EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

FIM DA FILA


ZERO HORA 29 de novembro de 2012 | N° 17268


EDITORIAIS


Rankings sobre a educação sempre constrangem o Brasil, como ocorre agora com a divulgação de uma lista com a performance de estudantes de 40 países, preparada pela Pearson Internacional, a partir de indicadores de respeitadas instituições mundiais. Ficamos na penúltima posição nos índices comparativos que levam em conta habilidades cognitivas e desempenho escolar de alunos dos ensinos Fundamental e Médio. Os organizadores da pesquisa afirmam, quase como consolo, que o Brasil pelo menos foi incluído numa relação de 40 países, enquanto muitos ficaram de fora da amostragem. Não há com o que se consolar, pois o ranking traz em melhores posições nações sem o mesmo potencial econômico, como Chile, Turquia, Argentina, Tailândia e Colômbia.

Um dos efeitos de estudos sobre educação é exatamente o de confrontar o Brasil da economia forte com a sua outra face, a das carências e omissões que sobrevivem a governos, a discursos e a prioridades apenas protocolares. A pesquisa agora divulgada se baseia na avaliação de quem está em sala de aula, ou seja, revela uma de nossas deficiências, ao apontar falhas de aprendizado. Em outros rankings mais amplos, que consideram o déficit de educação de quem nunca teve acesso a uma escola ou a abandonou sem concluir o ensino básico, a situação brasileira é ainda mais vexatória. O Brasil ensina mal e não oferece educação a todos, discriminando socialmente os que já enfrentam outras dificuldades decorrentes da sonegação, pelo Estado, de serviços públicos essenciais.

O movimento Projeto Popular para a Educação oferece alguns dados dessa realidade: 3,8 milhões de crianças não frequentam a escola, 63% dos moradores de áreas rurais não têm acesso a um colégio, especialmente no Norte e Nordeste, e 31% dos adultos não entendem o que leem. Estudantes que tiveram passagens meteóricas pela escola interrompem o aprendizado, por incontáveis fatores, e passam a sobreviver como trabalhadores com sérias limitações. As consequências, para cada um deles, são as dificuldades de ascensão social. Para a sociedade e o país, são os atrasos que se manifestam das mais variadas formas, como a falta de mão de obra especializada e o risco de se perderem mais adiante os avanços econômicos das últimas décadas.

Não há conquistas duradouras sem educação, como comprovam os líderes do ranking – Finlândia, Coreia do Sul, Hong Kong, Japão, Cingapura e Reino Unido. É uma obviedade respeitada pelos países da ponta e ignorada pelos que ficaram no fim da fila por não levar a sério uma lição tão elementar. Nações asiáticas, por exemplo, mostraram nas últimas décadas que investimentos em educação produzem efeitos quase imediatos. No Brasil, algumas ações no setor público parecem indicar que finalmente o ensino foi incluído na agenda de prioridades. Movimentos de organizações não governamentais, debates e campanhas também põem a educação em pauta e reforçam as expectativas de que estaremos em melhores posições nos próximos rankings.

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domingo, 25 de novembro de 2012

RS ABAIXO DA MÉDIA E LONGE DO TOPO




25 de novembro de 2012 | N° 17264

BOLETIM VERMELHO. Enem acende alerta para a sala de aula. Mais de 60% das escolas do Estado ficaram abaixo da média nacional

MARCELO GONZATTO

Oresultado das escolas gaúchas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2011, divulgado esta semana, coloca em xeque o ensino praticado em salas de aula públicas e privadas no Estado.

A listagem de desempenho mostra que 65,8% dos colégios de todas as redes ficaram abaixo da média geral nacional de 519. Especialistas avaliam que, embora a prova não seja utilizada oficialmente para comparações entre regiões, a performance rio-grandense revela deficiências preocupantes.

Enquanto quase sete em cada 10 estabelecimentos gaúchos não alcançaram a média do país, em outros Estados a situação é inversa. No Rio de Janeiro, por exemplo, que apresentou o melhor resultado neste quesito, 70% dos colégios superaram o patamar médio brasileiro.

O Ministério da Educação e o governo gaúcho sustentam que, por ser voluntário e permitir a participação de egressos do Ensino Médio formados em qualquer época, o Enem não é o melhor instrumento para comparar a qualidade vigente de sistemas de ensino.

No entanto, especialistas como Roselane Costella, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisadora do Enem, sustentam que os resultados anunciados quinta-feira escancaram imperfeições do ensino gaúcho. Uma das principais é a filosofia de ensino baseada em um modelo que o exame nacional despreza: disciplinas estanques, com muita memorização e pouquíssima aplicação prática.

– Em outros Estados brasileiros, que têm escolas com as melhores médias do Enem, há algum tempo essa filosofia já vem sendo substituída por uma educação mais voltada para o desenvolvimento de habilidades e a resolução de problemas – avalia Roselane.

O Rio Grande do Sul tende a ir mal no teste do Ensino Médio, segundo ela, porque as questões propostas muitas vezes apresentam conteúdo das disciplinas ao participante em vez de solicitá-lo, mas exige que o aluno cruze essas informações com outras, raciocine e encontre a resposta para um problema.

– Nossa educação, o que inclui as escolas privadas, ficou muito voltada para o tradicional modelo de vestibular, em que havia até macetes para decorar fórmulas. Não há mais macetes no Enem – complementa a especialista.

Investimento é um obstáculo

Essa é a mesma avaliação da professora da UFRGS Elizabeth Krahe, para quem as escolas gaúchas são mais fiéis ao ensino isolado de disciplinas e com pouca referência à vida real. O secretário estadual da Educação, Jose Clovis Azevedo, afirma que a reforma do Ensino Médio em andamento tem como um de seus objetivos diminuir essas barreiras.

– A escola, que sempre foi lugar de repetição, hoje tem de ser lugar de criação – avalia Jose Clovis.

Esse desafio esbarra em outros nós do ensino rio-grandense, como a formação de professores. Embora cerca de 90% do magistério estadual tenha formação superior, segundo Roselane os cursos universitários seguem formando educadores com perfil tradicional. Na rede pública, o Rio Grande do Sul ainda enfrenta outros obstáculos para melhorar. Por exemplo:

1) Dificuldade de investimento: a proporção de inativos, o abismo entre os maiores e os menores salários e os parcos recursos do governo reduzem a verba para a educação. A fração do PIB gaúcho aplicada em educação, que já foi de 1,5%, em 2011 ficou em 0,3%.

2) Baixos salários: com poucos recursos e uma folha de pagamento que já consome perto de 90% do orçamento, o governo tem dificuldade para cumprir a Lei do Piso.

3) Polarização política: temas como plano de carreira, meritocracia e reorganização de turmas costumam envolver opositores ferrenhos, e o Estado não consegue definir uma política de longo prazo.

O presidente do Sindicato do Ensino Privado, Osvino Toillier, admite que outros Estados têm uma média diária de horas de aula superior. Mas acredita que o fato de o Estado não ter nenhum estabelecimento particular entre as cem melhores instituições do país também se explica por outras razões:

– Os demais Estados têm uma maior preocupação com o Enem, programam-se e se estruturam para preparar os alunos com o objetivo de alcançar uma boa média.

Roselane Costella, professora e pesquisadora da UFRGS

O aluno gaúcho está desanimado porque o conteúdo ensinado não dá mais conta dessa geração. Precisa estabelecer relações, compreender o mundo de outra forma. Do jeito que está, vamos cair ainda mais posições no Enem. Não é uma prova excepcional, mas cobra coisas que devem ser cobradas.

Jose Clovis Azevedo, secretário estadual da Educação

O Enem não é um indicativo seguro para se discutir qualidade de ensino, mas temos vários indícios de que precisamos mudar (...). Não é fácil sair dessa visão tradicional em que se estuda o conteúdo pelo conteúdo para uma visão de que ele é uma ferramenta para aplicar e ter novas percepções de ciência, cultura.

sábado, 24 de novembro de 2012

O DESAFIO DA ESCOLA PÚBLICA

ZERO HORA 24 de novembro de 2012 | N° 17263

EDITORIAIS


Repete-se e amplia-se, na última edição do Exame Nacional do Ensino Médio, a conclusão de que a realidade das escolas públicas é desalentadora. O desempenho dos colégios mantidos pelos Estados piorou no ano passado em relação a 2010. Dos 50 melhores educandários do país, apenas três são públicos, e todos são federais – na edição anterior, eram seis. É uma disparidade grande demais, que não se explica apenas pelo conjunto de distorções do programa encarregado de avaliar a performance de estudantes e escolas do Ensino Médio. Entre as deficiências apontadas, denuncia-se com frequência que o Enem faz o confronto da escola pública com instituições privadas que selecionam seus alunos.

O exame seria assim um duelo desigual de estudantes de colégios muitas vezes precários – e em condições socioeconômicas inferiores – com alunos de escolas de elite. Há dados que comprovam algumas falhas, como o fato de que, entre as 10 melhores escolas, em sete eram menos de cem os alunos que estavam concluindo o Ensino Médio e fizeram o teste. Essa seletividade não é suficiente, no entanto, para alterar o conjunto dos resultados e sustentar pretextos desqualificadores do exame. O Enem deve ser mantido e aperfeiçoado, com a correção de eventuais falhas. Seria um desserviço continuar a atacá-lo, como tática diversionista, para esconder as limitações da educação pública.

Os números divulgados pelo MEC são incontestáveis: 92% das escolas estaduais tiveram nota abaixo da média geral do país, que já é insatisfatória. E esse não é um problema localizado nas regiões mais pobres. Nenhum Estado conseguiu registrar mais de 20% das escolas com notas acima da média nacional. A precariedade revelada pela amostragem exige, há muito tempo, reações do setor público. Mas a capacidade de articulação dos governos federal e estaduais tem se mostrado insuficiente para que aconteça uma virada na educação brasileira. Como apenas 12% dos estudantes estão na rede privada, isso significa que 88% do contingente do Ensino Médio continua à espera de investimentos em estrutura, em equipamentos e em pessoal.

Os avanços proporcionados pelo próprio Enem, que buscam a melhoria das práticas pedagógicas e procuram ampliar o acesso de egressos da rede pública ao Ensino Superior, não são suficientes para compensar os erros das políticas públicas e as omissões de comunidades e pais alheios ao que se passa nas escolas. O descaso do Brasil com a formação básica assumiu, como têm alertado os especialistas, a conotação de desprezo com parcela da população que mais depende do suporte dos governos. Alunos de escolas mantidas pelos Estados são, em sua maioria, de famílias de baixa renda. Privá-los de um bom ensino é também uma forma de ampliar suas privações e negar-lhes a chance de crescer econômica e socialmente através da educação.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

PROGRAMA PROMISSOR

 
20 de novembro de 2012 | N° 17259

EDITORIAIS

Entre as iniciativas esporádicas adotadas pelo governo federal para qualificar a educação, nenhuma é tão promissora, para a formação de profissionais de ponta sintonizados com o que de melhor se produz hoje no mundo, quanto o programa Ciência sem Fronteiras. Da parceria entre Estado e empresas, o Brasil poderá dispor em pouco tempo de milhares de talentos, cujas vocações estão sendo potencializadas por intercâmbios em algumas das melhores universidades. O programa, que já viabilizou a presença de 18 mil jovens no Exterior, é a prova de que o país tem excelentes projetos no setor público, em colaboração com a iniciativa privada, em meio a um justificado desencanto com os rumos do ensino. Trata-se de uma ideia que até 2015, em quatro anos de execução, pretende formar no Exterior 100 mil estudantes brasileiros nas mais variadas áreas da ciência e da tecnologia.

É preciso reconhecer que se trata de bem mais do que uma premiação a alunos de exceção, escolhidos por seus desempenhos em cursos superiores e pelas notas obtidas no Enem. É um prêmio ao próprio país, pelo amplo alcance de seus resultados. Frequentando os mais competitivos ambientes universitários da Europa, dos Estados Unidos e da Ásia, os brasileiros absorvem conhecimento técnico, cultura e novos conceitos em relação a um ensino que está vários níveis acima da média mundial. Ressalte-se que o Ciência sem Fronteiras, mencionado pela senhora Dilma Rousseff ontem, no programa Café com a Presidenta, copia práticas de outros paí-ses, entre os quais a China e a Coreia do Sul, que sustentam a permanência de universitários no Exterior. Iniciativas como essas somente se viabilizam com o suporte financeiro do setor público se forem consideradas, como devem, políticas permanentes de Estado e não só de quem eventualmente estiver ocupando o governo.

O efeito dos programas é a multiplicação interna de referências internacionais, geralmente sustentadas por virtudes ainda escassas no ensino brasileiro. Além do conteúdo, os bolsistas trarão, no retorno a atividades acadêmicas, noções de inovação, disciplina, empenho e cooperação que ainda não frequentam a maioria das instituições nacionais. Recente reportagem da revista Veja mostrou como os estudantes reagem aos impactos positivos do confronto com as realidades locais. A primeira lição é a de que ninguém estará entre os melhores, num ambiente universitário, sem dedicação integral ao que pretende fazer e sem certa dose de sacrifício. A sobrecarga de estudos, que caracteriza os programas, com a cobrança de metas, é o custo a ser pago pelos que pretendem fazer parte de uma elite.

Há, como parte do programa, o esforço para que pesquisadores já consagrados em suas atividades sejam atraídos pelo Brasil, igualmente com o apelo das bolsas de estudos. O país tenta particularmente trazer de volta cientistas que foram para o Exterior e não mais voltaram. É um desafio e tanto, considerando-se que estamos muito aquém do que se faz em universidades, órgãos públicos e empresas estrangeiras. Se o ambiente interno for contagiado pelos bolsistas e pelos cientistas que decidem retornar, já teremos dado um passo seguro no sentido de inspirar o Brasil a imitar tudo o que explica o sucesso de sistemas de educação e de países.

 


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

DISCIPLINA "CIDADANIA MORAL E ÉTICA"

 
Livro de 1940.


FOLHA.COM 14/11/2012 - 20h06

Senado aprova inclusão da disciplina 'Cidadania Moral e Ética' no currículo escolar


GABRIELA GUERREIRO
DE BRASÍLIA

O Senado aprovou nesta quarta-feira (14) projeto que obriga as escolas da educação básica a oferecerem as disciplinas de Ética e Cidadania Moral e Ética Social e Política. O projeto altera a Lei de Diretrizes e Bases da educação brasileira ao tornar as duas disciplinas obrigatórias nas escolas brasileiras.

Instituída durante a ditadura militar (1964-1985), a disciplina de "Moral e Cívica" deixou de ser obrigatória no país em 1993. No decreto de sua criação, o governo militar dizia que a disciplina tinha entre outros objetivos "a preservação dos valores espirituais e éticos da nacionalidade" e o "fortalecimento da unidade nacional".

O MEC (Ministério da Educação) é contrário ao projeto por considerar que a inclusão de duas novas disciplinas vai promover um "inchaço" nos currículos escolares. Em nota técnica enviada a senadores para criticar o projeto, o ministério diz que o calendário de 200 dias letivos fixado pela Lei de Diretrizes e Bases da educação não comporta novas disciplinas.

A proposta havia sido aprovada em caráter terminativo pela Comissão de Educação do Senado em setembro, mas o líder do governo, Eduardo Braga (PMDB-AM), pediu sua votação em plenário.

Autor do projeto, o senador Sérgio Souza (PMDB-PR) aproveitou o esvaziamento do plenário nesta quarta-feira, véspera de feriado, e conseguiu incluir a matéria na pauta de votações. O senador disse que tinha o apoio dos líderes partidários para votar a matéria. O projeto segue agora para análise da Câmara dos Deputados.

Em defesa da proposta, Souza afirmou que a inclusão das disciplinas tem o objetivo de fortalecer o sistema educacional brasileiro ao priorizar a "formação moral e ética das nossas crianças".

"Queremos fortalecer a formação de um cidadão brasileiro melhor: pela formação moral, ensinando conceitos que se fundamentam na obediência a normas, tabus, costumes ou mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos; por outro lado, pela formação ética, ensinando conceitos que se fundamentam no exame dos hábitos de viver e do modo adequado da conduta em comunidade", afirmou o senador.

Relator da proposta e ex-reitor da Universidade de Brasília, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) defendeu o projeto ao afirmar que os problemas "cruciais" da sociedade só serão solucionados com políticas educacionais voltadas para a formação moral e ética das crianças e jovens.

"Dada a presente desagregação social pela qual passamos, representada pela atual crise de valores humanos, faz-se necessário que a escola oriente a formação do caráter dos nossos jovens, fortalecendo a formação dada no núcleo familiar", disse.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Faltou o "CÍVICO" nesta disciplina, justamente pela necessidade do retorno do objetivo que preserva os valores éticos da nacionalidade como a defesa da pátria, o respeito às instituições democráticas, a autoridade do professor e devoção ao interesse público como o clamor por segurança pública e paz social, a responsabilidade administrativa dos gestores públicos, o voto consciente, o zelo do erário público e do patrimônio público, justamente aquilo está faltando no aculturamento do povo brasileiro. A denominação da disciplina deveria ser "Cidadania e Civismo" que abrange tudo.


SIGNIFICADOS:

CIVISMO - s.m. Dedicação à pátria; devoção ao interesse público; patriotismo
CIDADANIA - s.f. Qualidade do cidadão, defesa de direitos.
ÉTICA - s.f. Ciência da moral: que significa um comportamento delimitado por regras fixadas por um grupo social específico; que explica, disciplina, ensina; que é próprio para favorecer os bons costumes; preceitos e regras para dirigir as ações do homem, segundo a justiça e a equidade natural; a parte da filosofia que trata dos costumes, dos deveres e do modo de proceder dos homens nas relações com seus semelhantes, ética; as leis da honestidade e do pudor, moralidade. Informal. Qualidade do que se impõe, que influência ou exerce certa soberania sobre outrem.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O BOM EXEMPLO MINEIRO

 
12 de novembro de 2012 | N° 17251

EDUCAÇÃO

Um município de 13 mil habitantes no Triângulo Mineiro chama a atenção por liderar o ranking nacional para o 9º ano do Ensino Fundamental de rede municipal, no último Ideb. A cidade de Nova Ponte é exemplo em um país onde a educação se arrasta, especialmente a pública.

Ao atingir 6,8 na avaliação, superou em 84% a meta estipulada pelo MEC e dobrou em relação à nota 3,2, obtida dois anos antes. Satisfeita com o resultado, a secretária de Educação Maria Regina Silva sabe que o êxito é consequência de uma revolução no ensino, grandiosa, mas não muito complicada.

A receita reúne ideias inovadoras, mas grande parte do sucesso vem de medidas simples como a prática do reforço escolar no contraturno ou 20 minutos antes e depois das aulas. Além disso, professores podem contar com uma gratificação de R$ 200 no término do mês. O merecimento é medido por meio de avaliações pedagógicas e administrativas da escola juntamente com o parecer do educador.

Conforme a necessidade das turmas, até dois professores podem lecionar a mesma disciplina em classe. E nesse pacote, que ainda inclui programas de incentivo à leitura e ensino de matemática, também está o estímulo para que pais participem do processo de aprendizagem dos filhos.

– No início deste ano, trouxemos o projeto Família na Escola, no qual todos os professores visitaram as casas dos alunos para saber dos pais o que esperavam da escola, quais eram suas propostas, os interesses e as dificuldades presentes na família – explica a secretária.

Divididos em duas turmas, 70 alunos frequentam o 9º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental São Miguel – a 15ª colocada no ranking nacional para os anos finais do Fundamental, entre públicas e privadas. Este salto mais do que satisfatório é a prova, da qual a comunidade escolar de Nova Ponte pode se orgulhar: seus estudantes estão adiantados no processo que visa a aprimorar a Educação Básica no Brasil.

APRENDIZADO INADEQUADO



ZERO HORA 12 de novembro de 2012 | N° 17251

EDUCAÇÃO. Por que a maioria dos alunos matriculados no último ano do Ensino Fundamental não aprende o mínimo considerado adequado?

BRUNA SCIREA


Eles deixam de ser crianças, mas ainda estão distantes da idade adulta. O momento de ruptura caracteriza a etapa da vida em que se encontram os alunos dos anos finais do Ensino Fundamental. Essa transição, no entanto, ultrapassa a questão comportamental e os novos interesses revelados por esses estudantes. É verificada também, de forma brusca, na mudança da rotina escolar, na indefinição sobre como organizar essa fase da aprendizagem e em preocupantes números – indicadores que refletem um período esquecido entre a primeira fase do Fundamental e o Ensino Médio.

Como resposta a uma combinação de falhas que se arrastam do 6º ao 9º ano – entre elas um incentivo à leitura sem sucesso, um limbo escolar enfrentado por alunos que não recebem e precisam de acompanhamento pedagógico e um currículo desinteressante e limitador –, 85,3% dos jovens matriculados no último ano do Ensino Fundamental não sabem o mínimo esperado em matemática e 73,8% em língua portuguesa.

Especialistas consultados por Zero Hora interpretaram o fraco desempenho revelado pelo Relatório De Olho nas Metas 2011, do movimento Todos Pela Educação, baseado em dados da Prova Brasil e do Saeb 2009 (MEC/Inep).

Nestas páginas, conheça possíveis causas e exemplos inspiradores.


1. ACOMPANHAMENTO - Acostumados com o apoio e cuidados de poucos ou até mesmo de apenas um professor, os alunos ingressam na pluralidade que caracteriza os anos finais do Ensino Fundamental. As disciplinas tornam-se ainda mais específicas e, para cada uma delas, há um professor diferente. Se por um lado a diversidade de educadores possibilita aprofundamento e maior dedicação ao conteúdo que deve ser lecionado, por outro, acarreta uma dispersão na atenção conferida ao aluno. A partir do 6º ano, o conhecimento do histórico, dos avanços e dos recuos de cada estudante em sala de aula deveria ser tarefa de um coordenador pedagógico, função raramente ocupada em escolas públicas e particulares do país.

– Nos anos finais, eles passam a ser mais um dentro de um universo de alunos para o qual cada professor se dedica. A ausência de um projeto pedagógico, que acolha essas crianças e adolescentes e mostre a importância e o porquê dessa pluralidade, impede a interdisciplinaridade e dificulta a atração do aluno pelo ensino – acredita Mozart Neves Ramos, conselheiro do Todos Pela Educação.


Tema de casa
- Apoio contínuo: as dificuldades de aprendizagem têm de ser trabalhadas assim que aparecem em sala de aula, evitando que se acumulem para o fim do ano.
- Aulas no contraturno ou turmas flexíveis podem ser uma boa solução para alunos da mesma série ou ciclo que precisem de reforço em conteúdos de determinada disciplina.
- Outra alternativa é a monitoria aluno-aluno, em que os próprios colegas atuam como monitores, prática que, além de eficiente, estimula a cooperação entre os estudantes.
- Exemplo: o sistema adotado na Finlândia, país de destaque nos rankings educacionais, prevê que cada escola tenha um professor especializado em reforço escolar para cada sete turmas regulares (os docentes costumam encaminhar em média 30% dos matriculados para aulas no contraturno).
- A escola deve entender quem é e o que pensa o adolescente e desenvolver uma visão do estudante pautada nas necessidades específicas da faixa etária.



2. FALTA LEITURA - Na opinião de Ocimar Munhoz Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP, as dificuldades com leitura explicam, em parte, por que a maioria dos alunos dos anos finais do Ensino Fundamental não aprende o mínimo considerado adequado:

– As dificuldades começam nos primeiros anos de escolarização. E como faltam profissionais com capacidade para desenvolver tal competência, o problema acaba sendo cumulativo e tende a dificultar o aprendizado dos alunos. É como se eles não tivessem as condições necessárias para aprender.


Tema de casa
- Algumas atitudes na família podem melhorar a relação da criança com a leitura:
- A leitura deve ser estimulada desde os primeiros anos de alfabetização.
- Leia com o seu filho, pergunte como ele compreendeu o livro e estimule que conte a história a outros colegas.
- Adquira livros com assuntos de interesse da criança, sempre atento à faixa etária.


3. CURRÍCULO CHATO - Plugada na tecnologia, a geração que chega à escola está mais ativa, rápida e informada. No entanto, na definição de João Batista Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, o currículo das escolas ainda é muito “chato”. O adjetivo explicaria a queda no índice que reflete o rendimento em sala de aula no caminho percorrido entre os nove anos do Ensino Fundamental. Ao ingressar na etapa final, por volta dos 11 anos, o alunado vive uma fase de transição, de novos interesses e curiosidades que quase nunca são contemplados pela escola. Soma-se a isso, a falta de liberdade. Se frequentar escolas em busca de educação não é uma opção tomada pelo alunos, mas imposta a eles desde os primeiros anos de vida, o ensino tornaria-se mais atraente se pudesse ser direcionado, ainda que minimamente, aos interesses particulares de cada um.

– É preciso fazer um currículo interessante, estruturado e organizado, com articulações interessantes. É necessário que se dê o mínimo de liberdade. Com ela, o aluno acaba investindo naquilo que gosta – defende Oliveira.

Tema de casa - É preciso reinventar a escola: 40% dos jovens entre 15 e 17 anos que deixaram de estudar o fizeram por considerar a escola desinteressante, segundo o estudo Motivos da Evasão Escolar, realizado pela Fundação Getúlio Vargas (RJ) em 2009. Como chegar lá? Além da infraestrutura tecnológica, também se exige das escolas uma veloz revolução nas metodologias de ensino capazes de sedimentar uma estrada sólida para a Educação 3.0 – termo amplamente disseminado por pensadores como o americano Jim Lengel, professor da Universidade de Nova York. Confira algumas características da Educação 3.0:
- Os alunos têm autonomia para buscar aprender. Cabe ao professor propor desafios.
- Ler e escrever são habilidades básicas nesta nova educação. É preciso conectar ideias, explorar possibilidades e prever.
- É essencialmente interdisciplinar, por isso os professores devem conversar e discutir os temas a serem abordados.
- Instiga os alunos a pesquisarem na internet. Com isso, a capacidade de discernir sobre a autenticidade de uma informação é desenvolvida.
- Aproveita os dispositivos móveis. Por meio do smartphone, o estudante pode ouvir podcasts.

Fonte: Educar para Crescer (educarparacrescer.abril.com.br)

A SEXTA PERGUNTA

 
ZERO HORA 12 de novembro de 2012 | N° 17251

EDITORIAIS



A sexta e última questão da campanha institucional A Educação Precisa de Respostas, do Grupo RBS – “Por que a maioria dos alunos matriculados no último ano do Ensino Fundamental não aprende o mínimo considerado adequado?” – tem muito a ver com as dificuldades enfrentadas posteriormente no Ensino Médio. Os resultados mais recentes do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) demonstram que, nos primeiros nove anos de aprendizado, o país vem superando as metas do Ministério da Educação (MEC). Ainda assim, as falhas de quem chega a esse estágio são tantas, que a continuidade do ensino, muitas vezes, fica irremediavelmente prejudicada. A alternativa vai depender da capacidade da sociedade de encontrar uma resposta à altura para esta indagação da campanha por mais qualidade no ensino.

É preocupante e ao mesmo tempo inaceitável que, como demonstram as avaliações oficiais, um percentual tão expressivo de alunos chegue ao final da primeira etapa de ensino, equivalente ao antigo ginásio, sem dominar questões elementares de português e matemática no dia a dia. Como é possível imaginar que um estudante alcance o Ensino Médio sem conseguir resolver problemas com números inteiros e racionais? Ou, então, sem condições de identificar os elementos que constroem a narrativa de um texto, por exemplo? Um ponto de partida importante para a resposta pode estar numa simples constatação: de maneira geral, há avanços nas séries iniciais, que infelizmente não se repetem nas demais. Entre as tentativas de explicação, portanto, estará sempre a dificuldade de motivar os alunos e de mantê-los interessados pelos conteúdos ministrados.

Independentemente de origem ou condição social, a maioria das crianças e adolescentes demonstra hoje mais interesse por smartphones do que por livros e, diante de uma dúvida, costuma consultar mais sites de busca na internet do que o próprio professor. Por melhor preparado que seja o educador, como motivar uma geração impactada pelos avanços tecnológicos a absorver conteúdos nem sempre interessantes com base em cadernos, enciclopédias em papel, informações rabiscadas a giz no quadro-negro? E isso sem falar em grande parte do conteúdo, que, apesar das aceleradas transformações, pouco difere do apreendido por gerações anteriores à revolução digital.

A adequação do aprendizado à série cursada no Ensino Fundamental é um desafio que o país não tem como adiar, pois se constitui num pressuposto para a melhoria da qualidade da educação. Essa missão depende de determinação por parte do poder público, que só será bem-sucedido se puder contar com uma colaboração decisiva dos pais e, obviamente, dos educadores.

domingo, 11 de novembro de 2012

LIVRO DERRUBA MITOS DA EDUCAÇÃO

REVISTA VEJA 11/11/2012 - 09:08

Livro de Gustavo Ioschpe derruba mitos da educação. Obra reúne artigos em que o autor usa pesquisas e argumentação coerente para mostrar o que vai mal na escola. Leia resenha de VEJA desta semana

Monica Weinberg




À LUZ DOS NÚMEROS - Ioschpe: “Dar mais dinheiro às escolas não fará o Brasil subir no ranking do ensino” (Fabiano Accorsi)



As escolas brasileiras permaneceram por séculos como uma caixa-preta inviolável. Não se sabia nem quantas delas havia no país, muito menos o nível do ensino que ofertavam. Esses tempos de escuridão ficaram para trás desde que começou a surgir no Brasil uma profusão de termômetros para medir a qualidade da educação - tão numerosos que um cidadão comum até se perde em meio a tantos indicadores. Não se pode culpar a pobreza estatística, portanto, pela falta de objetividade que ainda domina as discussões sobre as grandes questões da sala de aula. O problema é outro: boa parcela dos educadores prefere manter-se aferrada a bandeiras ideológicas do passado a encarar os fatos mesmo quando eles contrariam suas velhas convicções. O economista e articulista de VEJA Gustavo Ioschpe bate nessa tecla em seu novo livro, O que o Brasil Quer Ser Quando Crescer? (Editora Paralela; 250 páginas; 29,90 reais). O que o distingue da maioria dos que enveredam por essa área é justamente a disposição de encarar os temas mais espinhosos sem se deixar cegar pelas certezas absolutas.

No livro - que reúne 34 artigos publicados em VEJA entre 2006 e 2012 -, Ioschpe se vale de um arsenal de pesquisas e de uma argumentação coerente para desconstruir um a um os mitos que pairam como uma camisa de força sobre o ensino brasileiro. Um deles diz respeito à escassez de dinheiro para a educação - a raiz de nossos males, diria a esmagadora maioria. Pois os números apresentados por Ioschpe demonstram que o Brasil despende para a sala de aula quase tanto quanto o clube dos países mais desenvolvidos da OCDE (5,7% em relação ao PIB nós X 5,8% eles, se comparados os gastos públicos). Mas só se o investimento subir será possível dar o grande salto de que precisamos, muitos ainda insistiriam. Talvez não saibam que, mesmo quando países como China e Coreia do Sul se lançavam em sua exitosa corrida rumo à excelência, não excederam os atuais gastos brasileiros. E, ainda que o Brasil destine mais dinheiro à área, como está previsto, não há garantia de sucesso, alerta Ioschpe. Na última década, o país foi vice-campeão em aumento de recursos para a educação, mas continuou na rabeira do ensino. Os reajustes no salário dos professores tampouco se traduziram em avanços relevantes na sala de aula - nem mesmo nas escolas particulares. Um dos artigos expõe um dado que derruba a crença de que elas são um oásis de bom ensino: os alunos mais ricos do Brasil têm desempenho pior do que os mais pobres dos países que estão no topo.

Não há nada de mirabolante nem de tão dispendioso nas saídas sugeridas por Ioschpe. Trata-se, antes de tudo, de uma mudança de mentalidade - a começar pelos cursos de pedagogia, que preferem perder-se em teorias obsoletas a ensinar aos futuros mestres estratégias para a sala de aula. A experiência internacional indica que os caminhos para o êxito acadêmico passam pelo mais básico: metas de aprendizado, dever de casa, meritocracia. Foi assim que a China alçou seus alunos ao pódio da educação mundial, como mostra um capítulo em que Ioschpe conta o que viu em sua investigação in loco. Aos 35 anos e também autor do livro A Ignorância Custa um Mundo, que lhe rendeu o Prêmio Jabuti, ele diz atrair mais detratores do que simpatizantes às suas ideias. Não arrefece o tom ácido que permeia seus artigos. “Quero romper com a ideia de que está tudo bem na escola. Os pais têm o papel de cobrar avanços.”

sábado, 10 de novembro de 2012

ATRASO DE RECURSOS AFETA GESTÃO DE ESCOLAS NO RS


ZERO HORA 10 de novembro de 2012 | N° 17249

MELHORIAS COMPROMETIDAS. Atraso de recursos afeta gestão de escolas estaduais

Governo retarda liberação de verba de manutenção a 2.572 instituições pelo segundo mês seguidoO efeito cascata provocado pelo atraso no repasse mensal de verba estadual às escolas do Estado tem prejudicado a gestão dos diretores escolares. Pelo segundo mês consecutivo, o governo estadual não consegue liberar os R$ 5,8 milhões às 2.572 instituições, referentes a parcela de autonomia. A promessa de que desta vez, assim como na anterior, o pagamento será efetivado com menos de duas semanas de atraso deve ser cumprida na próxima semana.

Escolas estaduais como a Três de Outubro, assentada sobre um prédio de 1927 na zona sul da Capital, têm encontrado dificuldades de realizar a manutenção de portas, janelas e ventiladores, pois o dinheiro para esse fim, quando chega à escola com atraso, acaba sendo utilizado no pagamento de contas e outros consertos.

–Temos deixado de fazer melhorias como consertar ventiladores, trocar lâmpadas ou resolver imprevistos – diz a professora Rochele Marques Rodriguez.

Falta dinheiro para conserto de torneiras e lâmpadas

Os 545 alunos que frequentam a escola serão obrigados a suportar dias quentes, como ontem, sem paliativos para o calor. Contatadas pela reportagem de Zero Hora, pelo menos outras cinco escolas de Porto Alegre sobrevivem com o mesmo problema. Para conseguirem entrar o mês sem dívidas, são obrigadas a economizar verbas repassadas pelo governo federal, via projetos como o Mais Educação e o Planejamento de Desenvolvimento da Escola, para poderem investir em material de limpeza e escritório.

– Estamos acostumados aos males provocados pelos governos, vivemos preocupados com o amanhã. Todo diretor precisa de uma reserva técnica. Falta dinheiro para consertar torneiras e trocar lâmpadas. Sempre precisamos priorizar uma área em detrimento de outra. É administrar a pobreza – conclui Adílson La Rosa, diretor da Escola Estadual Custódio de Mello, na Capital.

A dependência da parcela, por mérito dos administradores, consegue ser driblada por meio de malabarismos financeiros. A promessa de que o Estado irá cumprir com suas obrigações até segunda-feira anima os diretores, mas não parece resolver o problema.

– Ainda dependemos de outras fontes de recurso para sanar nossas dificuldades – lamenta Rochele.


Promessa de reajuste

As dificuldades impostas pelo atraso da parcela de autonomia aos gestores das escolas estaduais, para o secretário estadual da Educação, Jose Clovis de Azevedo, dão-se em virtude de problemas no fluxo de caixa da Secretaria da Fazenda, responsável por administrar os recursos do Rio Grande do Sul.

– Nós dependemos da Fazenda, que faz a gestão das finanças e do fluxo de caixa estadual. Então, é uma questão técnico-financeira, que transcende a Secretaria da Educação – diz Azevedo.

O secretário reconhece que o atraso provoca transtornos nos caixas das escolas, mas não acredita que provoque crise em nenhum estabelecimento.

– Claro que cria alguma dificuldade, porque há um planejamento para o pagamento de fornecedores em determinado dia, mas tudo isso é repactuado e replanejado. Não significa nenhuma crise – afirma.

Azevedo afirmou que haverá, a partir de janeiro, um reajuste de 10% no montante destinado às escolas estaduais e de 30% no previsto para as escolas técnicas.

O secretário da Fazenda, Odir Alberto Pinheiro Tonollier, confirmou à colunista de ZH Rosane de Oliveira que o pagamento deve ser efetuado na próxima semana. Tanto Tonollier quanto Azevedo não descartaram a possibilidade de novos atrasos.




PACTO PELA ALFABETIZAÇÃO

ZERO HORA 10 de novembro de 2012 | N° 17249

EDITORIAIS


É grandioso o desafio lançado esta semana pelo governo federal, na tentativa de recuperar pelo menos parte do tempo que o país perdeu ao desprezar a alfabetização como lastro elementar de tudo o que se pretenda fazer em nome da educação. O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, que pretende habilitar para a leitura e a escrita todas as crianças de até oito anos, que estejam concluindo o terceiro ano, já tem a cumplicidade de Estados e municípios. O êxito do programa depende de fato do compromisso que carrega no nome. Crianças mal alfabetizadas ou que chegam ao terceiro ano sem compreenderem nada do que estão lendo fazem parte de um contingente muito maior do que poderia ser considerado razoável.

O próprio governo calcula, com base em dados de 2010, que 15,2% das crianças nessa faixa etária eram analfabetas. O quadro seria ainda mais desalentador se levadas em conta estimativas de especialistas, segundo as quais metade dos estudantes chega ao final do terceiro ano sem saber ler e escrever. A exclusão social, como observou a presidente Dilma Rousseff no lançamento do programa, inicia-se nesse momento, quando a criança que nada aprendeu, mesmo tendo frequentado uma escola, dificilmente conseguirá mudar sua realidade e a dos próprios pais. É nesse contexto que devem ser consideradas as frustrações da criança e também de seus familiares. Reverter esse cenário é uma tarefa a que a presidente pretende se dedicar como uma obsessão, ou nada do que o país avançar em outras áreas terá significado.

Devem ser levadas em conta, como contribuição ao projeto, as observações de especialistas que discordam da escolha da idade de oito anos como referência para que se avalie se uma criança foi ou não alfabetizada. Há quem defenda que a idade poderia ter sido reduzida para seis anos e que a meta do Ministério da Educação evidencia certa comodidade. É um detalhe que pode merecer debate, mas que não compromete o programa no que tem de essencial. Cria-se igualmente a expectativa de que o pacto será capaz de ampliar o envolvimento de universidades na formação de alfabetizadores, além de Estados, municípios e os próprios pais na vida das escolas.

É importante que o programa preveja a avaliação dos estudantes, como já vem sendo feito em outros níveis de ensino, e que as escolas com melhores desempenhos sejam premiadas. O reconhecimento público é um estímulo decisivo aos que se envolvem em tais projetos, como comprovam os resultados obtidos por experiência desenvolvida no Ceará e que foi inspiradora do programa nacional. Os governos, as escolas, os educadores e as famílias brasileiras sabem que o país foi relapso em relação à educação básica, começando pelas deficiências na alfabetização. Mas é preciso que, no curto prazo, o esforço avance para além das metas estabelecidas para a terceira série e que o ensino básico finalmente seja contemplado com a mesma atenção que o setor público vem dando à formação universitária.

POR UMA NOVA GERAÇÃO DE EDUCADORES


ZERO HORA 10 de novembro de 2012 | N° 17249. ARTIGOS


Kátia R. Maffei dos Reis*


Falar sobre educação gera polêmica. Uma pessoa lhe pergunta sua profissão e você responde: professor. Nesse momento, a expressão e os comentários de pena ganham a cena. Infelizmente, na opinião popular, professor é um trabalhador sofrido, injustiçado, que perdeu o respaldo e ainda recebe um salário miserável. Se assim fosse, a profissão já havia sido extinta. Afinal, por que continuar sendo professor se tudo é tão massacrante?

Acredito que essa ideia tão negativa começou a se propagar com notícias de violência contra o educador, com greves da classe, e pela má interpretação de algumas leis. As frases mais comuns são “professor não pode fazer nada”, “perdeu a autoridade”.

Comecei a trabalhar como professora há cinco anos, um ano depois de concluir a licenciatura em Letras. Inicialmente, apenas no turno da noite, porque eu gerenciava uma loja durante o dia; três anos depois, consegui trabalho em mais uma escola. Deixei o comércio para ser somente professora, atividade com a qual me realizo. Ser educador não é esse caos que fomentam por aí. A verdade é que os alunos mudaram. Os estudantes de hoje são a geração Z, da tecnologia, da inovação, o que também pede educadores de uma nova geração. Não precisa ser da mesma faixa etária, aliás, nem é possível, mas no mínimo com uma cabeça Z.

É comum ouvir discursos como “no meu tempo os alunos eram melhores”. Acontece que esse tempo já foi. Agora, o tempo é outro. Precisamos aceitar que a evolução deve ser acompanhada. E que bom que os alunos mudaram. São eles os responsáveis por deixar nossa mente tão aberta. Ser professor dessa geração é ter o privilégio de rejuvenescer todos os dias. É assim que eu me sinto. E isso não significa que eu não levo meu trabalho a sério. Pelo contrário. Sempre tenho minhas aulas bem elaboradas, exijo o empenho da gurizada, cobro muito diariamente, tudo é avaliado na minha aula: rendimento técnico, relações humanas, cumprimento de normas. Os adolescentes devem ter a consciência de que todos os atos geram alguma consequência. No entanto, tudo isso não precisa ser feito na base do berro, da ofensa, da régua, do grão de milho. Física ou verbal, violência gera mais violência. Isso não é novidade. Obviamente, sempre existem os dias difíceis, em que todas as tentativas de conduzir a aula parecem frustrantes. Há os momentos em que se faz necessário levantar o tom de voz e falar com firmeza, mas não com estupidez.

Dessa maneira é que se vai adquirindo respeito como professor. Precisamos parar de arranjar desculpas: famílias mal estruturadas, leis polêmicas, salários não tão atraentes. Com certeza, esses fatores devem ser pensados, mas não é por isso que podemos desistir das nossas convicções. Cada um deve fazer a sua parte e jamais esquecer que a educação se constrói com base em bons exemplos.

*Professora especialista de língua portuguesa e literatura das redes particular e municipal de ensino, em Farroupilha (RS)

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Infelizmente, a melhoria da educação brasileira não depende só de "uma nova geração de professores" , mas de respeito e valorização da pessoa do professor através de salários dignos, segurança, condições de trabalho, unidades escolares bem estruturadas e AUTORIDADE administrativa diante de direitos e da justiça.

INDIGNAÇÃO DE AVESTRUZ

 
ZERO HORA 10 de novembro de 2012 | N° 17249

EDITORIAIS

Não há como não estranhar a atitude do secretário da Fazenda do Estado, Odir Tonolier, que cancelou entrevista agendada com a Rádio Gaúcha num alegado protesto pela divulgação por Zero Hora de informações incômodas para o governo. Depois de ouvir a secretária adjunta da Educação, Maria Eulalia Nascimento, Zero Hora divulgou na edição de ontem que o governo atrasara pelo segundo mês consecutivo o pagamento às escolas estaduais da parcela de autonomia financeira, recurso utilizado pelos diretores para cobrir despesas de rotina. No mesmo espaço, há um comentário sobre as dificuldades financeiras do governo e sobre a previsão de déficit para este ano.

O senhor Tonolier, na condição de titular da pasta encarregada da gestão das finanças estaduais, tinha – e tem – todo o direito de questionar a notícia, de desmenti-la ou de prestar os esclarecimentos que julgar necessários a respeito dela. Só não parece adequado que se esconda como um avestruz, recusando-se a prestar contas aos cidadãos. Ao boicotar a própria entrevista, alegando indignação, ele mostra não apenas desconhecimento em relação ao funcionamento da imprensa independente, como também desconsideração com os contribuintes.

Se um déficit estimado entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão é visto como normal pelo secretário da Fazenda, ele bem poderia ter a gentileza de justificar isso perante os cidadãos que pagam elevados tributos e não recebem do poder público serviços compatíveis com as suas necessidades. Ou o secretário imaginava que seria chamado para uma entrevista apenas para comentar os aspectos positivos do governo? Estes, evidentemente, também merecem ser destacados – e o senhor Tonolier perdeu uma excelente oportunidade para fazê-lo, por conta de sua súbita indignação.

sábado, 3 de novembro de 2012

O PISO DO MAGISTÉRIO

ZERO HORA 03 de novembro de 2012 | N° 17242

EDITORIAIS

A definição de uma nova sistemática de reajuste para o piso salarial do magistério no setor público por um grupo de trabalho criado pela Câmara dos Deputados com esse objetivo cria uma expectativa favorável para os professores, para os governadores e para os prefeitos. Aos educadores, que participaram das negociações, interessa uma definição clara sobre como serão corrigidos seus vencimentos daqui para a frente. Aos governadores – alguns dos quais recorreram da decisão ao Supremo Tribunal Federal (STF), incluindo os do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina – e aos prefeitos a serem empossados em janeiro, a medida acena com uma perspectiva de folga para o cumprimento dessa nova regra. Apesar das restrições apontadas ao índice pelo secretário da Educação, Jose Clovis Azevedo, o piso definido em lei é o mínimo que os professores têm direito a receber. Assegurá-lo, portanto, é dever de todo gestor público, seja em âmbito estadual ou municipal. Fixado hoje em R$ 1.451, o piso salarial enfrenta dificuldades para ser bancado em alguns Estados e municípios, que vêm se socorrendo de artifícios para não desobedecerem à lei. Por isso, um reajuste de 22% no valor a ser desembolsado no próximo ano, equivalente à variação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), poderia provocar um impasse nas duas esferas públicas. Tanto Estados quanto municípios têm compromissos assumidos com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que fixa limites rígidos para desembolsos com a folha salarial dos servidores. A dificuldade de cumprir a lei do piso é particularmente maior nos Estados e municípios hoje muito próximos dos limites de comprometimento das receitas com despesas.

A sugestão encaminhada à Câmara, e que será analisada também pelo Ministério da Educação, baseia-se numa combinação entre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação dos brasileiros de maneira geral, e o Fundeb. Evidentemente, o acordo no processo de revisão salarial do magistério acena com a perspectiva de correção de uma injustiça histórica, mas não resolve tudo. Algumas unidades federativas ainda precisam corrigir planos de carreira incompatíveis com a realidade e enfrentar distorções como a aposentadoria precoce de profissionais.

O essencial é que, desta vez, prevaleça o diálogo entre todas as partes interessadas, dificultado desde que, sob alegações como a de não dispor dos recursos suficientes em caixa, governadores contestaram a constitucionalidade do índice. Como não há mais questionamentos judiciais e falta agora apenas aprovar a sistemática de correção, resta aos gestores públicos se preparar desde já para honrar o valor do piso, deixando definitivamente para trás uma era em que os professores nem sequer ganhavam o mínimo a que têm direito.