EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

BOLSA FAMÍLIA, ASSISTENCIALISMO E EDUCAÇÃO


ASSISTENCIALISMO - COLUNA DO LEITOR, ZERO HORA 28/09/2011

A distribuição farta de dinheiro público pelo Estado brasileiro está mais para compra de votos do que assistencialismo e redução da pobreza.

Ao entregar o peixe pronto e temperado para a alimentação dos pobres, o Estado deixa de fornecer a vara e os ensinamentos da pesca, criando legiões de pedintes e desempregados.

Não é à toa que o Bolsa-Família não alivia a penúria e que 86% seguem dependentes dela.

Jorge Bengochea, Coronel da BM – Porto Alegre

domingo, 25 de setembro de 2011

EDUCAÇÃO: EQUIVOCADOS NA BASE

AGENOR BASSO, PROFESSOR ALFABETIZADOR POR MAIS DE UMA DÉCADA, BACHAREL EM DIREITO PELA UFRGS - ZERO HORA 25/09/2011

Interessante, parece que os meios de comunicação estão fazendo eco às manifestações que, principalmente no início do atual governo federal, vêm sendo feitas de que a educação formal em nosso país está mal e que precisamos encontrar soluções para melhorá-la. Será que acordamos para o grave problema?

Entretanto, não vi e nem ouvi um comentarista ou político sequer apontar onde está o cerne do problema da nossa educação formal. Vários afirmam que devemos dar maior atenção ao ensino básico, no que estão certos. Outros insistem em que devemos melhorar os salários dos professores e as condições de trabalho dos mesmos, o que também é uma verdade.

Mas o mais grave, o pior e o mais urgente problema a ser corrigido na área educacional em nosso país está na alfabetização das nossas crianças.

A Comissão de Educação da Câmara Federal em 2003, na conclusão do seminário que realizou afirma: “Dentre os graves problemas que afetam a qualidade da educação no Brasil, nenhum é maior do que o da alfabetização das crianças”.

Em abril de 2006, o MEC torna público que: “O péssimo desempenho do Brasil nas avaliações nacionais e estrangeiras que medem a capacidade de leitura e escrita dos estudantes levou o Ministério da Educação (MEC) a questionar oficialmente a eficiência do modelo de alfabetização mais aplicado no país”.

As pesquisas nacionais e estrangeiras, há anos, comprovam que somos um país de analfabetos funcionais, pois quase 80% da população se encontra nesta condição, confirmando o que a Comissão de Educação afirma e respaldando a posição do MEC.

O principal método de alfabetização aplicado no Brasil é o do construtivismo e que se encontra estratificado em nosso país, “formando” analfabetos funcionais, alfabetizadores que não sabem instrumentalizar os novos cidadãos e atrasando o progresso da nação.

Se não houver uma mudança pedagógica, particularmente em relação à alfabetização, pouco resolverá pagar bem professores, equipar melhor as escolas, pois continuaremos com uma população majoritariamente de analfabetos funcionais, tendo em vista que nos encontramos pedagogicamente equivocados na base ou seja, na alfabetização. Países desenvolvidos dispõem de ação pedagógica específica para a primeira série do Ensino Fundamental, por ser a base para tudo o que virá após, pois alfabetizar não é um processo que se desenvolva por anos, mas é função específica para o início da educação formal, na primeira série do Ensino Fundamental.

É possível termos perspectivas positivas se possuímos uma nação cuja população não sabe ler ou, se consegue ler, não entende o que leu, tendo como causa principal uma alfabetização malfeita?

Como corrigir esse equívoco? Ora, aplicando o construtivismo lógico, que em quatro meses as crianças são corretamente alfabetizadas. Mas isto não interessa para o status quo dirigente na área da educação.

Não temos escolha: ou mudamos na base, ou o país será travado em seu desenvolvimento, inicialmente de cada cidadão e por consequência da nação.

Qualquer argumento esmorece diante deste fato. Esta é a realidade que nos aflige e que os dirigentes da área educacional e dos cursos de magistério não conseguem ou não fazem questão de enxergar.

Portanto, mudemos para melhor a base que o resto melhorará por consequência.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O PROBLEMA NÃO É A ESCOLA

VERA RUDGE WERNECK, diretora pedagógica do Colégio Padre Antonio Vieira, do Rio. O GLOBO, 22/09/2011 às 19h22m

O que mais interessa para o aperfeiçoamento da educação? Simples medidas quantitativas ou a avaliação do significado desses procedimentos? A educação como ação que visa a transformar o educando e a sociedade inicia-se pela definição de seus objetivos: o aprimoramento integral do homem, do seu físico, da sua racionalidade pela instrução, da sua liberdade psicológica, da sua sensibilidade e da sua responsabilidade social.

Medir não é o mesmo que avaliar. Embora as medidas possam servir de base para avaliações, não constituem o único referencial, nem o mais válido. A avaliação supõe um referencial pautado pelos valores e não por índices tecnicistas. Instrumentos de medida variam com os critérios escolhidos. Em si mesmos nada significam. Assim como altera-se completamente a avaliação de um país conforme o referencial utilizado, também o valor das escolas muda de acordo com o critério de julgamento adotado.

Pode-se tomar como referência o êxito obtido em integração social, em desenvolvimento humano, em consciência de cidadania, em competências e habilidades práticas.
O resultado do Enem pouco serve como ferramenta para avaliação, especialmente se não se considerar a proporcionalidade. O Inep separou este ano os estabelecimentos por grupos conforme o percentual de alunos que fizeram as provas, oferecendo assim outro parâmetro de aferição:

- o grupo I reúne estabelecimentos em que 75% ou mais dos estudantes fizeram as provas;
- no II estão os que tenham participação de 74,99% a 50%;
- no III, de 49,99% a 25%; e
- no IV de 25% a 2% de participação dos alunos nas provas.
- As escolas com índice de participação menor que 2% ficaram sem nota, assim como aquelas com menos de dez alunos participantes do exame.

Diante dessa classificação estipulada pelo Inep, o MEC recomenda que se analise o desempenho de cada instituição não só pela pontuação, mas principalmente levando em conta o grau de participação no exame de cada uma, diminuindo assim a disparidade entre elas. O critério apontado pelo instituto, além de melhor expressar a realidade da classificação feita de modo global, visa a minimizar distorções. Não se nega a importância das medidas, quer-se apenas registrar a sua relatividade.

Os colégios não valem ou deixam de valer só por conta desses resultados. Eles valem pelo muito que promovem o crescimento, a reflexão, o aprimoramento pessoal. A avaliação que se tem feito da escola pública, por exemplo, é injusta e revoltante.

Não se pode menosprezar um esforço e uma labuta tão difícil de um modo tão simplista. Nada menos científico do que uma avaliação fundamentada em apenas um instrumento de medida.

A escola pública tem tido no Brasil um papel primordial fomentando, muitas vezes, praticamente sozinha, com pouco apoio das famílias e das autoridades e parcos recursos, materiais, a integração humana e social de crianças e adolescentes e a sua inserção no país como cidadãos produtivos e conscientes.

O Enem atualmente funciona como um instrumento similar do antigo vestibular, determinando o currículo do Ensino Médio. Desse modo, está-se constituindo em um obstáculo para o aprimoramento desse nível de ensino, já que impede, de certo modo, o conhecimento livre, aprofundado e crítico para promover apenas o treinamento para um modelo único de prova. O problema talvez não esteja na escola pública, mas na utilização de um instrumento único, de validade discutível, para avaliá-la.

ATAQUE NA AULA - ESTUDANTE DE 10 ANOS ATIRA NA PROFESSORA E SE SUICIDA

SÃO CAETANO DO SUL (SP)- Violência em escola de SP choca o país. Estudante de 10 anos feriu professora com tiro e depois cometeu suicídio - ZERO HORA 23/09/2011

Armado com um revólver calibre 38 do pai, um menino de 10 anos, aluno do 4º ano do Ensino Fundamental, atirou ontem em sua professora e se matou com um tiro na cabeça, em São Paulo. Atingida na região do abdômen, a mulher foi hospitalizada, mas não corre risco de vida.

O caso ocorreu na escola municipal Professora Alcina Dantas Feijão, em São Caetano do Sul.

Segundo a Polícia Civil, David Mota Nogueira usou o revólver do pai, um guarda municipal, para atirar em Rosileide Queiros de Oliveira, 38 anos. O menino teria disparado contra a professora pouco depois do recreio, no meio da tarde. Conforme a investigação, David levantou-se da carteira e abriu fogo. Na sequência, saiu da sala e disparou contra a cabeça. O menino chegou a ser levado ao hospital, mas morreu após sofrer duas paradas cardiorrespiratórias.

A Polícia Civil investiga as motivações do ataque. De acordo com colegas e funcionários da escola, David era estudioso, inteligente e calmo. Não havia nenhuma queixa registrada contra ele na secretaria. Tampouco teria informação de que o menino sofresse bullying (perseguição sistemática de colegas) ou tivesse feito ameaças à professora, a funcionários ou a outros estudantes.

– Só sabemos, por enquanto, que não gostava da professora. Mas isso não é motivo para levar uma arma para escola e atirar em alguém – afirmou o secretário de Segurança de São Caetano, Moacir Rodrigues.

Desenho achado na mochila do aluno chamou a atenção

Rosileide, no entanto, teria falado mal da criança ao namorado.

– Ela dizia que o menino fazia brincadeiras violentas com os colegas, respondia de forma malcriada. E falou isso para a direção da escola. Acreditava que não devia estudar ali, mas em uma escola especial – afirmou o funcionário público da Receita Federal Luís Hayakawo, 37 anos, namorada da professora.

Um desenho encontrado na mochila do menino, no entanto, despertou a atenção da polícia: a imagem o retrata com duas armas e com um professor. O desenho foi encontrado com o material escolar dentro, de acordo com a delegada titular do 3º Delegacia da Polícia Civil de São Caetano do Sul, Lucy Mastellini Fernandes. No desenho, ele escreveu: “Eu com 16 anos” e “Professor”, indicando cada uma das figuras desenhadas.

A delegada apurou que a arma usada pelo aluno pertence ao pai da criança. De acordo com a delegada, Milton Evangelista Nogueira foi ouvido por cerca de 30 minutos. O guarda-civil contou à polícia que levou o filho à escola e que chegou a carregar a mochila dele. Ao retornar para casa, teria dado por falta da arma, que costumava deixar escondida sobre o armário do quarto. Em seguida, ele relatou que ligou para a mulher, mas, diante da negativa dela sobre o paradeiro da arma, decidiu voltar para a escola.

O caso provocou comoção na cidade do ABC Paulista e no país. As aulas foram suspensas ontem e hoje. As atividades deverão ser retomadas na segunda-feira.

sábado, 17 de setembro de 2011

REDE POR MELHOR EDUCAÇÃO NA AMÉRICA LATINA

EDITORIAL CORREIO DO POVO, 17/09/2011

A América Latina é heterogênea do ponto de vista histórico e cultural, mas tem fatores de unidade que residem em séculos de convivência e em uma luta perene pelo desenvolvimento e pela autonomia econômica e política de suas nações. Assim, há muitos pontos de confluência que fazem com que todos os países busquem compartilhar experiências e intercâmbios na tentativa de resolver seus problemas nacionais, alguns quase crônicos, como o das guerrilhas internas que ameaçam a soberania nacional.

Um novo movimento articulado está sendo lançado para tentar melhorar os índices educacionais da região. Trata-se de união de empresários, educadores, gestores públicos, políticos, órgãos e entidades da sociedade civil, além de autoridades. O objetivo é socializar experiências exitosas e cobrar dos governantes soluções para as questões educacionais.

O Brasil será representado nesse fórum pelo movimento Todos pela Educação, que vem de organizar um congresso internacional sobre o seu setor de atuação. Na pauta, formação de professores, avaliação do aprendizado e ampliação da jornada dentro das escolas. Para Priscila Cruz, diretora-executiva do representante brasileiro, a América Latina tem hoje a oportunidade histórica de implantar uma educação que seja realmente de qualidade.

O projeto de incentivo a uma nova educação tem o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Fazem parte da nova frente a Associação Empresários pela Educação, do Peru; o movimento Educa, da República Dominicana; o Eduquemos, da Nicarágua; Empresário pela Educação, da Guatemala; a Fundação Educação 2020, do Chile; a Fundação Empresarial para o Desenvolvimento Educativo, de El Salvador; a Fundação Empresários pela Educação, da Colômbia; a Fundação Educativa Ricardo Ernesto Maduro Andreu, de Honduras; o Grupo Faro, do Equador; Mexicanos Primeiro, do México; o Projeto EducAR 2050, da Argentina; e Unidos pela Educação, do Panamá. Todos estão em sintonia para pleitear um salto de qualidade nas escolas e instituições de ensino das nações desta parte do continente.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

AVALIAÇÃO PELO MÉRITO

Juremir Machado da Silva - CORREIO DO POVO, 16/09/2011

O secretário de Educação, José Clóvis Azevedo, é contra a meritocracia. Já nos disse, no "Esfera Pública", da Rádio Guaíba, que isso não funciona. Indicou um livro publicado nos Estados Unidos sobre o fracasso dessa experiência por lá. Na última vez que conversei com ele, explicou-me que a meritocracia é o pagamento de remuneração extra por desempenho. Algo como pagar mais ao jogador que faz mais gols. Ou pagar por gol feito. Segundo ele, o governo gaúcho não fará isso com os nossos professores. Apenas tornará mais objetivos os critérios já existentes no atual Plano de Carreira quanto à prevista promoção por mérito, além da progressão por antiguidade. O Cpers não está certo de que seja só isso.

Como admiro também o prefeito de Canoas, Jairo Jorge, que parece estar fazendo uma administração muito boa, quero precisar o que falei aqui sobre a meritocracia no seu município. Tenho em casa o livrinho da Secretaria da Educação de Canoas com o "Plano de Carreira - Profissional da Educação e Agente de Apoio à Educação Infantil". O item "Da progressão pelo critério regência" me faz pensar num quartel ou na transformação das obrigações em mérito. Premia-se: "assiduidade e pontualidade", "polidez e cortesia no trato com alunos, pais, funcionários da escola e colegas professores", "participação em reuniões pedagógicas", "participação em grupos de estudo", "disciplina e acatamento às normas" e "frequência". Não são computadas como dias letivos as faltas justificadas ou licenças. Adoeceu, perdeu pontos.

Posso estar interpretando equivocadamente, mas o artigo 22 me deixou de queixo caído. Diz assim: "São elementos de redução de pontuação na carreira": penalidade disciplinar de advertência: menos 60 pontos; penalidade disciplinar de multa ou de maior gravidade: menos 100 pontos. Fico imaginando a objetividade da aplicação do critério de "polidez e cortesia". Será que os professores de Canoas andavam tratando alunos e pais a pontapé e insultos? Será que arrotavam em sala de aula? O que significa premiar por "disciplina e acatamento às normas"? Não desobedecer? Não discutir com a direção? Sempre dizer sim aos "superiores"? Mostrar bom comportamento para ter progressão de pena, quer dizer, de carreira? Esse plano é uma reação a um estado de coisas? Se for, teremos de pensar no magistério como uma turba.

Certo é que o Rio Grande do Sul está fora da lei. Não paga o piso do magistério. É uma das poucas unidades da Nação a não cumprir essa lei sacramentada pelo STF. Os petistas, na época do governo Yeda Crusius, exigiam o pagamento e falavam em falta de vontade política. Agora, falam em falta de recursos e pedem tolerância. Muitos jornalistas acham que é radicalismo cobrar o cumprimento da lei de uma hora para outra. Queria ver como reagiriam se a empresa onde trabalham deixasse de pagar o 13 salário por falta de caixa, embora isentando empresas ricas de certos pagamentos, e prometesse resolver a questão em quatro anos. Como diz a sabedoria popular, nos olhos dos outros é colírio. Tem de arder é no governo.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

LUCAS, UM HERÓI

Guilherme Arruda, jornalista - ZERO HORA 15/09/2011

Apenas um quinto dos pais, hoje no Brasil, procura informações para saber as condições em que seus filhos são levados à escola pelos prestadores de serviço. Esta triste constatação, que não aparece em nenhuma pesquisa oficial, pode ser facilmente confirmada conversando com os profissionais que fazem o chamado transporte escolar. A grande maioria dos pais (inclusive no Rio Grande do Sul) ignora. Há fatos impressionantes, como o de um ônibus com cerca de 70 anos de uso em atividade – informação passada pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, o FNDE, ligado ao Ministério da Educação. E isso faz lembrar o acidente de Erechim e o seu bravo herói, lembrado nesse 22 de setembro.

Há no Brasil, atualmente, uma frota de aproximadamente 100 mil veículos escolares e, pelo Código de Trânsito Brasileiro, todos estão legalmente aptos a exercer a atividade. Não há um censo oficial sobre essa atividade. Quando isso acontecer, virá à tona outra realidade: uma quantidade incalculável de prestadores informais. No Capítulo XIII do CTB, a normatização do transporte escolar está condensada em 300 palavras, 27 linhas e quatro artigos. A despeito das competências em nível municipal, todavia, existe um número impreciso de veículos que passa longe de uma esmerada fiscalização, pondo em risco a vida de inocentes que desconhecem o perigo a que são expostos diariamente.

O mesmo capítulo não esclarece nada em relação a padrões de segurança, mas ele trouxe uma perspectiva favorável ao condicionar o número de pessoas transportadas ao total de cintos de segurança disponíveis. Uma relação um por um. Antes, era comum presenciar vans, Kombis, micro-ônibus e ônibus circulando pelas ruas das cidades transportando quase duas vezes a capacidade original do veículo. Era um verdadeiro absurdo.

Nas cidades do Interior, há duas realidades: nos municípios onde o serviço é feito por particular, a idade média dos veículos é de sete anos (extraoficial). Cidades em que a prefeitura faz licitação (ela paga um terceirizado), a média sobe bastante, porque a licitação é feita pelo valor mais baixo. Ou seja, o vencedor utiliza um ônibus retirado de circulação por envelhecimento.

O transporte escolar no país teve destaque apenas em 2007, no 118º ano da era republicana, com o surgimento do projeto Caminho da Escola, esforço louvável para atender alunos da zona rural, usando veículos padronizados e certificados pelo Inmetro. Na pegada do school bus americano, o governo federal deu largada, mês passado, à criação de uma legislação específica para essa atividade, capitaneada pelo MEC, em parceria com diversos órgãos e autarquias, e a iniciativa privada. Além da definição das especificações dos carros (quanto a normas de segurança, conforto e mobilidade nas vias urbanas), o grupo vai propor regulamentar a categoria do profissional de condutor de veículos escolar, junto com o Ministério do Trabalho. A reconversão certamente não será rápida – estima-se prazo de oito anos para sua execução.

Transporte escolar precisa ser levado mais a sério. Com a vida corrida que levamos hoje, ele deixou de ser ostentação; transformou-se em necessidade. No Rio Grande do Sul, felizmente, há guardiões que defendem esta bandeira com muita paixão. Não tenho filho pequeno em idade escolar, mas fico horrorizado ao observar o descaso dos pais. É um dever cuidar do futuro da nação. “Respeito”, como escreveu o Lucas.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

EDUCAÇÃO, POLÍTICA E O PISO DO MAGISTÉRIO

LUIZ ETEVALDO DA SILVA, PROFESSOR, MESTRE EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS E MEMBRO DA DIRETORIA DO 31º NÚCLEO DO CPERS (IJUÍ-RS)


Pensar na relação entre educação e política é algo que se faz há muito tempo, porém ainda é um debate que não se esgotou. São pertinentes reflexões acerca deste tema. Primeiro, é interessante se definir o que podemos entender por política, qual a concepção deste conceito que está na nossa subjetividade, na nossa compreensão. A política está no processo educativo, na organização da cidade e na luta dos trabalhadores por melhores condições de vida. A tentativa de apropriação do conceito de política é algo sem fim. Sempre somos exigidos a redefinir os princípios que sinalizam situações que envolvem relações de poder.

Ao pensar no conceito de política associado à educação escolar, estamos adentrando em um campo amplo, complexo e cheio de possibilidades. Amplo porque a política está presente, em tese, em todas as relações sociais. O processo educativo, então, não acontece desprovido da dimensão política. Como diz Paulo Freire: “Todo ato educativo é um ato político”. Ao educar, nos referenciamos por posições políticas pensadas por nós, professores, ou por outros, que a utilizamos, às vezes, sem saber quem a pensou e por quê.

O conceito de política é complexo, pois, em geral, não se expressa natural ou espontaneamente, é preciso se pensar para além do evidente e penetrar no aparente. Ideias políticas podem ser providas de artimanhas, sub-reptícios, subterfúgios, interesses e estratégias. Ao pensar a vida em sociedade, utilizamos o conceito de política, cuidado com a pólis, com as instituições, com aquilo que configura as organizações sociais.

As possibilidades da política são muitas, infinitas, tal como são possibilidades da História. As dimensões políticas do ser e estar no mundo se constituem no arcabouço filosófico e sociológico que define as estratégias de ação e reflexão sobre o mundo, isto é, a práxis, como pensar e agir para transformar a sociedade.

A própria luta dos professores por melhores condições de trabalho, defesa do piso do magistério, é uma luta política, pois envolve interesses, justificativas éticas, busca de justiça, valorização do trabalho e intencionalidade em valorizar a educação como instância social. O processo educativo, nesse sentido, postula o desenvolvimento social e cultural, como ideal de sociedade. Lembrando sempre que segundo Freire, “todo educador deve acreditar que é possível ocorrer mudanças. Todos devem participar da história, da cultura e da política. Ninguém deve ficar neutro, nem estudar por estudar. Todos devemos fazer perguntas, não podemos ficar alheios”. E as perguntas para este momento podem ser: Por que o governo não cumpre a Lei do Piso do Magistério? As leis só devem ser cumpridas pelos cidadãos? Até quando a negação do direito? E qual minha atitude como professor neste processo?

terça-feira, 13 de setembro de 2011

PISO NACIONAL - EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA, MP PEDE CUMPRIMENTO DA LEGISLAÇÃO

LUTA POR SALÁRIO. MP vai à Justiça pelo piso nacional aos professores. Ação civil pública pede que legislação seja posta em prática pelo Estado - KAMILA ALMEIDA, ZERO HORA 13/09/2011

Depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) reafirmou a constitucionalidade do pagamento do piso nacional do magistério em todos os Estados, o Ministério Público (MP) Estadual se armou de formas para cobrar a execução da lei no Rio Grande do Sul. Como parte desse processo, ingressou na manhã de ontem com uma ação civil pública na Vara da Fazenda Pública em Porto Alegre pedindo que a legislação seja posta em prática.

Se a Justiça acatar o pedido, o Rio Grande do Sul terá de prever o pagamento do valor já no ano que vem.

Na mesma ação, foram solicitados três pedidos de medidas liminares. A primeira delas pede a suspensão imediata dos cerca de 2 mil processos individuais que já estão tramitando contra o Estado e sua substituição por uma ação coletiva pela mesma causa. Calcula-se que o número de ações poderia chegar a 200 mil. Outra liminar solicita previsão para o pagamento do piso a partir do Orçamento de 2012. E a última pede que o Estado elabore um quadro remuneratório praticado atualmente, para compará-lo com o pagamento do futuro piso.

Caso a Justiça decida a favor do MP, o governo será obrigado a encontrar meios de separar verba para o aumento salarial dos professores.

– A ação é a favor dos professores, porque eles têm interesse na remuneração, e da sociedade, porque queremos que o salário do professor implique qualidade da educação. Também evitaremos que milhares de ações pela mesma causa emperre o Poder Judiciário e isso também representa uma economia com custos de processo para o Estado, que seria de R$ 900 em cada ação – disse o subprocurador-geral de Justiça para Assuntos Institucionais do MP, Marcelo Dornelles.

Para a presidente do Cpers, Rejane de Oliveira, apesar de importante, a ação do MP não será capaz de fazer com que o governo pague o piso:

– Existe uma lei aprovada para pagar o piso nacional, e o governo não cumpre. Buscaremos o cumprimento através de mobilizações, cujo lema será “Tarso paga o piso ou educação para”. Não podemos esperar sentados pela Justiça.

O documento já está sob os cuidados da juíza Mara Lúcia Coccaro Martins.

Estado diz que cumprirá decisão da Justiça

A secretária-adjunta da Educação do Rio Grande do Sul, Maria Eulalia Nascimento, afirmou que as condições financeiras para o pagamento integral do piso estão sendo criadas:

– O Estado tomará todas as medidas para cumprir o que for estabelecido. Já há uma previsão de R$ 400 milhões por ano no plano plurianual, que pode ser cumprido até 2015, para pagar o piso nacional dos professores. O reajuste de 10,91% já diminuiu a distância que separa o básico do piso. Ainda estamos distantes do ideal. Para cumpri-lo, seria necessário reajuste imediato de 50%, o que não é possível neste ano.

Sobre a possibilidade de o Estado ter de pagar os servidores já no ano que vem, a secretária disse que exigirá um planejamento mais detalhado:

– O dinheiro não existe. Para aparecer tem de haver uma movimentação que envolve outros setores.

ABISMO NO ENSINO

EDITORIAL ZERO HORA 13/09/2011

A distância entre as performances de alunos da rede pública e os das escolas privadas, reafirmada pelo Exame Nacional do Ensino Médio, seria compreensível se não denunciasse um fosso que o próprio ministro da Educação, Fernando Haddad, define como inaceitável. Mesmo que os desempenhos entre uns e outros coloquem os estudantes de escolas particulares invariavelmente em vantagem também em outros países, a situação brasileira preocupa. Não é razoável que oito em cada 10 educandários públicos tenham obtido notas abaixo da média geral nacional nas provas objetivas de 2010. Por mais que o Enem permita várias leituras, com diferentes interpretações para os dados apresentados, há números que são incontestáveis, e esse é certamente o mais chocante, por expor uma realidade perturbadora.

O Enem é um dos testes de qualidade da educação e oferece, a cada ano, subsídios decisivos para que o país possa avaliar o desempenho do Ensino Médio. Como qualquer prova, nas mais diversas áreas, presta-se a questionamentos sobre os métodos utilizados e a forma de apuração das notas, revisada pelo Ministério da Educação a partir da edição do ano passado. Com a mudança, foi relativizado o peso de cada escola em relação ao número de alunos inscritos, o que evitaria distorções. Também é positivo o fato de que o número de participantes aumentou de 45,8% dos estudantes concluintes do Ensino Médio, em 2009, para 56,4% no ano passado. E deve ser reconhecida a melhoria, mesmo que ainda quase imperceptível, nas notas médias da prova objetiva.

O que inquieta é o desempenho de alunos de escolas públicas, com as exceções registradas pelo Enem. É assim que o exame denuncia também mais uma das tantas formas de exclusão. Enquanto o ensino privado evolui e, mesmo com limitações, consegue investir em qualidade, educandários mantidos pelos governos continuam enfrentando deficiências históricas. O Enem mostra que o Estado fracassa na obrigação de garantir um ensino, não necessariamente de ponta, mas capaz de assegurar formação mínima a jovens que têm o direito de aspirar também ao acesso à universidade. A precária educação pública brasileira acaba por punir quem, pelo contexto econômico e social, já enfrenta condições desfavoráveis. O Enem explicita as desigualdades e desafia as políticas públicas a levarem em conta todos os fatores que contribuem para essas diferenças, muitos dos quais estão fora da sala de aula.

No caso do Rio Grande do Sul, merece reflexão o fato de que o Estado perdeu a liderança no Enem, conquistada em 2009, e recuou para a quarta posição no ano passado. Numa primeira observação, constata-se que as escolas gaúchas mantiveram sua performance na comparação com as próprias notas de 2009, enquanto Distrito Federal, Rio e São Paulo tiveram melhorias. Registre-se que a Secretaria da Educação já identificou pontos que requerem atenção e deflagrou um debate sobre o que define como reconstrução curricular, com provável implantação em 2012. Além do conteúdo, há preocupação com outros aspectos relevantes, como causas da evasão escolar e o expressivo número de adolescentes que não estudam. Mesmo que o Enem não seja o único motivador de tais ações, que se reconheça a contribuição do exame para inspirar correções e qualificar a educação pública.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

BULLYING - DIZ-ME COM QUEM ANDAS...

Bullying. Diz-me com quem andas...É de responsabilidade dos pais acompanhar os passos dos filhos para evitar e combater o bullying. Se o acompanhamento for negligenciado, a família poderá estar produzindo, sem saber, um agressor ou uma vítima. Gabriele Fernandes Siqueira - Redação Erechim / DM - DIÁRIO DA MANHÃ, 29/8/2011 15:53:56

O bullying, palavra popularizada há pouco tempo, tem gerado ampla discussão na sociedade. Meios de comunicação divulgam seguidamente casos de violência relacionados ao bullying. Os números vêm crescendo a cada dia e se tornando cada vez mais alarmantes. Por isso, instituições de ensino, órgãos políticos ligados a educação ou até mesmo iniciativas privadas tem tomado posicionamentos. Em Erechim a Secretaria Municipal de Segurança Pública e Proteção Social realiza palestras em escolas sobre o tema.

Como evitar, de que forma tratar com os envolvidos, tanto agressores quanto vítimas, são assuntos delicados que requerem atenção e comprometimento. Segundo a assistente social da Secretaria Municipal de Segurança Pública e Proteção Social, Cláudia Pires, os trabalhos já são realizados há mais de dois anos pelo órgão, justamente com o objetivo de orientar, pois a questão é puramente educacional. Ela comenta que uma de suas preocupações é que os órgãos estaduais e federais ainda não tenham investido em capacitação aos profissionais sobre esse tema.

Claudia cita exemplos de casos mostrados na mídia, onde profissionais definem certos tipos de violência como bullying, quando na verdade são casos isolados. Ela define como preocupante essa situação, pois os profissionais responsáveis, que deveriam ser bem treinados, acabam confundindo situações de violência isolada com bullying. “Por que uma criança xingou a outra não significa que seja bullying. As pessoas estão misturando muito. As punições são aplicadas em qualquer caso e não existe um trabalho educativo, nem na família e nem na escola” destaca.

Porém, diagnosticar a causa dessa violência e saber o que ela pode gerar é importante para prevenir situações futuras. A escola tem que ter o conhecimento de todos os fenômenos da violência pra poder intervir, mas, segundo a assistente social, isso é papel fundamental da família. “A família tem que acompanhar o seu filho. Aquilo que eu sempre falo escola é para ensinar, e a família para educar. Então o que a gente vem trabalhando é isso, que as famílias têm que ter o conhecimento de todos os tipos de violência. Maus tratos, negligência bullying, o que você não quer pra você, você não pode querer pro outro” acrescenta.

Cabe aos pais observar seus filhos, notar se há mudança de comportamento e ao mesmo tempo propiciar um ambiente harmonioso para que essa criança possa crescer e se desenvolver de maneira saudável. Entretanto, se os casos começarem a acontecer é importante que a família esteja atenta para diagnosticar e lidar com a situação. A enfermeira Danusi Marceli Grando, que também participa das palestras ministradas em escolas, comenta que a criança vítima de bullying apresenta tanto mudanças comportamentais quanto físicas. Se o adolescente emagreceu, chega em casa atrasado, com dor de cabeça, começa a falar que não quer ir para escolas, são sinais de alerta.

Claudia destaca que o acompanhamento deve ser diário. Saber com quem o filho anda, conferir os cadernos, se interar das atividades e manter um diálogo aberto com os filhos. “Aquela família que se abstém do cotidiano do filho, não sabe o que está produzindo, ela pode estar produzindo uma vítima ou um agressor. Tanto a vítima quanto o agressor precisam de acompanhamento. O agressor pela própria situação que essa família deve estar passando, por que ninguém agride ninguém sem alguma razão”.

O abandono ou descaso pode gerar consequências desastrosas. Um exemplo disso é o caso que aconteceu em Realengo, em abril desse ano, quando um ex-aluno da escola, que foi vítima de bullying, invadiu e atirou e matou vários adolescentes. Claudia comenta que esse é o típico caso de abandono. Abandono da escola que não notou a doença (esquizofrenia) que ele possuía. Abandono da família, quando a mãe morreu, ele perdeu o vínculo com os familiares, e abandono até mesmo da área da saúde, onde ele teria começado a se tratar, porém desistiu e os profissionais não buscaram trazê-lo de volta.

Segundo Cláudia, o adolescente que é vítima do bullying pode ser um agressor em potencial. “Ele vai engolindo, engolindo as agressões e acaba se tornando uma bomba, prestes a explodir. É nesse momento a importância do profissional, tanto do psicólogo, do assistente social, do médico, do enfermeiro do pediatra que acompanha essa criança, e principalmente da família”.

Nas palestras ministradas pela equipe da secretaria, Claudia comenta que é normal os adolescentes falarem que já presenciaram casos de bullying, ou até mesmo dizer que já foram vítimas. Para os que testemunham, a orientação é de que não fiquem indiferentes, que procurem professores, coordenadores e denunciem os agressores. Até mesmo em casa, a situação deve ser comentada com os pais, para que esses saibam o que se passa na escola.

Dessa forma, é importante que a escola busque realizar atividades voltadas ao tema, para conscientizar e orientar os alunos. Além disso, Claudia destaca que os professores devem ser capacitados para diagnosticar a situação. “Quando ocorre o bullying na escola, aquilo tem que ser interrompido o mais rápido possível. Senão vão ocorrer outras situações paralelas e a escola não vai conseguir dar conta. Deve-se cortar o mal pela raiz. A escola deve ser rápida, ter autoridade e ao mesmo tempo ela tem que ser amiga e repassar confiança para a criança” finaliza.

RS CAI NO RANKING DO ENEM

Estado cai no ranking do Enem. Notas obtidas no exame do Ministério da Educação que avalia o Ensino Médio derrubaram Rio Grande do Sul do primeiro para o quarto lugar na média geral das escolas. - ZERO HORA 12/09/2011

O Rio Grande do Sul perdeu, este ano, a supremacia no ranking do Exame Nacional do Ensino Médio em comparação com os demais Estados.

Primeiro colocado na prova de 2009 com uma média geral de 553,96, agora os gaúchos ocupam o quarto lugar, com uma nota de 559,69, levando em conta o desempenho em 2010 das redes pública e privada na prova objetiva e na redação. Outros três Estados tiveram avanços mais significativos no desempenho e ultrapassaram o Rio Grande do Sul.

Os resultados serão divulgados oficialmente hoje pelo Ministério da Educação (MEC). As análises devem levar em consideração o fato de o exame ter participação voluntária dos alunos. Além disso, a nota estadual é uma média do resultado obtido por todas as escolas, mas não é calculada oficialmente pelo ministério.

Porém, para a professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Elizabeth Krahe, o desempenho gaúcho permite algumas conclusões. Uma delas é que muitas escolas ainda não se adaptaram à proposta federal de parâmetros curriculares – que o Enem toma como base para a formulação das questões. Isso quer dizer que, enquanto o exame privilegia a aplicação prática do conhecimento, interpretação de conteúdo e interação entre diferentes disciplinas, muitos colégios ainda investem em práticas educacionais conservadoras.

– Muitas escolas gaúchas, sejam públicas ou privadas, insistem em um ensino baseado em memorização – acredita Elizabeth.

Nas últimas três edições do Enem, apenas duas instituições do Rio Grande do Sul figuraram entre as cem melhores do país. Desta vez, a honraria coube ao Colégio Militar de Porto Alegre (95º colocado) e ao Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria (97º colocado). No ano anterior, o Rio Grande do Sul compensou a falta de estrelas individuais com um bom desempenho conjunto. Mas a primeira colocação na média geral agora virou um quarto lugar.

A presidente do Conselho Estadual de Educação, Sonia Balzano, concorda com a avaliação de que muitos colégios ainda precisam se adaptar a um ensino mais dinâmico. Mas destaca a necessidade de um estudo detalhado de outros indicadores:

– Precisamos ver quantos alunos participaram, de quais escolas.

ESTADO - Média (escolas públicas e privadas)
1.Distrito Federal 579,06
2.Rio de Janeiro 572,51
3.São Paulo 561,47
4.Rio Grande do Sul 559,69
5.Minas Gerais 557,66
6.Santa Catarina 555,17
7.Goiás 544,36
8.Mato Grosso do Sul 543,44
9.Paraná 543,37
10.Pernambuco 537,1
11.Espírito Santo 535,44
12.Ceará 535,3
13.Alagoas 534,56
14.Pará 532,07
15.Paraíba 531,52
16.Bahia 531,12
17.Rio Grande do Norte 528,42
18.Sergipe 527,99
19.Amapá 527,96
20.Mato Grosso 526,86
21.Rondônia 523,7
22.Roraima 523,14
23.Amazonas 522,51
24.Acre 522,28
25.Piauí 518,12
26.Maranhão 512,65
27.Tocantins 512,36

sábado, 10 de setembro de 2011

LIBERDADE OU LIBERALIDADE

Jocelin Azambuja, advogado - ZERO HORA 10/09/2011

Estamos todos assustados com a violência nas escolas, vendo a cada dia cenas que nos chocam, com estudantes, crianças e adolescentes, agredindo-se ou a seus professores e funcionários de escolas.

Ficamos a nos perguntar: por que tanta agressividade? Por que tanta falta de educação?

Vivemos em uma sociedade em que se cultua a violência, desde os desenhos infantis até os filmes mais vistos nos cinemas, televisão e internet. Os pais cada vez mais descomprometidos com a educação dos seus filhos, sem tempo para lhes dar atenção, envolvidos em suas lutas diárias, pela necessidade do trabalho ou nos conflitos conjugais. As crianças e jovens sendo criados pelas babás eletrônicas, em uma sociedade de permissividade, que lhes oferece exemplos negativos, drogas, sexo, irresponsabilidade etc.

Os mais antigos lembram que a escola, até a década de 70 do século passado, era uma escola com mais qualidade de educação, mais disciplina e respeito.

A partir da década de 80, nosso processo democrático confundiu pais e escola no processo educativo, confundiu a liberdade com a liberalidade, os pais e a escola não estão sabendo colocar os limites tão necessários, pois acredito que regras são fundamentais, quer na família ou escola.

É importante que façamos esta reflexão. Professores, pais e estudantes devem se perguntar as razões que levam as escolas em que se exigem maior seriedade e disciplina a conseguir melhores resultados educacionais.

Um país que não cuida da sua juventude não tem perspectiva de futuro. A população está cansada de violência, de ver o país fabricando assaltantes, assassinos, viciados, favelados. Vivemos o apagão da educação.

Precisamos repensar a escola, que dê limites e responsabilidades, que receba investimentos materiais e técnicos, em que o respeito ao aluno, aos professores e a escola sejam uma prática constante. Precisamos acordar, enquanto sociedade. Nossos jovens pedem socorro, pedem amor, disciplina, regras, bons exemplos e perspectivas de futuro, para serem de fato o futuro deste país. Pois sabemos que a educação é a solução.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

É DE ESTARRECER

PAULO BROSSARD, JURISTA, MINISTRO APOSENTADO DO STF - ZERO HORA 05/09/2011

Tenho certo cuidado em usar o verbo estarrecer porque seguidamente existe desproporção entre o fato e o vocábulo a ele aplicado. No entanto, devo dizer desde logo, que fiquei realmente estarrecido com o rendimento escolar entre alunos que concluíram o 3º ano. E, mais do que chocante, é acabrunhante. O caso pode ser resumido em poucas palavras. Promovido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, em parceria com “Todos pela Educação”, foi feito levantamento da qualidade do ensino ministrado ao cabo de três anos, mediante a utilização da prova ABC, em alunos de todas as capitais; a prova envolveu 6 mil jovens em 262 escolas, estaduais e particulares. O resultado da investigação, divulgado em diversos jornais de grande relevo, provocou análises várias, em geral para externar quase estupefação em face das revelações. E realmente, não é para menos.

Chegaram ao meu conhecimento, faz algum tempo, informações esparsas a respeito da qualidade do Ensino Fundamental, nem sempre benfazejas, mas agora se trata de esforço para retratar com maior objetividade a situação nacional, na medida em que se pode chamar de nacional o que abarcou 262 escolas, oficiais e particulares, todas das capitais. No entanto, parece plausível acolher a aplicação, pois ampliando a cada Estado, não levaria a melhorar o perfil apontado, não porque faltem escolas modelares pelo país (quem não conhece a fama do Caraça, por exemplo), mas, de maneira geral, pode-se dizer, sem medo de errar, que as escolas do país inteiro não são superiores às da Capital, ressalvadas as exceções de estilo. Antecipo desde logo uma das conclusões do exame, o ensino nas escolas particulares é superior ao das escolas públicas. Sem comentários, limito-me a repetir a verificação em causa, lembrando que houve tempo em que escolas públicas rivalizavam com as melhores escolas privadas.

Vou logo a alguns resultados, que, embora limitados, são sintomáticos: 44% dos alunos avaliados não têm conhecimentos necessários em matéria de leitura, são capazes de ler, mas sem entender o que leram; 57% em matéria de matemática; são alunos que completaram o 3º ano do Ensino Fundamental e metade está longe do mínimo que se poderia esperar deles. Sem mais considerações, esses dados falam por si e são constrangedores.

Um aspecto que me parece ilustrativo é pertinente à orientação oficial a respeito. Enquanto o Ensino Fundamental apresenta tamanhas deficiências, expande-se o Ensino Superior. Ora, por melhor que seja este, com as fragilidades daquele, em grande parte um prejudica o outro. A propósito, o ex-presidente da República se vangloriava que, sendo o único presidente sem diploma universitário, criara 10 universidades... e, segundo acabo de ler, a nova presidente anunciou a criação de mais quatro. Que bom seria se, criada uma “universidade”, passasse realmente a ser uma Universidade... A verdade é que entre nós, e não é de agora, existem mais “doutores” que “doutos”. Mas isto é outra história.

Circunstâncias aleatórias me permitiram acompanhar o ensino ministrado em escola francesa de Brasília. As matérias ensinadas, fundamentalmente as mesmas ministradas pelas nossas, as diferenças eram inegáveis e em desfavor delas. Foi a lembrança que me ficou pelo que vi e vi com meus olhos.

Chega. Agora outro assunto também estarrecedor. Aqui, louvores merece a redução de meio por cento da taxa Selic. Voltou a 12%. Ainda assim parece ser a mais alta do mundo (sic). Mas há coisa pior. Chega a 188% o juro cobrado em determinadas operações bancárias praticadas sob as barbas do Banco Central. Ora, um país que reivindica um lugar permanente no Conselho da ONU não pode praticar monstruosidades dessas sob as vistas do poder público e ainda ande solto quem se entrega a esse tipo de prática escandalosamente contrária à decência pública e privada. De estarrecer é dizer pouco.

domingo, 4 de setembro de 2011

QUEM É QUE MANDA NO PEDAÇO

Percival Puggina - Twitter: @percivalpuggina


Professores, diretores de escola, bons alunos e bons pais sabem, todos, que o Estatuto da Criança e do Adolescente, ainda que concebido sob as melhores intenções, muito contribuiu para a irresponsabilidade dos menores num sentido geral e dos estudantes num sentido muito particular. Digam o que disserem quantos desejem canonizar o ECA pela santidade de seus objetivos, o fato é que na ausência de autoridade, normas e sanções as condutas se desregram. E foi exatamente isso que passou a acontecer nas escolas a partir do momento em que foi fragilizada a autoridade de professores e diretores e consagrada a supremacia infanto-juvenil. Não bastasse isso, no Rio Grande do Sul ao menos, quem quiser ser diretor de escola pública tem que fazer campanha e angariar votos entre os alunos... Depois, quando o colégio vira um sanatório, todos dizem - "Oh, que horror!".

As reiteradas agressões a que os mestres estão sujeitos por parte de crianças e adolescentes são a face mais visível e violenta de um problema que se expressa por infinitos modos no cotidiano das escolas. Em número crescente, mediante palavras, gestos e atitudes, os escolares tratam de deixar claro aos professores quem é que manda no pedaço. São reflexos de uma visão desnorteada sobre o que seja a proteção às crianças e aos adolescentes. É uma perspectiva deformada, que inibe os professores, entre outras coisas, de conter um pirralho que esteja a fim de lhe dar alguns pontapés.

Há bem poucos dias, um desses decidiu sair porta fora da sala de aula e da escola. A professora tentou impedi-lo e passou a receber chutes. Como o braço da professora, por sorte, era mais longo do que a perna do agressor, ela segurou o menino pelo braço, mantendo-o longe de si. Tudo sob os olhos de dezenas de testemunhas infantis. Resultado? A criança deve estar brincando no seu videogame enquanto a professora é convocada a dar explicações às autoridades educacionais. Afinal, ela havia cometido a brutalidade de segurar o braço de um aluno que a agredia. Sobre essas coisas, o aguerrido sindicato dos professores não dá um pio. A instituição só pensa em grana, plano de carreira e política. Nessa ordem.

Eis que para nos salvar do sanatório, a deputada Cida Borghetti (PP/PR) apresentou à Câmara dos Deputados um projeto de lei (PL Nº 267/11) restabelecendo algum bom senso na situação. A essência da proposta, que modifica o ECA, está neste artigo: "É dever da criança e do adolescente observar os códigos de ética e de conduta da instituição de ensino a que estiver vinculado, assim como respeitar a autoridade intelectual e moral de seus docentes". E neste parágrafo: "O descumprimento do disposto no caput sujeitará a criança ou adolescente à suspensão por prazo determinado pela instituição de ensino e na hipótese de reincidência grave, ao seu encaminhamento à autoridade judiciária competente".

Quem estiver preocupado com a degradação dos valores e das condutas na sociedade brasileira, com a ruptura da ordem e a má qualidade da educação deve se manifestar em apoio a essa iniciativa, seja divulgando-a, seja junto à autora e ao Congresso Nacional, pelos muitos modos possíveis. É certo que haverá reação dos setores comprometidos com ideologias totalitárias, sempre interessados em conceder facilidades à subversão da ordem e em gerar decepção com as instituições democráticas.

______________
* Percival Puggina (66) é titular do blog www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

sábado, 3 de setembro de 2011

MAIS DA METADE DOS PROFESSOR NÃO TEM PLANO DE CARREIRA

Professor não tem plano de carreira em 57% das cidades. Plano Nacional de Educação, em trâmite no Congresso, prevê 2 anos de prazo para que todos os municípios desenvolvam planos - 03 de setembro de 2011 | 0h 00 - Ocimara Balmant - O Estado de S.Paulo. ESPECIAL PARA O ESTADO

Mais da metade dos municípios do País ainda não oferecem plano de carreira para o professor. Os dados são do Plano de Ações Articuladas (PAR), ferramenta do Ministério da Educação (MEC).

Dos 5.565 municípios brasileiros, 5.532 (99,4%) responderam ao questionário do governo federal. Desses, apenas 43% afirmaram que têm plano de carreira. O Plano Nacional de Educação, que está em trâmite no Congresso, prevê dois anos de prazo para que todos os Estados e municípios brasileiros desenvolvam planos de carreira para todos os profissionais do magistério.

"A discussão é importante porque pesquisas nos mostram que, para ter um impacto na melhoria da qualidade, a figura do professor é central. E, por isso, é imprescindível falar de plano de carreira", diz Maria Carolina Nogueira Dias, especialista em Gestão Educacional da Fundação Itaú Social. A entidade promove em São Paulo, na segunda-feira, um evento para discutir o tema.

Antonio Roberto Lambertucci, diretor de Valorização dos Profissionais de Educação do Ministério da Educação (MEC), diz que os municípios estão sendo estimulados. "Estamos conversando com os Estados e municípios para incentivar o regime de colaboração para que todos consigam apresentar seu plano de carreira. Quem não apresenta, tem dificuldade de receber recursos voluntários", afirma.

Para os especialistas, todo plano de carreira deve contemplar a formação do professor, as condições de trabalho e a estrutura de incentivos. Uma discussão complexa, que começa no pagamento do piso salarial.

Em junho, foi aprovada a lei que institui o piso nacional de R$ 1.187. Mas, apesar disso, muitos Estados e municípios a estão descumprindo, o que gerou greves e protestos. E, mesmo que consigam pagar o piso, os municípios podem não ter caixa suficiente para bancar a progressão de renda prevista no plano de carreira.

"Resolvido o salário, é importante incorporar outros indicadores, como recrutamento, seleção, certificação e formação contínua do educador", diz Maria Carolina. "E isso, além da meritocracia, porque a política de bonificação traz essa questão para o debate, mas ainda não temos instrumentos desenhados. Falta-nos uma maneira de avaliar melhor o professor e seu desempenho em sala de aula."

Formação. A instituição do plano de carreira deve trazer consigo, também, a discussão sobre a formação desse profissional que ingressa no magistério, diz Nelson Marconi, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pesquisador do tema. "Não dá para só pensar nisso depois que já é funcionário. Tem de ver o que antecede. Hoje, os cursos de Pedagogia preparam muito pouco para a sala de aula. Focam nos conhecimentos de história e filosofia, mas a pessoa precisa aprender a dar aula", diz.

Sem contar, diz Maria Carolina, que a profissão tem sido vista como última alternativa. "A carreira é pouco atrativa, não atrai um público jovem. Vem quem não consegue entrar no mercado. Por isso, o plano de carreira tem de discutir como atrair e reter esse profissional."

Queda. Dados do Censo do Ensino Superior mostram que, em quatro anos, caiu pela metade o número de formandos nos cursos que preparam docentes para os primeiros anos da educação básica - como Pedagogia e Normal Superior. De 2005 a 2009, os alunos que concluíram essas graduações baixaram de 103 mil para 52 mil. Os graduandos em cursos de licenciaturas, que preparam professores para atuar no ensino médio e nos últimos anos do fundamental, também diminuíram - foram 77 mil em 2005, contra 64 mil em 2009.

Em junho, a Assembleia Legislativa paulista aprovou a nova política salarial do Estado. O projeto inclui o reajuste de 42,2%, escalonado em quatro anos. Com isso, o piso salarial de início de carreira (40 horas semanais) chegará a R$ 2.368,51 em 2014.

META - NELSON MARCONI. PROFESSOR DA FGV - "Não adianta só que os municípios apresentem seus planos de carreira. É preciso que ele seja adequado: que o processo de seleção recrute gente com perfil correto, que haja incentivos para que os docentes se capacitem e que existam mecanismos de estudo e de cobrança de resultados. E isso só vai acontecer se for debatido em uma rede que envolva os agentes da sociedade"

Docentes fazem assembleia no centro de SP

Professores da rede estadual de São Paulo realizaram uma assembleia ontem em frente à Secretaria de Educação. Foram aprovadas ações em defesa dos direitos da categoria e o calendário de negociações. A oposição, que queria uma paralisação, contestou o resultado e não participou da passeata, que foi cancelada.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL E OCUPACIONAL

ROBERTO MACEDO, ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), PROFESSOR ASSOCIADO À FAAP, É CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR - O Estado de S.Paulo, 01/09/2011

Metade dos alunos do 3.º ano não sabe qual carreira seguir foi o título de matéria neste jornal no dia 22 do mês passado, baseada numa pesquisa com alunos desse ano do ensino médio. Ela de novo revelou a enorme carência de orientação profissional no Brasil.

Sei que algumas escolas privadas de ensino médio oferecem essa orientação, às vezes sob a forma simplista de uma "semana das profissões", na qual especialistas de várias áreas falam de suas experiências. Uma das dificuldades dessa programação é que os palestrantes são usualmente profissionais de sucesso e, entre outros aspectos, também seria importante discutir experiências dos que não se saíram bem, até mudando de profissão.

Nas escolas públicas, nem mesmo ciclos desse tipo são comuns e, em geral, os estudantes não têm recursos para buscar orientação individual e especializada, a qual, aliás, não é comumente buscada nem mesmo pelas famílias de maior renda. Usualmente, o jovem procura informações por si mesmo, as famílias costumam influir na escolha, mas a dúvida é comum, e é um dos ingredientes da alta taxa de evasão de cursos, que a reportagem também menciona.

A orientação profissional ou vocacional fornece informações sobre as várias profissões e no orientando identifica suas aptidões e seus interesses específicos. Por exemplo, como se sentiria como um médico, um engenheiro ou um economista. Finalmente, depois de muita conversa eventualmente apoiada por testes, identifica-se a vocação profissional, num exercício que muitas vezes não converge para uma única opção.

À dificuldade de escolher sobrepõe-se a natureza do ensino superior adotado no Brasil, de profissionalização precoce, levando o jovem a passar por esse suplício da escolha numa idade em que não está preparado para isso, tanto por escassez de informações como pela imaturidade típica da idade.

Tal escolha poderia ser adiada por dois anos de um ciclo básico no ensino superior, de natureza interdisciplinar, e a opção por uma especialização só ocorreria ao final dele. Mesmo então, contudo, ainda não deveria ser de grande profundidade, a qual ficaria para a fase de pós-graduação. Esse é um sistema que foi inicialmente adotado por importantes instituições de ensino superior nos EUA e, por seu sucesso, se tem disseminado por outros países.

Também não há no Brasil, de modo geral, a possibilidade de mudança de curso sem novo exame vestibular. Não sem razão, são comuns as já citadas desistências de curso, e há a insatisfação que marca aqueles que carregam a dúvida por toda a vida.

Como se isso não bastasse, falta também orientação ocupacional, com a profissional pressupondo que a pessoa encontrará uma ocupação típica da profissão a que chegou. Ocupação, cargo ou função é atividade que a pessoa de fato exerce ou nela trabalha. Por exemplo, economista, torneiro mecânico e advogado são profissões; gerente de banco, presidente da República e embaixador são ocupações.

Como seria a orientação ocupacional? Deveria ter como base um amplo levantamento das várias ocupações, seus requisitos educacionais (a exigência de curso superior não significa que o diploma seja de profissão específica à ocupação), forma de acesso, remuneração, estimativas do número de ocupantes, perspectivas de vagas e outras informações. Entre elas, a de como ajustar um desses diplomas a uma lista maior de ocupações. Por exemplo, um curso de pós-graduação em administração, mesmo de curta duração, facilitaria a transição de um químico para ocupações administrativas. Esse levantamento bem abrangente deveria ser uma iniciativa governamental. Teria como objetivo dar uma boa visão de como funciona o mercado de trabalho, e facilitaria a busca de oportunidades nesse mercado.

Para o conjunto de formandos é impossível haver um perfeito e generalizado acoplamento entre profissão e a ocupação encontrada, como se aquela fosse uma chave adequada a uma fechadura específica. O resultado é que muitos profissionais trabalham em ocupações "atípicas" de suas profissões. Coloquei aspas porque isso não deve ser visto como uma anormalidade e muito menos como um problema. Um caso comum é o dos muitos engenheiros que se tornaram fiscais de tributos ou atuam no setor administrativo de empresas ou em ocupações do setor financeiro. A propósito, dados dos censos de 1980, 1991 e 2000 evidenciaram um crescente descasamento entre as profissões e suas ocupações típicas. Juntamente com outros interessados, aguardo a divulgação dos dados detalhados do censo de 2010 para uma nova avaliação.

A mesma reportagem trata de caso em que a falta de orientação ocupacional pode levar a decisões arriscadas. É o de um estudante que deixou um curso de engenharia de produção pelo de mecatrônica, também abandonado ao saber que "o campo de atuação seria a indústria". Acabou optando por medicina veterinária, afirmando gostar de bichos, e sonhando em trabalhar com "melhoramento genético de animais de grande porte".

Ora, sei que ocupacionalmente os dois primeiros cursos - em particular o de engenharia - oferecem um leque maior de opções ocupacionais do que o finalmente escolhido, muitas delas em áreas administrativas das indústrias, ou mesmo fora delas. Ademais, mesmo um veterinário poderá ter a indústria como seu empregador, numa ocupação ligada à sua especialidade ou não, como a de vendedor de produtos farmacêuticos.

Creio que a orientação também ocupacional aliviaria uma boa parte das incertezas e das tensões da autoritária e limitada forma de escolha a que hoje os jovens são submetidos no Brasil. Mostraria que o mercado é muito mais flexível ao acolher trabalhadores do que o sistema de ensino superior ao receber os seus estudantes.


A CRISE DAS ESCOLAS TÉCNICAS

- OPINIÃO, O Estado de S.Paulo - 01/09/2011

Há duas semanas, a presidente Dilma Rousseff anunciou a criação de mais 208 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs) - 88 com término de construção previsto para o segundo semestre do próximo ano e as unidades restantes com a promessa de serem inauguradas até o final de seu mandato, em 2014. Somando os novos estabelecimentos aos 354 já inaugurados, a rede federal de ensino técnico deverá atender cerca de 600 mil alunos, quando todas as unidades estiverem entregues.

Ao fazer esse anúncio, Dilma reafirmou a promessa feita na campanha eleitoral de 2010, de expandir o ensino técnico federal, por meio do lançamento de novas escolas e pela ampliação do número de estudantes nos cursos técnicos a distância. As metas são ambiciosas, mas nada garante que o governo conseguirá cumpri-las, principalmente se levados em conta os problemas que os IFs e os Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets) vêm enfrentando ao longo deste ano.

Como esses estabelecimentos não dispõem de docentes em número suficiente, cerca de 20 mil alunos ficaram sem aula durante mais de dois meses, no primeiro semestre. A falta de professores concursados de matemática, física, química e eletricidade comprometeu o cronograma do ano letivo e vem afetando a qualidade do ensino.

E, desde o término das férias de julho, mais da metade dos IFs e dos Cefets não retomou, total ou parcialmente, as atividades didáticas previstas para o segundo semestre, por causa de uma greve de professores e servidores deflagrada por razões salariais e melhoria das condições de trabalho. Em alguns Estados, como a Paraíba, todos os IFs e Cefets estão parados. Pelo balanço do comando nacional de greve, em São Paulo, Goiás e Alagoas, 90% das atividades estariam suspensas.

Além de reivindicar reajuste salarial, os docentes e servidores reclamam da falta de infraestrutura básica. Segundo eles, vários IFs e Cefets funcionam em edifícios precários, sem água e com frequente quedas de energia. Outras unidades não dispõem de laboratórios e insumos para pesquisas. "Criaram o instituto, mas não construíram estrutura alguma. Fomos colocados em prédios adaptados. Temos campi em funcionamento no mesmo espaço em que já existiu um albergue", diz Nilton Coelho, presidente do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), no Estado de Alagoas. "A expansão da rede de escolas técnicas valoriza o ensino, mas falta assistência", afirma Rosane de Sá, coordenadora do Sinasefe em Goiás. "Precisamos de mais concursos para efetivar mais docentes", diz o professor Laerte Moreira, que dirige a seção paulista da entidade.

Para tentar acabar com greve, o governo anunciou um acordo entre os Ministérios do Planejamento e da Educação com o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), comprometendo-se a reajustar os vencimentos da categoria em 4%. Mas os professores dos IFs e Cefets continuam reivindicando 14,67% de aumento, para compensar as perdas salariais dos últimos anos. No caso dos servidores, o problema é ainda mais difícil, pois não houve nem mesmo acordo que possibilitasse ao governo prever o aumento de despesa no orçamento de 2012. Os Ministérios da Educação e do Planejamento afirmam que os diretores da Sinasefe suspenderam a negociação de "forma unilateral" e os acusam de terem optado pela continuidade da greve como forma de "manifestação de conflito".

Seja lá o que isso quer dizer, uma coisa é certa: o mesmo governo que promete expandir a rede federal de ensino técnico, inaugurando 88 estabelecimentos no próximo ano e outros 120 até o final de 2014, não consegue fazer funcionar as escolas já existentes. Os problemas dos IFs e Cefets são fruto de mais uma decisão equivocada do governo Lula, que estimulou a criação desenfreada de centros de educação tecnológica sem qualquer planejamento. E, infelizmente, nesse campo Dilma parece estar seguindo o exemplo de seu antecessor.

ESTUDANTES ENTREGAM 43 REIVINDICAÇÕES À PRESIDENTE DILMA


Mais educação. Estudantes entregam a Dilma pauta com 43 reivindicações - O GLOBO, 31/08/2011 às 16h54m; Luiza Damé


BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff recebeu, nesta quarta-feira, representantes da "Marcha dos Estudantes", que desde cedo faz manifestações na Capital Federal. Os estudantes entregaram a Dilma a pauta de reivindicações, com 43 itens, e a presidente indicou os ministros Fernando Haddad (Educação) e Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) para negociar as propostas das entidades estudantis.

- A base da nossa pauta é educação com mais qualidade e mais investimentos - disse o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Daniel Iliescu.

Dos 43 itens, seis são os principais, segundo os estudantes: destinação de 10% do PIB para a educação, destinação de 50% do fundo social do pré-sal para a educação, destinação de R$ 85 bilhões para a educação em 2012, mudanças na política econômica (menos juros e mais investimentos), fim do superávit primários e erradicação do analfabetismo no Brasil até 2016.

- A presidente disse que está aberta ao debate e que é importante que a sociedade apresente suas demandas - afirmou o presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes), Yann Evanovick, acrescentando que o local de debates será o Congresso, onde tramita o Plano Nacional de Educação (PNE).

A presidente da Federação dos Estudantes Chilenos (Fech), Camila Vallejo, está em Brasília participando da "Marcha dos Estudantes", mas não foi à audiência com Dilma. Nesse momento, ela estava na Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Às 17h30m, Camila irá à audiência com a ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, e depois vai participar da abertura do 1° Encontro de Mulheres da UBES e 13° Conselho de Entidades Gerais (Coneg), no auditório Nereu Ramos, na Câmara.