EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A EDUCAÇÃO COMO SAÍDA


A EDUCAÇÃO COMO SAÍDA - Editorial Zero Hora, 29/12/2010

O Brasil demonstrou capacidade de fazer sua economia crescer em proporções adequadas para elevá-lo à condição de potência global, mas não consegue avançar no mesmo ritmo quando o tema de casa é educação. Nos cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 14,1 milhões de brasileiros com idade acima de 15 anos – bem mais do que o dobro de toda a população catarinense, por exemplo – não conseguem decifrar as palavras de um texto como este. Nada menos de 30 milhões – quantidade superior à soma da população dos três Estados da Região Sul ou à de todos os habitantes da Venezuela – até identificam os termos usados neste editorial, mas não conseguem interpretar frases, por terem menos de quatro anos de estudo e serem considerados analfabetos funcionais. O resultado dessa condição são constrangedoras limitações cotidianas no plano individual e dificuldades para o país firmar seu espaço num mundo baseado cada vez mais no conhecimento.

Cidadãos sem condições de ler e escrever têm dificuldade de prosseguir nos estudos. Por isso, mesmo com uma melhora nas estatísticas, os estudantes brasileiros continuam entre os últimos da fila em leitura, ciências e matemática no mais recente ranking internacional divulgado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Sem aptidão para identificar letras ou palavras e para estabelecer relações entre elas, milhões de brasileiros simplesmente paralisam diante de um manual de instruções, de um formulário de computador ou mesmo de operações aritméticas simples. Pelas mesmas razões, nem sempre conseguem contra-argumentar numa conversa envolvendo diferentes pontos de vista, o que restringe a sua consciência crítica e a capacidade de inovação do país.

O avanço necessário para garantir mais qualidade à aprendizagem depende predominantemente de maior atenção aos níveis Fundamental e Médio. Entre as prioridades com as quais os novos governantes, em âmbito estadual e federal, devem se comprometer a partir de janeiro, estão a garantia de que toda criança esteja alfabetizada até os oito anos e o ataque às causas da repetência e da evasão escolar – incluídas sempre entre as razões que levam tantos alunos a sequer concluir o Ensino Básico. Os estudantes precisam contar com a opção do ensino técnico. E, obviamente, devem ser ampliadas as oportunidades de acesso ao nível universitário, para quem quiser seguir adiante.

A melhoria do ensino no país depende da aplicação de políticas públicas adequadas nesta área, com visão de longo prazo e ênfase aos exames de avaliação. Depende também de melhorias das condições sociais dos pais, de maneira geral, aos quais deve ser propiciado maior acesso à informação e ao aprimoramento pessoal. Ainda assim, só é possível pensar em avanços nas proporções necessárias se o magistério firmar-se como uma atividade nobre, tornando-se uma opção para profissionais realmente motivados a ensinar. A mudança implica alternativas adequadas de formação acadêmica, boas condições de exercício da profissão, remuneração condizente e oportunidades de premiação por mérito para quem realmente se destacar na atividade.

Um país com pretensões de se colocar entre os grandes não pode continuar abrigando num mundo à parte populações equivalentes a verdadeiras nações de iletrados. Por isso, é hora de tocar a sineta, convocando brasileiros para a sala de aula, do bê-á-bá da Educação Infantil ao ensino de pós-graduação e à pesquisa, propiciando oportunidades de um futuro melhor para todos os cidadãos.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Na minha opinião a qualidade da política educacional passa pelas seguintes medidas:

- Valorização salarial do cargo de Diretor e Professor;

- Fortalecimento da autoridade do Diretor de Escola e Professor, através de código de postura para professores, pais e alunos;

- Integração dos conhecimentos científico, artístico, desportivo, idiomático e técnico-profissional, visando a identificação de habilidades, talentos e vocações para escolhas futuras;

- Forte investimento estatal em intercâmbios intermunicipais, interestaduais e internacional nas diversas áreas do conhecimento teórico, práticas e eventos culturais, técnicos e desportivos

- Adequação das Escolas e currículos à essa integração de conhecimentos;

- Acompanhamento da saúde mental e física de professores e alunos por técnicos da área para detectar desvios de postura, necessidades especiais e focos de violência;

- Criaçâo de Conselhos de Segurança Escolar (COMSESC) para prevenir conflitos, formado por pais, alunos e professores com supervisão do Conselho Tutelar e orientação de um técnico em segurança pública indicado pelo Estado ou pelo município.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

CRESCIMENTO PROFISSIONAL

Jovem troca salário alto por crescimento profissional. Pesquisa realizada em maio mostra uma mudança no perfil do emprego dos sonhos de quem está iniciando a carreira: em 2008, os entrevistados preferiam ganhar mais; agora, o destaque é para o desenvolvimento - MARCOS BURGHI, Folha da Tarde, 29/08/2009

Os jovens profissionais preferem começar a carreira em empresas nas quais vislumbrem crescimento profissional em detrimento do melhor salário. Trata-se de uma mudança de opinião provocada pela crise econômica que desembarcou no Brasil em setembro passado e constatada em pesquisa da Companhia de Talentos, consultoria em recrutamento e seleção com 19 anos de atuação na América Latina.

Danilca Galdini, gerente de Projetos da empresa, afirma que nas outras sete edições brasileiras da pesquisa, feita desde 2002, a preferência pelo crescimento profissional apareceu, mas a mudança registrada em 2009 se deu por conta das turbulências econômicas. Ela explica que, em 2008, os entrevistados apontaram o melhor salário como a principal razão para a escolha de uma empresa para iniciar a carreira. “A referência deles estava em 2007, quando a economia teve um desempenho excelente”, afirma.

A gerente da Companhia de Talentos observa que no levantamento deste ano, realizado em maio, pela internet, com cerca de 30 mil universitários e recém-formados de todo o País, as respostas foram dadas com os efeitos da crise ainda frescos na memória dos entrevistados. “Diante das dificuldades no mercado de trabalho e das quedas na produção muitos perceberam que era mais importante ter como ganhar do que quanto iriam ganhar”, avalia.

Na avaliação de Danilca Galdini, os profissionais iniciantes que buscam postos em grande empresa devem cuidar da formação intelectual e profissional, mas precisam dedicar atenção especial à maturidade. Segundo ela é fundamental que os novatos saibam lidar com as diversas situações do cotidiano, tomar decisões rápidas quando for necessário e até a forma mais correta de lidar com superiores e companheiros de equipe.

Luiz Jurandir Simões, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), acredita que os jovens profissionais perceberam que é melhor um salário mais modesto para uma atividade em que o desgaste seja menor no início e ambos evoluam no decorrer do tempo que uma condição financeira melhor logo de saída proporcional a uma cobrança de resultados que prejudique a vida pessoal. “Descobriram que os ganhos a longo prazo podem ser mais vantajosos”, avalia.

Ana Cristina França, coordenadora do Programa de Gestão de Pessoas da da Fundação Instituto de Administração (Progep-Fia), afirma que para iniciar a carreira em empresas de grande porte é preciso que o candidato conheça tecnologia, idiomas e domine os fundamentos da atividade que exerce.

Foco em resultados

De acordo com a professora também é importante pensar em resultados de curto prazo, além de contar com uma boa rede de relacionamentos, chamada de networking, a fim de atrair colegas com potencial para a companhia.

Entre as empresas preferidas para iniciar a carreira, segundo a pesquisa, está a Nestlé, companhia em que Eduardo Lemos, 25 anos, formado em marketing, entrou como estagiário em em 2006 e dois anos depois foi aprovado para o programa de trainees. “Decidi que a primeira tentativa seria na Nestlé e me concentrei no objetivo de ser aprovado”, conta. Lemos afirma que preferiu a multinacional suíça por estar de acordo com os valores da empresa. Ele avalia que sua aprovação para trainee se deu em virtude da participação demonstrada nas atividades e da vontade de aprimorar o conhecimento dentro e fora de sua área de atuação.

domingo, 26 de dezembro de 2010

A DIFÍCIL ADOLESCÊNCIA


A DIFÍCIL ADOLESCÊNCIA, por Sueli Gehlen Frosi, associada à ESCOLA DE PAIS DO BRASIL, Zero Hora 26/12/2010

Confesso que não gostaria de ser adolescente, mesmo sabendo que estaria em meu pleno vigor, com muitos anos pela frente para realizar sonhos. Ter 63 anos me parece ser mais fácil do que ter 17 ou 18.

Ouço muitos comentários por parte de pais e professores, assisto às notícias, leio jornais e chego à conclusão de que nossos jovens estão sendo extremamente prejudicados, pois lhes negamos seu passado, seu presente e seu futuro.

Fazemos isso quando lhes falamos que nossa infância foi muito melhor, pois andamos de carrinho de lomba, brincamos livremente pela rua, exploramos mato, rios e mares. Não nos furtamos em emitir nossas opiniões acerca da infância deles, reprovando o videogame, os sites de relacionamento, as conversas no Messenger. Quando o assunto é música, então, a coisa fica pior. Nossas músicas tinham mais graça, dançava-se junto, o ritmo e a letra eram coisa que presta. Abominamos o fato de terem trocado o dançar junto pelo ficar junto; por terem trocado caderno questionário com uma pergunta por página – horror das mães – pelo Orkut. Tudo o que fazíamos era muito melhor do que eles fazem, veja só!

Quanto ao presente, não aceitamos que eles consigam aprender em meio ao barulho, que façam muitas coisas ao mesmo tempo e com uma rapidez incrível. Queremos que eles aprendam de bom grado, sentadinhos por horas, em silêncio, bebendo da sabedoria dos professores. Eles teimam em aprender do seu jeito, teimam em questionar os comandos e não conseguem obedecer sem que tenhamos que dar mil explicações antes.

Com relação ao futuro, mostramos um mundo que desmontamos, no qual promovemos guerras mundiais, territoriais, religiosas. Cometemos genocídios, mostramos pedófilos, terroristas, queimadas, num festival de tolices feitas por poderosos adultos. Nós somos adultos genocidas, suicidas e cheios de razão, questionamos meninos e meninas que, vendo todo esse descalabro, tratam de viver intensamente o momento presente, por ser impossível vislumbrar um futuro viável.

Não seria mais sábio se olhássemos para nossos adolescentes e tirássemos lições do que estamos causando? Sabe-se que o comportamento irreverente da juventude é uma característica e uma marca da própria condição adolescente e infantil; sabe-se que há um modo novo de aprender que ainda não entendemos, mas existe para quem tem olhos de ver. Sabe-se que nossa autoridade está sendo questionada, também por causa das bobagens que fazemos, envolvendo-nos em escândalos de corrupção, em falcatruas amplamente noticiadas pela mídia.

Agora, como diriam nossos filhos: Fala sério! É possível ter uma adolescência saudável, se tudo o que se faz está errado? É possível projetar uma vida longa se tudo o que é mostrado está desmoronando? É possível confiar em adultos que exigem que se viva hoje como se viveu ontem?

Nós, os adultos, temos que pedir desculpas por apresentarmos um mundo onde o passado foi melhor, o presente é feio e o futuro é catastrófico. Melhor seria se mostrássemos a caminhada da maioria que é honesta, trabalhadora, empenhada em melhorar a vida das crianças, dos jovens, dos velhos. Melhor seria se compreendêssemos que vivemos uma nova era, na qual a família tem um novo papel, que é o de cuidar melhor, que é também o de promover a autonomia dos filhos, sem desqualificá-los, ajudando-os a ver o mundo em permanente evolução, sem saudade de tempos em que éramos comandados de todas as formas, tanto em casa quanto nas ditaduras que sofremos.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Vivemos uma transição de comportamentos numa realidade diferente da passada por nossa geração. O jovem de hoje convive com a informação online, com desconfiança na autoridade e com as amarguras de um futuro incerto, mas com um sentimento de liberdade bem mais amplo e com um planeta inteiro alcançável. Neste mundo novo, cabe a nós como pais interagir mais efetivamente para mostrar as oportunidades e os malefícios, educar o caráter, descobrir o potencial e as habilidades e exigir do Estado os direitos sociais devidos que complementam esta formação e o direcionamento do jovem para a sobrevivência com autonomia.

sábado, 25 de dezembro de 2010

DICAS DE IÇAMI TIBA


Palestra ministrada pelo médico psiquiatra Dr. Içami Tiba - Curitiba, 23/07/08.

Dr. Içami Tiba é membro eleito do Board of Directors of the International Association of Group Psychotherapy. Conselheiro do Instituto Nacional de Capacitação e Educação para o Trabalho "Via de Acesso". Professor de cursos e workshops no Brasil e no Exterior. Em pesquisa realizada em março de 2004, pelo IBOPE, entre os psicólogos do Conselho Federal de Psicologia, os entrevistados colocaram o Dr. Içami Tiba como terceiro autor de referência e admiração - o primeiro nacional.

* 1º- lugar: Sigmund Freud;
* 2º- lugar: Gustav Jung;
* 3º- lugar: Içami Tiba.

DICAS DE IÇAMI TIBA

1. A educação não pode ser delegada à escola. Aluno é transitório. Filho é para sempre.

2. O quarto não é lugar para fazer criança cumprir castigo. Não se pode castigar com internet, som, tv, etc...

3. Educar significa punir as condutas derivadas de um comportamento errôneo. Queimou índio pataxó, a pena (condenação judicial) deve ser passar o dia todo em hospital de queimados.

4. É preciso confrontar o que o filho conta com a verdade real. Se falar que professor o xingou, tem que ir até a escola e ouvir o outro lado, além das testemunhas.

5. Informação é diferente de conhecimento. O ato de conhecer vem após o ato de ser informado de alguma coisa. Não são todos que conhecem. Conhecer camisinha e não usar significa que não se tem o conhecimento da prevenção que a camisinha proporciona.

6. A autoridade deve ser compartilhada entre os pais. Ambos devem mandar. Não podem sucumbir aos desejos da criança. Criança não quer comer? A mãe não pode alimentá-la. A criança deve aguardar até a próxima refeição que a família fará. A criança não pode alterar as regras da casa. A mãe NÃO PODE interferir nas regras ditadas pelo pai (e nas punições também) e vice-versa. Se o pai determinar que não haverá um passeio, a mãe não pode interferir. Tem que respeitar sob pena de criar um delinquente.

7. Em casa que tem comida, criança não morre de fome . Se ela quiser comer, saberá a hora. E é o adulto quem tem que dizer QUAL É A HORA de se comer e o que comer.

8. A criança deve ser capaz de explicar aos pais a matéria que estudou e na qual será testada. Não pode simplesmente repetir, decorado. Tem que entender.

9. É preciso transmitir aos filhos a ideia de que temos de produzir o máximo que podemos. Isto porque na vida não podemos aceitar a média exigida pelo colégio: não podemos dar 70% de nós, ou seja, não podemos tirar 7,0.

10. As drogas e a gravidez indesejada estão em alta porque os adolescentes estão em busca de prazer. E o prazer é inconsequente.

11. A gravidez é um sucesso biológico e um fracasso sob o ponto de vista sexual.

12. Maconha não produz efeito só quando é utilizada. Quem está são, mas é dependente, agride a mãe para poder sair de casa, para fazer uso da droga . A mãe deve, então, virar as costas e não aceitar as agressões. Não pode ficar discutindo e tentando dissuadi-lo da idéia. Tem que dizer que não conversará com ele e pronto. Deve 'abandoná-lo'.

13. A mãe é incompetente para 'abandonar' o filho. Se soubesse fazê-lo, o filho a respeitaria. Como sabe que a mãe está sempre ali, não a respeita.

14. Se o pai ficar nervoso porque o filho aprontou alguma coisa, não deve alterar a voz. Deve dizer que está nervoso e, por isso, não quer discussão até ficar calmo. A calmaria, deve o pai dizer, virá em 2, 3, 4 dias. Enquanto isso, o videogame, as saídas, a balada, ficarão suspensas, até ele se acalmar e aplicar o devido castigo.

15. Se o filho não aprendeu ganhando, tem que aprender perdendo.

16. Não pode prometer presente pelo sucesso que é sua obrigação. Tirar nota boa é obrigação. Não xingar avós é obrigação. Ser polido é obrigação. Passar no vestibular é obrigação. Se ganhou o carro após o vestibular, ele o perderá se for mal na faculdade.

17. Quem educa filho é pai e mãe. Avós não podem interferir na educação do neto, de maneira alguma. Jamais. Não é cabível palpite. Nunca.

18. Muitas são desequilibradas ou mesmo loucas. Devem ser tratadas. (palavras dele).

19. Se a mãe engolir sapos do filho, ele pensará que a sociedade terá que engolir também.

20. Videogames são um perigo: os pais têm que explicar como é a realidade, mostrar que na vida real não existem 'vidas', e sim uma única vida. Não dá para morrer e reencarnar. Não dá para apostar tudo, apertar o botão e zerar a dívida.

21. Professor tem que ser líder. Inspirar liderança. Não pode apenas bater cartão.

22. Pais e mães não pode se valer do filho por uma inabilidade que eles tenham. 'Filho, digite isso aqui pra mim porque não sei lidar com o computador'. Pais têm que saber usar o Skype, pois no mundo em que a ligação é gratuita pelo Skype, é inconcebível pagarem para falar com o filho que mora longe.

23. O erro mais frequente na educação do filho é colocá-lo no topo da casa. O filho não pode ser a razão de viver de um casal. O filho é um dos elementos. O casal tem que deixá-lo, no máximo, no mesmo nível que eles. A sociedade pagará o preço quando alguém é educado achando-se o centro do universo.

24. Filhos drogados são aqueles que sempre estiveram no topo da família.

25. Cair na conversa do filho é criar um marginal. Filho não pode dar palpite em coisa de adulto. Se ele quiser opinar sobre qual deve ser a geladeira, terá que mostrar qual é o consumo (KWh) da que ele indicar. Se quiser dizer como deve ser a nova casa, tem que dizer quanto isso (seus supostos luxos) incrementará o gasto final.

26. Dinheiro 'a rodo' para o filho é prejudicial. Mesmo que os pais o tenham, precisam controlar e ensinar a gastar.

Matéria enviada pelo Cel Dilsson Bressan recebida do Cel Neri Vitorino em 23/12/2010

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

EU ACUSO

J’ACUSE !!! (Eu acuso!)- Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes por Igor Pantuzza Wildmann - Advogado – Doutor em Direito. Professor universitário.Brasileiros Para o Mundo, 22/12/2010


Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice.(Meu dever é falar, não quero ser cúmplice. ...) Émile Zola


Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que... estudar!).

A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro.

O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares.

Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de convivência supostamente democrática.

No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando...

E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico’.”

Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno–cliente...

Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”.

Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.

Ao assassino, corretamente, deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:

EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;

EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta dos oprimidos”e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;

EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;

EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil dos alunos”;

EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;

EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;

EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;

EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu “tantos por cento”;

EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito” de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;

EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;

EU ACUSO os “cabeça – boa” que acham e ensinam que disciplina é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito,

EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;

EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.

EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam “promoters” de seus cursos;

EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;

Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos-clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia.

Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”.

A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.”
Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.


COMENTÁRIO DA FONTE: o professor de Educação Física, Kássio Vinícius Castro Gomes, de 39 anos, foi morto a facadas, na noite de 7 de dezambro, por um de seus alunos, no interior do Instituto Metodista Izabela Hendrix, em Belo Horizonte(MG). Segundo um parente do acusado pelo crime, este seria usuário de drogas. Já o esperto advogado do criminoso foi para a imprensa alegar que seu cliente sofre de distúrbios mentais (bi-polaridade). Houve e haverá manifestações "pela paz", tanto por parte de alunos quanto de professores. O bandido será condenado a uma pena qualquer, com direito a suspensão e "progressão". E tudo volta ao normal, menos na vida da família do morto. Providências quanto ao que foi apontado pelo articulista? Nenhuma!

COMENTÁRIO DO Renato HOFFMANN disse...

Resposta do aluno que foi citado por ter processado seu professor: Amigos, tive minha ação, que ajuizei, citada como obra de ignomínia e opróbrio, alienação do processo formacional e estudantil, e vinculada ao caso do aluno que praticou o homicídio no Izabela Hendrix, como se ele e eu fossemos um amalgama, nesse sistema de monstros, que vagueiam pela sociedade, na tentativa de sucumbirem seus valores nobres. Assim, estou escrevendo esta resposta ao Dr. Igor Pantuzza Wildmann – Advogado, responsável pela pérola, e numa tentativa de diálogo, afinal é tão feio se manifestar sobre algo sem saber ao certo o que se passa e como se passa, e em que condição exata, stricto sensu, se passa. Ele defendeu tanto o valor ético, meu pai sempre me ensinou a só me manifestar, quando ciente de toda a condição e razão para tal, afinal, toda opinião tem uma consequência. Parece-me que nossa educação, a minha e a do advogado foram erguidas em éticas opostas, vai a resposta:

Primeiramente, e tecnicamente, não caberia um desagravo nesse ato, pois o desagravo cabe quanto à ofensa, à afronta, da injúria e da difamação, nesse caso foi um crime de homicídio, art. 121 do Código Penal Brasileiro, o desagravo cabe quanto aos artigos 139 e 140 do mesmo diploma legal. Manifestações são bem-vindas, mas desagravo não é o termo!

Quanto ao aluno que processou a um professor por ter que estudar, é verdade isso aconteceu em BH! Aliás, é o ALUNO em questão que fala nesta resposta. Na verdade, o processo não aconteceu por que o aluno teve que estudar, seria ridicularizar por demais a inteligência das pessoas, digo do judiciário, que aceitou a ação e promoveu a sua instrução devida. Mas o processo se deu por conta da MÁ PRESTAÇÃO DO SERVIÇO, essa foi a alegação e o objeto da ação jurídica movida, e que aguarda a devida sentença, então é um minimalismo absurdo dizer que alguém processou por ter que estudar, na verdade, isso ocorreria de forma natural, mas quando alguém tem que estudar para superar o que se espera; auferir o saber, e correr atrás de um prejuízo imposto por terceiro , então esse ‘estudar’ na verdade é litigar contra poderes utilizados de maneira inadequada na mesma prestação de aferição de conhecimento, há com isso um dano, se não houvesse a ação não teria sido levada adiante. E não deve haver estranheza de ninguém quando um aluno processa seu professor por este não estar cumprindo o contrato de prestação de serviço com esmero, é melhor processar do que enfiar uma faca na barriga; é mais civilizado, e a justiça está aí, para tal.

Também é nobre um aluno que, usando os meios legais e civilizados, luta por seus direitos. No Brasil, confesso, soa com estranheza, pois nosso povo não é sequioso por seus direitos, e não sabe os meios pelos quais lutar pelos mesmos.

Em relação à inversão da escala de valores, tão enfatizada no texto do desagravo desesperado, data maxima venia, não vejo por este ângulo à questão que se faz por existencial e profunda, e não por um pragmatismo axiomático, que beira ao fundamentalismo conceitual de ideias em prol do favoritismo de classes. Aliás, é bom eu explicar.

Fonte: http://mujahdincucaracha.blogspot.com/2010/12/jacuse-eu-acuso.html

A MORTE DA EDUCAÇÃO

A morte da educação - Augusto Uchoa, O GLOBO, 21/12/2010 às 17h05m; Artigo do leitor

A notícia da morte de um professor universitário em Belo Horizonte me motivou a escrever este artigo. Um assunto complexo que é debatido entre os professores em encontros extraclasse. Creio que posso falar sobre o tema com certa imparcialidade, pois sempre fui aluno, sou aluno e há alguns anos atuo também como professor.

O caso do assassinato é o ápice do extremismo e deve nos fazer refletir sobre o modelo educacional mercantilista ao extremo, que alguns insistem em adotar
Percebo um processo crescente de agressão a professores. Tenho visto que a ideia de "aluno-cliente" parece ter atingido seu ponto máximo de deturpação. A visão se tornou distorcida, talvez em função da linha tênue que separa os dois conceitos desta relação. Percebo uma cobrança máxima do professor pelos alunos e uma dedicação mínima por boa parte destes últimos.

Diferente de outros serviços, onde cada um tem plena noção do que pode e deve fazer no seu papel de cliente, bem como até onde pode exigir do prestador, a sala de aula não funciona bem assim. A literatura de serviços diz que os clientes possuem papeis a serem seguidos e, eventualmente, quando tais papeis não são exercidos como deveriam, tornam-se indesejados. Ou, numa situação inversa, o cliente, ao se deparar com incidentes críticos, como encontro de serviços insatisfatórios, muda-se para a concorrência. Simples assim.

Se em meio à comercialização de bens, onde a interação entre vendedor e comprador é menor, isto já acontece, em serviços, é ainda pior. Uma influência negativa ou fora dos padrões apropriados para a boa relação entre as partes pode alterar a expectativa e a entrega de qualquer serviço como um todo, prejudicando os clientes que não têm nada a ver com isto.

O caso do assassinato é o ápice do extremismo e deve nos fazer refletir sobre o modelo educacional mercantilista ao extremo, que alguns insistem em adotar. Numa visão prática deste extremo, convivo com professores que desenvolveram traumas de entrar em salas de aula e questionam seu amor por lecionar por conta desta relação, muitas vezes perversa, entre professores e alunos. Docentes que temem não agradar seus "clientes" e serem punidos - como já vi em algumas situações - por seus empregadores.

No setor de serviços, são os clientes os principais avaliadores do desempenho. Valho-me das palavras de um grande amigo que diz: "ser professor é uma das profissões mais difíceis do mundo, pois em poucas carreiras existem tantas avaliações por um número tão grande de pessoas". Esta condição é para quem realmente ama exercer a docência, para mim, tão nobre quanto desgastante.

Lembro-me de muitos casos de agressão física a professores e não me recordo de ter visto tantos em outros modelos de prestação de serviços. Na classe médica, por exemplo, em que o marketing de serviços é classificado como mero serviço profissional e que tem na saúde o seu serviço núcleo, a possibilidade de insatisfação do "cliente" me parece bem mais crítica do que na educação. Não seria?

Minha proposta não é tomar partido em defesa dos professores ou da generalização dos maus exemplos de alunos; trata-se apenas do desabafo de uma pessoa que se posta diariamente à frente de dezenas de alunos, para oferecer-lhes os anos de experiência e estudos, e que tem sofrido, mais do que com a morte do colega, com a morte da Educação.

Como aluno, vale lembrar que não sou a favor de professores que não gostam de alunos, que não se reciclam, que se fecham para novas metodologias de ensino e se acham acima do bem e do mal. Rejeito os "senhores da verdade" que esqueceram que o binômio ensino-aprendizado é uma via de mão dupla. Ensinar a aprender é um processo de autoalimentação, pois para gerar o conhecimento em debates ricos que nos fazem pensar, refletir e questionar, é necessário mais do que um personagem.

Por fim, vale ressaltar que parte de nós também morre com o assassinato do professor em BH. A relação professor-aluno sempre foi vista como sinônimo de vida; meus melhores amigos, meus ícones e minhas referências do que existe de melhor no ser humano vieram das salas de aulas, daquele local "sagrado", onde as pessoas desenvolvem as próprias essências. Como é sabido, o mundo evoluiu com a Educação; não com a guerra.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

ANTÍTESE OU TESE DE VIOLÊNCIA?

Antítese ou tese de violência?, por Antonio Marcelo Pacheco, professor de Direito Constitucional - Zero Hora, 21/12/2010

A sala de aula é um território (in)definido. É reflexo complexo da sociedade, já que a relação professor-aluno se reproduz, também, em contradições. Não é um espaço simplificado ou de fácil compreensão.

No que diz respeito aos professores, a situação é cruel. Além de uma ineficaz política sobre a educação e intermináveis discussões de educadores com nenhum resultado efetivo, as condições de trabalho são tragicômicas.

Em relação aos alunos, é difícil não reconhecer o desinteresse, a falta de compromisso e mesmo as manifestações variadas de violência que reproduzem/espelham uma realidade cultural originária, que está em crise de vários preceitos de sociabilização. É trágico, porém verdadeiro, reconhecer que a crise que carregam para dentro da sala de aula é a crise do interior das famílias, das ruas e dos valores marcados por uma sociedade de velocidade, superficialidade e de estímulo à desagregação.

Não se pode, é claro, deixar de lembrar que a educação, citada como solução mágica para a crise social e moral, não traz em si condições taumaturgas, divinas, pois ela é apenas um dos meios pelos quais construímos a nossa identidade social. A crise que se abate sobre a escola e o magistério é uma crise generalizada que traz em si uma crise de identidade, cidadania, civilização.

Não basta afirmar a necessidade de salários mais dignos, de maior disciplina, de maior rigor e de maior obrigatoriedade quanto aos “valores aceitos como corretos” entre os alunos para se acreditar em um processo transformador, pois os salários não são dignos, a disciplina e o rigor precisam ser conquistados e não impostos e alardear valores morais por decreto não permite a ninguém ficar preparado para a coexistência social. A transformação que se quer se inicia no primeiro quadro-negro, com as primeiras experiências sociais, que se dão, obrigatoriamente, em casa e não na sala de aula.

Há um hiato entre o que é preciso realizar e compreender e o que é possível conseguir, e essa não é uma questão semântica. Assim, que se veja a sala de aula como um espaço social e não como lugar sagrado, e os professores como professores e não como psicólogos, pais ou padres, porém, profissionais que buscam apesar de tudo uma condição mais digna que justifique muito mais a própria razão de ser do que discursos surpresos e solidários com o abandono no qual estão submergidos.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

MAQUIAGEM EDUCACIONAL

MAQUIAGEM EDUCACIONAL - Editorial Zero Hora, 14/12/2010.

A pretensão do Conselho Nacional de Educação (CNE) ao recomendar que as escolas evitem reprovar alunos até o terceiro ano do Ensino Fundamental pode ser bem-intencionada, mas uma mudança desta importância não deve ser implantada sem um engajamento firme da sociedade no debate sobre suas implicações. A proposta ainda será avaliada pelos conselhos estaduais, que terão autonomia para aplicá-la ou não. Ainda assim, é importante que haja absoluta clareza sobre se o objetivo, de fato, é preservar os interesses das crianças ou melhorar artificialmente os indicadores educacionais. O que importa, no caso, é a qualidade do ensino ministrado e como os alunos podem fazer bom uso do conteúdo aprendido para aproveitar melhor as próximas séries e chegar ao final do Ensino Básico, de preferência habilitando-se para cursar uma universidade.

Um aspecto fundamental, como destaca a educadora Esther Grossi, é não partir de conclusões equivocadas como a de que uma criança não tem condições de aprender. É importante levar em conta que o aprendizado não depende apenas do esforço pessoal do aluno, mas também dos professores, da própria escola e dos pais. Toda criança deve ser estimulada na sua capacidade de aprendizagem, mas também precisa aprender a conviver desde cedo com a realidade de um cotidiano marcado por constantes avaliações. Gratificações e frustrações relacionadas ao seu desempenho escolar são inerentes ao seu processo de aprendizado tanto na escola quanto na vida. Os próprios educadores são constantemente testados na sua capacidade de transmitir conhecimentos. Não por acaso, cada vez se procura aprimorar mais a forma de remunerá-los por critérios meritocráticos.

A proposta definida agora guarda semelhança com a experiência dos ciclos, com origem nos termos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996, que concedeu autonomia a Estados, municípios e escolas para adotar, ou não, esse sistema. A LDB determina que, nos ciclos, a avaliação deve ser feita no dia a dia da aprendizagem, de diversas formas, incorporando-se à educação formal a experiência de vida trazida pelo aluno do seu universo familiar e social. No Brasil, a introdução do sistema de ciclos no Ensino Fundamental surgiu sob polêmica: de um lado, é vista como tentativa de ocultar chagas como a da repetência no país, e, de outro, como um avanço para garantir a permanência e o aprendizado dos estudantes na escola. É esta questão que precisa ser bem administrada para evitar ainda mais problemas à frente.

As séries iniciais têm impacto direto na alfabetização, que é um desafio permanente do país, e em consequência no aprendizado das demais disciplinas, pois não há como avançar sem dominar a leitura. O país tem o dever de garantir eficiência a essa fase decisiva para o futuro de nossas crianças.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - INFELIZMENTE, VIVEMOS NO PAÍS DA TOLERÂNCIA MIL. Defendo uma educação voltada para a probidade, cidadania, civismo e futuro profissional visando a inclusão no mercado de trabalho. Uma educação multidisciplinar proferida por professores bem pagos e integrando conhecimentos científico, técnico, artístico e desportivo, focada no descobrimento de talentos, habilidades e vocações. Só assim o país poderá reduzir as incertezas, as escolhas erradas, a evasão escolar, o estresse, o suicídio, os vícios, a violência, a indisciplina, a desmoralização da autoridade e a desmotivação dos alunos, dos professores e dos pais.

domingo, 12 de dezembro de 2010

O PAÍS DOS TIRIRICAS


O PAÍS DOS TIRIRICAS - Editorial Zero Hora, 12/12/2010

Estudo divulgado esta semana pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelou que o número absoluto de analfabetos com 15 anos ou mais no país caiu 7% entre 2004 e 2009, representando cerca de 1 milhão de iletrados a menos nesse período. Esta poderia ser uma boa notícia, se não tivesse um complemento dramático. O mesmo levantamento, feito a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2009, sinaliza que o país ainda tem 14 milhões de habitantes dessa faixa etária que não sabem ler e escrever – um contingente equivalente à população do Chile.

Por que isso é dramático? Em primeiro lugar, porque essas pessoas que não dominam minimamente a linguagem escrita acabam sendo excluídas de muitas oportunidades para ter uma vida digna. Basta atentar para uma outra informação divulgada pelo Ipea, de que 93% dos iletrados brasileiros localizam-se na faixa de renda de até dois salários mínimos. E não passa de sofisma lembrar que pessoas praticamente sem instrução podem fazer sucesso, como foi o caso recente do humorista Tiririca, eleito o deputado federal mais votado do país. Trata-se de uma exceção. Em sua ampla maioria, os analfabetos têm dificuldades de convívio social, sentem-se diminuídos por esta condição e são naturalmente excluídos pelo mercado de trabalho, uma vez que testes e entrevistas para emprego baseiam-se fundamentalmente na palavra escrita.

Embora o país venha desenvolvendo programas de combate ao analfabetismo, o recente levantamento evidencia a lentidão dos avanços. Se for mantido o ritmo registrado nos últimos cinco anos, o Brasil não conseguirá alcançar a taxa prevista na Conferência Mundial de Educação de Dacar, de 6,7% em 2015 – meta resultante do acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Para recuperar o tempo perdido, o ministro Fernando Haddad, da Educação, está pedindo o apoio dos prefeitos de municípios localizados nas áreas rurais, onde as taxas de analfabetismo adulto são maiores.

A verdade é que as políticas públicas voltadas para a alfabetização de jovens e adultos não estão apresentando resultados satisfatórios, especialmente em decorrência de questões socioeconômicas, já que a maioria dos estudantes tem dificuldade para conciliar trabalho, sustento da família e estudo. Um dado especialmente alarmante é o de que a maternidade precoce afeta um terço das meninas de 15 a 17 anos que estão fora da escola.

O que fazer? Além de revigorar o programa de educação de jovens e adultos, com currículos mais atraentes e alternativas de formação profissional, o país precisa fortalecer a visão de que a escola é o melhor caminho para o desenvolvimento individual e para a construção de um país melhor. Também é importante desenvolver a ideia de que educação não é apenas dever de governo, mas sim de Estado e da sociedade, sendo indispensável um maior envolvimento das famílias com a escola.

Por mais respeito que o deputado-humorista mereça, não podemos nos tornar um país de Tiriricas que dependem da benevolência alheia ou de apadrinhamento político para ocuparem seus espaços no mundo.

ALÉM DO VOTO DIRETO - A PROFICIÊNCIA ESCOLAR


PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA - Além do voto direto - Zero Hora, 12/12/2010

Vieram da área da educação as piores notícias da semana. Primeiro, a confirmação de que o Brasil é um dos últimos no Pisa, o teste internacional que mede a proficiência de alunos na faixa dos 15 anos em leitura, ciências e matemática. Ficamos em 54º lugar num ranking de 65 países, liderado pela China. Os alunos brasileiros atingiram 401 pontos. Os do lanterna Quirguistão, 325. A segunda má notícia veio de um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea, mostrando que o Brasil ainda tem 14 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais. Outros tantos podem ser enquadrados na categoria analfabetos funcionais, porque não têm condições de interpretar um texto ou realizar operações básicas de matemática.

Diante dos números negativos, entraram em cena os especialistas para tentar apontar caminhos, enquanto representantes do governo tentavam convencer o país de que a situação está melhorando e que, pelo menos, hoje temos sistemas de avaliação que permitem saber se os alunos estão aprendendo ou não.

No meio de tantas teses, diagnósticos e prognósticos, o professor Mozart Neves, coordenador do Movimento Todos pela Educação, tocou em um tema que não pode ser ignorado quando se trata de discutir o futuro da escola: os critérios para a escolha dos diretores.

Mozart Neves condenou a indicação de diretores por critérios políticos, mas também foi duro com o método de escolha pelo voto direto no Rio Grande do Sul, definida pela Lei da Gestão Democrática. Não que o professor seja contra a eleição direta. Ele é a favor, mas sustenta que só o voto já não basta. Que o professor, para ser candidato a diretor, deveria estudar para isso, mostrar que entende de gestão, e não apenas fazer campanha tentando conquistar a simpatia de alunos, professores e funcionários da escola.

CORRUPÇÃO NA ESCOLA - PAIS COMPRAM TRABALHOS


Pais compram trabalhos escolares - GUSTAVO AZEVEDO, Zero Hora, 12/12/2010

Em um ato de desespero para buscar a aprovação dos filhos, famílias contratam professores para resolver questões no lugar dos filhos, estimulando um mercado condenável do ponto de vista do ensino e dando um péssimo exemplo para a formação dos estudantes. Zero Hora revela nesta reportagem como funciona esse mercado da educação

Por R$ 40, R$ 60, o ano letivo de um aluno dos ensinos Fundamental ou Médio pode estar garantido. Esses são alguns dos preços que pais estão pagando a professores de aulas particulares para executarem os trabalhos escolares dos filhos e, assim, engordar a nota final dos filhos, obtendo aprovação.

Sem qualquer participação dos estudantes, profissionais que deveriam educar se aproveitam do desespero e despreparo de famílias para faturar num mercado imoral e também criminoso compactuado por mães e pais.

Zero Hora comprovou essa realidade que ajuda a desfigurar ainda mais a já precária educação brasileira. A reportagem encomendou e comprou de dois professores da Capital trabalhos de matemática que, hipoteticamente, ajudariam a passar de ano um adolescente de 15 anos. Acompanhou também a tentativa de uma mãe para resolver o problema do filho, que arrisca rodar de ano, novamente, numa escola de Porto Alegre.

Com um trabalho de biologia para ser entregue no mesmo dia, essa mãe – que não será identificada para que o garoto permaneça no anonimato – tentava achar alguém que resolvesse as questões. Ao ligar para ela, a reportagem se passou por um professor interessado em fazer a tarefa. Ela já tinha achado um profissional para o serviço, mesmo assim falou de sua intenções:

– Quero que ele passe de uma vez.

Em poucos segundos de conversa, ela revela o seu desespero:

– Está difícil, não adianta mais dar sermão. Se não for assim, não avançam.

Perguntada se o professor escolhido faria as questões ou ensinaria, ela titubeia, sem explicar:

– Ele vai fazer, são só três questões. Mas acho que vai ensinar, acho até melhor que ensine do que fazer pronto, né?

Com o fim do ano se aproximando, os telefones de professores de aulas particulares tocam com muito mais frequência do que o normal. A maior parte procura ajuda para que ensinem seus filhos na última hora, mas alguns buscam o caminho mais curto, pensando exclusivamente em garantir a aprovação.

– Tem muito pai que pede mesmo. Nós orientamos, mas eles não querem saber – revela a secretária de uma escola especializada em aulas particulares.

“O que leva um pai a chegar a esse ponto?”

Nos corredores escolares, a prática não é nova e se infiltra perigosamente nas salas de aula. A diretora da Associação dos Orientadores Educacionais do Estado, Rosângela Diel, lamenta o protagonismo dos pais.

– A gente sabe que existe, mas ver se concretizar assim é bem assustador. O que leva um pai a chegar a esse ponto? – indaga Rosângela.

O pânico da reprovação é o motor que empurra esse pais para essas soluções sombrias, segundo a psiquiatra Nina Furtado, da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul.

– Rodar de ano tem uma conotação de fracasso. Não é visto como aprendizado para melhorar. Os pais se perguntam: onde falhei como pai? Ou por que não tive um filho de sucesso? A dificuldade de lidar com isso faz os pais partirem para atitudes extremas e desesperadas como esse péssimo modelo – diz Nina.

Para a especialista, pais que apelam para esse recurso perdem de vez o respeito com os filhos.

– Os pais cobram dos filhos atitudes que eles mesmos não têm. Como vai cobrar ética e bom comportamento? Para os jovens, os fins vão justificar os meios. Situações como essa atacam a base da sociedade, que é a família – pontua.

Para o doutor em psicologia infantil e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Fernando Becker, esses pais estão ensinando os filhos a delinquir:

– Desse jeito, os filhos podem pensar assim: posso faturar uma grana fácil vendendo droga, por que não? É o extremo oposto de qualquer processo educacional. Quando um pai chega a esse nível, já tem um longo trajeto de concessões e de falta de atitudes enérgicas e de moral.

A negociação

Ao comprovar a existência deste mercado de trabalhos escolares, ZH deparou com um quadro alarmante. De oito escolas ou professores consultados, cinco deles se dispuseram a entregar os pedidos. Ao se passar por um pai de um estudante em risco de reprovação, a reportagem negociou com dois professores a compra de trabalhos de matemática para a 7ª série. Eram 20 questões envolvendo geometria plana e equações de 2º grau. Os professores Ricardo Soletti e Denise Borges, profissionais especializados em aulas particulares, aceitaram a encomenda. Dão aula em locais estrategicamente localizados próximos de grandes colégios particulares. Entre terça e quarta-feira, aceitaram a encomenda de um trabalho supostamente para um aluno, resolveram as questões e entregaram os quesitos, sem qualquer envolvimento de aluno. Denise (que cobrou R$ 60 pelo serviço), cometeu erros.

Para juristas, prática é crime

A comercialização e a compra de trabalhos são encarados por juízes como crime. Apesar de não ser tão comum como o mercado de monografias para cursos superiores, a prática executada nos ensinos Médio e Fundamental podem sofrer sérias consequências. Para o juiz da infância e da juventude José Antônio Daltoé Cezar, os envolvidos podem enfrentar processos judiciais.

– É um conduta criminosa, não resta dúvida. O adolescente que apresentar o trabalho que não foi feito por ele pode responder a processo por ato infracional na Justiça da infância. E os professores podem responder por falsidade ideológica ou até mesmo estelionato.

Quanto aos pais, o magistrado aponta que podem passar por processo cível e ser chamado atenção quanto ao exercício do poder familiar.

– Eles podem receber censura, advertência e até mesmo a suspensão – ressalta.

A procuradora de Justiça Maria Ignez Franco Santos, especializada em infância e juventude, diz que além da conduta imoral, o descumprimento do poder familiar por parte dos pais infringe o Estatuto da Criança e Adolescente:

– Eles podem ser multados. E denunciaria o professor como co-autor de falsidade ideológica.

A CHAGA DA EDUCAÇÃO

"A CHAGA DA EDUCAÇÃO" - Carlos José Marques, diretor editorial Revista Isto É N° Edição: 2144 | 10.Dez.10 - 21:00 | Atualizado em 12.Dez.10 - 00:23.

Extenuante, incompatível com o excepcional momento de avanço do País, a tragédia da educação brasileira – que se arrasta secularmente desde a colonização – continua a exibir sem retoques suas marcas.

Na semana passada, de maneira vergonhosa, o Brasil voltou a figurar no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). Estava na rabeira! Entre as 65 nações analisadas, o Brasil era o 53º colocado. Segundo a organização que elabora o levantamento, os jovens brasileiros estão ao menos três anos defasados em relação aos chineses no campo da leitura.

A maior parte deles (69,1% do total) ficou no Nível 1 de conhecimento de matemática, em uma escala com seis graus de pontuação. A qualidade de ensino por aqui se mostrou tão ruim que, entre os 20 mil alunos brasileiros participantes da bateria de provas, mais da metade não passou da primeira etapa. Um desempenho sofrível tanto de alunos de escolas públicas como de escolas privadas.

Enquanto a média mundial de pontos no exame girou no patamar de 496 acertos, a brasileira ficou na casa de 401. Demonstração inequívoca de que o País relegou sim a um segundo plano o preparo adequado de seu futuro.

Os candidatos brasileiros apanharam feio e situaram-se atrás de estudantes da Tailândia, do Uruguai, da Colômbia, do Azerbaijão, da Turquia, do Casaquistão, de Trinidad e Tobago, do Chile. É melhor parar por aqui para estancar a humilhação. A síntese do problema chama-se investimento no aprendizado.

A capacitação, o conhecimento dos alunos que saem de colégios nacionais e das inúmeras faculdades que não param de aparecer – como caça-níqueis enganosos, vendendo diploma em troca de nada – é, para dizer o mínimo, lamentável. Invariavelmente, os que almejam galgar melhores posições no mercado precisam passar por cursos extracurriculares, quase sempre no Exterior.

Curiosamente, hoje no mundo corporativo a grande discussão trata da a falta de mão de obra qualificada. Um mal para o qual a única saída é uma mobilização geral – de governantes, instituições de ensino e, especialmente, empresas – que priorize recursos para a área.

O diagnóstico da chaga não é novo. Surpreendente é a apatia, o descaso, a quase inércia que toma conta do País diante do mal maior, que conspira contra o seu próprio desenvolvimento.

sábado, 4 de dezembro de 2010

QUANDO EDUCAÇÃO NÃO É PRIORIDADE


Quando a educação não é prioridade, por Günther Staub, publicitario, Zero Hora, 04/12/2010

De forma oportuna, a Famurs realizou uma pesquisa com 496 prefeitos do Rio Grande do Sul, recentemente publicada em Zero Hora, sobre as principais prioridades de seus municípios a serem apresentadas aos então candidatos ao governo do Estado e à Presidência da República. Apenas 337 responderam. Em primeiro lugar, apontaram as estradas (29%), seguidas por agricultura (27%) e saúde (15,5%), ficando a educação em quarto lugar (6,6%), o que representa apenas 23 prefeituras. Isto significa que a educação é uma primeira prioridade para poucos. Será esta uma das muitas causas pelas quais a educação do Rio Grande do Sul está perdendo tantas posições, em comparação com outros Estados?

Quando uma região tem alta qualidade em educação, ela eleva a produção de riquezas e assim consegue gerar mais renda, mais empregos, mais impostos, diminuindo as necessidades de investimentos em saúde e segurança.

O cargo de prefeito é um dos mais importantes da função pública. Sobre ele recaem todos os problemas de educação municipal, estadual e federal, saúde (ambulatórios e hospitais), ruas e estradas, bueiros, lixo, poluição, esgoto, luz, água, criminalidade, tráfico de drogas, comércio clandestino, êxodo rural, favelas, loteamentos irregulares, transporte coletivo (municipal e intermunicipal), telecomunicações, serviços de táxi etc. Embora muitas dessas questões sejam obrigações do governo do Estado e do governo federal, e fujam do controle do prefeito, é sobre ele que recaem as responsabilidades. Para buscar soluções nessas áreas, ele deve se relacionar com as mais diferentes áreas das enormes e complexas estruturas dos governos estadual e federal. Precisa ainda se relacionar com a Câmara de Vereadores, deputados estaduais e federais, senadores e partidos políticos. Diariamente atende dezenas de pessoas em seu gabinete ou nos locais que frequenta.

Exige-se do prefeito que pense e aja micro, pequeno, médio e grande, às vezes, com diferença de minutos ou até segundos. Além disso, ele tem que agir como mestre de obras, engenheiro, financista, advogado e político, e ter alta capacidade de liderança e de relacionamento com os moradores do município. Também tem que pensar e planejar o município para as próximas décadas (plano diretor), promover o empreendedorismo e atrair novos investimentos (emprego e renda).

Por tudo isso, valorizo muito a função de prefeito e finalizo fazendo um pedido a todos os 496 prefeitos e à Famurs: coloquem a educação como a primeira, principal e permanente prioridade em seus municípios. Falo “educação” em todos os níveis, inclusive em educação para o empreendedorismo, ensino profissionalizante, educação de qualidade, que prepare os jovens para o mundo cada vez mais complexo que está aí e para aquele que já está vindo. Com educação ampla e de qualidade, o prefeito terá receita para resolver melhor todos os problemas de estradas, ruas, saúde etc. Minha proposta é de que repensem as prioridades e que reconheçam a importância de situar a educação no Rio Grande do Sul como a primeira dessas metas.