL ZERO HORA 24/10/2011


Otema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), encerrado ontem, não poderia ser mais oportuno e mais adequado para a faixa etária da maioria dos candidatos: “Viver em rede no século 21: os limites entre o público e o privado”. Por coincidência, na mesma avaliação em que os estudantes tiveram que escrever sobre o uso adequado das redes sociais, mais de uma dezena de candidatos foi eliminada exatamente por acessar o Twitter via celular durante a prova, o que era terminantemente proibido.

Idealizado para aferir a qualidade do Ensino Médio no Brasil, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que mobilizou milhões de estudantes em todas as unidades da federação, é hoje não apenas um instrumento de avaliação das escolas, como também um canal democrático de acesso às universidades públicas. Entre as instituições de Ensino Superior, dezenas já utilizam seus resultados como complementação dos processos seletivos e algumas até substituem totalmente o vestibular pelo Enem, um atrativo a mais para os estudantes participarem do exame – com base na pontuação, os alunos também obtêm a qualificação para conseguir o diploma do Ensino Médio e podem se candidatar a bolsas do Programa Universidade para Todos (ProUni).

O Enem também passou pelas suas próprias provações recentemente, por conta de erros e vazamentos em provas que suscitaram desconfianças e críticas. Em 2009, chegou a haver o adiamento do concurso e, no ano passado, alunos tiveram de realizar o exame uma segunda vez em função de erros detectados. Mas, para superar descrédito, o Ministério da Educação buscou mecanismos para aperfeiçoar o sistema de avaliação. As provas são elaboradas para oferecer uma referência para autoavaliação com vistas a auxiliar nas escolhas futuras dos cidadãos, com relação tanto à continuidade dos estudos quanto à sua inclusão no mundo do trabalho. Também por isso o tema da redação foi extremamente pertinente, como ficou comprovado no próprio exame, que acabou servido de teste para a cidadania.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

AS BASES SOCIOLÓGICAS DA EDUCAÇÃO

ARLETE GUDOLLE LOPES, PROFESSORA E PALESTRANTE - ZERO HORA 21/10/2011


As raras demonstrações de apreço dispensadas ao professor em 15 de outubro, pela mídia e representantes da sociedade, induzem a questionar os reais motivos de tanto desinteresse. É mister que se analisem as bases sociológicas da educação, visto que, na estrutura conservadora e dissociada da realidade em que é concebida, amalgamam-se o contexto social, político, econômico, religioso e cultural num todo hegemônico. Encontram-se, de forma desconexa, irreal e inautêntica, inovações e desenvolvimento à maneira de aparelho registrador coletivo. Concebidas sem consultar os envolvidos, as diretrizes educacionais são aplicadas com o intuito de oficializar o pensar social, a vivificação do presente, estabelecendo vínculos que transitam pelo passado, encadeando-o com o hoje e o amanhã como se fosse o elo capaz de desobstruir a realidade.

A proposta educativa às vezes se transforma em estrangulamento de qualquer processo desenvolvimentista, social ou individual. Ao sintetizar o pensar de dirigentes, se oriunda de cima para baixo, eclode como forma de desajuste entre imposições do sistema e a realidade a ser vivenciada pelo estudante, porque o aluno interfere de maneira restrita ou quase nula em mudanças sociais, já que o mundo da escola é universo subjacente que rompe e ignora a ingerência do homem. A educação é tida como uma forma de comportamento em que o estudante deve acatar o que lhe é imposto, ao invés de ser seu foco maior de interesse.

Conclui-se que o sistema de ensino resume-se a um conjunto burocratizante de conceitos, técnicas, metodologias, objetivos vários e enorme vontade em acertar por parte dos professores. Serve ainda como gerador de conflitos, empecilho de ações qualitativas, propenso à erradicação do conformismo, da acomodação e do alienamento de jovens. Surge disso uma educação desenraizada do contexto ao ignorar os anseios de seus integrantes enquanto deveria buscar aperfeiçoá-los visando a mudanças. Aliado a outras instituições, o ato de educar torna-se um aparelho ideológico, embora o professor não o perceba, ao insistir em tratar a todos por igual, quando o próprio estrato social se diversifica, já que para alguns estudantes o ensino é privilégio, para tantos as escolas são válidas enquanto distribuem alimentos.

Os envolvidos no processo de desenvolvimento social devem verificar se os cursos de formação de professores preparam-nos para desempenhar suas funções com competência. Para mudar, precisam buscar respostas longe dos gabinetes, ouvir os jovens, sondar-lhes os anseios, analisar o comportamento das crianças, cujas capacidades intelectuais são irremediavelmente danificadas pelas privações e desestímulos do meio onde vivem. Sem envolvimento social e mudanças em ações docentes, nem remuneração justa aos professores poderá melhorar a qualidade da educação.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

FINANCIAMENTO DO ENSINO TÉCNICO

EDITORIAL CORREIO DO POVO, 20/10/2011


A educação brasileira passa por uma crise de identidade, principalmente, o ensino médio. O resultado disso pode ser visualizado no ranking escolar elaborado pela Organização das Nações Unidas, no qual o Brasil aparece apenas em 88 lugar, atrás de muitos países de menor porte econômico, entre eles, os vizinhos do Mercosul, Paraguai, Uruguai e Argentina.

O que se acaba verificando no sistema educacional do país é que os adolescentes nem aprendem conteúdos básicos, como fundamentos de linguagem, matemática, física, biologia, história e outros pontos programáticos, nem recebem uma preparação adequada para conseguir uma colocação adequada no mercado de trabalho. Com isso, resta-lhes ocupar ofícios que exigem menor qualificação e, dessa forma, veem-se recebendo salários aviltados e insuficientes.

Para tentar melhorar essa realidade, o governo federal terá agora os mecanismos do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), o qual vai disponibilizar bolsas de estudos e financiamentos para atividades de capacitação profissional, entre elas, cursos. A proposta já foi aprovada na Câmara dos Deputados e no Senado Federal e, tudo indica, deverá receber a sanção da presidente Dilma Rousseff.

Segundo o texto da norma emanada do Congresso Nacional, as verbas serão direcionadas prioritariamente para alunos carentes, com foco nos estudantes das escolas públicas e bolsistas integrais de instituições particulares de ensino. Trabalhadores inscritos em programas sociais e os que já estão há muito tempo sem colocação formal também terão direito aos recursos. Os estados com déficit escolar serão contemplados.

Programas e projetos que visem melhorar o aprendizado no país são urgentes. Gerar emprego e renda, com melhor formação dos candidatos a vagas, é papel afeito ao poder público.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Neste blog consta a minha defesa em busca de uma educação multidisciplinar onde o ensino técnico tem um papel substancial na preparação do futuro cidadão brasileiro. Não dá mais para tolerar uma educação focada apenas no conhecimento, deixando os jovens embretados, desmotivados, estressados e sem capacidade de enfrentar o mercado de trabalho e sobreviver em sociedade. A educação precisa integrar conhecimentos e técnicas que possam preparar o aluno na busca de autonomia pessoal e financeira.

EDUCAÇÃO E IDEOLOGIA

MARIA LUIZA KHALED, JORNALISTA, MESTRE EM LETRAS E ESCRITORA - ZERO HORA 20/10/2011


Recentemente, o Chile realizou uma consulta popular para perguntar sobre eventuais mudanças no ensino do país. Uma iniciativa digna de aplauso. Afinal, esta deveria ser uma prerrogativa dos cidadãos nos regimes democráticos, o que nem sempre ocorre.

No Brasil, a educação formal foi desde sempre determinada politicamente e de forma quase arbitrária, ou seja, os governos, invariavelmente, decidiram os rumos da educação e até mesmo dos currículos, com base nos princípios da ideologia política que representavam. Nada mais esclarecedor que analisar o passado. A ditadura militar de 64, por exemplo, alterou currículos, incluindo disciplinas como educação moral e cívica, e, ao mesmo tempo, eliminou o ensino de filosofia, entre outras de base humanística que promovem o pensamento, a reflexão e o senso crítico. Vale dizer, deixou uma lacuna no ensino e causou prejuízos à formação cultural de várias gerações. Desarticulou ainda os movimentos estudantis.

Os governos democráticos que se seguiram procuraram recuperar a formação que a ditadura suprimiu. Mas, da mesma forma, deixaram sua marca na educação mais do que em qualquer outra área. Tal determinação pelo controle do ensino evidencia-se nas mudanças pedagógicas a cada governo, bem como na veiculação das ideologias políticas, através da publicação de cartilhas e da distribuição de livros didáticos.

Com a ascensão da esquerda ao poder, a ideologia política ganhou maior visibilidade. Assim como ocorreu na ditadura, de direita, atualmente são inequívocos na educação os princípios socialistas. Tais pressupostos evidenciam-se na opção pela defesa das minorias, entre outras. Resulta daí a discutível e ainda polêmica implantação do sistema de quotas raciais nas universidades.

No plano da pedagogia, não é diferente. Por exemplo, há pouco tempo, nos meios de comunicação surgiu uma polêmica sobre o português padrão e seu uso correto, a propósito de um livro didático. Na verdade, a questão vai além da ciência da linguística. A tolerância aos erros de linguagem é um conceito profundamente ideológico. Nesse sentido, Paulo Freire, teórico e educador de esquerda, entendia que a linguagem padrão representava uma forma de dominação da elite.

Sem dúvida, a educação deveria ser um campo de conhecimento que se sobrepõe às influên- cias político-ideológicas, e não estar submetida às intervenções do poder público. Mas isso acontece porque nós, enquanto sociedade, abdicamos de exercer um direito constitucional que enfatiza: “A educação (..) dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade”.

Sendo assim, compreende-se que um governo eleito tenha o direito de administrar, porém a sociedade não pode outorgar-lhe a tarefa de decidir os rumos da educação de forma arbitrária. Fica a pergunta: quando exigiremos medidas de maneira a garantir a mais ampla participação da sociedade nas decisões do Estado?

terça-feira, 18 de outubro de 2011

PROFESSORES DEDICADOS PARA MELHORAR A EDUCAÇÃO

EDITORIAL JORNAL DO COMERCIO, 18/10/2011


Dia 15 de outubro é data dedicada pela Igreja Católica a João Baptista de La Salle padroeiro dos professores. Foi um sacerdote e pedagogo francês inovador, que consagrou sua vida a formar professores dedicados ao ensino de crianças pobres. Fundou a congregação Irmãos das Escolas Cristãs, ou Irmãos Lassalistas. Pois mesmo não ouvindo com muita simpatia a frase de ordem de que “nada temos para comemorar” dita por alguns sindicalistas com um viés ideológico-partidário, desta feita ela soa verdadeira. Não é assim agora, em 2011, mas há muitos anos. É que em algum lugar do passado ficaram as melhores aulas. Responsáveis por 88% das matrículas do Ensino Médio do País, as escolas públicas são maioria entre as que ficaram com nota abaixo da média nacional do Enem. Talvez a competição com o computador, os jogos eletrônicos e tudo o que hoje distrai a atenção dos jovens para um estudo mais sério nos faça refletir se não está na hora de combater o presente e o futuro tecnológico com uma volta ao passado. Pode parecer paradoxal, mas em que lugar do passado ficaram as aulas de leitura, ditado, redação, desenho, canto orfeônico, trabalhos manuais, secretariado, economia doméstica e os tradicionais cursos Clássico e Científico? Muitos afirmarão que isso é saudosismo piegas e que não se pode voltar a um ensino cujo modelo tem 40 ou 50 anos.

No entanto, as escolas públicas eram as melhores ou, pelo menos, se igualavam às particulares. “Não tenho filhos, mas se tivesse faria de tudo para não deixar que se tornassem professores. É o que farei com meus sobrinhos”. Desta forma o educador Oscar Eduardo Magnusson resume o sentimento que acompanha os profissionais da categoria. Com salários desvalorizados, carga horária intensa em sala de aula e trabalho constante em casa, os professores estão cansados. Resultado: cada vez menos gente procura uma formação na área. O panorama é desalentador e não há perspectiva de melhora em um curto espaço de tempo. Contudo, alguns especialistas analisam a situação por outro ângulo. Com a baixa procura pela profissão, a demanda por docentes seguirá alta. Uma perspectiva positiva em um horizonte obscuro.

Paradoxalmente ao abandono de currículos tradicionais onde até o temido Latim nos ensinava a etimologia da maioria das palavras da língua portuguesa, hoje a publicidade de alguns colégios fala que ensinar é, antes de tudo, questionar, discutir e ter uma visão do mundo muito além da escola. Mas quando isso não foi feito nos colégios públicos e privados até os anos de 1970? Mas havia muita disciplina e a hierarquia, talvez até com uma dose de repressão, mas que não traumatizou ninguém. Uma volta ao velho e bom ensino humanístico, sem abandonar as ciências exatas, cursos profissionalizantes e descurar da informática, da internet e da tevê a cabo talvez dê mais e melhores resultados. Não é preciso inovar em métodos no ensino: basta ensinar, dialogar e manter o interesse das turmas. Nada substitui um professor que encante com frases, pensamentos, debates e a análise do que se passa, cotidianamente, na cidade, no Estado, no Brasil e no mundo, com pinceladas que façam seus alunos pensarem. A educação é, sim, a base de tudo mas a educação passa pela família.

domingo, 16 de outubro de 2011

VIDA DE PROFESSOR - AGRESSÕES FÍSICAS E VERBAIS

Agressões físicas e verbais são algumas das situações vividas por educadores de Joinville. Eles mostram, no Dia do Professor, que a dedicação à sala de aula é uma missão que exige uma dose de coragem - Julimar Pivatto, DIÁRIO CATARINENSE, 15/10/2011 | 15h34min

Em novembro do ano passado, uma orientadora educacional de uma escola municipal chamou a família de um aluno para conversar sobre o comportamento dele. E foi surpreendida com a atitude do estudante, que na época tinha 13 anos.

O garoto passou a agredi-la verbalmente, chamando-a de "vaca". A mãe, que estava do lado, nada fez. A professora ficou preocupada e com medo que, futuramente, pudesse ser agredida fisicamente. Por isso, ao contrário de tantos outros professores que passam pela mesma situação, foi registrar um boletim de ocorrência contra o aluno.

— Fiz isso também para servir de alerta porque não foi um caso isolado. É algo cada vez mais comum — disse a orientadora.

Mas o que mais chamou a atenção dela é que a mãe do aluno não demonstrou qualquer reação com a atitude do filho.

— Infelizmente, hoje em dia as famílias estão mais distantes. E pensam que a nossa obrigação é educar. Mas isso vem de família, a escola precisa ensinar — explica.

A situação chegou a desanimar a orientadora. Em mais de 20 anos trabalhando em escolas, foi a primeira vez que algo parecido aconteceu.

— A gente fica desanimada, dá vontade de parar. Como eu trabalho na parte de orientação, volta e meia algum aluno desobedece, faz pouco caso. Mas nunca tinha chegado ao ponto de ofender — disse.

O fato dela ter registrado um BO fez com que o aluno mudasse a atitude em alguns pontos e o relacionamento entre os dois mudou. Ela acredita que iniciativas por parte do poder público, de promover cursos de capacitação para professores, seria interessante.

— Acho que a gente deveria ser melhor orientado para saber como agir neste momento. Eu trabalho orientando, procurando sempre conversar e abraçar, mesmo quando o aluno é desobediente. Acho que é com carinho que a gente conquista eles — afirma.

Núcleo tenta prevenir conflitos entre professor e aluno

A Gerência Regional de Educação em Joinville tem até um programa específico para tratar dos problemas que envolvem a relação professor-aluno: é o Núcleo de Educação e Prevenção (Nepre), que atua em várias áreas, entre elas a capacitação de professores que sofrem com agressões de alunos, sejam elas físicas ou verbais.

O coordenador pedagógico do programa, Jorge Schemes, diz que não é possível mensurar o número de ocorrências como estas nas escolas, já que nem todos os professores se manifestam.

— Posso dizer que é cada vez mais comum. Nós trabalhamos para incentivar o professor a denunciar, se for preciso, até a registrar boletim de ocorrência — disse Schemes.

O coordenador deu dois exemplos recentes, que chamaram a atenção. O primeiro deles foi em uma turma do segundo grau.

— A professora de química ia dar a primeira aula naquela turma. Quando foi sentar, tinha 20 tachinhas na cadeira, embaixo de um pano. Ela registrou um BO e os adolescentes hoje respondem por ato infracional — relatou.

O outro exemplo é de uma situação de constrangimento cada vez mais comum.

— Os alunos tiraram uma foto do professor com o celular, sem que ele soubesse. Dias depois, viu que foi criada uma página no orkut com o nome ‘Eu odeio o professor’. Ele tirou cópias de todas as páginas e conseguiu ser indenizado por danos morais — disse ainda Schemes.

O que o Nepre faz é oferecer capacitação para orientar os professores como agir em situações de conflito como estas.

— Temos de tomar cuidado também para não abusar da autoridade. Para evitar conflitos, damos dicas de casos de disciplina e indisciplina e como lidar em cada momento — afirma.

Problema acaba na delegacia

A maioria dos boletins de ocorrência registrados em casos como este ficam na Delegacia da Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso, no Bucarein. A delegada responsável, Alessandra Rabello, comentou que as ocorrências deste gênero são cada vez mais comuns.

— Não temos como fazer um levantamento dos dados porque não existe, por exemplo, o crime de bullying. Ele pode ser considerado agressão, constrangimento ou ameaça.

A delegacia faz o primeiro atendimento, registra o boletim e então encaminha o caso para a Promotoria da Infância e Juventude, que decide a punição para cada caso.

O melhor é priorizar a prevenção

A orientadora educacional Sandra Domingues prefere trabalhar com a prevenção.

— Hoje, o bullying toma conta das escolas e está difícil de combatê-lo. Mas há formas de amenizar essa situação — comenta.

Ela diz ter uma receita para enfrentar a agressividade dos alunos.

— Se ele vier com raiva, eu dou um sorriso. Se eu responder com violência, só vai piorar as coisas — disse.

Profissionais reunidos em seminário

O Instituto Joinville promove, nesta segunda-feira, um seminário, às 19 horas, para debater o problema. Será o 4º Encontro do Comitê Estratégico de Educação, com o tema “Indisciplina, violência e o desafio do professor”.

O evento será na Câmara de Vereadores e contará com uma apresentação de teatro e logo depois uma palestra com a psicóloga Roberta Balsini. Segundo o coordenador do comitê, Ernesto Berkenbrock, o objetivo é mostrar que não é só o aluno que sofre de bullying.

— Fala-se pouco sobre isso. Queremos instigar essa discussão, levantar o tema — afirma Ernesto. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas através do e-mail instituto@institutojoinville.org.br. Mais informações sobre o seminário nos telefones 3027-4056 e 3461-2556.

DOS PROFESSORES, DE TODOS OS DIAS

NEI ALBERTO PIES, PROFESSOR E ATIVISTA DE DIREITOS HUMANOS - ZERO HORA 16/10/2011

“As verdadeiras questões da educação resultam de que nas escolas há pessoas jovens, que devem ser ajudadas, tanto quanto possível, a serem felizes. E em que a felicidade dessas pessoas, como a de todas as outras, consiste em satisfazerem a ânsia profunda que têm de verdade, de bem e de beleza. Não em terem coisas e conforto.” (Paulo Geraldo)

Nós, professores e professoras de todos os dias, mergulhamos no complexo desafio de humanizar crianças, adolescentes, jovens e adultos a partir da construção do conhecimento. Os tempos mudam, mas não mudou o papel da escola. A escola é o grande laboratório onde se geram a socialização e a convivência interpessoal, bem como a construção do conhecimento, a partir das ideias e iniciativas inerentes à criatividade humana.

Abençoada seja a nossa missão de educar. Abençoados sejam nossos propósitos, mesmo nem sempre compreendidos pelos alunos, pais e comunidade. Abençoadas sejam nossas famílias que se geram neste contexto que exige ousadia, paciência, preparo e persistência, em resumo, em doação à vida dos outros. Abençoada seja a nossa saúde física e mental, pois não podemos adoecer e nem fraquejar. Abençoados sejam todos aqueles e aquelas que, por nossas mãos, mente e coração aceitaram e aceitam o desafio de fazer-se gente, a partir dos seus potenciais e da superação de seus limites. Abençoados todos aqueles que acreditam no trabalho do professor.

Nada mais gratificante, em nossa profissão, do que o reconhecimento de alunos e alunas que, mesmo tardiamente, fazem questão de afirmar que a gente fez diferença em suas vidas. Não há como medir, no cotidiano da vida escolar, quando e como realizamos ações ou atitudes que marcaram positivamente a vida de um de nossos alunos. Afinal, a gente nunca foi e nunca será gênio para adivinhar; sempre seremos visionários para arriscar, mudar e ousar. Nisto, sempre fomos mestres.

O que entristece a nossa vida é que tanto cuidamos da vida, dos sonhos e dos problemas dos outros, mas nem sempre somos bem cuidados. Queríamos, sim, reconhecimento por nosso maior feito: preservar a importância da educação e da escola para o nosso país, para o mundo.

Muitos falam de educação, mas não são professores. Arriscam palpites sobre melhorias na educação, mas não perguntam sobre o que a gente tem a dizer. Não se importam com nossos baixos salários, muito menos com nossas dificuldades de lidar com as múltiplas dimensões e necessidades presentes nos nossos alunos. Nestes últimos quesitos, lutamos solitários. Embora não tenha mudado o papel da escola e da educação, mudaram as exigências para que possamos construir uma boa aprendizagem. Temos observado que nem todo aluno e nem todos os pais veem a escola como uma forma de inserção na vida social e científica. Que as necessidades dos nossos alunos estão muito além para aquilo que a escola consegue oferecer. Que escolas e professores nem sempre estão em condições de dar conta de tudo o que está “depositado” neles.

O fato é que a complexidade de nosso mundo é a complexidade da nossa escola; esta complexidade está nos distintos recantos de nosso país. O que muda de uma escola para outra é o modo de conduzir os processos de aprendizagem e de interação social, mediados pelo conhecimento. A especificidade de cada escola e de cada contexto é que precisam ser sempre avaliados, reconhecidos e apoiados.

O professor, neste contexto, está fragilizado, exposto e pressionado por resultados e expectativas que não dependem somente de sua atuação. Mas professores e professoras resistem bravamente. Sabem que a dureza dos desafios cotidianos supera-se na disposição de lutar por melhores dias na educação, mas também na sua disposição de amar e sentir compaixão. Como escreveu Paulo Freire, “não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.

Nossos dias se chamam “muito trabalho”. Nosso alento, “esperança de dias melhores”.

A EXTINÇÃO DOS PROFESSORES


BEATRIZ FAGUNDES, REDE PAMPA, O SUL,
Porto Alegre, Domingo, 16 de Outubro de 2011.


O professores eram vítimas da violência - física, verbal e moral - que lhes era destinada por pobres e ricos. Viraram saco de pancadas de todo mundo

O ano é 2030 d.C. - ou seja, daqui a dezenove anos - e uma conversa entre avô e neto tem início a partir da seguinte interpelação:

- Vovô, por que o mundo está acabando? A calma da pergunta revela a inocência da alma infante. E no mesmo tom vem a resposta:

- Porque não existem mais PROFESSORES, meu anjo.

- Professores? Mas o que é isso? O que fazia um professor?

O velho responde, então, que professores eram homens e mulheres elegantes e dedicados, que se expressavam sempre de maneira muito culta e que, muitos anos atrás, transmitiam conhecimentos e ensinavam as pessoas a ler, falar, escrever, se comportar, localizar-se no mundo e na história, entre muitas outras coisas. Principalmente, ensinavam as pessoas a pensar.

- Eles ensinavam tudo isso? Mas eles eram sábios?

- Sim, ensinavam, mas não eram todos sábios. Apenas alguns, os grandes professores, que ensinavam outros professores, e eram amados pelos alunos.

- E como foi que eles desapareceram, vovô?

- Ah, foi tudo parte de um plano secreto e genial, que foi executado aos poucos por alguns vilões da sociedade. O vovô não se lembra direito do que veio primeiro, mas sem dúvida, os políticos ajudaram muito. Eles acabaram com todas as formas de avaliação dos alunos, apenas para mostrar estatísticas de aprovação. Assim, sabendo ou não sabendo alguma coisa, os alunos eram aprovados. Isso liquidou o estímulo para o estudo e apenas os alunos mais interessados conseguiam aprender alguma coisa.

Depois, muitas famílias estimularam a falta de respeito pelos professores, que passaram a ser vistos como empregados de seus filhos. Estes foram ensinados a dizer "eu estou pagando e você tem que me ensinar", ou "para que estudar se meu pai não estudou e ganha muito mais do que você" ou ainda "meu pai me dá mais de mesada do que você ganha". Isso quando não iam os próprios pais gritar com os professores nas escolas. Para isso muito ajudou a multiplicação de escolas particulares, as quais, mais interessadas nas mensalidades que na qualidade do ensino, quando recebiam reclamações dos pais, pressionavam os professores, dizendo que eles não estavam conseguindo "gerenciar a relação com o aluno".

O professores eram vítimas da violência - física, verbal e moral - que lhes era destinada por pobres e ricos. Viraram saco de pancadas de todo mundo. Além disso, qualquer proposta de ensino sério e inovador sempre esbarrava na obsessão dos pais com a aprovação do filho no vestibular, para qualquer faculdade que fosse. "Ah, eu quero saber se isso que vocês estão ensinando vai fazer meu filho passar no vestibular", diziam os pais nas reuniões com as escolas. E assim, praticamente todo o ensino foi orientado para os alunos passarem no vestibular. Lá se foi toda a aprendizagem de conceitos, as discussões de ideias, tudo, enfim, virou decoração de fórmulas. Com a internet, os trabalhos escolares e as fórmulas ficaram acessíveis a todos, e nunca mais ninguém precisou ir à escola para estudar a sério.

Em seguida, os professores foram desmoralizados. Seus salários foram gradativamente sendo esquecidos e ninguém mais queria se dedicar à profissão. Quando alguém criticava a qualidade do ensino, sempre vinha algum tonto dizer que a culpa era do professor. As pessoas também se tornaram descrentes da educação, pois viam que as pessoas "bem sucedidas" eram políticos, modelos, jogadores de futebol, artistas de novelas da televisão com pouca contribuição real para a sociedade. (Autor desconhecido.)

sábado, 15 de outubro de 2011

UTOPIA EDUCATIVA

JUREMIR MACHADO DA SILVA - CORREIO DO POVO, 15/10/2011


Eu acredito no Dia do Professor. É todo dia. Eu acredito em heróis. Só que eles não usam roupas especiais nem uniforme. Muito menos a cueca por fora da calça como o Super-Homem. São os professores. Heroicos professores. Especialmente aqueles que trabalham no ensino fundamental e médio. Dizem que o tempo das utopias passou. Utopia é o impossível que até pode ser tornado possível. Em certos casos, deve. Inventar o impossível é a nossa tarefa. Nada mais importante nestes tempos de pragmatismo cínico do que sonhar o improvável. Sonho que a presidente brasileira reúne todos os governadores e os cem maiores empresários e apresenta um projeto para o magistério. Nenhum professor ganhará menos de R$ 10 mil mensais. A educação é colocada como a prioridade das prioridades. Jogadores de futebol com salários acima de R$ 100 mil doam 10% todo mês para a educação. O dinheiro é recebido, contabilizado e aplicado. Tudo com transparência total.

Eu acredito em utopias. Quando era criança, ouvia falar em telefone com imagem. Dizia-se que um dia poderíamos falar e ver o interlocutor à distância. Não tínhamos sequer o telefone comum. Mas se dizia que um dia todos o teriam. Escrevi parte deste texto enquanto falava por Skype com meu velho amigo francês Olivier Cathus, que vive em Montpellier. Num canto da tela, a imagem dele. No outro, minha página em construção. Há 20 anos, quando cheguei na França, esperava cartas pelo correio. O mundo mudou graças a visionários, como o recém-falecido Steve Jobs, que começaram a realizar suas utopias na garagem de casa. Em tecnologia, o inconcebível de hoje é a realidade de amanhã. Tudo aquilo que Jules Verne descreveu como ficção científica se tornou ciência real. O processo continua. Por que o mesmo não pode acontecer com a educação no Brasil? A tecnologia é um produto da ciência, que é um fruto da educação. Qualquer um sabe que a principal via da ascensão social e da melhoria da vida está no ensino. A escola continua sendo a grande porta.

O professor, em qualquer nível, é o mestre que abre frestas, vãos ou grandes vias. Mas, infelizmente, no Brasil a educação só é prioridade em discurso. Deve-se cobrar mais dos professores. O mérito é importante. A avaliação também. Eu, como sonhador de utopias, imagino um momento em que antes da cobrança haverá uma revolução nas condições estruturais da atividade educacional. Sorrio quando dizem que o salário não é tudo. Aposto que um professor que salte de menos de mil reais para 10 mil se tornará, salvo exceções, muito melhor, pois terá, enfim, acesso à cultura, que custa caro e é mais do que informação ou navegação na Internet, é experiência de vida e de imersão na efervescência da atualidade. Acordo num mundo em que não há Dia dos Professores. Um menino me informa que foi abolido por ser redundante. Explica que os professores são admirados e aplaudidos diariamente. Ele me conta que está trabalhando na criação de um telefone capaz de transmitir aromas. Tudo é possível, me diz, quando a escola é o centro do mundo sem centro.

AOS MESTRES, NOSSO RECONHECIMENTO

EDITORIAL CORREIO DO POVO, 15/10/2011


Hoje é um dia especial para todos nós, pois temos uma data destinada a homenagear um profissional marcante em nossas vidas. Trata-se do professor, ao qual somos reconhecidos por ter nos transmitido, em cada momento das nossas trajetórias, o conhecimento necessário para melhorarmos como pessoas e como cidadãos. Tudo o que somos e até mesmo os bens materiais que temos nós os devemos a alguém que nunca poupou esforços para que fôssemos capazes de sobreviver com dignidade.

O Brasil vive atualmente uma fase de crescimento econômico, mas a educação ainda não chegou ao nível que precisamos para que possamos aproveitar todas as oportunidades que se descortinam interna e externamente. O próprio ranking educacional elaborado pela Organização das Nações Unidas nos mostra que ainda precisamos avançar muito, pois o país está hoje na 88 colocação, totalmente desproporcional ao tamanho da sua economia, hoje entre as dez maiores do planeta. Para diminuir esse hiato entre o aprendizado e as possibilidades que temos pela frente, é imperativo qualificar nosso sistema de ensino, tarefa essa que somente será exequível se contarmos com a adesão do professor, personagem de destaque em uma sala de aula.

A valorização da condição de educador, não obstante os discursos de candidatos nas sucessivas campanhas eleitorais, ainda não se traduz num salário compatível com suas necessidades. Isso faz com que a profissão seja pouco atraente, resultando em que hoje é muito raro um jovem dizer que pretende cursar uma faculdade para lecionar. O desafio é inverter essa lógica e garantir aos mestres uma boa condição para ensinar, com vencimentos adequados ao cargos que ocupam. Do contrário, teremos um apagão educacional em pouco tempo, com consequências imprevisíveis, implicando alto custo para o país.

PROCURA-SE MESTRE NA EDUCAÇÃO

Patrícia Luciene de Albuquerque,pedagoga - ZERO HORA 15/10/2011

O professor era o centro do saber. A escola era o lugar essencial do ensino e da aprendizagem. Ninguém sabia nada se não tivesse ido à escola. Essa era a concepção que a sociedade tinha de educação.

Nos dias de hoje, ouço muitas frases como: “Por que retornar à escola e deter minha educação?” ou “aprende-se mais lendo do que estudando” ou ainda “eu aprendo mais fora da escola”, e a sensação que tenho é de que o conhecimento (não os conteúdos!) está em toda a parte menos na escola.

Leio vários textos que retratam a situação política educacional em nosso país. Ouço atentamente os colegas que, além de relatarem experiências, levantam pontos que antes eu ainda não havia pensado e eis que surge uma grande interrogação: O que é essencial mudar para que haja educação no Brasil? Os salários dos professores? As estruturas das escolas? Os alunos?

Em minha opinião, o que precisa urgentemente passar por uma mudança são os cursos de formação. Lembro-me dos meus dias de normalista e também das noites cansativas no curso de Pedagogia e penso: o que realmente aprendi em sete anos e meio de formação? Saí preparada ou com uma base sólida para enfrentar a realidade de uma sala de aula? Não! E olha que me formei em 2009!

Escreve-se e fala-se muito dos problemas da escola, mas e os problemas dos cursos de formação? Quem discute? O Curso Normal e as licenciaturas são a base da escola que temos hoje. Que cursos temos, que não são capazes de despertar a vocação nos verdadeiros educadores e de barrar aqueles que não nasceram para ensinar? O que as provas objetivas, aplicadas no Curso Normal e de Pedagogia, podem avaliar em um educador? Não é preciso saber na ponta da língua o que todos os grandes educadores disseram, em qual livro está e o número da página; é preciso saber usar esses legados como base na construção de seus próprios degraus na educação.

Muitos dizem: “Não adianta ter uma boa formação, pois o sistema acaba engolindo todo mundo”. Até agora não sei se o sistema é um monstro enorme com garras afiadíssimas, uma boca engolidora de sonhos e atitudes profissionais coerentes ou uma mera lenda criada por professores que tiraram seu time de campo pela velha e boa estabilidade do concurso público. Penso que professores mal formados é que são oprimidos pelo sistema, acabam cedendo aos seus apelos e, no lugar de estarem discutindo o fazer pedagógico, ficam comprando perfumes e lingeries em suas reuniões. E, depois, ainda querem ser respeitados pelos alunos, admirados pelos pais e valorizados pelo governo.

Quando somos acadêmicos, nos fazem venerar Paulo Freire, Piaget, Vigotsky, Emilia Ferrero, Ana Teberoski. Eu gostaria muito mais de encontrar nos cursos de formação professores que eu pudesse admirar por estarem enfrentando as dificuldades de hoje e ainda assim serem mestres em ensinar. E por falar em mestres, você tem visto alguns por aí? Ah, não, ninguém mais quer ser mestre... só tia está bom...

SER PROFESSOR

Carlos Alexandre Netto, Reitor da UFRGS - ZERO HORA, 15/10/2011

Ensinar é uma das mais antigas e nobres ocupações humanas. Os primeiros mestres certamente foram os sumérios, que inventaram a escrita há mais de 5 mil anos; os escribas do Egito antigo dominavam a escrita e criaram uma elite poderosa. Hoje, o professor democratiza o acesso ao conhecimento e contribui, decisivamente, para a constituição da cidadania.

Há uma consciência pública de que educação, ciência e tecnologia são pilares para o desenvolvimento. O Brasil, país de contrastes e contradições, ostenta a oitava economia do mundo, é um dos 15 mais importantes produtores de conhecimento científico e vive um momento de expansão do Ensino Superior, porém o nível da educação básica deixa a desejar. Há problemas estruturais e a segregação da responsabilidade pelos distintos níveis de ensino dificulta sobremaneira a definição das urgentes políticas públicas.

O professor é um sujeito especial no processo educacional. Do letramento à formação em pós-graduação, da aquisição de conceitos fundamentais ao domínio de complexas habilidades cognitivo-motoras, existe a ação primordial daqueles que ensinam, orientam e avaliam. Ao conduzir os estudantes pela descoberta dos mistérios e fascínios da experiência humana, o professor inspira sonhos e cultiva talentos. Ensina pelo discurso e pelo exemplo, pelo afeto e pelo conteúdo.

Alguns pensam que, na era da informação acessível a um ou dois cliques em computadores, fixos ou portáteis, e até mesmo celulares, o professor começa a ser dispensável. Ledo engano, pois informação não é conhecimento. Navegar pelos intrincados nodos da rede mundial de computadores e discernir o que é confiável e fidedigno, num sistema que aceita contribuições sem qualquer tipo de averiguação ou avaliação, exige boas práticas e tutoria que os mestres experientes podem oferecer. Aliás, empregar de forma adequada as revolucionárias tecnologias de informação e comunicação é tarefa do professor no século 21.

Os cidadãos constituem a grande riqueza dos países no milênio da economia do conhecimento. Mais do que a abundância dos recursos naturais ou a extensão territorial, as potências econômicas são baseadas na capacidade de trabalho e da agregação de valor, ou seja, dependem do nível educacional da população. O Brasil tem aí um magnífico desafio a enfrentar e o professor é peça-chave para toda e qualquer solução. Reconhecimento social, condições de trabalho adequadas, salário justo, e educação continuada são fatores desta equação. Motivação, empenho e dedicação não faltam a esses profissionais. Parabéns aos professores, mestres e artífices do presente e do futuro que o Brasil merece e pode conquistar.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

INSEGURANÇA - GAROTO DE 12 ANOS AMEAÇA PROFESSORA COM ARMA DE BRINQUEDO

Menor tumultua escola em Gravataí. Garoto de 12 anos ameaçou diretora e professora com arma de brinquedo. Comunidade protesta contra a falta de segurança na escola - CORREIO DO POVO, 14/10/2011

As aulas aos 475 alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Rui Ramos, em Gravataí, foram suspensas na manhã de ontem após um estudante, de 12 anos, ter ameaçado a diretora e uma professora. O menor fugiu do local após o 17 BPM ser acionado. Nas buscas, os policiais militares o encontraram com uma réplica plástica de uma arma. Ele foi levado à Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Gravataí. O caso deve ser repassado ao Ministério Público. O garoto, que mora com o pai na região, está matriculado na escola, que fica na Rua dos Tupis, no bairro Barnabé, mas deixou de frequentá-la neste semestre.

Em protesto, um grupo de pais de alunos concentrou-se na frente da escola pedindo mais segurança. As queixas sobre o estudante, que já foi detido várias vezes, são unânimes. Há relatos de que ele roubaria no comércio e a outros alunos, riscaria veículos e ameaçaria professores, além de ser suspeito de consumir drogas.

Um dos pais, que pediu para não ser identificado, quer providências urgentes das autoridades. "É vergonhosa a situação. Vão esperar por uma tragédia, como a morte de alguém? Não acontece nada. Está todo mundo apavorado", desabafou. Ele espera que agora o garoto permaneça recolhido. "Como trazer as crianças para a aula de novo"?, questionou o pai preocupado, informando que o aluno seria oriundo do bairro Restinga, em Porto Alegre, onde também teria causado muita confusão.

A direção e as professoras da escola foram proibidas pela Secretaria Municipal da Educação de Gravataí (Smed) de concederem entrevista à reportagem do Correio do Povo. Uma equipe da secretaria esteve no local, mas também preferiu não falar sobre o assunto com a imprensa.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

ENSINO TÉCNICO - EXEMPLO DE INTEGRAÇÃO NA FINLÂNDIA

DIÁRIO CATARINENSE, 12/10/2011

A oferta de ensino técnico integrado com o médio para todos os alunos que concluem o ensino fundamental é uma realidade na Finlândia – país que já ocupou o primeiro lugar do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) por 10 edições consecutivas. A avaliação mede a qualidade de sistemas educacionais de 65 países, incluindo o Brasil, que no último, divulgado no ano passado, ficou em 53º lugar.

O finlandês Matt Haapanen, que esteve no WorldSkills, em Londres, para divulgar o sistema de ensino do país, explica que esse é um dos motivos para a educação ir bem no país. Diferente do Brasil, um aluno que sai do ensino fundamental tem dois caminhos a escolher – o ensino médio regular ou o ensino técnico. Nas duas opções, a duração é de três anos e o período das aulas é integral. De acordo com dados do governo, 129 mil estudantes escolhem a formação mais acadêmica e outros 160 mil a técnica.

Dos que preferem o ensino profissionalizante no segundo grau, 80% optam por parar de estudar para entrar no mercado de trabalho. Mesmo assim, o governo oferece uma espécie de especialização para quem tem o nível técnico, que pode ser cursado depois de três ou cinco anos de trabalho, dependendo do curso.

Após concluir o ensino médio, os finlandeses escolhem por dois modelos de universidade: a acadêmica, para se chegar ao doutorado, ou uma tecnóloga, chamada de politécnica, onde se pode fazer mestrado. Independente da opção, para ingressar é preciso passar por um exame. As instituições de nível superior são públicas.

Todos os professores da educação básica têm pelo menos mestrado. Eles são valorizada pela sociedade e pelo governo. Esses aspectos também explicam o bom desempenho da Finlândia no ranking internacional.

A média salarial de um docente na Finlândia é de cerca de 40 mil euros, ou seja, cerca de sete vezes maior do que o de um professor da rede estadual de Santa Catarina.

O ENSINO TÉCNICO PODE FAZER A DIFERENÇA


ENSINO TÉCNICO. Porta aberta para o mercado de trabalho - JULIA ANTUNES LOURENCO. Colaborou Adrina Fernandes - DIÁRIO CATARINENSE, C12/10/2011

Realidade em países desenvolvidos, a oferta do ensino médio com o técnico começa a ganhar mais força no Brasil e no Estado. A necessidade de mão de obra qualificada em setores chaves para a economia é cada vez mais evidente. Além disso, o país provou no WorldSkills, em Londres, que consegue oferecer formação ténica e de qualidade. O Brasil voltou com a segunda colocação, ficando atrás da Coreia. O joinvilense Natã Barbosa, técnico em informática pelo Senai, ajudou o país nessa disputa. Ele ganhou medalha de ouro na categoria webdesign, deixando para trás 26 estudantes de diferentes países.

Dois dos setores que alavancaram a economia em Santa Catarina nos últimos anos – a tecnologia e a construção civil – enfrentam um cenário parecido: sobra vaga e falta gente com conhecimento técnico. Além disso, a formação técnica é um atrativo para o jovem concluir o ensino médio, porque ele sai da educação básica com uma profissão. Para o próximo ano, serão oferecidas 7,5 mil novas vagas em institutos federais, colégios estaduais e no sistema S (Senai, Sesc e Senac).

De acordo com o presidente da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), Rui Luiz Gonçalves, a capacidade de formação de mão de obra qualificada não acompanhou o crescimento destes segmentos.

Só na Capital, pelo menos 560 vagas ficaram em aberto em empresas de tecnologia no ano passado. Para reverter a situação, os dois setores estão de olho em convênios com os celeiros de formação destes profissionais.

A chance de empregabilidade é tão expressiva que as escolas técnicas já estão se adequando às demandas de mercado, com cursos cada vez mais específicos. Conforme Gonçalves, de seis contratações na área de tecnologia, cinco são de pessoas com curso técnico e apenas um de superior.

Para não ter que continuar “importando” profissionais de estados ou países vizinhos, a construção civil também passou a investir em capacitação, no canteiro de obras ou em parcerias estratégicas.

Nos últimos anos, a expansão do setor obrigou o mercado a absorver toda a mão de obra disponível, com ou sem qualificação. De acordo com Hélio Bairros, presidente do Sinduscon, o apagão de emprego chegou a inviabilizar o crescimento de algumas empresas, que precisavam de servente a mestre a obras.

Pronatec quer expansão do ensino técnico

Por ser garantia de emprego, o jovem acaba se sentido atraído por essa modalidade de ensino. Para segurar o adolescente no ensino médio, a Secretaria de Estado da Educação vai oferecer, a partir do próximo ano, 7 mil vagas no ensino técnico integrado com o médio.

Ainda em tramitação no senado, o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Empregos (Pronatec), se aprovado, pode quase dobrar a oferta de cursos técnicos no Senai, em SC, para o próximo ano. A instituição oferece 6 mil vagas. Com o Pronatec, o número pode chegar a 11 mil. Para o diretor geral do Senai, Rafael Lucchesi, o programa pode ajudar a corrigir distorções da educação brasileira.

– Temos 6 milhões de universitários e 9 milhões no ensino técnico, destes, só 1 milhão está na educação profissional. Formamos os meninos para uma lógica bacharelesca. O Brasil deve ser um dos poucos países no mundo em que o estudante passa 12 anos dentro da escola sem ter uma hora de educação profissional. Aqueles que não vão para a universidade chegam ao mercado de trabalho sem a escola ter ajudado em nada.

A rede federal também expandirá o ensino técnico. Para o primeiro semestre de 2012, o Instituto Federal de Educação Tecnológica (IF-SC) vai oferecer 12 cursos novos em seis campi, que abrirão 472 vagas. No total, são 2.761 vagas e as inscrições para concorrer a alguma delas vão até 16 de novembro.

– A procura é muito grande, pela inserção rápida do jovem no mercado de trabalho. Não digo que a procura aumentou, mas tem-se falado muito nisso, por causa da economia aquecida – diz Fábio Alexandre de Souza, diretor de Desenvolvimento do Ensino do IF-SC

No Instituto Federal Catarinense (IFC) serão mais 80 ofertas, em dois novos cursos – em informática e segurança do trabalho no campus Fraiburgo, totalizando 1.945 vagas.

Uma escola do futuro em SC

Aproveitando a ida a Londres para acompanhar os estudantes catarinenses no WorldSkills 2011 no início de outubro, representantes do Senai e o presidente da Federação das Indústrias de SC, Glauco José Côrte, estiveram na empresa de tecnologia Cisco e em Portugal, buscando exemplos e parcerias para viabilizar um projeto inédito no Brasil e que poderá servir de modelo para outros estados: a Escola Profissional do Futuro.

O projeto está sendo feito pelo Senai de SC e deve estar pronto em março de 2012, quando será apresentado ao Senai nacional. Depois disso, começa a execução, em uma escola da instituição no Estado, que ainda não foi definida. Mais do que discutir o uso de tecnologia em sala de aula, o trabalho pretender mudar aspectos pedagógicos do ambiente escolar.

– Ele é baseado na pedagogia moderna, focada no estudante. Faz com que o estudante seja o agente do aprendizado, orientado pelo professor. Hoje, muitas escolas proíbem o uso de celular em sala de aula. Queremos usar essa tecnologia para a educação – explica o diretor regional do Senai SC, Sérgio Arruda.

Em Portugal, eles conheceram um projeto que oferece um computador para todo aluno matriculado no ensino fundamental do país.

– Todos têm um computador em sala de aula – alunos e professores – além da lousa digital. Vimos crianças de seis anos aprendendo no computador. O resultado disso começa a aparecer no Pisa (uma avaliação para medir sistemas de ensino de 65 países), onde Portugal teve grandes avanços no ranking – observou.

Já na Cisco, eles foram atrás de maneiras para viabilizar o projeto. Arruda conta que os empresários gostaram do que foi apresentado e afirmaram ser possível uma parceria.

– Eles estão vendo uma grande oportunidade de construir um case mundial – finalizou.

Já o presidente da Fiesc viu na competição uma maneira de verificar quais são as novas técnicas e recursos disponíveis para o setor industrial. Ele disse estar convencido de que é preciso intensificar o apoio aos jovens catarinenses no ensino médio profissionalizante.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

LEI DA PALMADA

Aidê Knijnik Waiberg, psicóloga e socióloga - ZERO HORA 10/10/2011

Palmada educa? Sem palmada é possível aos pais impor limites aos filhos?

Estas questões que ocupam o pensamento de psicólogos e estudiosos, ao longo de décadas, certamente não serão respondidas por leis, tal como não são respondidas pelo Projeto de Lei 2.654/2003.

Quando o Estado/nação pretende interferir na privacidade familiar, determinando o que os pais podem ou não fazer com seus filhos, é porque algo está falhando na sociedade, seja no tocante à compreensão de suas próprias dificuldades, seja na percepção do que esta ou aquela corrente política dominante pretende instituir como regra.

A família é um ente social em constante movimento, no tocante às inter-relações que se estabelecem no cotidiano.

Nenhuma lei, no regime democrático, tem o condão de interferir em tais relações, razão pela qual, além de propor um controle estatal inadmissível e muito além dos limites previstos na Constituição brasileira, resulta ser totalmente ineficaz, pela impossibilidade quase absoluta de controlar situações como “castigos corporais moderados”, isto é, a tradicional palmada, e os atos de pura agressão física, por todos os aspectos inadmissível e revoltante.

A lei penal brasileira já estabelece as punições para o crime de agressão física, seja em menores, seja em maiores de idade.

O que interessa aos que realmente visam ao aprimoramento do comportamento da sociedade brasileira, isto é, psicólogos, educadores, sociólogos e outros, não é uma lei esdrúxula e incapaz de ser cumprida, mas sim o esforço do Estado para efetivamente conscientizar as famílias, em particular os pais, para que eduquem e imponham limites aos seus filhos, sem que seja necessário o uso da palmada. Porém, e isto é consenso, há casos em que o uso do expediente é imprescindível, último recurso para regular o comportamento de um filho.

E se, por isto, quer-se punir o pai ou a mãe, que fique claro: nenhuma punição é maior do que o remorso que surge no imediato segundo após desferir-se um tapinha no bumbum de um filho.

Esta busca pelo aperfeiçoamento das relações familiares vai além da questão pura da agressão física ou da palmada.

Pais despreparados causam danos psicológicos maiores, mais profundos e condicionadores da personalidade, do que o uso de uma palmada.

A repressão, a repreensão excessiva, o castigo sem explicação, podem afetar o desenvolvimento psíquico da criança, representam uma violência muito superior ao chamado tapinha pedagógico.

Ressalte-se que não se defende o uso da palmada. O que não é tolerável é a sua proibição, pura e simplesmente, de forma indiscriminada, sem levar em conta as peculiaridades individuais e as circunstâncias de cada núcleo familiar.

Para concluir, cremos que a lei é de difícil aplicação, se não for de impossível aplicação, que nenhum benefício traz ao estudo, à pesquisa e à evolução, para melhor, do processo de educação.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

LONGE DA EXCELÊNCIA UNIVERSITÁRIA

LONGE DA EXCELÊNCIA - EDITORIAL ZERO HORA 07/10/2011


A Universidade de São Paulo (USP) é a única instituição de Ensino Superior do país a integrar a lista das 200 melhores do mundo, de acordo com ranking divulgado pela revista semanal britânica Times Higher Education. Mas está na 178ª posição. Embora o Ensino Superior brasileiro venha se qualificando nos últimos anos, em decorrência da melhor formação dos professores e de investimentos públicos, o país ainda está a anos-luz da excelência desejada. Por isso, precisa reagir logo para encurtar essa distância.

O estudo, no qual a Universidade de Campinas (Unicamp) perdeu posição, caindo do 248º lugar para o 286º, é baseado em critérios objetivos, como relação professor/aluno, percentual de doutores, internacionalização (número de professores e alunos estrangeiros), pesquisa e citações. Profissionais qualificados constituem-se num pressuposto para levar uma instituição a figurar no topo da elite acadêmica. Mas uma universidade só alcança projeção internacional se investir também em pesquisa, produzindo conhecimento relevante para o mundo. Essa é uma área que depende de opção clara por parte dos gestores, mas também de recursos em volume suficiente, o que ainda está longe de se constituir na realidade do país.

Em outro estudo, o QS World University Rankings 2011, também britânico, a USP ocupa igualmente o primeiro lugar quando são avaliadas apenas instituições latinas. Na lista das cem melhores da América Latina, aparecem também cinco universidades gaúchas, com destaque para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Pontifícia Universidade Católica (PUCRS). Um dos aspectos avaliados nesse caso também é a produção científica, para a qual as universidades precisam dedicar atenção especial se quiserem maior destaque.

Ao encurtarem as distâncias, os avanços nas áreas de comunicação e de transporte acirraram também a competição entre instituições de nível superior. O país precisa ficar atento a essa disputa para firmar o espaço a que tem direito no mundo acadêmico.

A ALMA DA SOCIEDADE

ABRÃO SLAVUTSKY, PSICANALISTA - ZH 07/10/2011

A alma da sociedade é a educação. A missão de toda geração é legar sua herança cultural por meio da arte de educar. Uma arte que implica sempre um desafio, pois não é fácil gerar em um filho a capacidade de dominar suas pulsões. Para tanto, faz-se necessário ao desenvolvimento infantil o instituto da proibição, pois nessa fase é indispensável coibir e, portanto, frustrar. Ao mesmo tempo, é preciso educar com liberdade, tendo em vista a autonomia criativa. O ideal da educação é que prejudique o mínimo – afinal, somos imperfeitos – e realize o máximo. Além disso, é preciso considerar que cada sujeito tem suas disposições constitucionais próprias, e o que vale para um pode não valer para o outro. Na educação é necessário dizer não, tendo o cuidado de interferir pouco na imaginação infantil. Guimarães Rosa queixava-se dos adultos que atrapalharam seus brinquedos na infância.

Felizmente, toda criança evolui no espaço da brincadeira, porque ela não vive só no mundo real, mas também no mundo imaginário, do faz de conta. Muito já foi escrito sobre o universo das fantasias, um universo cada vez mais valorizado nas indispensáveis histórias infantis. Por outro lado, a educação transcorre numa sociedade e adaptar um filho à ordem social é tão necessário quanto problemático. Em regimes autoritários, proíbem-se a liberdade de pensamento e as indispensáveis rebeldias. Já nas sociedades mais permissivas, o desafio é pôr limites aos atos impulsivos. Não faltam relatos de crianças e adolescentes mimados que sofrem e fazem sofrer nas escolas.

É nesse processo educativo que se deve debater a palmada. Será a palmada tão educativa quanto se pensava antigamente? A palmada não educa. O ato de bater não é amoroso: é uma descarga agressiva, um gozo sádico. Apesar disso, não há por que condenar os pais que se valeram ou que ainda se valem desse expediente. Interessante que nos países escandinavos, mesmo a educação sendo rígida, vigoram leis que proíbem os pais de usar a violência contra os filhos. Não sei até que ponto a lei da palmada é necessária, mas não creio que vá mudar muita coisa. Em todo caso, admito que logo simpatizei com ela, pelo fato de levar o Brasil a debater o que ocorre no cotidiano educacional. E também porque tive a sorte de ter um pai que jamais batia, limitando-se a repreender com o olhar.

Vivemos tempos em que a modernidade líquida diluiu a solidez das instituições. Não por acaso, o desamparo é a matéria-prima da psicanálise. Nesse sentido, é lógico que os pais, muitas vezes aflitos e perplexos com a educação de seus filhos, saiam à cata de alguma fórmula que lhes assegure sucesso. Mas não há fórmulas prontas. Devemos ser orientadores, sem esquecer que somos aprendizes pedagógicos. Para aprender a ser mãe e a ser pai, é necessário aprender a ouvir os filhos. As conversas são valiosas e as boas palavras fortalecem. Sugiro, por fim, que usemos as mãos não para dar palmadas, mas para aplaudir a boa educação.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

CAMINHOS DA EDUCAÇÃO

PAULO NATHANAEL PEREIRA DE SOUZA, DOUTOR EM EDUCAÇÃO E EX-PRESIDENTE DO CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO - DIÁRIO CATARINENSE, 06/10/2011

A educação do povo é fenômeno recente no Brasil, abordado pelas constituições democráticas do país, visto que, nos tempos coloniais, imperiais e republicanos (neste caso, até o fim da 2ª Guerra Mundial), voltou-se a educação apenas para o atendimento das elites econômicas e sociais: o povo mesmo permaneceu à margem do processo. Foi preciso haver urbanização, industrialização e inserção do Brasil no concerto internacional para que a escolaridade do povo se impusesse como preocupação inadiável.

Os caminhos tratam da natureza da educação moderna, seu potencial em relação ao preparo das novas gerações para viverem na era do conhecimento, e, com isso, assegurar a inclusão das massas na prática ativa da cidadania. Quanto aos descaminhos, procura-se demonstrar quais as dificuldades que, ao longo do tempo, se vêm antepondo ao sucesso do ato de educar o povo: obsolescência dos modelos pedagógicos, insuficiência da formação dos docentes, ausência de modernidade e pertinência nos processos didáticos, limitação de recursos financeiros, planos educacionais que são mais declarações de intenções do que outra cousa qualquer.

Ainda recentemente, a mídia publicou e comentou os resultados de duas avaliações sucessivas: a Prova Brasil, que verificou o grau de aproveitamento das crianças matriculadas no terço inicial do curso fundamental, e o Enem, que mediu o desempenho de jovens matriculados nos cursos médios. Em ambos os casos, o resultado mostrou-se bastante precário. Na Prova Brasil constatou-se que a metade dos alunos de oito anos não aprende o mínimo necessário para justificar a sua presença na escola. E no caso do Enem, a maioria dos concluintes do ensino médio tem nota abaixo do índice desejável. Nas avaliações internacionais da Unesco e da OCDE, o fiasco não é menor.

Costumo dizer que a educação brasileira obedece, hoje, a duas leis concomitantemente: à LDB, que traduz o que de melhor se deva fazer nos diversos graus de ensino, e não tem sido aplicada no seu potencial mais avançado; e à lei dos comboios, segundo a qual a velocidade de uma frota naval é determinada pela velocidade da unidade mais lenta. Infelizmente, esta última tem presidido o regime de funcionamento de nossas redes escolares. A grande reforma a fazer-se está em engavetar, definitivamente, a segunda dessas leis e assegurar ampla utilização dos aspectos mais progressistas (claro que pedagogicamente falando) da primeira.

ESTUDANTE DE 11 ANOS LEVA ARMA PARA A ESCOLA

ALERTA NA FRONTEIRA. Estudante vai para a escola armado- ZERO HORA 06/10/2011

Um estudante de 11 anos foi para a escola com um revólver calibre 32 e cinco munições intactas, na zona rural de Quaraí, fronteira oeste do Estado.

O menino é estudante da 5ª série da Escola Municipal Hector da Luz, na localidade Nossa Senhora das Graças.

Professores notaram que o menino estava armado e chamaram a polícia.

O aluno disse à Brigada Militar e ao Conselho Tutelar que o revólver pertence ao seu avô, que não tinha conhecimento que o neto havia pego a arma.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

BULLYING E ASSÉDIO MORAL

LEONARDO FLORIANI THIEVES, ADVOGADO, PRESIDENTE DO CONSELHO ESTADUAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - DIÁRIO CATARINENSE, 03/10/2011

O bullying é uma situação de agressão física e/ou psicológica com características próprias, que acontece entre pares. Pode ocorrer entre alunos, entre professores, entre funcionários, não importa a idade. Não existe uma relação hierárquica nesta relação, pois os envolvidos são do mesmo grupo. O que existe é uma relação de força maior, por isso um agride e o outro não reage.

Já no assédio moral a agressão, quase sempre verbal, psicológica, moral, acontece entre pessoas de hierarquias diferentes. Ou seja, do professor para o aluno, do chefe para seus subordinados. Nesta relação entre desiguais, um agride e o outro não reage justamente por causa da sua relação hierárquica inferior.

Muitas crianças vítimas de bullying desenvolvem medo, pânico, depressão, distúrbios psicossomáticos e evitam retornar à escola. A fobia escolar geralmente tem como causa algum tipo de violência psicológica. Segundo Aramis Lopes Neto, coordenador do programa de bullying da Associação Brasileira de Pais, Infância e Adolescência, a maioria dos casos de bullying ocorre no interior das salas de aula, sem o conhecimento do professor. Também faz parte dessa violência impor à vítima o silêncio, isto é, ela não pode denunciar à direção da escola nem aos pais.

Para evitar isso, pais devem acompanhar seus filhos regularmente à escola, procurar conhecer seus colegas, conversar diariamente com ele questionando como foi o dia escolar, bem como perguntando sobre brincadeiras e tarefas. Vale complementar que além de ficarem atentos aos colegas de seus filhos, os pais deverão também prestar atenção aos professores, pois a criança, jovem ou adolescente poderá ser alvo do assédio moral feito pelos próprios educadores que deveriam repudiar tal conduta e acabam, infelizmente, praticando-a.