EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

NEGADO RECURSO DO RS SOBRE PISO NACIONAL

IJUI NEWS, 25/06/2013

TJ-RS nega recurso do Estado sobre piso nacional do magistério


Presidente do Cpers, Rejane de Oliveira, comemorou o julgamento do TJ e acredita que o governo não deverá entrar com recurso. Foto: Cpers/divulgação.


Por unanimidade, os desembargadores da 25ª Câmara do Tribunal de Justiça do Estado (TJ-RS) negaram o recurso do governo do Rio Grande do Sul contra Sentença de Ação Civil movida pelo Ministério Público (MP), que determinou o pagamento do piso nacional do magistério, inclusive aos pensionistas e aposentados.

O relator do processo, o desembargador Miguel Ângelo da Silva, entende que o piso equivale ao inicial da carreira – de R$ 1.567 –, e não corresponde ao complemento que está sendo pago pelo Estado. A decisão do TJ ainda cabe recurso do governo estadual.

A presidente do Cpers, Rejane de Oliveira, comemorou o julgamento do TJ e acredita que o governo não deverá entrar com recurso:

“Foi uma grande vitória da categoria e a Justiça disse que o piso é básico para todo o plano de carreira. A decisão reconhece que é uma lei nacional aprovada e nega a política do completivo. O governo vai ter que resolver esse problema. Nós entendemos que é uma imoralidade o Estado querer entrar com recurso novamente, porque vai ser derrotado”.

Fonte: Correio do Povo

Correção, conforme notícia veículada no site do TJ-RS

Em julgamento realizado nesta terça-feira (25/6), os Desembargadores da 25ª Câmara Cível confirmaram a sentença proferida na ação civil pública que condenou o Estado do RS ao pagamento do piso nacional do magistério aos professores estaduais da educação básica.

A decisão determina ainda que a data inicial para o pagamento deve dar-se a partir de 27/04/2011, quando o Supremo Tribunal Federal declarou a constitucionalidade da lei aprovada pelo Congresso Nacional.

Como o Instituto de Previdência do Estado não foi incluído no pólo passivo do processo, a decisão não abrange os inativos e pensionistas do magistério estadual.

Matéria publicacada em 25/06/2013

quinta-feira, 20 de junho de 2013

COMPREENDER A EDUCAÇÃO

ZERO HORA 20 de junho de 2013 | N° 17467


Maria Cecília Medeiros de Farias Kother*


A educação efetiva-se de forma completa no processo que envolve ensinar e aprender. Isso implica a integração, a interação, a amplitude e a complexidade que permeiam o resultado previsto e consequente da educação.

A educação tem início no ensinar, mas não é finita no aprender. O ciclo formal da educação é de relativa conclusão: pode acabar no final do planejado, mas não inclui nem se esgota na conclusão desse acabado. Ao contrário, a educação abre-se para a necessidade da continuidade que o conhecimento, iniciado e nele mesmo embutido, impõe pela extensão inesgotável regulada por essas implicações internas e dinâmicas no seu próprio envolvimento.

O instrumento-objeto da educação, objetiva e subjetiva, vem a ser o conhecimento na forma teórica, prática, material, abstrata, filosófica, específica e genérica, gerado no ato de aprender. Os avanços do campo da educação geram, acompanham, promovem e ultrapassam o seu próprio desenvolvimento enquanto propulsores dele mesmo.

O questionamento que vem acompanhando a educação, para não perder a sua objetividade, precisa ser freado para não descambar para um clima de excesso demasiado e destrutivo. A amplitude e permeabilidade da responsabilidade, pelos efeitos resultantes da educação que cabem aos homens, seus agentes na ação, na omissão e nas respectivas consequências destas, são incontroláveis e, por isso, passíveis de análise e críticas.

Participar da educação como sujeito do processo formativo e informativo que dela emerge é necessário para a realização da vida pessoal, social e profissional enquanto patamar norteador da vida das pessoas. Por outro lado, esse estágio, sem um direcionamento aprofundado e específico, não qualifica todos para tudo, embora seja ele fundamentado em um processo educativo.

Isso significa que falar em educação requer, além da vivência, uma qualificação específica para analisá-la como processo complexo e infinito nos meandros que, gerados e fundamentados por ela mesma, implicam compreender o que é compreender e entender a educação no seu todo.

* Vice-presidente da Federasul

segunda-feira, 17 de junho de 2013

DEFICIÊNCIA PREOCUPANTE


ZERO HORA 17 de junho de 2013 | N° 17464

EDITORIAIS

São desalentadores os dados da Secretaria Estadual da Educação (SEC) segundo os quais apenas 2,3% dos colégios estaduais gaúchos dispõem de redes sem fio de alta capacidade, capazes de permitir a operação online de todos os 22 mil tablets destinados a professores de Ensino Médio para utilização em aula. A aquisição dos equipamentos, que integra o projeto Província de São Pedro e é custeada com recursos do governo do Estado e do Ministério da Educação, é uma realização alardeada desde o ano passado pelo governo do Estado. A conexão à rede não é condição exclusiva para o uso desses aparelhos, que podem ter utilidade pedagógica mesmo se funcionarem off-line. Diretores e professores ouvidos na edição de sexta-feira de Zero Hora informam que, nesses casos, a saída é se limitar a rodar aplicativos já instalados nas máquinas. Importantes tarefas, porém, como a pesquisa na internet e a utilização de e-mails e das cada vez mais populares redes sociais, permanecem inexequíveis.

Ainda segundo a SEC, das 2.574 escolas gaúchas, apenas cerca de 60 – menos de 3% do total – são servidas por uma rede considerada adequada. Um plano para reforçar o sinal da internet sem fio em 40 estabelecimentos deve ser implantado ao longo de um ano e meio. Considere-se, porém, que ao final desse prazo os atuais equipamentos estarão a caminho da obsolescência, devendo o Estado despender somas adicionais para dotar professores e alunos de dispositivos em condições de acessar a rede com qualidade. Mais do que uma limitação à aprendizagem, porém, a notícia de que uma minoria de escolas estaduais é servida por acesso à internet indica que, em termos de infraestrutura, o Rio Grande do Sul está longe de garantir ingresso à era digital. Essa deficiência tem consequências tão ou mais sérias em matéria de produtividade, geração de emprego e renda, inovação e transparência.

CINCO CAMINHOS PARA CONSTRUIR A EDUCAÇÃO DO FUTURO


ZERO HORA 17 de junho de 2013 | N° 17464

A EDUCAÇÃO PRECISA DE RESPOSTAS

KAMILA ALMEIDA*

Reformular o jeito de ensinar é um dos maiores desafios da educação. Este fazer diferente já ocorre em diversas escolas, que têm provado que o método tradicional de ensino pode ter dado muito certo no passado, mas está longe de atender aos anseios de um universo no qual crianças crescem tendo as novas tecnologias como companheiras.

Para marcar a segunda fase da campanha do Grupo RBS e da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho A Educação Precisa de Respostas, foram elencados cinco eixos para motivar a sociedade em busca de educação qualificada.

O exercício foi baseado nas metas do movimento Todos pela Educação e realizado com a ajuda de especialistas.

Mozart Neves Ramos, conselheiro do movimento, aposta que a essência da educação está em tornar a carreira do magistério objeto de desejo. No Brasil, um professor ganha 40% do que recebem outros profissionais, segundo estudo do pesquisador Marcelo Neri. – Falta um plano de carreira, vinculado à formação continuada e aos resultados em sala de aula e não ao tempo de serviço – diz Mozart.

*Colaboraram Diogo Figueiredo e Silvana Castro


1 - Professores do século 21


A preparação do professor para a sala de aula é o processo mais urgente e mais desafiador para o salto na qualidade da educação que se sonha.

Até alguns anos atrás, eram formados apenas no curso Normal – o equivalente ao Ensino Médio – e preparados para o magistério. Entretanto, viu-se a necessidade de as faculdades de pedagogia formarem aqueles que iriam pensar o futuro da educação. Muitos cursos de magistério foram deixando de existir.

– É por isso que até hoje a faculdade é muito mais teórica do que prática. Isso faz com que os professores cheguem na sala de aula e não se sintam preparados – diz Priscila Cruz, diretora-executiva do movimento Todos Pela Educação.

FINLÂNDIA: RECRUTAR OS MELHORES - Os melhores sistemas de educação do mundo colocam os professores em igualdade com as demais profissões, estimulando o orgulho profissional. Para isto, atraem os melhores alunos para se tornarem professores, lembra o físico alemão Andreas Schleicher, responsável pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). Países como a Finlândia recrutam os seus professores a partir de uma nata dos 10% melhores graduados. Em segundo lugar, eles fazem com que sejam professores na prática, através, por exemplo, de treinamento em sala de aula, desenvolvimento de líderes escolares fortes e permitindo que os professores propaguem seus conhecimentos e suas inovações. Professores de Cingapura, lembra Schleicher, tem cem horas de formação, desenvolvimento profissional pago integralmente a cada ano. Em terceiro lugar, os melhores sistemas de educação colocaram em prática incentivos e sistemas de suporte diferenciados para garantir que cada criança seja capaz de se beneficiar de excelente instrução. São professores que usam os dados para avaliar as necessidades de aprendizagem de seus alunos e ampliam seu repertório de estratégias pedagógicas.

O NOVO MESTRE

ESTRATÉGIA EFICIENTE - Especialistas traçam o perfil do docente para enfrentar desafios contemporâneos. Profundo conhecimento daquilo que vai ensinar e estratégias didáticas eficientes e inovadoras para garantir que o aluno aprenda. Ter boa didática e capacidade de diálogo com os alunos.

APRENDIZADO CONSTANTE - Ser antenado, disposto a aprender o tempo inteiro, o que inclui amplo domínio das novas tecnologias para melhorar a prática docente.

ENSINO INDIVIDUAL - Ter habilidades para tornar o ensino coletivo em algo individual. Para isso, precisa perceber na relação com a turma que certas práticas de ensino podem não estar funcionando para determinado sujeito. Tentar se aproximar dele, no corredor ou no bar do colégio, podem ser maneiras de descobrir os motivos de tais dificuldades.

PAIXÃO POR ENSINAR - A formação pode passar por métodos, inovação, mas tem uma característica que não se pode ensinar: paixão por aquilo que ensina.

CONECTADO AO MUNDO - Ser conectado. Isso não significa apenas estar na internet. O mundo e o conhecimento avançam em alta velocidade e não é possível estar atento a tudo o que acontece. Por isso, com humildade, o bom professor deve saber ouvir conselhos e informações compartilhadas pelos alunos.
UMA NOVA HIERARQUIA - Praticar o desapego de posições. Cada vez menos, a sala de aula terá espaço para a relação de hierarquia tradicional entre aluno e professor.

ASSUMIR A DÚVIDA - Possuir formação sólida e humildade para dizer que não sabe certas respostas. O professor não pode ser uma enciclopédia ambulante, mas também não pode deixar o aluno sem respostas. A busca pode ser em conjunto.

VALORES ÉTICOS - Entender que não é só passar conteúdo, mas passar valores para os alunos. Não se quer ter apenas um bom aluno, mas também um bom cidadão, com valores éticos, sociais e morais.
Fonte: Fontes: Andreas Schleicher, responsável pelo Pisa; Eduardo Shimahara, do projeto Volta ao Mundo em 12 Escolas; e Priscila Cruz e Mozart Ramos, do Todos Pela Educação


2 - Qualidade versus quantidade

Na busca pelo equilíbrio entre a qualidade do ensino e a quantidade de tempo na escola, o professor é a peça mais importante. O movimento Todos Pela Educação entende que o tempo é importante, mas não quer dizer que haja a necessidade de turno integral para todos. Os mais pobres e as escolas com Ideb mais baixo devem ser priorizadas.

Eduardo Shimahara, que participou do projeto Volta ao Mundo em 12 Escolas, em busca de histórias inspiradoras, acredita que a aprendizagem não se dê mais no contexto da sala de aula formal. Engenheiro, lembra que a melhor aula do curso ocorreu no boteco:

– O professor de termodinâmica explicava como funcionava o circuito de calor no corpo humano no momento em que a pessoa ingeria a cerveja.

Eduardo lembra que quando visitou a Green School, na Indonésia, ficou estarrecido a primeira vez que viu um professor de ciências correndo no meio da floresta com várias raízes na mão e um monte de alunos atrás dele: – Perguntei o que era aquilo. Ele respondeu que o papel dele era simplesmente fazer com que os alunos olhassem para a natureza e falassem: “Uau”.

SÃO PAULO: AO ENCONTRO DO ALUNO - Em escolas como a Politeia, em São Paulo, é a criança quem escolhe o tema, e os professores vão fazer de tudo para que aquele assunto vire o centro do conteúdo. Eduardo cita o caso de uma menina apaixonada por pets, e essa paixão, comum a muitos da mesma idade, foi alimentada na escola. Assim, ela descobriu conceitos de cidadania, que tem gente que maltrata animais, que a primeira viagem ao espaço foi com a cadela Laika, em 1957, e que naquele período também ocorreu a Guerra Fria. Foram sendo trazidos exemplos e assuntos de acordo com o interesse do aluno. Isso também estimula que sejam feitas pesquisas em casa por conta.


3 - Evasão escolar e repetência

O berço da repetência é a não-aprendizagem. Priscila Cruz diz que os anos finais dos ensinos Fundamental e Médio têm o currículo desconectado da realidade do aluno. Isso faz com que se distancie.

O uso de tecnologia pode ser uma das saídas para uma aula mais próxima da realidade. Distribuir tablets pode ser uma boa prática, mas não vai resolver todos os problemas se o professor não estiver preparado para usar o equipamento.

– A sala de aula é uma rede de pessoas conectadas. Não tem mais espaço para o professor que apenas empurra conhecimento, ele tem de ser um facilitador. Isso mexe com a zona de conforto, vai em cima da crença de que o professor é o centro das atenções – diz Eduardo Shimahara.

Silvio Meira, cientista-chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar), não crê que só tecnologia seja capaz de mudar a qualidade:

– Esses mecanismo de que as pessoas aprendam sem questionar, sem refletir, são mediados por tecnologia. Tenho restrições quando as pessoas dizem que vão colocar tecnologia para mudar a qualidade da aula. Pode piorar muito, inclusive.

NOVA YORK: APRENDER JOGANDO - Na Quest to Learn, escola pública de Nova York, os alunos aprendem desenvolvendo estratégias e criando os próprios jogos eletrônicos. A escola vive com os mesmos recursos que as demais, contando apenas com oito profissionais extras, especialistas em games e em currículo, que dão suporte aos professores. Os jogos são apenas um pano de fundo para apresentar conteúdos, como física, história, geografia. Se o jogo é sobre vikings, a criança vai se interessar em saber quem são eles. Perguntas como essas instigam as crianças a investigar. Para Shimahara, este é um exemplo de como trabalhar com as novas tecnologias e também tornar a aula mais atrativa, conectando a criança com o conteúdo de aula.


4 - Família comprometida

Para tornar a educação mais consistente é preciso que a sociedade e a família se engajem. Sem isso, não tem como convencer prefeitos e governadores.

– As pessoas deveriam evitar de reeleger quem fez má gestão na educação, uma sociedade que valoriza a educação participa da escola e atua em casa para complementar o trabalho do professor – argumenta Priscila Cruz, do Todos Pela Educação.

As escolas que vão melhor no desempenho dos alunos no relatório do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) são as que trabalham o ambiente em torno da instituição.

BOM PRINCÍPIO, PIAUÍ: DESTAQUE NACIONAL - A escola municipal Bom Princípio, no Piauí, não tem um único dono. É de todos. Localizada em Teresina, não tem biblioteca, nem laboratório de informática. Só existe um computador, sem internet. Mesmo assim, se tornou uma das melhores escolas públicas do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental do país. No Ideb de 2011, teve nota 7,7. O diferencial está, segundo a diretora pedagógica Iraneide Nascimento, na ajuda mútua entre os 329 alunos e seus pais, funcionários e professores. As responsabilidades pela educação são dividas. Os pais passaram a ajudar na manutenção e na limpeza da escola. No contraturno, as mães entram na sala de aula para ajudar no dever de casa.


5 - Gestão educacional

Supervalorizar planos e deixar a execução a desejar é uma das características do Brasil, reforça Priscila Cruz. O sociólogo suíço Philippe Perrenoud acrescenta que países não costumam prever cenários.

– Que educação temos que dar para preparar para a vida? Sabemos o que o jovem vivenciará em 2035? Prever as competências que os jovens necessitarão no futuro é prever catástrofes. A escola só tem sentido se ela antecipar, se apresentar cenários – disse ele no final de maio durante o 5º Congresso Internacional de Educação de Gramado.

PORTUGAL: INOVAÇÃO NA ESCOLA DA PONTE - A Escola da Ponte é uma escola pública portuguesa. O projeto teve início em 1976, uma das primeiras rupturas com a escola tradicional: alunos participam do processo de gestão e são realizadas assembleias nas quais trazem sugestões e soluções. Lá, a escola são as pessoas, e as pessoas são os seus valores e os seus valores postos em prática são projetos, segundo o seu fundador, José Pacheco:

– Não era possível continuar tendo aula, prova, séries, isso é a escola do século 19. Na Escola da Ponte, não tem ano, diretor, turma, horário. É esta a integração que se espera para o século 21.

No Brasil, mais de cem escolas se inspiram na Ponte. O criador participa em Cotia, em São Paulo, da implantação da Escola do Projeto Âncora, onde cinco professores cuidam de 400 alunos.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

A BOA AULA

ZERO HORA 11 de junho de 2013 | N° 17459


Alexandre Goulart*

Se os pais perguntarem ao filho, depois da escola, como foi a aula, é provável que escutem a resposta padrão: foi boa. Esse tipo de resposta causa a ilusão de que tudo vai bem. Mas se a pergunta for mais dirigida, algo como o que você aprendeu hoje? O filho terá que pensar um pouco mais. Se for criança, tenderá a contar com certa riqueza de detalhes sobre as vivências. Já um adolescente, provavelmente, dará uma resposta programática, como: aprendi o teorema de Pitágoras. E se os pais fossem além e perguntassem: o que você vai fazer com o que aprendeu? O que fazer com o que aprendi, pensaria o jovem. Esquecer? Aplicar no vestibular ou no Enem? Usar de modo cumulativo como pré-requisito para entender algum conteúdo futuro? Por que e para que se aprende algo? Alguns poucos poderiam encontrar respostas como: aprender para viver melhor, para compreender a realidade em suas múltiplas dimensões, aprender por simples curiosidade, por prazer.

Diante dessa perspectiva, a boa aula tem múltiplos significados. A construção do sentido pertence ao estudante, mesmo que o professor se esmere em seu plano de aula prevendo objetivos, competências e habilidades a serem desenvolvidas. A chance de aproximação entre as expectativas do professor e do estudante depende de um diálogo pouco usual, da explicação do propósito de cada aula, elucidando as responsabilidades de cada parte envolvida no processo de ensino-aprendizagem.

Ficando evidenciada a proposta de cada encontro e do percurso a ser feito, o jovem estudante poderá responder com maior apropriação o que aprendeu, porque e para que aprendeu. Sem essa precisão, toda aula pode ser boa e ao mesmo tempo insatisfatória. Chegar a esse ponto, contudo, implica despertar o desejo de ensinar e de aprender, processos que, por sua vez, não podem dar-se fora da procura, da alegria, como afirmava Paulo Freire ao conceber uma educação permeada pela inquietação, pela curiosidade, de modo que escutar e conhecer o estudante são posturas fundamentais, pois é assim que o professor aprende a falar com ele. Mas como exatamente se faz isso? Bem, aí já será outra lição e o período chegou ao fim. Quem sabe, a gente continua na próxima aula.


*LICENCIADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS E JORNALISTA

ESCOLAS PRECÁRIAS

ZERO HORA 11 de junho de 2013 | N° 17459


EDITORIAIS


O Brasil, que nos últimos anos vem assegurando êxitos na ampliação do acesso à rede escolar no Ensino Básico, não esbarra só nas dificuldades de melhorar significativamente a qualidade no aprendizado. Estudo recém divulgado por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) demonstra uma precariedade impressionante nos estabelecimentos escolares de maneira geral sob o ponto de vista de infraestrutura. A situação um pouco menos preocupante nos Estados do Sul, que ostentam o maior percentual de escolas com estrutura avançada, de 1,6% indica a necessidade de o país investir mais em melhorias físicas, que estão diretamente relacionadas ao aproveitamento escolar dos alunos.

Um outro levantamento, realizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), já havia chamado a atenção para o quanto a falta de bibliotecas, computadores, laboratórios de ciências, auditórios e quadras de esportes nas escolas, entre outros itens, tende a prejudicar o nível de aprendizagem. Na relação entre a infraestrutura escolar e os resultados obtidos pelos alunos, o estudo do BID apontou, entre os fatores de maior contribuição para bons desempenhos, a presença de apoio ao ensino (como salas de informática, por exemplo), a garantia de serviços públicos de eletricidade e telefonia, o fornecimento de água potável, rede de esgoto e banheiros em números adequados.

São justamente as carências nessas áreas que chamam a atenção no estudo Uma Escala para Medir a Infraestrutura Escolar, realizado por pesquisadores das duas universidades. Enquanto 84,5% das escolas pesquisadas têm uma estrutura elementar ou básica, apenas 0,6% se inclui entre as consideradas avançadas. Um dos muitos desafios na área educacional, depois dos avanços quantitativos, é assegurar um ambiente físico mais favorável ao aprendizado, que favoreça os ganhos qualitativos.

O trabalho realizado por pesquisadores, com base em dados do Censo Escolar 2011 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vai além da crítica generalizada à falta de estrutura física dos estabelecimentos de ensino. Um dos méritos do estudo é o de chamar a atenção para as diferenças apresentadas entre uma escola e outra e entre as instituições de ensino dos meios urbano e rural, com tendência à constatação de melhores condições nas cidades de maior porte. O ataque a essas questões é um desafio para o poder público, mas também para as comunidades, que em muitos casos vêm assegurando avanços consideráveis com base na mobilização de pais, alunos e educadores.

O Brasil, que nos últimos anos vem assegurando êxitos na ampliação do acesso à rede escolar no Ensino Básico, não esbarra só nas dificuldades de melhorar significativamente a qualidade no aprendizado. Estudo recém divulgado por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) demonstra uma precariedade impressionante nos estabelecimentos escolares de maneira geral sob o ponto de vista de infraestrutura. A situação um pouco menos preocupante nos Estados do Sul, que ostentam o maior percentual de escolas com estrutura avançada, de 1,6% indica a necessidade de o país investir mais em melhorias físicas, que estão diretamente relacionadas ao aproveitamento escolar dos alunos.

Um outro levantamento, realizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), já havia chamado a atenção para o quanto a falta de bibliotecas, computadores, laboratórios de ciências, auditórios e quadras de esportes nas escolas, entre outros itens, tende a prejudicar o nível de aprendizagem. Na relação entre a infraestrutura escolar e os resultados obtidos pelos alunos, o estudo do BID apontou, entre os fatores de maior contribuição para bons desempenhos, a presença de apoio ao ensino (como salas de informática, por exemplo), a garantia de serviços públicos de eletricidade e telefonia, o fornecimento de água potável, rede de esgoto e banheiros em números adequados.

São justamente as carências nessas áreas que chamam a atenção no estudo Uma Escala para Medir a Infraestrutura Escolar, realizado por pesquisadores das duas universidades. Enquanto 84,5% das escolas pesquisadas têm uma estrutura elementar ou básica, apenas 0,6% se inclui entre as consideradas avançadas. Um dos muitos desafios na área educacional, depois dos avanços quantitativos, é assegurar um ambiente físico mais favorável ao aprendizado, que favoreça os ganhos qualitativos.

O trabalho realizado por pesquisadores, com base em dados do Censo Escolar 2011 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vai além da crítica generalizada à falta de estrutura física dos estabelecimentos de ensino. Um dos méritos do estudo é o de chamar a atenção para as diferenças apresentadas entre uma escola e outra e entre as instituições de ensino dos meios urbano e rural, com tendência à constatação de melhores condições nas cidades de maior porte. O ataque a essas questões é um desafio para o poder público, mas também para as comunidades, que em muitos casos vêm assegurando avanços consideráveis com base na mobilização de pais, alunos e educadores.

terça-feira, 4 de junho de 2013

ALUNOS EM RISCO

zero hora 04 de junho de 2013 | N° 11702

Maioria da frota escolar tem mais de uma década

Pesquisa do Tribunal de Contas do Estado aponta sucateamento em 55% do transporte de estudantes



Dos 6,6 mil veículos empregados pelos municípios gaúchos no transporte escolar, 55% têm mais de uma década de fabricação, idade considerada avançada e que coloca em risco a segurança de alunos. O dado é o principal item da radiografia que será apresentada hoje pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). A pesquisa foi realizada entre maio e agosto de 2012, com base em informações coletadas junto a 483 prefeituras em 2011, e irá subsidiar auditorias do TCE.

Outro agravante para este cenário é o projeto de lei do senador Paulo Bauer (PSDB/SC), que proíbe a utilização de coletivos com mais de 10 anos.

No final do ano passado, a proposta recebeu parecer favorável na Comissão de Educação do Senado e, agora, aguarda designação de relator na Comissão de Constituição e Justiça. Se o projeto for aprovado em Plenário, metade da frota gaúcha ficaria em situação irregular.

Para o professor de Transportes da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) João Fortini Albano, a idade dos veículos que transportam estudantes deveria ser limitada a oito anos para evitar acidentes e contratempos.

Além da necessidade de inspeções frequentes, o custo de manutenção, calcula o professor, pode ser até 40% superior. Freios, faróis, pneus, suspensão e rolamentos são os componentes mais impactados pelo uso prolongado.

– São veículos problemáticos devido à idade avançada e ao desgaste natural. Então, o risco é potencialmente maior. O percentual (de 55% da frota) é preocupante, pois coloca em risco a segurança dos alunos e também de terceiros – descreve Albano.

Otimista, secretário aposta em solução em uma década

O presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Ary Vanazzi, reconhece a dificuldade de renovação dos veículos.

– Conheço ônibus que é de chorar só de ver, mas os municípios não têm outra alternativa – admite.

Apesar de os repasses da União e do Piratini aos municípios para investimento em transporte escolar terem aumentado 40% nos últimos quatro anos, Vanazzi acredita que os R$ 100 milhões previstos para este ano ainda são insuficientes.

Ele defende incremento de R$ 25 milhões no montante para a manutenção adequada.

– O transporte escolar sempre foi delegado aos municípios, sem nenhum apoio. Quando deixamos de transportar é que passaram a prestar mais atenção – afirma Vanazzi.

De acordo com o secretário de Educação, Jose Clovis de Azevedo, a frota escolar pública do Rio Grande do Sul está em franco processo de rejuvenescimento.

O secretário ressalta que, em 2013, mais de 400 ônibus novos chegarão ao interior gaúcho, sendo que metade deles será repassada ao governo do Estado, que fará a distribuição. O critério de entrega, contudo, será o tamanho da área municipal, e não o tempo de uso dos veículos.

A primeira leva já foi colocada à disposição pela presidente Dilma Rousseff no início do mês de abril, quando 91 prefeituras foram contempladas com 200 veículos, em um investimento que totaliza R$ 47 milhões.

Otimista, Azevedo conclui:

– Acho que, ao longo de uma década, essas questões não farão mais parte da pauta educacional, pois estaremos trabalhando outros pontos importantes que não a infraestrutura.

CLEIDI PEREIRA


CÂMERAS NA ESCOLA

ZERO HORA 4 de junho de 2013 | N° 11702


MARIO CORSO - interino


Entrei na escola com cinco anos. Fui sempre o mais novo da turma, tinha entre um e dois anos menos do que os colegas. O físico tampouco ajudava, franzino e míope. Não venham me ensinar o que é bullying, sei o que é ir para a aula e enfrentar o pátio. Isso me tornou sensível a propostas que tentam diminuir o mal-estar na vida escolar. A discussão sobre o uso de câmeras nas escolas me tocou.

As câmeras de vigilância estão em todos os lugares. No começo, a novidade incomodava, evocava um mundo controlado, totalitário. Mas logo nos demos conta de que elas inibem e esclarecem crimes, ajudam em coisas prosaicas como controlar o trânsito. É uma vigilância barata, segura, muitas mais virão.

Porém, a presença de câmeras na escola coloca outras questões. O objetivo seria o mesmo, proteger e prevenir. As intenções são louváveis, mas elas esquecem um fator fundamental: a escola é a primeira socialização não controlada pelos pais e é necessário que assim seja. Com o olhar vigilante e onipresente da família, não se cresce. Crescemos quando resolvemos sozinhos nossos problemas, quando administramos entre os colegas as querelas nem sempre fáceis. Entre as crianças, inúmeras rusgas se resolvem sozinhas, os pais nem ficam sabendo, e é ótimo que assim seja.

O bullying deve ser combatido, mas não dessa forma. O preço a pagar pela suposta segurança compromete a essência de uma das funções da escola, que é aprender a viver em sociedade sem os pais e a sua proteção, evocada pela presença da câmera.

Na sala de aula e no pátio da escola, cada um vale por si. É preciso aprender a respeitar e ser respeitado. Nós todos já passamos por isso e sabemos como era difícil. Não existe outra forma, é isso ou a infantilização perpétua. A transição da casa para a escola nunca vai ser amena.

Essa proposta de vigilância não se ancora em razões pedagógicas, e sim na angústia dos pais em controlar seus filhos. Não creio que seja a escola que reivindica câmeras, mas quem a paga. São os pais inseguros que querem estender seu olhar para onde não devem. Existe uma correlação forte entre pais controladores e filhos imaturos, adolescentes eternos que demoram para assumir responsabilidades. É possível cuidar dos nossos filhos mesmo permitindo a eles experiências longe dos nossos olhos. A escola é deles, esse é o seu espaço e seu desafio. A escola ajuda seus filhos a crescer e eles não estão sozinhos, os professores estão lá, acredite neles. Puxe da memória, muito do que somos foi por ter enfrentado o pátio.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

ESCOLAS PRECÁRIAS

O ESTADO DE S.PAULO 03 de junho de 2013 | 2h 04


OPINIÃO


Não haverá milagre que faça a educação brasileira dar o salto necessário para colocar o País entre os mais desenvolvidos do mundo se não forem superados os entraves básicos, a começar pela infraestrutura das escolas.

O retrato de décadas de descaso, em que a construção de boas escolas não passou de mera promessa em sucessivas campanhas eleitorais, está num levantamento divulgado pelo movimento Todos pela Educação, segundo o qual 44,5% dessas unidades dispõem somente do mínimo para seu funcionamento, isto é, água, banheiro, energia, esgoto e cozinha. Não têm biblioteca, quadra de esportes e laboratório, itens considerados necessários para que o aprendizado se desenvolva de modo satisfatório. Apenas 0,6% dos estabelecimentos pesquisados têm estrutura completa. É um quadro desalentador.

A pesquisa tomou como base o Censo Escolar de 2011. Naquele ano, estavam em funcionamento quase 195 mil escolas, cujos diretores responderam a um questionário a respeito dos recursos disponíveis nos estabelecimentos. A metodologia do estudo levou em conta que nem todas as escolas necessitam de determinados equipamentos ou espaços, como berçário.

Com isso, foi feita uma escala de categorias de infraestrutura que considera as diferentes etapas de aprendizado. A categoria "elementar" é aquela do mínimo necessário. Já na categoria "básica", além de água e esgoto e energia elétrica, incluem-se aparelhos de TV e DVD, computadores, impressoras e sala da diretoria. O nível "adequado" demanda a presença de tudo isso mais acesso à internet, sala de professores, biblioteca e espaços para o desenvolvimento motor e o convívio social dos alunos.

No último nível, o das escolas "avançadas", aparecem também laboratório de ciências e estrutura para atender alunos com necessidades especiais. Para os pesquisadores, esse é o cenário considerado "mais próximo do ideal" - e que é quase inexistente na rede educacional do País.

O mérito dessa pesquisa é mostrar que a precariedade das escolas, tanto públicas quanto privadas, é um problema generalizado. Girlene Ribeiro de Jesus, da Universidade de Brasília, que participou do trabalho, disse que, por mais que esperassem resultados ruins, os pesquisadores se chocaram com a quantidade de escolas classificadas no nível "elementar".

As diferenças regionais são ainda mais graves. Na Região Norte, 71% das 24 mil escolas têm infraestrutura apenas "elementar". No Nordeste, o porcentual é de 65,1%, enquanto no Sudeste é de 22,7%, no Sul é de 19,8% e no Centro-Oeste, de 17,6%. Mesmo nas regiões mais avançadas, a maioria das escolas encontra-se no nível "básico". No Sudeste, apenas 19,8% são consideradas "adequadas".

Há também diferenças significativas quando se analisam as redes federal, estadual e municipal. No nível federal, a maioria das escolas (62,5%) são "adequadas" ou "avançadas". Já a maioria das escolas estaduais (51,3%) está na categoria "elementar", enquanto 62,8% das escolas municipais encontram-se nas categorias "elementar" e "básica". É na esfera municipal, aliás, que o problema parece mais acentuado, pois é nessa rede que se concentram quase 100% das escolas que estão mais próximas do piso da categoria "elementar".

O estudo também confirma a percepção de que a precariedade estrutural das escolas é um problema bem mais acentuado no campo do que na cidade. Das escolas da zona rural, 85,2% estão no nível "elementar", ante 18,3% nas áreas urbanas. Mesmo as escolas particulares - muitas das quais são apenas caça-níqueis espalhados pelo País - apresentam graves problemas. Nada menos que 72,3% desses estabelecimentos têm infraestrutura apenas "elementar" ou "básica".

No momento em que se discute qual porcentual do PIB deve ser destinado à educação, é importante ter em conta quais são as reais prioridades para que se alcance a tão almejada revolução educacional - e é evidente que as condições materiais das escolas desempenham nela um papel crucial.