EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

domingo, 31 de agosto de 2014

PROFESSOR AGREDIDO POR TIO DE ALUNO EM ESCOLA


DIÁRIO GAÚCHO 30/08/2014 | 09h01


Professor é agredido por tio de aluno em escola, na Zona Norte da Capital. Após acusação do estudante, o tio agrediu o professor com uma pedra



Ainda com dificuldades para falar, o professor de geografia Carlos Geovani Machado foi na sexta-feira à tarde a uma Delegacia de Polícia da Zona Norte da Capital para relatar uma agressão sofrida na Escola Municipal Presidente Vargas, no Bairro Passo das Pedras, na terça-feira. O agressor foi identificado como tio de um aluno. No mesmo dia, ele assinou um termo circunstanciado e foi liberado. Já o professor sofreu fratura no maxilar, teve um dente quebrado e entrou em licença médica.

De acordo com o professor, o episódio ocorreu no retorno de um passeio de turmas da escola. Carlos Geovani e algumas colegas havia levado um grupo de estudantes, todos adolescentes, a uma sessão de cinema. Na volta, no ônibus, o sumiço de alguns objetos da mochila de uma aluna provocou agitação. Na tentativa de acalmá-los, Carlos Geovani pediu que todos sentassem. Na confusão, um dos alunos acusou o professor de tê-lo agredido.

Na chegada à escola, o menino que fez a acusação foi rapidamente à casa de seu tio, que foi tomar satisfação do professor, pela suposta agressão.

- Foi tudo muito rápido. Não cheguei a ver nada. Só me dei conta quando já estava todo ensanguentado conta Carlos Geovani.

Segundo testemunhas, o tio do aluno deu vários socos no professor e, como tinha uma pedra na mão, agravou as lesões. Carlos Geovani disse que, além de agredido, ainda sofreu ameaças, inclusive de morte.

O diretor pedagógico da Secretaria Municipal de Educação (Smed), Silvio Capaverde, disse à reportagem que, durante a confusão no ônibus, o professor colocou a mão no ombro do aluno, solicitando que sentasse. Isso teria sido usado pelo estudante para alegar a suposta agressão. Na quinta-feira, foi realizada uma assembleia entre professores, funcionários e a comunidade escolar.

Em nota assinada pelo próprio diretor pedagógico, a secretaria informou que "tem prestado apoio e solidariedade à direção e ao grupo de professores e funcionários". Ainda de acordo com a o documento, "a Smed, em conjunto com a Rede de Proteção (formada pelo Conselho Tutelar, Fundação de Assistência Social e Cidadania e Secretaria de Saúde) está tomando providências legais em relação ao ocorrido".

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

DE COLÉGIO EM COLÉGIO


ZERO HORA 29/08/2014 | 06h04


Em jornadas triplas, professores se dividem entre escolas para melhorar o salário. Percentual de profissionais que dão aula em mais de um local é maior no Rio Grande do Sul do que a média brasileira

por Guilherme Justino


Da cama para a escola, da escola para um almoço rápido em casa, de casa para outra escola, de lá para uma reunião — isso quando não há mais uma classe para lecionar. A rotina de Fernanda Duarte, 52 anos, moradora de Porto Alegre, é análoga à de muitos professores. Dividindo-se entre várias jornadas, ensinando mais de uma centena de alunos em apenas um dia, eles buscam incrementar o salário, considerado baixo para a carga horária e a importância da profissão. Esse cotidiano resulta em cansaço, e acaba por comprometer a qualidade das lições e o aprendizado dos estudantes.

A rotina de quem faz essa longa jornada no ensino começa cedo e, não raro, se estende em aulas até a noite. A semana de Fernanda tem início no Colégio Anchieta, onde leciona geografia para as turmas da 8ª série do Ensino Fundamental. A manhã é passada ali, e o meio-dia que a leva para uma refeição em casa marca também a transição da rede privada para a pública — de uma jornada para outra. À tarde, já preparada para ministrar outra disciplina, a professora se divide em aulas de geografia e de história para o 7º ano na Escola Estadual de Educação Básica Dolores Alcaraz Caldas.

— Meu rendimento nas primeiras aulas é muito bom, mas nas últimas fica pior. É inevitável — reflete a professora.

Fernanda percorre de carro o trajeto entre as escolas, que ficam perto de sua casa, o que poupa tempo e desgaste com o trânsito.

Média nacional no topo de pesquisa

São aulas de manhã, à tarde, à noite: dias inteiros passados em sala de aula. O esforço, Fernanda revela, tem um só objetivo: complementar a renda no final do mês.

— Trabalhar só em uma escola seria o ideal e certamente amenizaria os problemas de quem precisa se deslocar entre três, quatro lugares diferentes — avalia Lúcia Schneider Hardt, doutora em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

No Brasil, cada docente da educação básica gasta, em média, 25 horas por semana só dando aulas, conforme dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) — um percentual 24% maior do que outros 30 países analisados na última Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis), divulgada em junho.

Com 54 horas por semana, Fernanda excede em mais de duas vezes a já elevada média nacional. Nas quintas e sextas, ela ainda leciona no Colégio Americano — e a tripla jornada acaba pesando no decorrer do dia.

Entre as três escolas, a professora passa, em média, mais de 10 horas por dia em turmas dos Ensinos Fundamental e Médio, além de ensinar alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Estado. Ao todo, são mais de 600 alunos.

— Não tem como lembrar o nome de todos — desabafa.

Fernanda está perto da aposentadoria, e assumiu a vaga no magistério estadual há dois anos.

— A nossa profissão é diferente. Sempre temos um envolvimento fora de sala de aula — reflete ela.

Como menos da metade dos professores no Brasil tem contrato em tempo integral, grande parte deles acaba pulverizando sua atuação em diversas instituições. No Rio Grande do Sul, um em cada quatro docentes trabalha em mais de uma escola. A escolha parte do próprio profissional, mas alguns fatores contribuem. Na primeira metade do Ensino Fundamental, um mesmo professor leciona a maioria das disciplinas para uma determinada turma. Nos anos seguintes, cada profissional fica responsável por uma disciplina. A carga horária e o número de turmas passa a ser limitado, fazendo com que muitos optem por ensinar em mais de uma instituição.

Jornada múltipla é mais comum no RS

Essa divisão acaba comprometendo o ensino. O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Franklin de Leão, considera que todos saem perdendo. Para ele, ainda se está longe de conseguir condições de trabalho que permitam o melhor desempenho dos profissionais, tanto nas escolas públicas quanto nas particulares.

— São duas pessoas totalmente penalizadas: o professor, pelo cansaço, e o aluno, pela qualidade abaixo da que deveria ter — garante Leão.

Coordenadora de levantamentos sobre a carreira de magistério da Fundação Carlos Chagas, a pesquisadora Bernardete Gatti ressalta que a maioria dos profissionais da educação no Brasil se dedica a apenas um estabelecimento, como ocorre em países tidos como exemplares. Ainda assim, 21,8% dão aula em mais de um local — percentual ainda maior no Rio Grande do Sul, onde 25,2% trabalham em várias instituições.

— É um nó das nossas políticas educacionais. As aulas para várias turmas funcionariam para grupos menores, mas o modelo atual é bastante prejudicial, tanto para alunos quanto professores — aponta a pesquisadora.

Ela salienta ainda que lecionar em um só colégio contribui para a criação de um vínculo que facilitaria o acompanhamento dispensado a cada estudante — o que contribuiria para o melhor desempenho, além de permitir ao profissional se concentrar mais nas aulas — e no que é preciso fazer além delas.

Mais horas em sala de aula, menos preparação

Não é só o ato de lecionar que é afetado pela jornada excessiva. Fora da sala de aula, há provas para corrigir, lições a preparar, reuniões a fazer. O professor de educação física Carlos Eduardo Berwanger, 45 anos, se divide em três para cumprir o magistério em uma escola particular, uma municipal e ainda em uma faculdade. Toda semana, são 70 horas dedicadas à carreira, sem contar o tempo gasto com atividades extraclasse.

— Isso acaba afetando a qualidade das aulas. Tenho pouco tempo de atualização para poder estudar, fazer uma leitura mais aprofundada e inclusive para o lazer — afirma Berwanger.

Adicional noturno é alento financeiro

O professor começa a lecionar de manhã e segue até as 22h45min nos dias de semana — além de dar aulas em alguns sábados. Para ele, um passo importante na valorização da profissão surge com o pagamento de adicional noturno de 20% a professores da rede pública do Estado, aprovado na semana passada pela Justiça. Ainda assim, Berwanger ressalta que o incremento no salário não soluciona a falta de tempo para investir na própria qualificação.

A crítica vai ao encontro do que mostra a pesquisa Talis. O levantamento aponta que a maior parte dos professores brasileiros declara amor pela profissão, mas se sente desvalorizado. Gerente da área técnica do movimento Todos Pela Educação, Alejandra Meraz Velasco reforça que tal jornada estressante compromete principalmente o aluno.

— Se o professor trabalha em mais de uma escola, também tem capacidade menor de observar o desenvolvimento dos alunos separadamente e pensar estratégias específicas para cada um. Isso prejudica o profissional, e em consequência piora a qualidade do ensino — garante Alejandra.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

QUEM IRÁ OUVIR E DEFENDER OS PROFESSORES?



ZERO HORA 20 de agosto de 2014 | N° 17896


MARINA VARGAS*



Há poucos dias, fomos surpreendidos por uma grande polêmica acerca de um parecer do Conselho Estadual de Educação. Mesmo após o parecer que trata de procedimentos frente a casos de indisciplina dos alunos ter sido retirado da pauta de votação, o que fica nos professores e funcionários das escolas estaduais é um sentimento de desrespeito.

Repetiu-se o que estamos cansados de ver. As decisões importantes sobre o funcionamento das escolas são tomadas sem “a escuta” de quem está no seu dia a dia. Isto ocorreu, recentemente, também na mudança de currículo – o Ensino Médio Politécnico.

A nossa sensação foi de que, uma vez o parecer retirado de votação, os professores seriam ouvidos. Mas, até agora, nada!

No sábado, um conselheiro tutelar me dizia que um aluno sempre tem o direito a frequentar a aula, mas que existem nas turmas outros 29 com os mesmos direitos de estudar. Isto é sabido pela sociedade e, legitimamente, cobrado pelos pais.

No caso em questão, quem irá ouvir e amparar os professores? As direções, que, acuadas, acabam “aplicando” as ordens emanadas da Seduc, sem ouvir o grupo? A mantenedora – Seduc –, que estuda na teoria o que é melhor para as escolas sem estar em sintonia com as mesmas, na prática? A CRE, que não realiza encontros entre professores de escolas de uma mesma região da cidade para que estudem medidas preventivas? E ambas, que não suprem a carência de profissionais nas escolas, quanto menos de psicopedagogos, psicólogos?

Até quando esses órgãos do sistema continuarão jogando a culpa da evasão, da indisciplina e do desempenho dos alunos sobre os ombros de professores já sobrecarregados com tantas exigências, imposição de prazos exíguos para entregas de relatórios, pareceres, planos, projetos?

E o que dizer de nosso sindicato, que deveria, no mesmo momento em que houve a retirada do parecer, ter ouvido e mobilizado a categoria em busca de alternativas para este caso? Por mais brava e eficiente que seja uma representante do Cpers no Ceed, ela não cumprirá essa tarefa sozinha.

Queremos ser ouvidos e respeitados! Pelo Ceed, que não pode ser tão hermético. Pelo governo, que é responsável por prover as escolas da rede estadual de recursos humanos elementares e de capacitados a lidar com as situações conflitivas – governo que sequer paga o nosso piso.

*Professora de artes da rede estadual

terça-feira, 19 de agosto de 2014

JUSTIÇA MANDAR PAGAR ADICIONAL NOTURNO AOS PROFESSORES DO RS


ZERO HORA 19/08/2014 | 00h51

TJ aprova pagamento de adicional noturno de 20% a professores da rede pública do RS. Decisão foi nesta segunda-feira



O Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul aprovou por unanimidade o pagamento de adicional noturno de 20% aos professores da rede pública de ensino do Rio Grande do Sul. A decisão foi nesta segunda-feira. O Mandado de Injunção Coletivo, com pedido de liminar, impetrado pelo Ministério Público Estadual, visa a garantia do pagamento do benefício, uma vez que este não está previsto no Estatuto do Magistério Estadual.

O objetivo do Ministério Público era suprir a omissão do Estatuto do Magistério Estadual, que não prevê pagamento de adicional noturno. Foi requerida a aplicação das regras do Estatuto dos Servidores Públicos Estaduais (Lei Complementar nº 10.098/94), no qual consta o benefício aos demais integrantes do quadro estadual.

De acordo com os desembargadores, não há dúvida quanto à previsão constitucional (Constituição Federal e Carta Estadual) relativamente à incidência de plus remuneratório quanto ao trabalho noturno. No caso dos professores da rede estadual de ensino do RS, os magistrados consideraram haver omissão legislativa, uma vez que o estatuto da categoria (Lei Estadual nº 6.672/74, art. 117, § 1º) apenas faz menção à redução do número de horas semanais na jornada noturna.

O desembargador Arminio José Abreu Lima da Rosa foi o relator do Mandado de Injunção Coletivo. O relator enfatizou que o Estatuto do Magistério Público Estadual prevê a redução da hora do serviço noturno, mas é omisso quanto ao acréscimo remuneratório. Por este motivo, e não outro, a ausência de previsão legal, aos professores públicos estaduais que venham a prestar seu labor no período das 22 horas de um dia até as 5 horas do dia seguinte, nada é agregado, em termos pecuniários, a sua remuneração.

Ele ressaltou ainda que a medida proposta evitará o ingresso de outros milhares de recursos sobre a mesma matéria. O desembargador negou também o pedido do governador do Estado, Tarso Genro, para que, em caso de concessão do pedido do Ministério Público, fosse determinado um prazo de, no mínimo dois anos, para cumprimento da medida.

domingo, 17 de agosto de 2014

O EXEMPLO DA EXCEÇÃO


ZERO HORA 17 de agosto de 2014 | N° 17893


EDITORIAL


O prêmio internacional concedido a um brasileiro deve inspirar ações transformadoras do ensino de matemática e de outras disciplinas.



O Brasil experimentou nesta semana o efeito multiplicador de uma notícia capaz de fortalecer a autoestima coletiva. É com justificado orgulho que o país aplaude o reconhecimento ao gênio do jovem Artur Avila, que conquistou a Medalha Fields, considerado o Prêmio Nobel da Matemática, por suas pesquisas na área de sistemas dinâmicos. Trata-se de uma conquista cobiçada mundialmente, por expressar a validação da comunidade científica a estudos de amplo alcance. Mas a premiação nos confronta ao mesmo tempo com a realidade de que se trata de uma exceção. A performance particular de Avila contrasta com a realidade de uma nação em que a regra ainda é o aprendizado precário de matemática, como denuncia nossa posição no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Apesar de alguns avanços, nos últimos anos, o último ranking, de 2012, coloca o Brasil na 58ª posição entre os 65 países. Estamos atrás de Chile, México, Uruguai e Costa Rica e muito distantes das melhores performances de europeus, asiáticos e americanos.

O próprio premiado declarou que a medalha é um fato excepcional, por seus significados, não só como conquista pessoal, mas pela possibilidade de contribuir para a percepção que se tem do Brasil no Exterior. Muito antes mesmo de significar melhoria na imagem brasileira lá fora, a premiação deve ser inspiradora de reações internas. Nosso matemático é, como está claro na deferência internacional, um estudioso fora de série. Ele explica como se sentiu motivado a isso: “Gosto de falar de matemática mas com foco na parte mais criativa. Matemática não é árida, tem acesso a muitos recursos. O problema é que na escola o aluno só tem contato com a parte árida, com as regras, as fórmula aqui e ali. Isso o computador tá ali e faz. O matemático faz as coisas que o computador não faz, como a parte criativa, que não é repetitiva”. Não se pretende que estudantes brasileiros se transformem em performáticos com desempenhos semelhantes. Mas é razoável, a partir desse toque sobre criatividade, que sejam buscados melhores resultados no ensino da disciplina.

O Brasil tem exemplos nesse sentido, alguns deles exaltados pela imprensa no final do ano passado. São casos que desafiam um dado constrangedor, segundo o qual apenas 10,3% dos nossos alunos chegam ao final do Ensino Médio com um aprendizado razoável de matemática. As exceções positivas, identificadas num levantamento do Movimento Todos pela Educação, revelaram pelo menos 10 escolas com desempenhos muito acima dessa média. Nenhuma exibe fórmulas milagrosas, mas métodos de ensino sustentados por esforços sistemáticos, que poderiam mobilizar a maioria das escolas do país. Alguns desses colégios estão localizados no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

O aspecto comum entre as escolas é a compreensão de que o aprendizado de matemática é uma evolução de ano a ano, sem que nada possa ser deixado para trás, sob o risco de se perder tudo o que foi ensinado. O Brasil terá de aprender com esses colégios, que não dispõem de recursos extras e não têm prédios e equipamentos muitos diferentes do resto, a andar sempre para a frente. O que os diferencia é a dedicação com disciplina, com o cumprimento de metas e o envolvimento de professores, alunos e comunidades – o que vale para qualquer disciplina, em qualquer nível de ensino.


EM RESUMO

Editorial defende que a conquista da Medalha Fields por um brasileiro é também uma oportunidade de melhoria do aprendizado nas escolas do país.


Editorial publicado antecipadamente no site de Zero Hora, na quinta-feira, com links para Facebook e Twitter. Os comentários para a edição impressa foram selecionados até as 18h de sexta-feira. A questão: Editorial defende mais criatividade no ensino da matemática. Você concorda?

O LEITOR CONCORDA

Concordo, não só na matemática, mas nas demais matérias. Pois, na minha época de escola, as matérias que mais aprendi foram justamente as ensinadas com criatividade. Adorava matemática, história e geografia e consequentemente tirava ótimas notas. Vivemos num ambiente escolar em que cada vez há menos professores preparados. Isso tudo reflete no aprendizado da base da nossa educação. Se houvesse uma mudança positiva, talvez tivéssemos mais brasileiros gênios.

CAROLINE ROCHA SÃO LEOPOLDO (RS)

Concordo com a criatividade no ensino da matemática, que o básico seja lúdico, que as associações com a vida sejam primordiais. Você não consegue aprender porque tem que aprender. Ao fazer associações, entender a origem e os porquês, seu raciocínio se amplia, divaga, cria e enraiza. Você se apropria do conhecimento.

MARLI CHAVES PORTO ALEGRE (RS)

Acredito que, mudando a forma como se ensina nas escolas e com um curriculum melhor, estaremos contribuindo muito com novos profissionais das diversas áreas. A precária estrutura curricular no Ensino Médio, por exemplo, me faz ter algumas dificuldades agora, no Ensino Superior, porque simplesmente não aprendi determinado conteúdo que irei usar para minha futura profissão. Independente da pessoa decidir ir pelo lado das exatas profissionalmente, o ensino da matemática deve ser mais amplo, mais facilitado, com exemplos mais simples, com aulas mais práticas, com maneiras de expor as fórmulas diferentes, só assim poderemos formar profissionais mais capacitados e com uma imagem melhor do seu mundo, independente da área escolhida para se trabalhar. Afinal, matemática está em tudo o que fazemos/vemos/tocamos. Concordo plenamente que deve haver uma mudança, para algo mais criativo no ensino desta disciplina.

AWDREN RIBEIRO PORTO ALEGRE (RS)

O LEITOR DISCORDA

Discordo. Acho que o plano de aula de matemática está muito bem desenvolvido; é responsabilidade do aluno querer aprender ou não. Acredito que o que dificulta esse aprendizado é a liberdade que o Estado impôs ao aluno em sala de aula, dando-lhe o direito de não ser reprovado em séries iniciais, não ser expulso quando necessário e outros atributos que tiram do aluno a “vontade” de aprender.

ALDA PEGORARO ROEDER NOVA PRATA (RS)

Outros comentários de leitores sobre o editorial desta página estão em zerohora.com/opiniaozh

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

ESPORTE E EDUCAÇÃO PAVIMENTAM FUTURO DO JOVEM


JORNAL DO COMÉRCIO 11/08/2014


EDITORIAL



Uma vez que tanto se fala em legado da Copa do Mundo, com os prós e contras sendo colocados dia após dia, mesmo encerrado o evento esportivo, reportamos o fato de que esporte e educação são complementares. Aliás, deveriam sempre andar juntos na formação dos jovens, especialmente na adolescência, fase importante em nossas vidas. O jovem tem muita energia, e dar-lhe o prazer de praticar um esporte com o qual se identifique é fundamental para formar a sua personalidade. Mais do que isso, é no esporte que se aprende sobre disciplina, metas, esforço, persistência e o trabalho em grupo. Além disso, eles aprendem a obedecer as regras e, normalmente, a um treinador do grupo no qual estão inseridos. E quem não sabe obedecer jamais saberá mandar, e isso vale para a vida civil, não apenas para os militares em geral, como alguns podem pensar.

Hoje em dia, não é suficiente, para se ter sucesso, possuir a capacidade e a bagagem intelectual para desempenhar determinada tarefa. Os jovens devem impressionar na competição inevitável que terão na vida profissional. Isso modela as atitudes de cada um consigo mesmo. O esporte, ao lado da educação familiar, é um grande formador ou, no mínimo, ajudante na formação da personalidade dos adolescentes. Entregue à prática do futebol, do vôlei, do basquete, do iatismo ou do atletismo, além da ginástica, o jovem estará dirigindo o seu corpo para uma vida sadia e manterá a sua mente ocupada com treinos os mais diversos, além das competições. Cabeça vazia é morada de maus pensamentos, sabemos há muitas décadas.

Por isso, a Copa do Mundo no Brasil despertou um sentimento muito bom para os esportes em geral. Quantos ídolos não estiveram aqui e o noticiário falando dos seus vencimentos e citando que a maioria dos atletas, principalmente os brasileiros, teve origem humilde, mas uma formação familiar com afeto, exemplos e pais que souberam valorizar o estudo. Talvez não ao ponto que desejavam, porém, pelo que lê, ouve e vê, uma base curricular ficou para quase todos. Mesmo que exista um excesso de patrocinadores ligados a bebidas alcoólicas, vale mais a sensação de prazer e de saber perder e ganhar conforme a maioria dos jogos demonstrou. No Império Romano, há mais de 2 mil anos, dizia-se que os cidadãos deveriam ter mente sã em um corpo são. Isso era válido então e mais do que atual quando tantas drogas estão disseminadas pelo mundo, atacando a saúde e frustrando tantas carreiras de jovens que, há pouco, eram promessas de vitórias em diversos esportes.

Há séculos que a humanidade faz ingentes esforços para descrever o que deve ser o modelo de um bom cidadão ou cidadã e uma boa sociedade. Tais modelos têm sido descritos sob a forma de tratados filosóficos ou teológicos e, em parte, sob a forma de utopias. Dá-se maior importância da análise de como deveríamos ser como pessoas e sociedade. Enfim, todos queremos criar ou nos tornar pessoas melhores vivendo em uma sociedade também melhor. Por isso, um dos legados da Copa do Mundo no Brasil, passados 64 anos da primeira, foi a magnífica exposição de que o esporte é uma maneira correta de educar os jovens. Lado a lado com a família e a escola.

sábado, 9 de agosto de 2014

ESCOLA VIVE ROTINA DE ASSALTOS

DIÁRIO GAÚCHO 09/08/2014 | 07h07

Eduardo Torres

Bandidos invadiram o pátio da escola Marechal Floriano, no Bairro Floresta, para ameaçar os alunos na manhã de sexta. Colégio vive uma rotina de assaltos



Estudantes se preocupam com assalto até dentro da escolaFoto: Marcelo Oliveira / Agencia RBS



Se antes das férias de julho estava ruim, o que recebeu os alunos da escola Marechal Floriano Peixoto, no Bairro Floresta, Zona Norte de Porto Alegre, na primeira semana de volta às aulas foi ainda pior. Na sexta, o medo da violência atingiu seu ápice. Por volta das 7h30min, quando os cerca de 400 estudantes ainda estavam no pátio à espera para entrar nas salas, dois homens e uma mulher, armados, invadiram o local, provocando uma correria.

De dentro do pátio, um dos invasores gritava:

- Se alguém não entregar o celular, nós vamos meter tiro. Vamos queimar mesmo.

Era, supostamente, o recado a um estudante que, aos empurrões, havia se livrado de ter seu celular roubado na chegada à escola.

Dado o recado, o criminoso saiu dali com a mesma tranquilidade com que chegou. Desta vez, sem roubar ninguém. Apavorados, os alunos que já haviam corrido para o saguão da escola, assistiram a tudo trancados lá dentro. As aulas na manhã de sexta foram suspensas. E sem nenhuma garantia de segurança para a segunda-feira.

- A situação está no limite. Nós não temos como dar nenhuma garantia aos pais para que mandem seus filhos à escola - desabafa a diretora, Maria Beatriz Lazzarotto.

Na quinta, por volta das 7h, uma jovem já havia sido agredida na Rua Comendador Coruja, em frente à escola, quando se negou a entregar o celular a um grupo de assaltantes.

- Quando eu cheguei de ônibus na Avenida Farrapos, reconheci dois que tinham batido na guria ontem (quinta) e apressei o passo. Mas aí, cheguei na escola e vi todo mundo apavorado. Eles tinham acabado de sair dali - diz uma estudante de 17 anos.

No terceiro ano do ensino médio, ela pensa em trocar de escola. Ao menos, para se formar com um pouco de tranquilidade.

Rotina de medo

A frequência de assaltos nos arredores da Marechal Floriano foi mostrada pelo DG no mês passado. No intervalo de dez dias, os estudantes contabilizavam pelo menos 15 assaltos na chegada à escola, no começo da manhã. Naquela época, o criminoso sempre agia sozinho e tinha como alvo celulares e carteiras.

Logo nos primeiros dias de pânico, alguns pais resolveram trocar os filhos de escola. A mobilização da direção foi imediata, acionando a Brigada Militar, e os ataques diminuíram até as férias de julho. Agora, voltaram ainda com mais força.

BM garante que reforçou a segurança

No mês passado, a providência encontrada pela diretora para evitar entradas de bandidos no pátio da escola foi chegar ainda mais cedo ao trabalho. E manter o portão sempre trancado. Na sexta, não conseguiu.

- Saímos mais tarde na quinta e não teve como chegar tão cedo. Nós não estávamos. Nem a Brigada - critica Maria Beatriz.

No começo da semana, ela se reuniu com policiais do serviço de inteligência do 9º BPM, que tentam mapear a ação dos bandidos nos arredores da escola. O comandante da 4ª Companhia, capitão Ezequiel Rohers, diz que a Brigada não foi comunicada sobre alguma invasão à escola na manhã de sexta. Ele garante que a presença do policiamento foi reforçada nos horários de entrada e saída da escola desde a denúncia feita pela direção, no mês passado.

A suspeita é de que "bondes" de jovens estejam atuando na região. Imagens de dois suspeitos já teriam chegado à polícia, que agora trabalha para identificá-los.

Assim como fez em julho, ontem novamente a diretora enviou um e-mail ao Comando do Policiamento da Capital exigindo reforço do policiamento na região.


DIÁRIO GAÚCHO

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

COM ZERO EM DISCIPLINA, ENSINO SERÁ REPROVADO


JORNAL DO COMÉRCIO 06/08/2014


EDITORIAL


Inconcebível o que as novas teorias estão fazendo. Não se sabe se apenas para aparecer ou para sair do marasmo intelectual que permeia a consciência nacional, temos alternativas — logo chamadas de politicamente corretas — que beiram ao absurdo. Evidentemente que aqueles que se posicionarem contra serão chamados, no mínimo, de retrógrados, superados e que não estão em linha com a modernidade educacional. Não estarão lançando um novo olhar sobre a educação, nem observando a transversalidade, mas ficando na horizontalidade medíocre. Dito isso, vemos, depois da ridícula Lei da Palmada — com ou sem ela, crianças estão sendo mortas por genitores ou prepostos deles Brasil afora —, agora estamos prestes a escancarar as escolas para a indisciplina. Ampla, geral e irrestrita.

É o país dos direitos, com poucos deveres. Recém quando há, aí sim, um festejado novo olhar do Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers), com uma diretoria que entendeu que só fazer greves por melhorias salariais, mesmo que justas, era um modelo esgotado há anos. Porém, pauta antiga, reajuste do magistério, com o piso nacional sendo a base do plano de carreira, e funcionários de escolas incluídos.

A utopia é algo que só a perfeição dos deuses pode alcançar. É um país imaginário, quando damos 10 passos para alcançá-la, ela terá se afastado exatamente os mesmos 10 passos. Mas, pelo menos, é importante mantermos utopias. Afinal, mesmo inalcançáveis, elas nos farão caminhar para frente 10 passos. E, assim, progredimos. No entanto, os empreendedores estão livres para pensar e criar. Os políticos, para planejar e executar, e o povo tem tempo para trabalhar e ser livre. Quanto menos desigualdades, menos conflitos. Justiça, liberdade e disciplina, inclusive e principalmente a escolar, andam juntas e, com elas, a paz social. Com a pretendida disciplina zero nas escolas, haverá reprovação final do ensino. Entenda-se ensino/educação como um amplo aspecto socioeconômico em que as famílias estejam estruturadas com moradia e emprego, sustentando filhos em escolas com professores satisfeitos com a sua profissão. Por saúde, a prevenção do que a medicina curativa, mais cara e nem sempre eficaz. Daí a vinda dos médicos cubanos, na ótica do governo. Mas tem que haver equilíbrio e as desigualdades jogadas ao mínimo.

Não podemos deixar jovens pré-adolescentes sem limites, principalmente nas escolas, sejam públicas ou particulares. Quanto à segurança, ela é sinônimo de mais igualdade. Se continuarmos com tantos brasileiros sem educação, sem moradia, sem família, sem emprego e sem cuidados básicos de saúde, será difícil conseguir a segurança coletiva, a estabilidade socioeconômica que tanto almejamos.

Thomas More queria que a utopia chegasse ao ponto em que todos os cidadãos morassem em casas iguais, trabalhassem por períodos no campo e em seu tempo livre se dedicassem à leitura e à arte. A ideia era acabar com as diferenças e fomentar a igualdade. Temos que manter a utopia, ainda que ela esteja sempre 10 passos à frente, para continuarmos a caminhada do progresso da cidade, do Estado e do País. Com muita disciplina e hierarquia nas escolas.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

INTROMISSÃO INDEVIDA



ZERO HORA 05 de agosto de 2014 | N° 17881


EDITORIAIS




O Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul não pode ficar sozinho na reação ao parecer em debate. Professores e demais servidores de escolas têm sido desafiados cada vez mais por atos de desacato, e não são raros os casos marcados pela violência contra a escola, contra os alunos e contra mestres e funcionários. São atitudes que põem em xeque a autoridade da escola e, principalmente, sua capacidade de reagir com veemência às atitudes consideradas mais graves. Sabe-se que, nessas circunstâncias, as escolas têm esgotado, junto aos pais e às comunidades, todos os meios disponíveis antes da decisão mais drástica, do afastamento temporário ou da expulsão.

O parecer em questão retira dos colégios o direito de fazer prevalecer a disciplina, em favor da maioria, e submete as escolas ao poder dos agressores. Como as situações de indisciplina consideradas administráveis já vêm sendo abordadas, de acordo com os padrões pedagógicos, é claro que o parecer tende a favorecer até mesmo infratores reincidentes. Não é de excesso de condescendência com a indisciplina que o ensino precisa, para fazer valer sua missão de educar. Ao contrário, as escolas precisam, com transparência e clareza quanto a leis e regras, fazer valer a preservação de um ambiente civilizado, dentro e fora de sala de aula.

Agressores e vândalos já desfrutam de uma certa sensação de impunidade. Ampliá-la será ruim para todos. A educação brasileira precisa fortalecer, e não fragilizar, professores muitas vezes submetidos a condições de trabalho precárias, reduzidas chances de aperfeiçoamento profissional, baixos salários e alunos agressivos. Punir, de acordo com o bom senso e a legislação, é também educar, ou adolescentes sem limites se transformarão em algozes incontroláveis.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

A MINHA PÁTRIA



ZERO HORA 04 de agosto de 2014 | N° 17880. ARTIGO


NAELE OCHOA PIAZZETA*



“A minha pátria não é florão, nem ostenta lábaro não; a minha pátria é desolação de caminhos, a minha pátria é terra sedenta e praia branca; a minha pátria é o grande rio secular que bebe nuvem, come terra e urina mar. Não te direi o nome, pátria minha. Teu nome é pátria amada, é patriazinha.”

Assim Vinicius de Moraes imortalizou seu sentimento e a forma pela qual via o Brasil. Sem ufanismos, com a simplicidade das palavras que falam ao coração.

Expurgamos os rescaldos da Copa do Mundo discutindo exaustivamente o futebol brasileiro. Esmiuçamos nossas falhas e replanejamos nosso futuro como o “país das chuteiras”!

É impossível deixar de fazer a associação entre a importância que se deu ao resultado do Mundial de Futebol com o Relatório sobre Capital Humano do Fórum Econômico Mundial.

Na educação primária, foram avaliados 148 países. O Brasil obteve o humilhante 129º lugar! Por incrível que pareça, ficamos atrás de Haiti e Burkina Faso, onde o índice de alfabetização é quase inexistente.

Não houve vergonha ou choro incontrolável pelo nosso pífio desempenho nesta área. Pelo contrário. O ministro da pasta veio a público comemorar o salto em qualidade de uma posição no IDH, dando a entender que tão maravilhoso desempenho englobava toda a pesquisa do Fórum. Talvez, sob a sua ótica, valha o raciocínio de que, se temos mais celulares do que banheiros, avançamos!

O país com o qual sonho não é o das chuteiras.

É, primordialmente, o da educação, pois com ela virão a saúde, a segurança pública, a politização e a igualdade.

Não é o de doutores, pois o conhecimento não tem lugar cativo apenas na educação superior. Conhecimento é saber ler e compreender o que se lê. É escrever, e não só o nome para fugir à classificação de analfabeto. É o somatório de aprendizagens que vem lenta e progressivamente desde o berço.

Investir seriamente na educação. Traçar objetivos, fornecer aporte financeiro contínuo, desimportando o partido político de quem venha a ocupar o cargo maior da nação. Esforço-me para crer que o povo e os políticos perseguem os mesmos objetivos. Outra razão não existe para que votemos neles.


*DESEMBARGADORA DO TJRS

SEM PODER EXPULSAR NEM SUSPENDER


ZERO HORA 04 de agosto de 2014 | N° 17880



GUILHERME JUSTINO


EDUCAÇÃO. COMPORTAMENTO EM DEBATE

PARECER EM AVALIAÇÃO pelo Conselho Estadual de Educação prevê que escolas não reprimam a indisciplina com afastamento ou transferência



Um parecer em análise pelo Conselho Estadual de Educação (CEED) causa polêmica entre as entidades de ensino. Está sendo debatida uma norma que impediria as escolas de suspender, afastar ou expulsar alunos, mesmo os envolvidos em transgressões disciplinares. A proposta, que ainda é estudada e debatida pelo órgão, defende que o direito do aluno de estudar não pode ser revogado por nenhuma instituição de ensino, tanto privada quanto pública.

A norma prevê que não cabe à escola definir a transferência compulsória de qualquer discente, obrigando-o a deixar de estudar em determinada instituição ou a estudar em outra. Tal resolução seria aplicada em todos os casos, independentemente de o estudante ter histórico violento ou como infrator, dentro ou fora da escola. Caso o parecer seja aprovado, a instituição fica responsável por lidar com casos de indisciplina de outras maneiras.

Representantes do CEED acreditam que, assim, fica evidenciado o papel pedagógico das escolas. Em vez de recorrer à suspensão ou expulsão, com base em um regimento interno, caberia a todas as instituições de Ensino Fundamental e Médio atuar na prevenção e solução de casos onde hoje podem ser aplicadas medidas punitivas extremas. Assim, um jovem que infrinja regras ou apresente mau comportamento em sala de aula e nas dependências da escola teria de ser tratado pela própria instituição.

– O parecer, no geral, propõe que sejam votadas todas as possibilidades de inserção do aluno dentro da escola. Em casos extremos, quando ele é considerado violento, por exemplo, não cabe à escola puni-lo, mas resolver os problemas ou encaminhar esse jovem a outras esferas, ainda que sejam a policial ou criminal – defende Berenice Cabreira da Costa, presidente da ACPM-Federação, que reúne associações de pais e mestres do ensino público no Estado.

Representantes das escolas particulares contestam a norma. O Sindicato do Ensino Privado (Sinepe/RS) defende que ela tira a autonomia das escolas para aplicar medidas disciplinares. O vice-presidente do sindicato, Osvino Toillier, ressalta que a suspensão ou transferência de um aluno só é aplicada em casos extremos, que são mínimos, e argumenta que o ato punitivo também é pedagógico.

– Isso é uma intervenção no sistema que tira a liberdade constitucional da escola privada. Consideramos inadmissível, pois é preciso haver, na questão pedagógica, definição de limites disciplinares em algum lugar – afirma Toillier.

Ele demonstra especial preocupação com casos de agressão a professores e vandalismo de alunos que, mesmo transgredindo normas, permaneceriam na escola. O professor explica que, em casos extremos, as instituições de ensino básico teriam de recorrer ao Conselho Tutelar ou, caso haja violência, à polícia – transferindo as decisões para órgãos externos. Atualmente, o que se faz é conversar com a família para definir como proceder.


Conselheiros ainda estão divididos


A presidente do Conselho Estadual de Educação, Cecília Farias, acredita que a norma faria sobressair a função pedagógica de quem ensina. Ela explica que não há uma posição definitiva no órgão, e que a polêmica tem dividido os representantes. Cecília defende que a escola não pode ser uma instituição punitiva, mas deve investir na solução dos problemas dos alunos para mantê-los na escola.

– Esperamos que a escola trabalhe esse estudante que hoje pode ser expulso, e que isso não fique só por conta do professor, como tem acontecido. É necessário promover todo um trabalho com os pais e, se necessário, também chamar outros profissionais, que possam auxiliar para transformá-lo – avalia Cecília, que também é diretora do Sinpro/RS.

A proposta surgiu a partir de um questionamento do Ministério Público ao Conselho, perguntando se a transferência compulsória de alunos pode mesmo ser uma prerrogativa das escolas. A discordância sobre o assunto dentro do órgão, principalmente a respeito da possibilidade de punir alunos, tem adiado a votação das normas há mais de um ano.

O QUE DIZ A NORMA

-Caso o estudante transgrida normas disciplinares, deverá haver acordo entre ele, seus pais e a escola sobre como proceder

-Psicólogos e especialistas em educação terão de ser acionados para avaliar e resolver problemas no comportamento dos alunos

-A suspensão ou expulsão do estudante, ainda que hoje somente aplicada em casos extremos, passa a não ser mais tolerada.

-A proposta ainda não é definitiva e será rediscutida na quarta-feira


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Um país que tem como primeiro objetivo fundamental construir uma sociedade livre, justa e solidária deve começar suas metas pela educação de seu povo que promova uma cultura cidadã de respeito, solidariedade, paz e foco no futuro.  "A disciplina é a capacidade de se manter focado nas tarefas necessárias para concretização de uma meta sem se desviar e sem perder a motivação". Também é respeito às regras que limitam direitos e regulam a convivência em grupo e sociedade. Também é o "modo de agir que demonstra constância, métodos" para atingir objetivos. Estimular a afronta à autoridade reduzindo o poder coercitivo dos educadores é incentivar conflitos num ambiente onde o acatamento à regras e o respeito à autoridade do professor são essenciais para desenvolver as faculdades psíquicas, intelectuais e morais, as boas maneiras, a disciplina consciente, os valores e as qualidades do ser humano.

domingo, 3 de agosto de 2014

QUANTO VALE UM PROFESSOR?


FOLHA.COM 03/08/2014 02h00


Daniel Damásio Borges e Ana Gabriela Braga


A recente crise financeira das universidades estaduais paulistas recolocou em discussão os salários pagos ao magistério superior no Estado de São Paulo. Em reportagens sobre o tema, atribui-se com frequência essa crise financeira ao acréscimo dos gastos com pessoal.

Essa abordagem pode sugerir a ideia de que os salários pagos aos professores são muito elevados e que o seu congelamento seria a medida mais adequada para enfrentar tais dificuldades financeiras.

É preciso, antes de mais nada, dizer que os nossos salários estão, há anos, muito aquém dos valores recebidos por diversas categorias do funcionalismo público e dos trabalhadores da iniciativa privada com formação equivalente.

Os exemplos que ilustram essa afirmação são inúmeros: ao passo que diferentes categorias da área jurídica do funcionalismo público paulista conseguem obter salários iniciais superiores ou próximos a R$ 20 mil e sem que haja a exigência da conclusão de um doutorado, a remuneração de um professor doutor com dedicação exclusiva à universidade e em início de carreira é de R$ 9.184,94.

No setor de saúde, nos termos do recente plano de carreira do governo estadual paulista, um médico poderá receber um salário muito superior a um professor titular da Faculdade de Medicina com dedicação exclusiva à universidade.

Não se trata aqui, evidentemente, de desmerecer ou desvalorizar esse ou aquele profissional ou de achar excessivo esse ou aquele salário. Trata-se, isto sim, de realçar o valor de nosso trabalho, pois a formação de um professor doutor é longa e exigentíssima.

A obtenção de um diploma de doutor e o êxito em um concurso de ingresso à docência exigem anos de estudos, dedicação, disciplina e sacrifícios, assim como o exercício da carreira docente, cada vez mais regulada por metas de produtividade.

Dessa forma, parece-nos profundamente injusta a enorme distância entre os salários dos professores e dos outros profissionais.

É importante lembrar que outras categorias do funcionalismo estadual conseguiram um reajuste de seus salários em um único ano de até 96%. Ou seja, quando há vontade política e apoio da sociedade, o Orçamento do Estado mais rico da Federação pode ser organizado de modo a preservar setores fundamentais da administração pública.

Em verdade, a sociedade brasileira não dá à educação superior o valor e a prioridade que ela merece e a que ela faz jus.

Contrariamente ao que se afirma com muita frequência, há, sim, muitos membros do magistério paulista comprometidos com o ensino de qualidade, com relevantes atividades de extensão universitária e com a produção de pesquisa de ponta e de reconhecida relevância social.

No contexto atual em que a produção e a difusão do conhecimento tornaram-se ainda mais fundamentais para todos os aspectos da vida humana, é indispensável remunerar os professores à altura de sua longa e difícil formação, de sua dedicação e de sua importantíssima função social.


DANIEL DAMÁSIO BORGES, 35, doutor em direito pela Universidade Paris 1 - Panthéon-Sorbonne, é professor de direito internacional da Unesp
ANA GABRIELA MENDES BRAGA, 33, doutora em direito penal e criminologia pela USP, é professora da Unesp - campus de Franca

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