EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

EU ACUSO

J’ACUSE !!! (Eu acuso!)- Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes por Igor Pantuzza Wildmann - Advogado – Doutor em Direito. Professor universitário.Brasileiros Para o Mundo, 22/12/2010


Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice.(Meu dever é falar, não quero ser cúmplice. ...) Émile Zola


Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que... estudar!).

A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro.

O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares.

Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de convivência supostamente democrática.

No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando...

E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico’.”

Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno–cliente...

Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”.

Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.

Ao assassino, corretamente, deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:

EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;

EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta dos oprimidos”e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;

EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;

EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil dos alunos”;

EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;

EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;

EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;

EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu “tantos por cento”;

EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito” de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;

EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;

EU ACUSO os “cabeça – boa” que acham e ensinam que disciplina é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito,

EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;

EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.

EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam “promoters” de seus cursos;

EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;

Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos-clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia.

Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”.

A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.”
Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.


COMENTÁRIO DA FONTE: o professor de Educação Física, Kássio Vinícius Castro Gomes, de 39 anos, foi morto a facadas, na noite de 7 de dezambro, por um de seus alunos, no interior do Instituto Metodista Izabela Hendrix, em Belo Horizonte(MG). Segundo um parente do acusado pelo crime, este seria usuário de drogas. Já o esperto advogado do criminoso foi para a imprensa alegar que seu cliente sofre de distúrbios mentais (bi-polaridade). Houve e haverá manifestações "pela paz", tanto por parte de alunos quanto de professores. O bandido será condenado a uma pena qualquer, com direito a suspensão e "progressão". E tudo volta ao normal, menos na vida da família do morto. Providências quanto ao que foi apontado pelo articulista? Nenhuma!

COMENTÁRIO DO Renato HOFFMANN disse...

Resposta do aluno que foi citado por ter processado seu professor: Amigos, tive minha ação, que ajuizei, citada como obra de ignomínia e opróbrio, alienação do processo formacional e estudantil, e vinculada ao caso do aluno que praticou o homicídio no Izabela Hendrix, como se ele e eu fossemos um amalgama, nesse sistema de monstros, que vagueiam pela sociedade, na tentativa de sucumbirem seus valores nobres. Assim, estou escrevendo esta resposta ao Dr. Igor Pantuzza Wildmann – Advogado, responsável pela pérola, e numa tentativa de diálogo, afinal é tão feio se manifestar sobre algo sem saber ao certo o que se passa e como se passa, e em que condição exata, stricto sensu, se passa. Ele defendeu tanto o valor ético, meu pai sempre me ensinou a só me manifestar, quando ciente de toda a condição e razão para tal, afinal, toda opinião tem uma consequência. Parece-me que nossa educação, a minha e a do advogado foram erguidas em éticas opostas, vai a resposta:

Primeiramente, e tecnicamente, não caberia um desagravo nesse ato, pois o desagravo cabe quanto à ofensa, à afronta, da injúria e da difamação, nesse caso foi um crime de homicídio, art. 121 do Código Penal Brasileiro, o desagravo cabe quanto aos artigos 139 e 140 do mesmo diploma legal. Manifestações são bem-vindas, mas desagravo não é o termo!

Quanto ao aluno que processou a um professor por ter que estudar, é verdade isso aconteceu em BH! Aliás, é o ALUNO em questão que fala nesta resposta. Na verdade, o processo não aconteceu por que o aluno teve que estudar, seria ridicularizar por demais a inteligência das pessoas, digo do judiciário, que aceitou a ação e promoveu a sua instrução devida. Mas o processo se deu por conta da MÁ PRESTAÇÃO DO SERVIÇO, essa foi a alegação e o objeto da ação jurídica movida, e que aguarda a devida sentença, então é um minimalismo absurdo dizer que alguém processou por ter que estudar, na verdade, isso ocorreria de forma natural, mas quando alguém tem que estudar para superar o que se espera; auferir o saber, e correr atrás de um prejuízo imposto por terceiro , então esse ‘estudar’ na verdade é litigar contra poderes utilizados de maneira inadequada na mesma prestação de aferição de conhecimento, há com isso um dano, se não houvesse a ação não teria sido levada adiante. E não deve haver estranheza de ninguém quando um aluno processa seu professor por este não estar cumprindo o contrato de prestação de serviço com esmero, é melhor processar do que enfiar uma faca na barriga; é mais civilizado, e a justiça está aí, para tal.

Também é nobre um aluno que, usando os meios legais e civilizados, luta por seus direitos. No Brasil, confesso, soa com estranheza, pois nosso povo não é sequioso por seus direitos, e não sabe os meios pelos quais lutar pelos mesmos.

Em relação à inversão da escala de valores, tão enfatizada no texto do desagravo desesperado, data maxima venia, não vejo por este ângulo à questão que se faz por existencial e profunda, e não por um pragmatismo axiomático, que beira ao fundamentalismo conceitual de ideias em prol do favoritismo de classes. Aliás, é bom eu explicar.

Fonte: http://mujahdincucaracha.blogspot.com/2010/12/jacuse-eu-acuso.html

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