EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

domingo, 17 de janeiro de 2016

TOTALITARISMO ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO,


ZERO HORA 17 de janeiro de 2016 | N° 18417


PERCIVAL PUGGINA*



A burocracia do MEC está com pé no estribo para cavalgar de vez a educação brasileira. Refiro-me ao uso extensivo e abusivo daquilo que a Constituição determina: fixação de “conteúdos mínimos” para o Ensino Fundamental. No recentemente aprovado Plano Nacional de Educação (2014-2024), foi inserido um negócio chamado Base Nacional Comum Curricular (BNC) e, obviamente, coube ao MEC, povoado de companheiros, realizar a frutuosa tarefa. O ministério reuniu 116 especialistas de 35 universidades e produziu um calhamaço que, neste momento, está “aberto” a sugestões da sociedade. Ora, a sociedade nem sabe o que está acontecendo. E o que está acontecendo é gravíssimo! Aquilo que, na perspectiva do constituinte de 1988, deveria ser um conjunto de conteúdos, converteu-se num manual para homogeneizar cabeças e tornar hegemônica, no ambiente escolar, a ideologia que, há tempos, grassa e desgraça a educação brasileira.

O MEC informa que a BNC englobará 60% dos objetivos impostos aos ensinos Fundamental e Médio. E adverte: ela dialoga com o Enem. Sim, e como! Se o currículo obrigatório “dialoga” com o Enem (petistas adoram essa metonímia), escola alguma, pública ou privada, vai ensinar diferente, ou sob perspectiva diversa. Se o fizer, seus alunos desconhecerão as respostas que o Estado brasileiro quer ouvir para lhes abrir as portas das universidades públicas. Eis o totalitarismo através da educação.

Quando algum pedagogo fala em problematizar algo, ele está afirmando que vai reduzir esse algo a coisa nenhuma. E o fará usando sua permissão para porte dessa arma de grosso calibre que é a barra de giz. Saiba então: o verbo “problematizar”, com seus derivados, pode ser encontrado 55 vezes na BNC! Lembram-se da ideologia de gênero, barrada no Congresso Nacional? E da posterior pressão do MEC, tentando obrigar Estados e municípios a adotá-la? Pois retorna, agora, pela BNC. O conceito gênero aparece 12 vezes no texto. Sexo, apenas duas. É a renitente problematização da genitália.

Quase nada há, ali, que não seja problematizado: sentido da vida; percepções do corpo; relações sociais e de poder; papel e função das instituições sociais, políticas, econômicas e religiosas; seleção das datas comemorativas (!); cronologia histórica nacional e mundial; narrativas eurocêntricas; relação de “saberes e poderes” de caráter religioso e suas tradições; divisão de classes no modo de produção capitalista (e só no capitalista) e, por fim, fenômenos sociais de modo a “desnaturalizar (!) modos de vida, valores e condutas”. É a morte, por asfixia, do livre pensar.

Escritor*

puggina@puggina.org

sábado, 9 de janeiro de 2016

DÉFICIT DE 1,5 MIL PROFESSORES NO RS


ZERO HORA 09 de janeiro de 2016 | N° 18409


CLEIDI PEREIRA

Déficit de 1,5 mil professores na rede estadual


AUMENTO DE 37% NAS APOSENTADORIAS em 2015 no magistério é uma das razões para a escassez. Secretaria planeja levar para sala de aula servidores em cargos administrativos


Se o ano letivo começasse hoje, o Rio Grande do Sul teria um déficit de 1,5 mil professores. Conforme dados da Secretaria da Educação (Seduc), dos 75 mil profissionais que estão na ativa atualmente – entre concursados e contratados em caráter emergencial –, 51,4 mil estão em sala de aula. Em dezembro de 2014, esse número era de 52,9 mil – ou seja, houve um recuo no quadro de quase 3%.

Os números acenderam a luz amarela para o risco de falta de professores na rede pública estadual em 2016. Na tentativa de evitar que isso aconteça, a Seduc está fazendo um pente-fino nas cedências de servidores, como revelou o colunista Tulio Milman ontem. Hoje, 1,3 mil docentes estão atuando na rede municipal (em regime de permuta), na Assembleia Legislativa, em órgãos federais, em secretarias municipais e estaduais e em Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apaes).

A expectativa da secretaria é de que pelo menos 500 servidores retornem para suas atividades originais, após a avaliação de cada um dos casos. A triagem está sendo feita pelas Coordenadorias Regionais de Educação (CREs) e deve ser concluída até o fim do mês. De acordo com o secretário-adjunto, Luís Antônio Alcoba de Freitas, a medida é necessária, pois “a situação das finanças do Estado não permite contratações”.

– Temos de fazer o dever de casa e atender, em primeiro lugar, o aluno em sala de aula. Certamente, mesmo com todo esse esforço, vamos ter carência (de professores). Estamos concluindo um levantamento das necessidades, que será apresentado para o governo – disse Freitas, lembrando que, em 2015, o Piratini abriu exceção e autorizou a contratação de 540 docentes.

DESESTÍMULO PELO BAIXO VALOR DO ABONO-PERMANÊNCIA

Uma das razões para o déficit de educadores é o aumento na quantidade de pedidos de aposentadoria. No ano passado, 3,3 mil se aposentaram – um número 37% superior ao de 2014. Freitas reconheceu que há desestímulo, em razão do baixo valor do abono-permanência:

– As pessoas completam o tempo de serviço e optam por outras atividades.

Com o menor vencimento básico do país, os professores no Estado estão abandonando as salas de aula. No ano passado, a Seduc registrou, em média, 17 afastamentos por dia (aposentadoria, exoneração ou óbito), o que representa uma baixa de 6,3 mil docentes. Em contrapartida, apenas 540 concursados foram chamados e 1.141 contratados em caráter emergencial.

De acordo com a presidente do Centro dos Professores (Cpers-Sindicato), Helenir Aguiar Schürer, “2016 será um ano muito difícil” para a educação e, principalmente, para os alunos, que, mais uma vez, sofrerão com a falta de professores:

– Essa debandada ocorre porque as pessoas precisam comer, se vestir, pagar aluguel. Os professores podem amar a profissão, mas a necessidade faz com que acabem abandonando a atividade.

A dirigente também questionou a estratégia do governo de realocar docentes que hoje estão em funções administrativas. Como estão afastados das salas de aula há tempo, ela avalia que pode ocorrer “perda pedagógica importante”. Helenir defende a convocação dos mais de 5 mil aprovados em concurso em 2013, que aguardam nomeação.