Este blog mostrará as deficiências, o sucateamento, o descaso, a indisciplina, a ausência de autoridade, os baixos salários, o bullying, a insegurança e a violência que contaminam o ensino, a educação, a cultura, o civismo, a cidadania, a formação, a profissionalização e o futuro do jovem brasileiro.
EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR
Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.
domingo, 12 de dezembro de 2010
CORRUPÇÃO NA ESCOLA - PAIS COMPRAM TRABALHOS
Pais compram trabalhos escolares - GUSTAVO AZEVEDO, Zero Hora, 12/12/2010
Em um ato de desespero para buscar a aprovação dos filhos, famílias contratam professores para resolver questões no lugar dos filhos, estimulando um mercado condenável do ponto de vista do ensino e dando um péssimo exemplo para a formação dos estudantes. Zero Hora revela nesta reportagem como funciona esse mercado da educação
Por R$ 40, R$ 60, o ano letivo de um aluno dos ensinos Fundamental ou Médio pode estar garantido. Esses são alguns dos preços que pais estão pagando a professores de aulas particulares para executarem os trabalhos escolares dos filhos e, assim, engordar a nota final dos filhos, obtendo aprovação.
Sem qualquer participação dos estudantes, profissionais que deveriam educar se aproveitam do desespero e despreparo de famílias para faturar num mercado imoral e também criminoso compactuado por mães e pais.
Zero Hora comprovou essa realidade que ajuda a desfigurar ainda mais a já precária educação brasileira. A reportagem encomendou e comprou de dois professores da Capital trabalhos de matemática que, hipoteticamente, ajudariam a passar de ano um adolescente de 15 anos. Acompanhou também a tentativa de uma mãe para resolver o problema do filho, que arrisca rodar de ano, novamente, numa escola de Porto Alegre.
Com um trabalho de biologia para ser entregue no mesmo dia, essa mãe – que não será identificada para que o garoto permaneça no anonimato – tentava achar alguém que resolvesse as questões. Ao ligar para ela, a reportagem se passou por um professor interessado em fazer a tarefa. Ela já tinha achado um profissional para o serviço, mesmo assim falou de sua intenções:
– Quero que ele passe de uma vez.
Em poucos segundos de conversa, ela revela o seu desespero:
– Está difícil, não adianta mais dar sermão. Se não for assim, não avançam.
Perguntada se o professor escolhido faria as questões ou ensinaria, ela titubeia, sem explicar:
– Ele vai fazer, são só três questões. Mas acho que vai ensinar, acho até melhor que ensine do que fazer pronto, né?
Com o fim do ano se aproximando, os telefones de professores de aulas particulares tocam com muito mais frequência do que o normal. A maior parte procura ajuda para que ensinem seus filhos na última hora, mas alguns buscam o caminho mais curto, pensando exclusivamente em garantir a aprovação.
– Tem muito pai que pede mesmo. Nós orientamos, mas eles não querem saber – revela a secretária de uma escola especializada em aulas particulares.
“O que leva um pai a chegar a esse ponto?”
Nos corredores escolares, a prática não é nova e se infiltra perigosamente nas salas de aula. A diretora da Associação dos Orientadores Educacionais do Estado, Rosângela Diel, lamenta o protagonismo dos pais.
– A gente sabe que existe, mas ver se concretizar assim é bem assustador. O que leva um pai a chegar a esse ponto? – indaga Rosângela.
O pânico da reprovação é o motor que empurra esse pais para essas soluções sombrias, segundo a psiquiatra Nina Furtado, da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul.
– Rodar de ano tem uma conotação de fracasso. Não é visto como aprendizado para melhorar. Os pais se perguntam: onde falhei como pai? Ou por que não tive um filho de sucesso? A dificuldade de lidar com isso faz os pais partirem para atitudes extremas e desesperadas como esse péssimo modelo – diz Nina.
Para a especialista, pais que apelam para esse recurso perdem de vez o respeito com os filhos.
– Os pais cobram dos filhos atitudes que eles mesmos não têm. Como vai cobrar ética e bom comportamento? Para os jovens, os fins vão justificar os meios. Situações como essa atacam a base da sociedade, que é a família – pontua.
Para o doutor em psicologia infantil e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Fernando Becker, esses pais estão ensinando os filhos a delinquir:
– Desse jeito, os filhos podem pensar assim: posso faturar uma grana fácil vendendo droga, por que não? É o extremo oposto de qualquer processo educacional. Quando um pai chega a esse nível, já tem um longo trajeto de concessões e de falta de atitudes enérgicas e de moral.
A negociação
Ao comprovar a existência deste mercado de trabalhos escolares, ZH deparou com um quadro alarmante. De oito escolas ou professores consultados, cinco deles se dispuseram a entregar os pedidos. Ao se passar por um pai de um estudante em risco de reprovação, a reportagem negociou com dois professores a compra de trabalhos de matemática para a 7ª série. Eram 20 questões envolvendo geometria plana e equações de 2º grau. Os professores Ricardo Soletti e Denise Borges, profissionais especializados em aulas particulares, aceitaram a encomenda. Dão aula em locais estrategicamente localizados próximos de grandes colégios particulares. Entre terça e quarta-feira, aceitaram a encomenda de um trabalho supostamente para um aluno, resolveram as questões e entregaram os quesitos, sem qualquer envolvimento de aluno. Denise (que cobrou R$ 60 pelo serviço), cometeu erros.
Para juristas, prática é crime
A comercialização e a compra de trabalhos são encarados por juízes como crime. Apesar de não ser tão comum como o mercado de monografias para cursos superiores, a prática executada nos ensinos Médio e Fundamental podem sofrer sérias consequências. Para o juiz da infância e da juventude José Antônio Daltoé Cezar, os envolvidos podem enfrentar processos judiciais.
– É um conduta criminosa, não resta dúvida. O adolescente que apresentar o trabalho que não foi feito por ele pode responder a processo por ato infracional na Justiça da infância. E os professores podem responder por falsidade ideológica ou até mesmo estelionato.
Quanto aos pais, o magistrado aponta que podem passar por processo cível e ser chamado atenção quanto ao exercício do poder familiar.
– Eles podem receber censura, advertência e até mesmo a suspensão – ressalta.
A procuradora de Justiça Maria Ignez Franco Santos, especializada em infância e juventude, diz que além da conduta imoral, o descumprimento do poder familiar por parte dos pais infringe o Estatuto da Criança e Adolescente:
– Eles podem ser multados. E denunciaria o professor como co-autor de falsidade ideológica.
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