EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

sábado, 30 de abril de 2011

FALTA DE QUALIFICAÇÃO

Apesar dos repetidos alertas de órgãos do governo e de entidades privadas, vem crescendo o descompasso entre o dinamismo da economia brasileira e as deficiências na formação de mão de obra, incapaz de atender, com qualificação, às demandas desse crescimento. Recente estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) reforça o diagnóstico sobre as deficiências de formação de profissionais para as mais variadas áreas e nos mais diversos níveis. Constata o Ipea que as vagas para técnicos de nível médio, como construção civil, indústria e comércio, não são preenchidas porque os candidatos não satisfazem os requisitos exigidos. Só no Rio Grande do Sul, há pelo menos mais de 30 mil ofertas de emprego à espera de profissionais.

Governos, escolas e empresas devem finalmente reagir à constatação mais preocupante no estudo, segundo a qual muitos trabalhadores, recém formados ou mesmo com experiência, apresentam habilitação formal para as tarefas que pretendem desempenhar, mas não têm qualificação. São pessoas mal preparadas para o mercado, por deficiências do ensino básico ou dos cursos profissionalizantes que frequentaram. Tal cenário não se resume ao ensino técnico de nível médio e estende-se também à formação superior. Informa o instituto que, dos engenheiros formados, somente 28% obtêm notas consideradas de alto desempenho, e quase 30% têm resultados apenas medianos. O resultado dessa deficiência é um paradoxo que exige intervenção: mesmo que o país tenha atingido o pleno emprego, pelo menos 1 milhão de profissionais não encontrarão trabalho este ano por não estarem qualificados para as funções oferecidas.

Com um sistema de formação técnica que o próprio governo admite estar ultrapassado, o país não pode ser indiferente ao fato de que faltam profissionais em determinadas áreas, enquanto outras formam trabalhadores para vagas escassas ou inexistentes. A União promete começar a corrigir as distorções com o lançamento do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), que beneficiará o Rio Grande do Sul com sete escolas técnicas e 8,4 mil vagas. É um começo, que depende não só do setor público. Como lembra o Ipea, também as empresas, mantenedoras de entidades encarregadas de formar mão de obra, precisam participar desse esforço.

EDITORIAL ZERO HORA 30/04/2011

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - É só ler a descrição deste blog para avaliar que o maior motivo de sua criação foi denúnciar que os jovens saem do ensino sem uma qualificação que lhe possa dar autonomia e sustentabilidade para conviver em sociedade.

VALORIZAÇÃO DO PROFESSOR

Lançada pelo movimento Todos pela Educação, a campanha de valorização dos professores é daquelas iniciativas que precisam contar com o apoio da sociedade. O objetivo, como resume o slogan “Um bom professor, um bom começo”, é justamente reforçar a importância dos educadores e pressionar por melhorias que favoreçam tanto quem ensina quanto quem está em fase de aprendizado. Um dos méritos do projeto é o de chamar a atenção para o aspecto de que um profissional bem formado e atualizado é o que tem mais chance de se realizar na atividade e de cumprir bem o seu papel de educar cidadãos para a vida adulta.

Muitas das dificuldades que precisam ser enfrentadas na área educacional no país estão ligadas justamente a essas questões. Como atrair jovens motivados para o magistério se a remuneração inicial é irrisória e se não há perspectivas de avanços significativos ao longo da carreira? Além disso, mesmo ganhando normalmente menos do que gostaria, um professor precisa investir em formação constante e se manter permanentemente atualizado com as transformações registradas à sua volta e no mundo.

Numa velocidade impressionante, as redes sociais contribuem para multiplicar linguagens e tendências, computadores portáteis substituem os cadernos de temas, as lousas perdem espaço para os monitores, cada vez mais as cidades antes buscadas no globo de mesa ou no mapa-múndi podem ser localizadas em um clique. O educador, portanto, precisa se mostrar preparado para encarar sociedades mais complexas, estudantes em grande parte marcados pela ausência dos pais na formação pessoal e níveis crescentes de violência dentro e fora da escola.

As profundas transformações no perfil dos alunos em geral, legadas pelas mudanças socioeconômicas, impõem um novo modelo de profissional do ensino. A campanha recém lançada dará uma contribuição importante se motivar os brasileiros a valorizar as novas exigências, que se constituem em pressuposto para maior reconhecimento e valorização, inclusive sob o ponto de vista salarial.

EDITORIAL ZERO HORA 29/04/2011

quinta-feira, 28 de abril de 2011

PRONATEC - EDUCACÃO VOLTADA À PROFISSIONALIZAÇÃO QUALIFICADA

Pronatec, novo programa do governo, tentará combater apagão de mão de obra qualificada - Ricardo Koiti Koshimizu / Agência Senado

A falta de mão de obra qualificada é apontada como um dos obstáculos à continuidade do crescimento econômico do país.. Apesar da intensa demanda, faltam trabalhadores bem preparados em diversos setores. Para tentar sanar o problema, o governo federal deve lançar em breve o Programa Nacional de Acesso à Escola Técnica (Pronatec), que foi tema de audiência pública no Senado nesta terça-feira (26). Os participantes da reunião, entre os quais estavam senadores, representantes do governo e dos empresários, defenderam o programa.

Eles argumentaram que a iniciativa é necessária não apenas para combater o atual "apagão de mão de obra", conforme observou a senadora Ana Amélia (PP-RS), mas também para ampliar a inclusão social das camadas mais pobres da população - ideia ressaltada pelos senadores Inácio Arruda (PCdoB-CE) e Paulo Paim (PT-RS). Este último conduziu a audiência, que foi promovida pela Subcomissão Permanente em Defesa do Emprego e da Previdência Social, que funciona no âmbito da CAS.

Segundo o secretário de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, Eliezer Pacheco, o Pronatec é um programa "guarda-chuva" que visa incentivar - e financiar - vários outros programas vinculados ao ensino técnico e a cursos profissionalizantes. Seriam beneficiados, por exemplo, o Programa de Financiamento Estudantil (Fies) e o "Sistema S", que abrange entidades vinculadas ao setor privado como o Senai, o Sesi, o Senac e o Sebrae, entre outras.

Eliezer Pacheco di sse que o Pronatec poderá conceder bolsas de estudo para quem estiver cadastrado no Programa Bolsa Família. Seria uma forma de garantir uma "porta de saída" para as pessoas que hoje são sustentadas pelo programa. De acordo com o governo, o objetivo do Pronatec, que ainda vai definir os cursos a serem oferecidos, é formar cerca de três milhões de profissionais até 2014.

Além disso, o secretário declarou que "estão sendo investidos" cerca de R$ 1,6 bilhão na rede de escolas estaduais, "pois a expansão da rede federal, apesar de necessária, não é suficiente, já que esta não tem a capilaridade das redes estaduais". Ele também destacou que o ensino a distância será outro ponto importante no âmbito do Pronatec.

Bônus demográfico

Outro defensor do Pronatec foi o presidente do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif) , Claudio Ricardo de Lima. Segundo ele, é preciso "aproveitar a oportunidade e não perder o que os estatísticos chamam de bônus demográfico". Claudio afirmou que está ocorrendo uma mudança no perfil demográfico do país, que resulta no aumento população economicamente ativa (PEA). Tal oportunidade, argumentou, permitiria resolver tanto problemas previdenciários como de produtividade, além de elevar a "base tecnológica" da população.

De acordo com o presidente do Conif, a rede federal de ensino técnico se ampliou, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, de 140 escolas técnicas (em 2003) para 400 (em 2010). Ao reiterar a importância dessa rede, Claudio disse que ela leva a formação profissionalizante para o interior do país e, por isso, seria uma forma de promoção do desenvolvimento.

- Poderíamos universalizar o ensino técnico com uma unidade para cada cinco municípios - declarou.

Paulo Paim, por sua vez, lembrou que tramita no Senado uma Proposta d e Emenda à Constituição de sua autoria, a PEC 24/05, que cria o Fundo de Desenvolvimento da Educação Profissional (Fundep). O senador afirmou que esse fundo, cujos recursos teriam origem no Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), seria capaz de destinar em torno de R$ 9 bilhões por ano ao ensino técnico.

Também participaram do debate os senadores Clésio Andrade (PR-MG) e Eduardo Amorim (PSC-SE), entre outros.

O DESAFIO É EQUIPAR TODOS OS PROFESSORES

“O desafio (do Brasil) é equipar todos os professores” - Andreas Schleicher, diretor para Educação da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)

Responsável pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o alemão Andreas Schleicher aponta mudanças importantes no perfil do professor do século 21. O desafio do educador hoje é lidar com a diversidade em sala de aula e personalizar o aprendizado para que todos tenham as mesmas chances de sucesso. Confira trechos da entrevista por e-mail:

Zero Hora – Qual é o papel do professor do século 21?

Andreas Schleicher – O professor precisa equipar seus alunos com as competências que eles necessitam para se tornarem cidadãos ativos e trabalhadores do século 21. Ele precisa ser capaz de personalizar experiências de aprendizagem para garantir que todos os alunos tenham as mesmas chances de sucesso e deve conseguir lidar com a crescente diversidade cultural em sala de aula.

ZH – Que características deve ter esse professor para que consiga cumprir bem esse papel?

Schleicher – Espera-se que os professores abracem a diversidade com práticas pedagógicas diferenciadas. No passado, o objetivo era padronizar. Hoje, é personalizar experiências educacionais. O passado era centrado no currículo. O presente, no aluno.

ZH – O que isso significa?

Schleicher – Os professores têm de reconhecer que as pessoas aprendem de maneira diferente. Eles precisam promover novas formas de levar o aprendizado ao aluno, que sejam mais propícias ao seu progresso. Uma geração atrás, eles sabiam que o que ensinavam duraria para a vida toda. Hoje, os sistemas educacionais precisam capacitar as pessoas para que se tornem aprendizes perenes, para gerir formas complexas de pensar e de trabalhar. Tudo isso exige professores diferentes. Quando o ensino se resumia a comunicar conteúdos pré-fabricados, os países podiam ter professores de baixa qualidade. Hoje, o tipo de ensino exigido depende de professores com alto nível de conhecimento, que estejam em constante crescimento e que entendam de sua profissão. Mas aqueles que se veem assim não se sentem atraídos por escolas organizadas como linhas de montagem. Para atraí-los, os sistemas educacionais precisam transformar suas escolas em ambientes nos quais normas de gestão substituam formulários burocráticos, com status, remuneração, autonomia profissional e educação de alta qualidade e com sistemas eficazes de avaliação de professores, com planos de carreira.

ZH – No Brasil, onde o índice de analfabetismo ainda é alto, que tipo de professor o aluno precisa?

Schleicher – O Brasil tem feito progressos significativos na educação. Poucos países na América do Sul estão progredindo em ritmo semelhante. O desafio agora é equipar todos os professores, e não apenas alguns. Isso vai exigir repensar muitos aspectos, entre eles como otimizar os sistemas de recrutamento para que os candidatos mais qualificados sejam selecionados, como sua remuneração deve ser estruturada e como dar aos professores com as melhores performances oportunidades para adquirir mais status e responsabilidade.

O MODELO DE PROFESSOR IDEAL

JULIANA BUBLITZ E ÂNGELA RAVAZZOLO - Zero Hora 28/04/2011


Diante da lousa, com a autoridade de quem detém o saber, o professor discursa. Em silêncio quase sepulcral, os alunos escutam. Não há brecha para questionamentos. Corriqueira décadas atrás, a cena já não existe. Ou está com os dias contados. Com o século 21, não por acaso batizado de “século do conhecimento”, nasce um novo mestre. Com o intuito de valorizá-lo, o movimento Todos Pela Educação lança uma campanha de mobilização, que a partir de hoje – Dia da Educação – ganha destaque nacional. Com o slogan “Um bom professor, um bom começo”, reforça a importância desses profissionais e pressiona por melhorias.

– O professor tem uma posição estratégica no século 21. Só que precisa ser valorizado, e isso inclui salários iniciais atraentes, plano de carreira e melhores condições de trabalho. Não basta ter brilho nos olhos e, como se diz aqui no Nordeste, fogo nas ventas – diz Mozart Neves Ramos, professor da Universidade Federal de Pernambuco e conselheiro do Todos pela Educação.

PENSOU EM SER PROFESSOR? - ÂNGELA RAVAZZOLO | EDITORA DE EDUCAÇÃO

Pesquisa da Fundação Victor Civita sobre a atratividade da carreira docente expõe um alerta: a provável falta de professores em um futuro próximo. Em um questionário aplicado em escolas, diante da pergunta Pensou em ser professor?, apenas 2% dos estudantes assumiram, como primeira opção de ingresso à faculdade, o curso de Pedagogia ou outra licenciatura. Boa parte do grupo defende a nobreza e o valor da profissão, mas acredita que a sociedade não reconhece a importância do professor.

Se os próprios estudantes já perceberam, é sinal de que precisamos (todos) nos preocupar.

Nos Estados Unidos, o programa KIPP – Knowledge is Power (Saber é Poder) é um bom exemplo de que a união de forças muda um cenário ruim. O KIPP é formado por uma rede de escolas em que 80% dos alunos vêm de famílias de baixa renda. Os estudantes ficam duas horas extras por dia no colégio, os professores visitam regularmente a residência da família, e os pais assinam um termo de compromisso: se comprometem a verificar o dever de casa e garantir a presença em sala de aula. O projeto é citado em um estudo internacional da consultoria McKinsey como um bom exemplo mundial: o desempenho das crianças do KIPP no 7º ano ficou acima da média nacional.

A campanha do Todos pela Educação segue nessa direção, envolve a sociedade e assim foge daquela postura do pai (ou da mãe) acomodado, que espera o professor resolver tudo. Além de ensinar, fazer de tudo para que o filho alcance o sucesso sonhado. Sim, o professor deve ser o protagonista, mas ninguém mais pode ficar escondido na coxia.

1. GOSTAR DO QUE FAZ

Mais do que qualquer profissional, quem opta pelo magistério tem de ter paixão por ensinar e se orgulhar de seu papel na sociedade. Quanto mais os alunos sentirem essa empatia, garantem especialistas, mais abertos estarão à aprendizagem e melhor será o
desempenho em sala de aula.

– O bom professor não apenas deve ter orgulho da profissão, como deve defendê-la com garra.

Ele é um otimista, um sonhador. Tem a utopia de um mundo melhor, sem a ingenuidade da busca de resultados fáceis e sem se abater frente aos obstáculos – afirma Francisco Aparecido Cordão, presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de
Educação e diretor-presidente da Consultoria Educacional Peabiru. Em contrapartida, reconhecem gestores e estudiosos, o educador que ama o que faz e se dedica de corpo e alma ao trabalho também precisa ser valorizado por isso. Melhores salários e condições de trabalho são considerados fundamentais.

2. TER UMA BOA FORMAÇÃO

O professor ideal deve ter formação sólida e ampla. Esse processo, segundo a superintendente de Educação e Pesquisa da Fundação Carlos Chagas, Bernardete Gatti,
deve incluir o domínio dos conteúdos da disciplina escolhida e, em igual peso, o conhecimento das metodologias e práticas de ensino.

– De nada adianta saber o conteúdo, se o educador não consegue transmiti-lo aos alunos. A maioria dos cursos não tem nem 10% de formação pedagógica, e esse é um
problema sério, que precisa ser repensado – alerta Bernardete.

Além de uma boa base, a diretora do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro), Cecília Farias, destaca a importância de haver continuidade nos estudos. Para acompanhar a velocidade das mudanças na sociedade atual, os mestres precisam se manter atualizados – e, para isso, devem contar com o apoio dos gestores, públicos ou privados. Além de uma imposição profissional, esse deve ser um desejo pessoal.

3. FALAR A LÍNGUA DOS ALUNOS

Não se trata de adotar as gírias ou se comunicar como um adolescente, mas de entender o universo da garotada e planejar aulas que levem em conta esse jeito particular de ver e viver o mundo de hoje.

– O professor tem de compartilhar o universo dos alunos e ser um pouco artista diante desse público.

Se não usar isso a seu favor, se não falar a mesma língua deles, corre o risco de se transformar em uma cápsula de sonífero – diz o consultor educacional do Fronteiras . Educação – Diálogos com a Geração Z, Francisco Marshall, da UFRGS.

Isso significa, por exemplo, estimular a interatividade e evitar falar sozinho, sem parar, uma aula inteira. Significa, também, não subestimar os adolescentes. Foi-se o tempo em que o mestre era o dono do conhecimento. No passado, ele falava, e os estudantes ouviam em silêncio. Hoje, ele deve estimular o diálogo. Se, para
isso, for possível usar e abusar de recursos audiovisuais, como projeções de imagens, vídeos e músicas, tanto melhor.

4. USAR NOVAS TECNOLOGIAS

O educador do século 21 não pode ser um analfabeto digital. Ignorar ou repudiar a influência da internet na vida dos alunos é aprofundar o abismo entre os estudantes e a escola.

– Ao tirar proveito disso, o professor traz a realidade da criança e do adolescente para a sala de aula. É uma forma de aproximação e uma maneira de apresentar o conhecimento de um novo jeito – afirma a professora Maria Elizabeth de Almeida, da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Não basta, porém, dominar a tecnologia. É preciso que saiba aplicála. Primeiro, é importante que navegue nos sites preferidos de seus pupilos e faça parte das redes sociais. Depois, explorar o potencial dessas ferramentas de forma criativa. Por que continuar restrito ao velho mapa-mundi se pode usar o Google Earth para mostrar regiões, países e cidades em detalhes? Por que não estimular a gurizada a escrever microcontos no Twitter? As portas que se abrem são infinitas.

5. IR ALÉM DO CONTEÚDO

O bom professor, ressaltam especialistas, deve saber que sua missão profissional não se resume a repassar o conteúdo da disciplina. Hoje, mais do que nunca, ele deve ser um guia, um tutor. O velho chavão “ensinar para a vida” continua valendo. Cabe ao mestre, com a família, difundir valores éticos e morais e fazer com que crianças e adolescentes sejam capazes de reflexões críticas.

– O aluno não é um saco vazio. Ele já chega com conhecimento e recebe, de todos os lados, um turbilhão de informações, sem filtros. O professor deve estar atento a isso e ser um orientador – avalia a presidente do Conselho Estadual de Educação, Sonia Balzano.

Para Maria de Salete Silva, coordenadora do Programa de Educação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil, ir além do conteúdo também implica usar as experiências vivenciadas pelos alunos como ponto de partida para discutir assuntos importantes e transmitir ensinamentos.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

INICIATIVAS DISCRIMINATÓRIAS

O Supremo Tribunal Federal julgará, em breve, matéria da mais alta relevância para o ensino universitário no país: a política de cotas raciais para o ingresso em universidades públicas. O tema é polêmico e desperta acirrado debate. Ninguém ousará negar, sob a perspectiva histórica, que a raça negra foi vítima de atrocidades e de vil exploração. Mas, a análise do tema, despojada de demagogias políticas, torna impositiva a conclusão de que esse sistema não se compatibiliza com o Estado Democrático de Direito, e não poderá prevalecer. Diga-se, com fraqueza e objetividade, o que ele realmente representa: o ingresso, em universidades públicas, em razão da cor de sua pele, de alunos que, mediante a participação no imparcial e democrático vestibular, e a competição, em igualdade de condições, com os demais concorrentes, não têm a qualificação necessária para atingir notas suficientes para a sua admissão.

E como solução para esse grave problema social, em vez de se debater a imediata e consistente reforma do ensino público brasileiro, para capacitar um maior número de alunos, de modo a que possam concorrer com mais preparo às vagas universitárias, o que se propõe é criar, por meio de deliberações de universidades e de lei, sistema de cotas. Em outras palavras, pretende-se introduzir, nas universidades públicas, alunos com deficiências educacionais que, por sua vez, se tornarão, possivelmente, após a conclusão do curso, profissionais deficientes. E esse benefício, segundo as regras já em vigor em diversas universidades públicas, seria destinado aos "negros e pardo"". Em um país formado por nativos e imigrantes das mais variadas origens, caberia indagar por que apenas aos negros seria conferida essa deferência.

O Estado tem o dever de proporcionar a educação adequada a todos os brasileiros. Essa imposição constitucional não está sendo cumprida plenamente. O ensino médio no Brasil ainda é precário, e este, sim, deveria ser o foco prioritário de todos aqueles que criticam a falta de oportunidades às minorias étnicas.

A experiência mostra que não se muda a realidade social por meio de leis demagógicas. E por meio de leis também não se transfere base educacional para quem não a possui. A igualdade de oportunidades só poderá ser atingida por meio da educação fundamental consistente, que deve ser provida pelo Estado. E é essa a providência que deveria ser objeto de cobrança pelos negros, pardos e por todos os demais segmentos da sociedade.

Por essas razões e pelas repercussões deletérias que o sistema de cotas poderá infringir ao país, se forem declaradas constitucionais as leis que o prevêem, espera-se que o Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição da República, reconheça a inconstitucionalidade dessas iniciativas discriminatórias.

ANA TEREZA BASILIO é advogada e diretora do Centro de Estudos do Tribunal Regional Eleitoral. O GLOBO, 26/04/2011

BULLYING NAS ESCOLA GAÚCHAS

O agredido pode virar agressor. Pesquisas em colégios de dois municípios gaúchos revelaram que quase metade das vítimas revidou aos ataques de colegas - zero hora 27/04/2011

Duas pesquisas desenvolvidas no interior do Estado podem ajudar a entender o que está por trás de uma prática que vem corroendo as escolas gaúchas e preocupando autoridades, educadores, pais e estudantes. Uma delas foi realizada em Pelotas por pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), sendo publicada no jornal da Sociedade Brasileira de Pediatria. A outra foi realizada pelo Instituto Methodus nas escolas públicas de Jaguari, região central do Estado.

Enquanto o estudo em Pelotas apresenta um Raio X do bullying em duas escolas públicas do município, o realizado em Jaguari se debruçou sobre todas as escolas da rede pública no município com alunos da 5ª a 8ª séries.

As investigações revelaram dados surpreendentes. Dos alunos pelotenses que admitiram já ter sofrido bullying (17,6%), metade afirmou ter reagido na mesma moeda. Em outras palavras, 47,1% deles reconheceram que também se tornaram agressores – uma resposta, no mínimo, preocupante. Já em Jaguari, a maioria dos estudantes (69,2%) relatou algum tipo de vitimização. As vítimas de bullying – estudantes que relataram cinco ou mais casos de vitimização – perfazem 29,6% do total da amostra.

Realizado durante todo o ano passado, o trabalho em Pelotas envolveu 1.075 estudantes de Ensino Fundamental e uma equipe composta por médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, assistentes sociais, enfermeiros e estagiários. Entre as principais conclusões, o estudo mostrou que o agressor, via de regra, é mais forte do que a vítima, e que a maior parte das investidas ocorre no pátio dos colégios.

– Há uma banalização do deboche, um entendimento errôneo de que ridicularizar os outros não é grave. A tentativa de ridicularização pode ter consequências graves – destaca o pediatra Danilo Rolim de Moura, professor do curso de Medicina da UFPel e coordenador da pesquisa.

Pelo estudo pelotense, entre os meninos, a prática se materializa em agressões verbais e físicas, com apelidos depreciativos e empurrões. Entre as meninas, com fofocas e exclusão.

Quase metade dos ataques (43,9%), segundo os entrevistados, tiveram consequências negativas, incluindo a necessidade de mudança de escola.

A pesquisa, em andamento, já atesta algo que os professores percebiam: crianças hiperativas e agressivas tendem a ser agentes de bullying.

Manual antiviolência. Confira algumas recomendações de especialistas aos envolvidos:

Direção e Professores - Os alunos precisam confiar no professor e na direção. Se uma denúncia é feita e nenhuma providência é tomada, a confiança acaba.

Alunos - Se você é vítima de outros alunos, não sofra em silêncio. Relate os casos aos seus pais e à escola.

Pais de vítimas - Preste atenção a sintomas como queda de rendimento escolar, marcas
de violência no corpo, comportamento arredio ou depressivo, resistência a ir para a escola, sintomas como dores de cabeça ou de estômago.

Pais de agressores - Não defenda as atitudes de seu filho como “normais para a idade”. Não são. Converse com ele.

terça-feira, 26 de abril de 2011

BULLYING - USOS E ABUSOS DE UM TERMO

DIANA CORSO | DIANA CORSO (Interina)- ZERO HORA 26/04/2011


De tanto em tanto, sofremos epidemias de explicações, e já faz algum tempo que o bullying está nesse registro. Denunciar essa prática é válido para revelar um sadismo que nunca esteve ausente da relação entre as crianças, frente ao qual as instituições escolares sempre foram cegas. Porém, acabamos observando outro fenômeno: o de um termo que acaba deixando de interpretar fenômenos e começa a participar de sua gênese.

Semana passada, um jovem entrou numa escola em Porto Alegre gritando, agredindo e causando pânico na sala de aula. Ex-aluno, justificou-se dizendo que estava vingando o bullying sofrido pela irmã. O assassino perturbado do Realengo também teria sido vítima de tal prática. Hitler teria arcado com as consequências de sua baixa autoestima e o próprio nazismo seria uma reação do povo alemão à posição humilhante em que o resto do mundo o colocou após a I Guerra. Um marido traído, motivo de chacota entre os conhecidos, pela mesma linha de argumentação, teria justificativa para matar os amantes e todos os fofoqueiros de plantão. A cadeia de ressentimentos pode não ter fim quando uma vitimização qualquer funciona como justificativa para um ato de violência. É a apoteose dos agressores que se sentem vítimas.

Minha entrada na escola deu-se juntamente com a aprendizagem da língua portuguesa, falar errado e ser estrangeira não foi fácil. Era a única criança judia da escola pública na qual fiquei até a adolescência. Na época, rezava-se todas as manhãs antes do início das atividades (nosso país sempre foi laico em termos), eu era convidada a retirar-me. O objetivo de evitar constrangimentos, ao me impor outra religião, causava um pior: o exílio do pátio. Passei, portanto, por situações que poderiam ter sido caracterizadas como bullying, as quais sempre foram poucas porque me mimetizava, tinha terror de ser tachada de diferente, já que de fato era.

Um padecimento qualquer não é uma sentença de vida, é um elemento com o qual se faz o que se consegue. Na clínica, conheci jovens e crianças que faziam coisas desagradáveis ou ridículas para que isso atraísse a agressividade dos outros, geravam hostilidade e com isso realizavam uma fantasia inconsciente. O bullying é um fenômeno, mas sua causa compõe-se de infinitas variáveis. Ser hostil com os outros, como é o caso dos algozes, provocar os maus-tratos sofridos, como por vezes é o caso das vítimas, ou mesmo ser incapaz de entrosar-se, são sintomas psíquicos, mensagens atravessadas. Perceber que a escola é a primeira experiência de socialização, onde podem nascer sofrimentos que perduram, é fundamental, mas que isso sirva para tornar a instituição mais sensível, não para aumentar o coro das vinganças justificadas.

domingo, 24 de abril de 2011

PRECARIEDADE VERSUS ARBITRARIEDADE

Artigo da leitora Deborah Silva de Queiroz, o GLOBO, 23/04/2011 às 17h25m


Na semana após a Prefeitura do Rio anunciar a contratação de porteiros e inspetores de alunos, visando a melhoria da segurança nas escolas municipais cariocas, a direção da minha escola, Escola Municipal Presidente Arthur Costa e Silva , em Botafogo, é punida com uma advertência, porque um aluno, ano passado, evadiu-se da escola, foi para o Quadrado da Urca e pulando da ponte se machucou.

Detalhe: a escola tem uma inspetora que trabalha no turno da manhã e o fato se deu no turno da tarde; não tem porteiro; a entrada fica longe da secretaria por uma falha no projeto arquitetônico, e além de tudo, é "Polo para Educação e Trabalho", ou seja, há um movimento grande de crianças de outras escolas ou que vêm em horário invertido para as atividades extraclasses.

Como pode um professor desempenhar suas funções digna e tranquilamente se, além de ser um educador, ainda tem que ser inspetor de aluno? Já apartei brigas em corredor numa outra escola em que lecionei! Como pode uma direção escolar ser punida uma vez que desenvolve um trabalho pedagógico impecável, com projetos pedagógicos reconhecidos pela comunidade escolar, além de administrativamente nunca ter apresentado problema?

Como pode um professor desempenhar suas funções digna e tranquilamente se, além de ser um educador, ainda tem que ser inspetor de aluno?

O aluno fugiu da escola em Botafogo e foi para a Urca, e o professor que estava em sala de aula foi chamado para esclarecer os fatos na segunda CRE. A nossa parte nós exercemos apesar de todas as precariedades e somos reconhecidos socialmente - a profissão é entendida como um sacerdócio.

O mais curioso é que justamente nós tínhamos elaborado um documento em que sugeríamos a presença de porteiros e inspetores na escola, na quarta-feira 13 de abril, quando ocorreu mais um Centro de Estudos na rede municipal do Rio. Lemos a carta encaminhada pela secretária Claudia Costin e respondemos com as nossas necessidades. Uma semana depois a direção é punida porque o aluno fugiu da escola e se machucou. Podemos concluir, então, que a precariedade levou a uma arbitrariedade por parte da Secretaria Municipal de Educação, que sequer aceitou que as diretoras e a coordenadora pedagógica colocassem seus cargos à disposição, uma vez que nem elas nem a comunidade escolar aceitam essa punição.

Pedimos que essa decisão seja revista, em vista da carência de profissionais que deveriam estar nas escolas cuidando dos alunos e da integridade física e moral dos mesmos.

Estou na rede municipal de ensino há dez anos, lutando diariamente diante da precariedade que gera pequenas tragédias cotidianas, como o aluno que levou uma arma calibre 38 para a escola, que disparou em minha sala de aula na E. M. Estácio de Sá, dentro da Fortaleza São João, felizmente, não atingindo ninguém.

As diretoras deveriam ser punidas? Claro que não! Então, por que essa punição justamente quando é divulgada a carência de segurança nas escolas com a falta de profissionais necessários e imprescindíveis para a segurança dos alunos? O que essa gestão está querendo mostrar? Que se preocupa com a integridade física de seu alunado? Se isso fosse tão verdadeiro as escolas não estariam sem porteiros e inspetores de alunos! E isso é justamente o que a mídia não vê: as pequenas tragédias cotidianas nas escolas municipais do Rio de Janeiro.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

VIOLÊNCIA ESCOLAR ASSUSTA O RS


EM DOSE DUPLA. Violência escolar assusta Estado - ZERO HORA 21/04/2011

Em um mesmo dia, o Estado foi palco de dois novos episódios de violência escolar. Os ataques ocorreram na terça-feira, em colégios públicos de Parobé, no Vale do Paranhana, e de Porto Alegre, mas só vieram à tona ontem, preocupando pais, professores e autoridades da área.

Em um dos casos, em Parobé, um adolescente de 13 anos agrediu uma coordenadora pedagógica ao ser contrariado.

Na Capital, um ex-aluno voltou à escola para defender a irmã , que seria vítima de bullying (agressões sistemáticas, físicas ou psicológicas). Na avaliação do psiquiatra Marcelo Victor, da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, o modo de vida da sociedade atual tende a estimular atos de violência escolar, levando episódios do tipo a se repetir e se proliferar.

LEIA AS POSTAGENS ANTERIORES.

CONTRARIADO ALUNO AGRIDE PROFESSORA


EM DOSE DUPLA. Contrariado, aluno agride professora - LETÍCIA BARBIERI - ZERO HORA 21/04/2011

Um olho roxo e uma fratura no punho da professora Maria Helena Albernaz, 50 anos, são as marcas visíveis da agressão sofrida terça-feira dentro da escola, por um aluno de 13 anos contrariado com uma atividade. O que não se pode ver é a sensação de impotência e a humilhação que restaram junto com a professora.

Coordenadora pedagógica da Escola Municipal Teresinha Ivone Homem, de Parobé, ela havia sido chamada para controlar uma situação na sala do 5° ano. A professora já não dera conta e a psicopedagoga que acompanha o adolescente também não. Avisado que seus pais seriam chamados novamente à escola, o garoto explodiu em um ato de violência empurrando Maria Helena para longe de seu caminho.

Arremessada da porta, ela foi jogada contra um pilar de concreto, batendo a cabeça e caindo sobre o braço e fraturando o punho. A dor, conta ela, era forte, mas a sensação de estar jogada ao chão, sob o olhar de dezenas de crianças indefesas é o que ela não esquece. Diante da fragilidade da professora, foi o filho dela, Felipe Albernaz, 28 anos, quem reage:

– É só mais um exemplo de descaso com os professores, mas não posso deixar passar em branco. Dói muito, e dói mais ainda saber que nada será feito. Terá de haver uma verdadeira tragédia para que algo seja feito?

Com histórico de agressões, o aluno faz parte de um Programa de Inclusão. Diagnosticado como portador de um transtorno psíquico que interfere no seu comportamento, ele apresenta momentos de extrema agressividade. Conforme registrado na Secretaria Municipal de Educação, é um aluno com fragilidade psíquica que entra em confronto com limites, normas e leis em que tenha um mediador.

Diante do diagnóstico, ele conta com acompanhamento especial. Ele passará agora por nova avaliação. Foi transferido para o Centro de Atendimento Educacional Especializado, para onde são encaminhadas crianças com deficiências físicas e psicológicas.

– Nova avaliação indicará se ele tem condições de retornar à escola ou não, mas com a certeza de buscar alternativas para que ele possa estar inserido na sociedade – destaca a secretária de Educação, Máris Assis.

Um boletim de ocorrência foi registrado na delegacia como lesão corporal.

Com seis filhos, o pai do adolescente, um entregador de 52 anos, diz que não se surpreende com o que ocorreu:

– Ele é o patinho feio como aquele do Rio de Janeiro. Tudo que acontece é ele, é ele. Sabemos que ele tem o temperamento forte, tudo acontece com ele, se sente acuado e revida, mas a gente não incentiva a violência, jamais. Quero resolver isso, não quero ver meu filho depois matando meia dúzia e se matando.


“Ele se descontrolou totalmente” - ENTREVISTA Maria Helena Albernaz, 50 anos, professora

Maria Helena Albernaz tem 22 anos dedicados ao magistério. Nunca imaginou passar por uma agressão física e apela para que esse tipo de atitude não fique sem resposta. Confira a entrevista:

Zero Hora – O que aconteceu?

Maria Helena Albernaz – Nossa escola tem um trabalho voltado para a inclusão e esse menino era um caso de agressividade bastante grave. Ele se descontrolou totalmente. Quando eu estava na porta ele veio e me jogou contra o pilar.

ZH – Que medidas haviam sido tomadas com esse aluno?

Maria Helena – Há sempre uma psicopedagoga ao lado dele, um horário adaptado, tudo por conta dessa agressividade. Eu sempre fui a favor dele, sei que ele não tem culpa de ser assim, mas não há o que o controle.

ZH – Esse tipo de agressão então já era previsível?

Maria Helena – Sim, mas o que magoa é que a nossa classe está sendo humilhada. Nós estudamos, nos preparamos para entrar em sala de aula, e agora passamos por essas situações. As crianças estão mais violentas. Elas têm muitos direitos, mas não têm deveres.

ZH – Há uma saída?

Maria Helena – Não sei como será solucionado, mas sei que precisa mudar. Antes se o pai era chamado na escola ele perguntava o que a criança fez. Agora ele pergunta o que foi que o professor fez. A família se perdeu.

ZH – Com que sensação a senhora voltará para a escola?

Maria Helena – É um sofrimento porque eu amo o que eu faço, não vou desistir jamais.

PARA VINGAR IRMÃ, JOVEM DESTRÓI E APAVORA ESCOLA


EM DOSE DUPLA. Para vingar irmã, jovem destrói e apavora escola - JULIANA BUBLITZ, zero hora 21/04/2011

Tiago Diburcio Pinheiro, 23 anos, queria vingar a irmã. Acabou invadindo o colégio onde ela estudava, na Capital, e deixando em pânico alunos, professores e funcionários. Por pouco, em meio a chutes, socos e ameaças, não protagonizou uma tragédia.

Aluna da Escola Estadual Fernando Gomes, no bairro Jardim do Salso, a garota de 14 anos dizia aos familiares que era vítima de bullying. Não queria mais estudar. Chorava em casa.

Na tarde de terça-feira, ao buscar a irmã na aula, Tiago perdeu o controle. Ex-aluno da própria escola, o pedreiro passou pelo portão principal, subiu dois lances de escada e entrou na sala da turma 61, onde a garota estudava.

– Ele veio na minha direção e perguntou que turma era aquela. Perguntei o que queria, mas ele não respondia. Ficou nervoso e deu um chute numa classe – contou a professora.

O pontapé assustou os adolescentes, com idades entre 12 e 14 anos. A maioria correu em direção às janelas. Alguns se atiraram para debaixo das mesas, com medo de possíveis disparos. Outras se ajoelharam e rezaram. Assustada, a educadora conseguiu fazer sinal para que uma garota fugisse e chamasse o vice-diretor, Claudio Humberto Nascimento. Alguns colegas também tentaram escapar, mas Tiago impediu.

– O cara falava palavrões e dizia que ninguém mais ia mexer com a irmã dele. Parecia aquela história do Rio. Estava todo mundo chorando – contou uma das testemunhas, de 12 anos.

Em cinco minutos, o vice-diretor apareceu na porta.

– A cena era assustadora. Vi a turma acuada num canto e pedi que o rapaz saísse – disse Nascimento.

Atordoado, Tiago desceu as escadas. Os alunos fizeram o mesmo e, com a ajuda da diretora, Berenice Corsetti, entraram na sala dos professores, cuja porta foi trancada. Enquanto isso, já no saguão, Tiago teria avançado sobre Nascimento e um garoto de 16 anos. Depois, foi até a sala dos professores. Como não conseguiu entrar, quebrou o vidro da porta com um murro. Só parou com a chegada dos policiais.

Algemado, foi levado ao Palácio da Polícia e autuado por “destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia, com violência ou grave ameaça”. Pagou fiança de R$ 500 e foi liberado.

Ontem, na escola, a diretora se reuniu com um grupo de pais. Berenice quer fazer um abaixo-assinado para pedir mais segurança ao governo do Estado – precisa de um porteiro, de monitores e de um muro. Ela nega que a irmã de Tiago sofresse bullying. Segundo Nascimento, a aluna era nova e tinha “dificuldades de relacionamento”, mas o Serviço de Orientação Educacional já estava apurando o tema.

“Ele perdeu a paciência”. ENTREVISTA Sandra e Abrelino Pinheiro, pais do agressor

Em casa, a dona de casa Sandra e o jardineiro Abrelino Pinheiro, pais de Tiago Diburcio Pinheiro, 23 anos, deram ontem sua versão da história. Confira a entrevista a ZH:

Zero Hora – Por que Tiago foi até a escola?

Sandra – Ele foi buscar a irmã. Aí começaram a ofender a guria e ele viu. Ela não queria mais ir à escola por causa do bullying.

ZH – O que ele fez?

Abrelino – O problema é que ele estava alcoolizado. Ele reclamou e não foi ouvido. Enfiou a mão no vidro e quebrou. Então vieram para cima dele. Mas ele não agrediu ninguém.

ZH – Vocês não acham que ele poderia ter agido de outra forma?

Abrelino – Poderia. A gente não mandou ele fazer isso. Ele perdeu a paciência, mas não agrediu ninguém. Isso é invenção deles (da direção).

ZH – Na escola, disseram que ele chutou uma classe e agrediu algumas pessoas.

Abrelino – Não. É mentira. A nossa filha estava junto e viu tudo. Ele não tinha faca, não tinha arma. Só bateu aquele histerismo por causa da bebida e da raiva que estava sentindo. A moral de tudo isso é uma só: a incompetência dos professores ao não darem atenção à queixa que registramos. Fomos ignorados. Foi isso que gerou o problema lá no Rio de Janeiro, não foi?

ZH – Sua filha vai mudar de escola?

Abrelino – Agora não tem outro jeito. A escola ligou dizendo que era melhor mudar, mas é um absurdo. As meninas que faziam bullying é que deveriam sair.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

TENTATIVA DE EXECUÇÃO EM FRENTE À ESCOLA DE PORTO ALEGRE/RS

PÂNICO NA ZONA NORTE. Tiroteio em frente a escola fere dois na Capital. Pais e estudantes ficaram apavorados com ação no início das aulas da tarde - EDUARDO TORRES | ESPECIAL, ZERO HORA 20/04/2011

O começo da tarde de ontem, por volta das 13h30min, foi de pânico para quem chegava à Escola Municipal Jean Piaget, no bairro Parque dos Maias, zona norte da Capital. Dois adolescentes foram baleados e dois veículos roubados. Tudo diante do portão em que as crianças chegavam para o turno da tarde.

Cícero Renan Batista Matoso, 18 anos, foi atingido no peito, e um garoto de 14 anos, de raspão no braço direito. Os dois atiradores que estariam usando três armas ainda tentaram roubar uma moto, mas a abandonaram e fugiram a pé.

De acordo com a Brigada Militar, o rapaz de 18 anos não tem antecedentes, mas informações dariam conta de que ele seria o alvo de uma execução por dois homens que chegaram em uma moto à Avenida Major Manoel José Monteiro.

Um deles desceu do veículo e acertou o peito de Cícero Renan. No momento da fuga, porém, a moto falhou, e eles acabaram abordando um casal que passava pela rua em outra moto. Aí voltaram a atirar em direção à escola. O garoto de 14 anos acabou atingido quando chegava ao portão para a sua aula, na 7ª série.

Os dois baleados foram socorridos pela Brigada Militar e levados ao Hospital Cristo Redentor. Cícero Renan permanecia internado na emergência no começo da noite de ontem.

De acordo com o comandante do 20º BPM, tenente-coronel Paulo Ricardo Quadros, a tentativa de execução foi constatada pela característica do ataque.

– A motivação é a Polícia Civil quem terá de apurar – diz.

Segundo ele, a área da escola não estava entre as mais preocupantes na patrulha escolar e não tinha nenhuma denúncia de confronto entre adolescentes recentemente.

Estudantes confirmam, porém, que Cícero Renan – que é ex-aluno da escola – costuma frequentar o local na hora da chegada dos alunos da tarde. A Brigada Militar já teria imagens que identificam os autores do crime, que será investigado pela 22ª DP.

“Fiquei apavorada” - DIÁRIO GAÚCHO

Uma mãe de 37 anos foi surpreendida ontem no trabalho. Por telefone, um aviso: seu filho de 14 anos estava baleado no Cristo Redentor. Ela falou ao Diário Gaúcho sobre a preocupação com a segurança no colégio.

Diário Gaúcho – Um tiro em plena escola. O que pensar agora?
Mãe – Fiquei apavorada. O último lugar que eu iria imaginar alguma coisa assim é na escola. Se até ali ele não está protegido, onde vai estar?

DG – Você pensa em tomar alguma atitude?
Mãe – Acho que vou tentar transferir meu filho para uma escola mais perto de casa. Mas eu tenho um de nove anos, que estuda de manhã. Vou trabalhar sempre com o coração na mão.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Leis fracas e benevolentes, justiça morosa e alternativa, polícia fracionada e ausente e escolas sem segurança formam um conjunto propício para a impunidade e crescimento do nível de criminalidade no RS. As execuções estão se tornando rotina no RS. Está sendo fácil matar. Até quando a sociedade organizada irá tolerar este ambiente de insegurança jurídica, judiciária e social no RS? Quando é que os Poderes de Estado que nos governam irão sair da inércia e começar a trabalhar?

segunda-feira, 18 de abril de 2011

BULLYING - AFETA 84,5% DOS ESTUDANTES NO RIO. MAIS DE 40% JÁ FORAM VÍTIMAS.

Bullying já afeta 84,5% dos estudantes no Rio. Mais de 40% já foram vítimas - 17/04/2011 às 23h51m; O Globo


RIO - Uma pesquisa sobre bullying nas escolas do Rio revela que a grande maioria dos alunos - 84,5% dos entrevistados - já foi vítima (40,4%) ou conhece alguém que sofreu agressões físicas ou psicológicas no colégio (44,1%). O levantamento, feito pelo Instituto Informa, mostra que o problema é mais grave nas unidades municipais. O percentual chega a 90,2% na rede municipal, contra 82,8% nos colégios particulares, e 72,7% nos estaduais. Atos de intimidação e violência ocorrem, principalmente, no ensino fundamental. Por isso a menor incidência na rede estadual, que tem foco no ensino médio, mostra reportagem de Ludmilla Lima, publicada pelo GLOBO nesta segunda-feira.

Conforme O GLOBO revelou, domingo, as escolas ignoram uma lei estadual que obriga instituições de ensino a comunicar os casos de agressão entre alunos à polícia ou aos conselhos tutelares.

O bullying foi usado como justificativa pelo autor do massacre de Realengo. Welington Menezes de Oliveira, que tinha problemas mentais, matou 12 estudantes da Escola Municipal Tasso da Silveira, no último dia 7 de abril.

Durante a pesquisa, o instituto entrevistou 830 estudantes de 10 e 16 anos. Do total, 40,4% confirmaram já ter sido vítimas de bullying, e 44,1% disseram conhecer pessoas que foram alvo de perseguição. Uma das constatações mais preocupantes da pesquisa revela que 93,1% dessas pessoas disseram que não houve qualquer tipo assistência psicológica às vítimas.

De acordo com a consulta, o problema mais comum são os apelidos pejorativos, que representam 42,7% dos casos. Deboches coletivos (18,8%) e ofensas pessoais (13,7%) vêm em seguida. Das vítimas, 57,9% não reagiram às agressões, e 19,4,2% pensaram em vingança. E 71% das pessoas que foram alvo conseguiram superar o trauma.

As chances de agressão física são maiores nas escolas municipais: 46%. Nas estaduais, o índice é de 40%, e nas particulares, de 33,9%.

Diretor do instituto, o sociólogo Fábio Gomes explica que a pesquisa revelou diferenças entre as vítimas de bullying não somente em relação às escolas onde estudam, mas também por idade e sexo.

- No caso das meninas, constatamos que a agressão mais presente é a verbal. Entre os meninos, é a física - compara o sociólogo.

Dos 492 alunos de 10 a 14 anos que participaram da pesquisa, 88,4% confessaram sofrer agressões ou ter colegas que passaram pela situação. Na faixa etária de 15 e 16 anos, o percentual é de 78,1%.

Os números mais alarmantes da rede municipal podem ser resultado de outra constatação: nessas escolas, os alunos denunciam mais. Apenas 29,8% dos estudantes da rede municipal entrevistados pela pesquisa afirmaram não ter comunicado o bullying à direção da escola. Esse percentual é de 58,7% nas escolas estaduais, e de 46,7% nas particulares.

Já as punições são mais frequentes nas instituições particulares: em 41,3% dos casos, o agressor sofreu penalidade. Nas unidades do município, só houve castigo para os agressores em 28,9% das situações. Na rede estadual, em 21,9%.

O índice alto de alunos que se dizem vítimas pode estar associado ao nível de conhecimento sobre o problema. Do total de crianças e adolescentes abordados pelo Instituto Informa, 61,6% responderam ter recebido informações nas escolas sobre o bullying.

domingo, 17 de abril de 2011

BULLYING - ESCOLAS NÃO NOTIFICAM CASOS

Apesar de lei determinar, escolas não notificam casos de bullying em conselhos tutelares ou na polícia. Ruben Berta, O GLOBO, 16/04/2011 às 18h41m;


RIO - Mãe de um menino hoje com 11 anos, uma psicopedagoga, moradora da Zona Norte, conta que passou, entre 2009 e 2010, por um dos períodos mais difíceis de sua vida. Poucos meses após ter matriculado o filho numa nova escola, percebeu as primeiras marcas de agressão na criança. A situação foi se agravando e, apesar dos apelos, ela diz ter sofrido com o descaso do colégio. O relato exemplifica aquele que ainda parece ser um tabu em muitas salas de aula: o bullying. Apesar de uma lei estadual, sancionada em setembro do ano passado, determinar que as instituições de ensino públicas e particulares notifiquem todos os casos de bullying à polícia ou aos conselhos tutelares, um levantamento feito pelo GLOBO mostra que a regra não tem sido obedecida na prática.

- Meu filho chegou ao ponto de ter uma crise renal em consequência do que sofria na escola. Descobrimos que outros alunos não o deixavam ir ao banheiro, alegando que assim ele estaria cumprindo uma prova para poder pertencer a um grupo. Levando em conta que o bullying resulta em lesões corporais, ofensas morais e danos psicológicos, a escola não poderia ter ficado inerte aos fatos - reclama a psicopedagoga, que teve que trocar o colégio da criança e está finalizando um livro contando os problemas por que passou.

Sem encontrar eco na instituição de ensino, um dos caminhos adotados pela mãe foi procurar o Conselho Tutelar da região. A partir da lei do ano passado, a iniciativa obrigatoriamente deveria ser das próprias escolas, sob pena de multa de até 20 salários-mínimos, mas não é o que tem ocorrido. O GLOBO entrou em contato com os dez conselhos da capital. Em oito, a informação foi a mesma: com raríssimas exceções, os relatos de bullying sempre chegam somente através dos pais. Um conselho não quis passar informações sobre as notificações e no outro, ninguém atendeu às ligações.

O delegado Fábio Corsino, titular da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav), também afirma que não tem sido informado pelos colégios.

- Seria importante que essas notificações chegassem; a escola tem a obrigação de agir. O bullying em si não é tipificado como um crime, mas pode haver uma série de delitos envolvidos nessa prática, como lesão corporal ou constrangimento ilegal. O ideal é que possamos fazer uma avaliação caso a caso - diz Corsino, ressaltando que a unidade conta com profissionais de apoio, como psicólogos.

Apesar de a lei estar em vigor há mais de seis meses, o deputado autor do texto, André Corrêa (PPS), atual líder do governo na Alerj, admite que a regra não vingou. Até agora, segundo o parlamentar, nenhuma escola foi multada:

O bullying não é novidade nas escolas, mas a discussão em torno do problema voltou à tona nos últimos dias após a divulgação de relatos em que Wellington Menezes de Oliveira, responsável pelo massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, utiliza agressões sofridas no colégio como uma das justificativas para a carnificina. Autor do livro "Manual antibullying", o psiquiatra Gustavo Teixeira afirma que, isoladamente, a prática não pode ser considerada responsável pela tragédia:

- O bullying pode ter sido um dos gatilhos, mas para uma pessoa que já tinha uma doença psiquiátrica. O que pode ter ocorrido é que a prática acabou fazendo com que aquela loucura fosse ambientada na escola, como ocorreu.

PESQUISA - CRESCIMENTO DO RS PASSA PELA EDUCAÇÃO

Crescimento do RS passa pela educação - ZERO HORA 17/094/2011

Investir em educação é mais do que um bordão repetido à exaustão em discursos e campanhas políticas. Essa é a medida mais citada entre os gaúchos para fazer o Rio Grande do Sul se desenvolver. A constatação integra a segunda parte da pesquisa Ibope encomendada pelo Grupo RBS. No domingo passado, ZH divulgou a avaliação dos eleitores a respeito do novo governo estadual.

Questionados pelo Ibope, os gaúchos apontam o investimento em educação como a estratégia que mais contribuiria para o crescimento do Rio Grande do Sul. Diante da perda da qualidade no ensino, 46% dos entrevistados apostam na recuperação do setor como forma de desenvolver o Estado.

Entre 2005 e 2009, o Estado caiu posições no ranking do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que monitora o desempenho dos estudantes. Em 2006, por exemplo, a rede estadual tinha a sexta melhor nota do país até a 4ª série e caiu para o nono lugar em 2009.

Investir em Educação hoje, segundo especialistas, não significa construir mais escolas, como era o entendimento de décadas anteriores, mas melhorar a qualidade. O Rio Grande do Sul é o 16º Estado que mais investe em educação básica (R$ 2.369,02 por aluno) e aplica menos da metade dos R$ 4.834,43 que Brasília, primeiro da lista, conforme levantamento de 2010 do movimento Todos pela Educação.

A segunda ação identificada pela pesquisa como prioridade para o desenvolvimento é o combate à corrupção. Do total, 23% a defenderam como medida para fazer o Estado crescer, e 35% apontaram que a falta de investimentos públicos ao longo de diferentes governos foi motivada por esse mesmo problema. Desde 2007, sucessivas ações de órgãos policiais e de fiscalização revelam entranhas da corrupção envolvendo agentes públicos e privados. As de maior repercussão foram a fraude dos selos, na Assembleia, a Operação Rodin, que devassou o Detran, e a Operação Solidária, que se debruçou sobre diferentes negociatas envolvendo obras.

Ainda na pergunta sobre as medidas para fazer o Rio Grande do Sul crescer, chama a atenção o fato de a reforma da previdência estadual ter sido apontada em primeiro lugar em apenas 2% das respostas. O crescente déficit nessa área é considerado por especialistas em finanças uma das maiores dificuldades para o Estado cumprir os repasses mínimos constitucionais para educação e saúde. A cada ano, o poder público gasta mais com previdência e menos com educação. Em 1975, 26,5% das despesas do Estado iam para a educação e 13,1% para a previdência. Em 2009, essa relação se inverteu e o gasto com aposentados e pensionistas consumiu 30% do orçamento executado e somente 10,5% foram para o sistema educacional.

A pesquisa, encomendada pelo Grupo RBS, ouviu 602 pessoas nos dias 2 e 3 de abril. A margem de erro é de quatro pontos percentuais, para mais ou para menos.

MEDIDAS PARA O CRESCIMENTO DO RS

- Investir em Educação - 46%
- Combate à corrupção - 23%
- Apoiar a agricultura - 10%
- Investir em infraestrutura - 9

FALTA DE INVESTIMENTOS

- Corrupção - 35%
- Falta de vontade dos governadores - 17%
- Brigas políticas/falta de entendimento - 9%
- Sonegação de tributos - 8%
- Tamanho da dívida pública - 8%

CORRUPÇÃO PREOCUPA MAIS OS HOMENS

O combate à corrupção como fator para o crescimento do RS é mais citado entre os homens (27%) do que entre as mulheres (19%). Entrevistados entre 40 e 49 anos (27%), com renda familiar de até dois salários mínimos (26%) e aqueles com até a 4ª série do Ensino Fundamental (30%) citam o combate à corrupção acima da média dos entrevistados (23%).

EDUCAÇÃO ENCONTRA MAIOR APOIO NO CURSO MÉDIO

O investimento em educação como forma de desenvolver o Estado encontra maior apoio entre os entrevistados com idade entre 30 e 39 anos (54%) e entre aqueles que cursaram o Ensino Médio (56%). O tema também ganha maior destaque entre os gaúchos com renda familiar entre dois e cinco salários mínimos (52%)

BRIGAS E SONEGAÇÃO

As brigas políticas como razão para a falta de investimentos no Estado chama mais a atenção das mulheres (11%) do que dos homens (7%). Os mais velhos, acima de 50, também destacam esse ponto (11%). A menor preocupação com os desentendimentos está entre os 30 e 39 anos (5%). A sonegação de tributos como razão para a falta de investimentos ganha destaque entre os entrevistados de 40 a 49 anos (10%) e com Ensino Superior (15%). Os homens estão mais preocupados com o tema (9%).

DEFESA DO FUNCIONALISMO

A manutenção de direitos e benefícios do funcionalismo tem mais defensores entre os mais jovens, de 16 a 29 anos (53%), e entre os gaúchos com Ensino Médio (52%). Já a redução de direitos e benefícios de servidores públicos tem maior apoio entre os homens (47%) do que entre as mulheres (41%). O índice chega a 48% entre os entrevistados entre 40 e 49 anos. Por outro lado, a retirada de direitos e benefícios do funcionalismo perde espaço entre aqueles com renda de até dois salários mínimos (41%)

CONSELHÃO DESCONHECIDO

Criado por Tarso para debater grandes temas do Estado e sugerir projetos e políticas públicas ao Executivo, o Conselhão só é conhecido por 16% dos entrevistados. A nova estrutura é mais conhecida entre aqueles com Ensino Superior (34%) e entre os gaúchos com renda familiar superior a cinco salários mínimos (21%). O índice fica em 9% entre aqueles com renda de até dois mínimos.

ALERTA NA ESCOLAS - A PERDA DA AUTORIDADE

ALERTA NA ESCOLAS

Dá-se o nome de conflito de gerações ao descompasso entre uma geração e outra no convívio cotidiano. Acostumamo-nos a relacionar tal desencontro com as relações familiares, já que tão somente a intimidade sacrossanta da família permitia-se a esses esbarrões de convivialidade. Hoje, no entanto, faz-se necessária uma importante reflexão sobre a extensão do conflito em questão, uma vez que as gerações mais jovens – fruto de uma miscelânea pedagógica conceitual – não restringem os arroubos naturais da tenra idade à família, infringindo à escola, na figura do professor, a delicada e ao mesmo tempo pesada tarefa de gerenciar esses conflitos.

Fato recentemente noticiado pela mídia impressa e televisiva – com fartura de imagens e áudio: um professor já experimentado, porém afastado por algum tempo do ambiente escolar, depara com uma situação comum em sala de aula. No caso, uma estudante do Ensino Fundamental, que se insurge contra alguma demanda pedagógica e, sem vislumbrar o limite entre sua vontade e a tarefa proposta, promove a desestruturação do mestre. Alçado à posição desequilibrante do fato em si, não consegue encontrar outra alternativa, frente ao restante da turma, a não ser obrigar a aluna, de modo truculento, a escutá-lo e fazer o que era pedido.

Teria esse professor outras estratégias para lidar com o problema? De que maneira o restabelecimento da harmonia no lugar da aprendizagem poderia acontecer? Não faltarão concepções teórico-práticas para ilustrar as melhores atitudes a serem tomadas pelo professor, adulto, com experiência, afinal, os pensadores da educação estão infiltrados no cotidiano do pedagogo. As faculdades de Educação recheiam as apostilas com ideias pós-modernas sobre o tema, e também haverá muitos a dizerem que a reciclagem é fundamental. Mas e na prática?

O dia a dia do quadro-e-giz, do professor-psicólogo-pai-e-mãe, do mestre que deseja trazer seu conhecimento para os alunos, tem muito a dizer. Cabem nesta caminhada as teorias, mas estas, infelizmente, contemplam quase sempre situações-moldura, idealizações do fazer pedagógico. Esse professor se destemperou porque a distância – talvez não da idade, mas do chão da sala de aula, não permitiu que ele se colocasse no ponto de vista do observador e se posicionasse de outra forma. Clarifique-se aqui que a agressão nunca é bem-vinda, mas é um sintoma claro e evidente de que algo muito grave está acontecendo com e entre os envolvidos. Quando ele teve outros alunos, em outros tempos, conseguia “dar” sua aula sem dificuldades, porque a tênue linha que separa o respeito pelo educador da indiferença pela sua figura ainda existia. Há alguns, não muitos anos, a orientação da família era de respeito pelo professor. Será que hoje os responsáveis pelo educando – pais e mães – estão dando as mesmas diretrizes?

Seguindo nessa mesma direção, faz-se outro questionamento: será que os jovens educadores – ou trabalhadores da educação – que hoje habitam as escolas, muitos apaixonados pelo ensinar, desenvolveram técnicas para evitar e, mais precisamente, lidar com estas formas de enfrentamento? Não estarão muitos deles fazendo de conta que nada acontece porque não se pode fazer nada? Não estarão simplesmente relevando a desordem, a falta de respeito, a deseducação em nome de um ensinar mais liberal, ou “pós-moderno”? Ou, mesmo, não estão preparados, saturados de muita teoria e pouca prática?

Sinto muito pelo que aconteceu ao professor, pela infelicidade de seu descontrole diante do evento da sala de aula, mas sinto também pelo que estamos deixando de fazer como educadores, seja a idade que tivermos, seja a teoria pedagógica que nos guie, no sentido de tentar melhorar nossa dignidade como professor na sala de aula, resgatando nossa importância junto à família e, consequentemente, junto à sociedade. A família, independentemente de como seja constituída, precisa ser chamada à escola para compreender o quanto é difícil ensinar, hoje, especialmente àqueles cujos pais e mães abdicaram da tarefa de educar, legando à escola duplo papel.

Marcia Eliza Guglielmi Leite - professora da Rede pública do RS - Zero hora 17/04/2011

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Este caso revela algo similar do que ocorre no meio policial, onde o estresse diante do esforço inútil sem continuidade que desvaloriza, desmoraliza e inutiliza a autoridade pode levar um profissional ao nível extremo que é a intolerância e daí resta apenas um passo para a violência se não tratada. Esta observação, fruto da experiência, pode ser tratada por médicos e especialistas com muito mais propriedade.

AMAR OU ARMAR-SE

O tom aterrador da matança naquela escola do Rio de Janeiro foi tão cruel e inexplicável, que nos fez perder o sentido do entendimento. Nada perturba tanto quanto os instantes seguintes às tragédias. O choque nos deixa apalermados: a cognição se esvai e entramos no delírio. Um delírio às avessas, que fantasia com o absurdo e cai no exótico do exótico.

Assim, já que é impossível explicar por que o rapazote de 23 anos foi à antiga escola para matar a esmo e matar-se, a “solução” surgiu como trovão na tontura. E os sábios de plantão proclamaram: se a arma matou, proíbam-se as armas e tudo se resolverá.

Lembram-se do motorista enlouquecido que jogou o carro contra centenas de ciclistas em Porto Alegre? E se, para evitar a repetição dessa loucura, proibíssemos os automóveis nas ruas da cidade?

Os sábios de plantão têm mais “soluções”: levar policiais às escolas, mesmo que pareçam quartéis ou fortalezas, com cadernos misturados a cassetetes e pistolas. Em vez de se educar pela compreensão e pelo amor, reprima-se pela ostentação do medo! Em vez de amar, armar-se.

Não se toca nas causas estruturais da violência. Ou simulam que não há causas e que a vida nada engendra. Ou que o violento nasce em geração espontânea, por fatalidade genética ou decisão do demônio e, assim, a violência está acima da capacidade humana de enfrentá-la.

Olhamos só a violência milenar, esquecendo que o modelo atual de sociedade faz do ato violento um bem de consumo que usamos e aplaudimos. A “nova música” é brusca nos acordes e vulgar nas letras. Os desenhos infantis na TV, com correrias, gritos, sons duros e cores berrantes, abrem caminho à aceitação futura da síntese disso tudo – a violência. Boa parte da publicidade comercial exibe conquista e violência como meta, em imagem ou linguagem de baixo calão. O hedonismo substitui a integração amorosa e rebaixa a beleza do erotismo ao nível de cloaca.

Surgem até novas igrejas que cultuam o poder do dinheiro, do “vencer na vida custe o que custar” e ignoram o amor cristão. Mas em nada disto se vê gênese alguma de violência!

A psique humana é inexplicável e oculta. Freud, Jung ou Lacan, a psicanálise ou a psiquiatria e os psicotrópicos, apontaram caminhos para equilibrar ou mudar comportamentos, mas não desvendaram os mecanismos da mente humana. A tomografia é capaz de fotografar ou filmar as funções cerebrais, mas não desvenda o que move os instintos e os desejos. Nem o que distingue a bondade da perversão. Sabemos, porém, que a mente se forma e a alma se constrói.

E, nisso, o rapazote assassino deixou vestígios de si. Engendrado pelo delírio, fantasiou-se de mártir e, antes de sair a matar (e matar-se) cortou a barba, deixou carta ordenando que “mãos impuras” não tocassem no seu cadáver e um vídeo de despedida atacando “os covardes que aniquilam inocentes”. Ao descrever os demais, descreveu-se a si mesmo.

Ao sentir-se desprezado em vida, apostou no post mortem: fez pontaria nas meninas e matou 10 delas. Acertou em dois meninos por acaso ou por desvio da bala. O alvo eram as pré-adolescentes, pois queria exterminar as fêmeas. Sentia-se macho absoluto no gatilho. Não no afeto.

Quem inventou o espelho envenenou a alma humana, dizia Fernando Pessoa. O rapazote assassino queria ser visível, espelhar-se nos machos do Big Brother Brasil. Sem TV, copiou os anônimos terroristas palestinos que, antes de puxar o fio da bomba guardada no corpo, despedem-se num vídeo pensando passar à História.

FLAVIO TAVARES, JORNALISTA E ESCRITOR - ZERO HORA 17/04/2011

sábado, 16 de abril de 2011

À MARGEM DA ELITE

Recentemente, participei de conferência na área da estratégia, com professores de todo o mundo. Em paralelo ao relevante avanço para administração, surge uma notícia que se propagou pelo país: dos emergentes, nosso país é o único a não figurar na lista das cem melhores universidades. Rússia, Índia e China (dos emergentes Bric) conseguiram representação. Mais uma vez, ficamos de fora.

Qual será o problema? Nossos acadêmicos não têm qualidade, ou os professores são na totalidade medíocres? Certamente, não é o caso, apesar de nossa perspectiva subdesenvolvida de ensino. Quem são os responsáveis pelo problema? Creio não ser questão unidimensional, e envolve, além das pessoas, a cultura do ensino brasileiro, uma por vezes incompetente gestão governamental na educação, e muito deriva de nossas universidades, públicas e privadas. Antes mesmo, na educação fundamental e média, alunos são ensinados a decorar, fornecer respostas prontas para questões absolutas (pacto pela mediocridade). O mundo real não é compatível com livros-textos, especialmente quando estes já estão defasados.

Das universidades públicas, se observa por vezes o corporativismo velado, a disputa irresponsável das “cinderelas acadêmicas” para saber qual é mais bela, enquanto candidatos ávidos por crescimento amargam na espera por uma vaga de mestrado ou doutorado. Não se pode generalizar, pois grandes educadores estão nestas instituições, assim como nas privadas a existência da incompetência também é evidente. Como docente e pesquisador, meu maior incômodo é a falta de foco em pesquisa. A educação em muitos ambientes, inclusive nas universidades, insiste no modelo do giz, onde o computador portátil é uma pseudoameaça, como se antes problemas não ocorressem. O modelo tradicional é melhor? Não é, porque não são ferramentas, mas a maneira de utilizar suas potencialidades que determinam sucesso ou fracasso, foco ou displicência. Surpreen- do-me ao ver colegas que proíbem os computadores em sala de aula, que focam o professor na condição de depositário dos saberes e o aluno como mero receptor.

Gestão escolar míope, que acredita ser o produzir inferior ao reproduzir, infelizmente ainda é o modelo dominante, o estilo “colegião” em sala de aula. Quando na universidade há colegas de curriculum vazio, o problema se agrava, em especial quando a fragilidade está nos comandantes. Muitas coordenações de curso e seus fiéis e incompetentes escudeiros corroboram com a extinção dos professores pesquisadores, reais desenvolvedores de ciência (lembrando que incompetentes jamais andam solitários, como destacado na coluna de Paulo Sant’Ana em ZH de 25 de fevereiro). O perigo dessas culturas de ensino é que o aluno acaba por se apaixonar pelos atores, aqueles que fazem de conta na docência superior, vistos como referências apesar do blá-blá-blá vazio. Pode o docente que não cocria valor com outros acadêmicos “ensinar” alguém, se já não aprende mais? A resposta pode não ser tão simples, mas certamente o professor que pesquisa e envolve seus alunos contribui mais com o país do que aquele que apenas paga o churrasco.

Flávio Régio Brambilla, Doutor em Administração (Marketing) e pesquisador, professor titular do curso de Administração da Ulbra - À margem da elite educacional - ZERO HORA 16/04/2011

VIOLÊNCIA NA ESCOLA

EDITORIAL ZERO HORA 16/04/2011

É ampla, e por isso não deve se restringir à rede pública estadual, a tarefa civilizadora dos comitês comunitários criados para combater a violência no meio escolar. Idealizados pelo governo do Estado, os comitês têm a missão de finalmente pôr em prática medidas debatidas à exaustão, mas nem sempre transformadas em ações concretas. Como a iniciativa é adotada num momento em que, ainda traumatizado, o país tenta compreender a chacina ocorrida na escola do bairro de Realengo, no Rio, espera-se que a capacidade de mobilização dos gaúchos não se esgote depois de passado o impacto provocado pela tragédia.

O esforço integrado é a grande virtude da ideia dos comitês, que corrige uma falha notada não só no Rio Grande do Sul. Providências no sentido de evitar especialmente o bullying nos colégios são da responsabilidade de todos. O Executivo, não só como mantenedor de redes escolares, mas como executor de políticas públicas que interferem em todo o entorno do meio colegial, deve disponibilizar quadros e recursos nesse esforço. Os educandários, nem sempre preparados para lidar com a questão da violência, também são desafiados a enfrentar um problema que não se restringe à rede pública e ocorre sem distinção de classes sociais. Ambos devem atuar em conjunto com as comunidades, representadas por pais e lideranças, e outras instituições, ou qualquer iniciativa será condenada ao fracasso.

Todos os envolvidos serão obrigados a reconhecer a omissão quase generalizada no combate aos maus-tratos, que se tornaram parte da rotina dos colégios, na maioria das vezes por serem encarados com indiferença pela direção, pelos professores e, principalmente, pelos próprios pais dos estudantes. O que importa é a ação concreta no sentido de reparar essa letargia, abalada pelo episódio de Realengo. Espera-se que as deliberações levem em conta não apenas as ameaças externas, como as drogas, e internas, como o famigerado bullying, mas todos os aspectos envolvidos na violência e nas mais variadas formas de indisciplina escolar, e que as decisões privilegiem o envolvimento comunitário e a prevenção.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

DESVIO DE R$ 11 MIL DA EDUCAÇÃO

PF faz operação para investigar desvio de R$ 11 mi da educação - KÁTIA BRASIL, DE MANAUS -FOLHA ONLINE, 14/04/2011

A Polícia Federal do Amazonas informou nesta quinta-feira que cumpre dez mandados de busca e apreensão na Prefeitura de Tefé e na sua representação em Manaus para tentar obter provas de um suposto desvio de recursos de convênios do Fundeb.

A estimativa é que o tenham sido desviados R$ 11 milhões.

Segundo a PF, a ação, chamada de Operação Imperador, tem o apoio de auditores da Controladoria Geral da União e de 50 agentes federais. Nesta fase da operação, não haverá prisões.

Os convênios com o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) foram assinados com a Prefeitura de Tefé em 2008 e 2009. Neste período, a prefeitura era administrada pelo ex-prefeito Sidônio Trindade Gonçalves (PHS), que foi afastado do cargo pela Justiça Eleitoral por inelegibilidade, em 2010.

Gonçalves exerceu dois mandatos de prefeito de Alvarães (AM), entre 1997 e 2004, quando transferiu seu domicílio eleitoral e se desincompatibilizou a tempo de concorrer ao cargo de prefeito de Tefé, para o qual foi eleito em 2004.

Gonçalves concorreu à reeleição em 2008. Dois anos depois, a Justiça Eleitoral aplicou a inelegibilidade prevista na Constituição Federal. Ele recorreu da decisão, mas não obteve sucesso na contestação.

Em janeiro, a Justiça Eleitoral promoveu nova eleição no município de Tefé. Assumiu o cargo de prefeito, Jucimar Veloso (PMDB).

O STF E O ENSINO BÁSICO

- OPINIÃO, O Estado de S.Paulo - 14/04/2011


Os secretários estaduais de Educação se mobilizaram para tentar evitar mais uma derrota judicial no Supremo Tribunal Federal (STF), que nos próximos dias deverá encerrar o julgamento da ação direta de inconstitucionalidade (Adin) movida pelos governos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e Ceará contra a Lei 11.738, que unificou os vencimentos dos professores da rede pública de ensino básico. Os secretários chamam a atenção do Supremo para os custos em que incorrerão os Estados, caso não saiam vitoriosos no último ponto que ainda resta para ser discutido. Quando a lei foi aprovada, há três anos, 37% dos professores recebiam menos do que o piso.

Na semana passada, o Supremo derrubou duas das três principais questões suscitadas na Adin patrocinada pelos governos estaduais. A Corte considerou a Lei 11.738 constitucional e decidiu que as gratificações e benefícios funcionais - como anuênios, quinquênios e bônus de produtividade - não podem ser usados pelas Prefeituras e Estados para compor o valor do piso nacional. Para o Supremo, o piso corresponde ao vencimento básico do cargo de professor, não podendo ser interpretado como remuneração global.

A terceira questão - relativa ao dispositivo da lei que obriga os professores a dedicar um terço de sua carga horária para planejamento e aperfeiçoamento profissional - não foi decidida por causa do avançado da hora e pela ausência dos ministros Cezar Peluso e José Antônio Toffoli. Quando foi suspenso, o julgamento estava com 5 votos favoráveis à tese de que a determinação é constitucional e 4 votos contrários. O STF aguarda as manifestações desses dois magistrados, para encerrar o caso em caráter definitivo.

Para os secretários estaduais de Educação, o aumento da atividade extraclasse do professorado da rede pública dos atuais 20% para 33% - no caso dos docentes que cumprem 40 horas semanais - não representa garantia de melhora da qualidade do ensino e ainda eleva drasticamente os gastos com pessoal, comprometendo o planejamento orçamentário. Segundo os secretários de Educação, se o STF não derrubar esse dispositivo, os Estados e os municípios precisarão contratar mais professores para completar o tempo reservado às aulas.

"Basicamente, para cada cinco professores será necessário contratar mais um. Temos 18 mil professores e as novas contratações aumentariam em R$ 4,8 milhões mensais a folha de pagamento", diz Maria Nilene da Costa, secretária de Educação de Mato Grosso do Sul. Em São Paulo, o professor com jornada de 40 horas semanais tem 7 horas para atividade extraclasse - 6 a menos do que as exigidas pela Lei 11.738 e o governo estadual - que conta com 243 mil professores - teria de contratar mais 80 mil. No Rio Grande do Sul, que tem 83 mil docentes, seriam necessários mais 27,4 mil.

A maior oposição ao aumento das horas de atividade extraclasse vem de Estados cujos gastos com pessoal estão próximos do teto fixado pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Pela LRF, a folha de pagamentos do funcionalismo não pode ultrapassar 49% da receita corrente líquida - em Santa Catarina, ela já corresponde a 48%. Os governadores alegam que, se o STF não derrubar o aumento da atividade extraclasse, eles ficarão num impasse jurídico. Para cumprir o que manda a Lei 11.738, terão de descumprir a LRF. Se cumprirem a LRF, cujas sanções por descumprimento são severas, terão de desobedecer a Lei 11.738.

Quando esta lei foi sancionada, dois meses antes do início da campanha eleitoral municipal de 2008, governadores e prefeitos acusaram o MEC de, com as novas medidas, ter angariado prestígio político junto às entidades de docentes, deixando aos municípios e Estados pesados encargos financeiros. Três anos depois, cabe ao Supremo decidir um problema que poderia ter sido evitado, caso governos federal, estaduais e municipais tivessem discutido melhor e com mais racionalidade como aplicar uma lei de fundamental importância para a modernização do ensino básico.

CONFLITO EM AULA ENTRE PROFESSOR E ALUNA

CONFLITO EM AULA. Mãe registra queixa contra professor por agressão à filha. Colega da estudante registrou imagens do episódio com o telefone celular - LEANDRO BECKER E MATEUS RODIGHERO, ZERO HORA 14/03/2011

Uma suposta agressão em sala de aula virou caso de polícia em Passo Fundo, no norte gaúcho. A mãe de uma aluna registrou ocorrência contra o professor de ciências que teria agredido a filha de 11 anos. Um estudante registrou com o celular o momento em que o educador segura pelo braço e força a menina a voltar à classe.

O fato ocorreu por volta das 10h de ontem, minutos antes do recreio, na turma da 5ª série da Escola Estadual Anna Luísa Teixeira. Enquanto a aluna disse ter apenas ido levar um chiclete ao lixo, o professor afirmou que perdeu o controle após ter sido provocado pela estudante.

Rosali Facco, 38 anos, disse que ficou sabendo da suposta agressão à filha quando a mãe de uma colega da menina lhe mostrou o vídeo. Assustada com as imagens, ela decidiu procurar a polícia e revelou que a menina já havia tido problemas de relacionamento com o professor há cerca de um mês.

– Na primeira vez, ela disse ter tomado um tapa no rosto, mas não havia prova. Dessa vez, a agressão foi registrada – ressalta.

A direção da escola admitiu que o professor se excedeu e disse que ele deveria ter saído da sala e buscado apoio para que fosse tomada uma atitude e a aula pudesse prosseguir normalmente. O caso foi comunicado à 7ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), e o professor pode ser afastado.

– Faremos uma avaliação pedagógica sobre o que houve e, depois, trabalharemos o episódio – destaca Gláucia da Veiga, diretora da escola.

INSEGURANÇA - REDE DE DROGAS PERTO DE COLÉGIO

REDE DA DROGA - Traficantes agiam perto de colégio - ZERO HORA 14/04/2011

A BM desmontou ontem um ponto de tráfico de drogas que funcionava em uma casa vizinha ao Colégio Cristo Rei, em Erechim.

Nos fundos da casa, há uma cerca com uma abertura que dá acesso à escola. Foram apreendidas quatro pedras de crack e R$ 500. A dona da casa, uma mulher de 29 anos, foi presa em flagrante por tráfico de drogas.

AULAS SUSPENSAS. Zelador de escola é morto a facadas

Um homem foi morto a facadas ontem em Alegrete. Francisco Munhoz Baddo, 60 anos, trabalhava como zelador na Escola Municipal de Educação Básica Silvestre Gonçalves. Por volta das 8h, a vítima foi surpreendida por um homem a cavalo.

O matador desferiu sete golpes de facão. O motivo seria um desavença. As aulas na escola foram suspensas nos dois turnos até segunda-feira.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

ARMAS NA MOCHILA


Escolas flagram alunos com pistolas. Além de cadernos, dois alunos de escolas da Capital levavam ontem armas na mochila.CAROLINA ROCHA, ZERO HORA 13/04/2011

Um dos flagrantes foi feito pela manhã, no bairro Partenon. À tarde, com um estudante do bairro Passo das Pedras, foi encontrada outra arma. As pistolas localizadas com os adolescentes surpreenderam os policiais. Em um dos casos, o garoto estava com uma pistola 9 mm, de fabricação israelense. Os dois casos chamaram a atenção dos gaúchos por ocorrer menos de uma semana depois de um atirador matar 12 adolescentes em uma escola de Realengo, no Rio de Janeiro, e se suicidar. O ataque chocou o país e ganhou repercussão internacional.

Arma descoberta após cair da bolsa

Eram 10h30min quando a orientadora educacional Janaína Costa, 32 anos, da Escola Estadual Dr. Oscar Tollens, no bairro Partenon, viu a pistola calibre 22 cair de dentro da mochila de um aluno.

– A mochila estava meio aberta e vi a arma caindo. Juntei rapidamente para que os alunos não percebessem – contou.

Aluno da 5ª série, o garoto de 14 anos, foi levado à diretoria. O PM residente da escola foi chamado e pediu ajuda dos colegas do 19º BPM. Aos policiais, o estudante contou que a arma era herança de um amigo, já morto, e que andava com ela para se defender de ameaças. No entanto, o garoto não disse por quem estava sendo ameaçado.

Ao prestar depoimento ao delegado Flávio dos Reis Pereira, ele decidiu calar-se. Autuado em flagrante por porte ilegal de arma, o adolescente foi encaminhado ao Ministério Público que o denunciou pelo mesmo crime.

O adolescente terá de cumprir medida socioeducativa de liberdade assistida de seis meses e mais 20 semanas de prestação de serviços comunitários.

O Juizado da Infância e Juventude, que determinou a medida, também encaminhou o garoto para avaliação psiquiátrica e psicológica.

Santa Maria - um flagrante também causou preocupação.

Uma estudante da 6ª série foi encontrada com um punhal, na Escola Estadual de Ensino Fundamental Paulo Freire. O objeto foi visto por uma colega, entre os materiais escolares da garota de 14 anos. A instituição atende a cerca de cem crianças em situação de vulnerabilidade. Para o diretor da escola, Claiton Diniz do Prado, a estudante poderia estar com arma para se defender.

PORTO ALEGRE - Informação anônima leva BM a aluno armado



Foi por uma informação anônima ao telefone 190 que permitiu a integrantes do 20º Batalhão de Polícia Militar (20º BPM) flagraram um aluno da Escola Municipal Lauro Rodrigues, na Vila Ingá, no bairro Passo das Pedras, armado com uma pistola nove milímetros, de fabricação israelense.

Segundo a Brigada Militar, os PMs foram até a escola durante a tarde e, com a autorização da direção, revistaram a mochila do estudante. Conforme havia sido detalhado pelo informante da polícia, a arma e as munições estavam dentro da mochila do aluno da 7ª série, um adolescente de 16 anos.

De acordo com o delegado Flávio dos Reis Pereira, do plantão do Departamento Estadual da Criança e do Adolescente (Deca), o aluno não tinha registros anteriores de infrações.

Conforme Pereira, o garoto recebeu a orientação do advogado para não prestar depoimento aos investigadores. O estudante foi autuado em flagrante por porte ilegal de arma de uso restrito.

O garoto foi encaminhado ao Ministério Público. Devido ao horário do flagrante – fim da tarde de ontem –, ele só deverá ser apresentado na manhã de hoje no Judiciário, que deverá definir eventual medida socioeducativa.

terça-feira, 12 de abril de 2011

POLICIAL HERÓI - PREFERIA NÃO RECEBER A HOMENAGEM


PROMOÇÃO.'Preferia não receber a homenagem', diz PM promovido por bravura em massacre de Realengo - 12/04/2011 às 10h57m - Ediane Merola


RIO - Três policiais militares que participaram da ação na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na quinta-feira passada, foram promovidos por ato de bravura, na manhã desta terça-feira, durante cerimônia no Quartel General da corporação. O terceiro-sargento Márcio Alexandre Alves, que baleou o atirador Wellington Menezes de Oliveira, mudou de patente e agora é segundo-sargento. Os cabos Denilson Francisco de Paula e Ednei Feliciano da Silva, que ajudaram a socorrer as vítimas do assassino, passam a ocupar o posto de terceiro-sargento. Alves, que recebeu a promoção das mãos do presidente da República em exercício, Michel Temer, estava agradecido pelo reconhecimento, mas lamentou ter que receber a homenagem:

- Preferia não estar recebendo essa homenagem. Preferia que as crianças estivessem aqui hoje - disse Alves, emocionado. - Há cinco anos, mais ou menos, eu não tinha a necessidade de usar a minha arma em uma ação, só durante os treinamentos. Mas sou policial, escolhi essa profissão. Queria ser desde criancinha e esse é um sonho realizado.

O comandante geral da PM, coronel Mário Sergio Duarte, disse que os policiais agiram com coragem, profissionalismo e senso de oportunidade para evitar um morticínio ainda mais grave em Realengo. Para o comandante, o crime ocorrido na escola foi um "massacre inominável", que não pode entrar para a história como mais um dia de fúria e infâmia. Mário Sergio usou uma citação retirada do alcorão para encerrar seu discurso:

- As crianças são ornamento da vida neste mundo - disse ele, acrescentando que o livro sagrado dos muçulmanos não deve ser associado à tragédia ocorrida na Zona Oeste.

O presidente em exercício, Michel Temer, também falou para os policiais. Ele destacou a importância da parceria entre os governos federal, estadual e municipal e elogiou a política de segurança fluminense, com iniciativas como a implantação das unidades de polícia pacificadora (UPP). Para Temer, o massacre foi um ato tresloucado, cometido num momento de desatino:

- Quando se fala em violência e criminalidade no nosso país, sempre se pensa no combate à criminalidade mais rotineira, o assalto à mão armada, o latrocínio, o homicídio. Mas esse fato que ocorreu em Realengo revela uma outra espécie de violência, que é a violência de pessoas que, de repente, se desajustam e cometem desatinos.

DESVIOS E DESPERDÍCIO NO ENSINO

DESPERDÍCIO NO ENSINO - EDITORIAL ZERO HORA 12/04/2011

Num país carente de recursos para atender a demandas em áreas prioritárias, preocupa a informação de que o Ministério da Educação (MEC) repassou R$ 17,1 bilhões a governos estaduais e municipais desde a criação do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), em 2007, sem que sua aplicação efetiva fosse fiscalizada. Em conse- quência, multiplicam-se os desvios que, apesar de concentrados em Estados e municípios do Norte e do Nordeste, acabam causando impacto em todo o país. Embora os desmandos ocorram desde os tempos do antigo Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef), antecessor do Fundeb, até hoje não foi tomada qualquer providência concreta para apertar os controles ou, ao menos, para definir a quem compete a fiscalização de movimentações tão expressivas, numa área na qual o que mais falta são justamente verbas.

Só para 2011, estão previstos R$ 7,8 bilhões para complementar as dotações para o ensino em locais nos quais os recursos são insuficientes. A preocupação do governo federal é com os 10% de sua competência. Ainda assim, a questão é que, se a fiscalização falha, a destinação adequada dos recursos carreados por Estados e municípios também fica comprometida. Os problemas ocorrem porque a competência de vigiar é delegada a conselhos municipais que, por serem integrados na maioria das vezes por pessoas indicadas por critérios políticos ou por representantes de pais ou professores sem formação específica para auditar contas, geralmente afrouxam os controles. O resultado, muitas vezes, são irregularidades que vão desde licitações fraudulentas até a apresentação de notas frias e o desvio de dinheiro que serviria para pagar os salários dos professores. Por mais difícil que seja a fiscalização de recursos tão pulverizados, esta é uma situação que não pode prosseguir, pois cada centavo tem um significado valioso.

É inaceitável que parte dos bilhões de reais destinados à área educacional continue a se perder pelo caminho simplesmente pela falta de um órgão federal capaz de centralizar a fiscalização. Num primeiro momento, a competência era atribuída ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Hoje, o entendimento é de que caberia à Casa Civil da Presidência da República. Na falta de um entendimento definitivo, os recursos destinados a esta área continuam sendo corroídos até conseguirem chegar ao seu destino final.

Um levantamento aleatório feito pela Controladoria-Geral da União dá uma ideia do volume de desperdício numa área tão essencial para o país. Entre os municípios selecionados, 41% tinham licitações fraudulentas e 58% gastavam os recursos de maneira indevida. Esta é uma situação que não pode ser mantida indefinidamente. Mesmo concentrado em regiões específicas, o descontrole acaba contribuindo para lesar os brasileiros, particularmente os que dependem do estudo para garantir um futuro melhor para si mesmos e para o país.

POLÍTICA ANTIBULLYING

O massacre na Escola Tasso de Oliveira, no Rio, provocou consternação em todo o país, mas é preciso reagir à tragédia não só com reflexões que se esgotem no próprio debate. Ações concretas, a partir da análise do episódio, devem ser acionadas pelo setor público, pelas escolas, por especialistas e pelos pais. Nesse sentido, é positiva a decisão da Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul de estimular a criação de comissões antiviolência nas mais de 2,5 mil escolas estaduais. A iniciativa é particularmente elogiável pelo fato de prever prioridade ao combate ao bullying – a agressão física ou psicológica que humilha pessoas de forma sistemática e que se dissemina de forma alarmante no meio escolar.

Nenhuma motivação justifica a chacina do Realengo. Mesmo que o autor dos assassinatos tenha sido alguém com graves problemas mentais, não há como anistiar seu ato. Wellington Menezes de Oliveira cometeu uma barbárie. Não há, no entanto, como ignorar o conjunto de fatores, já relacionados exaustivamente por especialistas, que se somaram para determinar o que ocorreu. O bullying é um desses componentes. Ex-colegas do homicida relataram, em detalhes, as crueldades sistemáticas às quais Wellington se submetia. São práticas que se repetem nas escolas brasileiras e revelam distúrbios também de seus autores, muitas vezes tratados com negligência pelo ambiente escolar.

As comissões antiviolência a serem criadas nos colégios estaduais reforçam outras iniciativas já adotadas, com o mesmo objetivo, por educandários gaúchos. Escolas são o lugar do aprendizado e da convivência. São também, no sentido mais amplo, o espaço civilizatório, do respeito mútuo e da aceitação das diferenças. O bullying é a subversão desse ambiente. Deve ser combatido, não só porque pais e alunos possam temer a repetição do que ocorreu no Rio. Deve ser banido das escolas em nome de regras elementares da vida em sociedade. Respeitar o outro e suas peculiaridades é uma conduta básica, ética e moralmente inegociável em qualquer circunstância, dentro e fora das escolas.

EDITORIAL ZERO HORA 12/04/2011

segunda-feira, 11 de abril de 2011

CRIANÇAS E JOVENS DE HOJE NÃO SÃO IMORTAIS

Reflexão sobre o massacre no Rio. Wanderley Soares, O Sul, Rede Pampa, 10 de abril de 2011.

Embora haja a certeza da morte quando, ainda infantes, nos tornamos lúcidos e cientes de nosso livre arbítrio, não estamos preparados para este destino previsível e inevitável. No início da caminhada, somos e estamos monitorados unicamente para a vida. Tanto é assim que na infância e na juventude temos apenas uma vaga idéia do que seja a morte para os outros, pois para nós ela é impossível. As crianças e os jovens são imortais. Tudo se fortalece a cada dia. O físico, o intelecto, os amores, as paixões, a sexualidade estão num constante crescendo. Na primeira escolinha, residem nossas primeiras relações, nossos primeiros inimigos, nossos primeiros amores platônicos. Não sabemos bem o que é sexo, mas o tesão nos incendeia. Não sabemos o que é o amor e amamos. Não sabemos o que é ódio e odiamos.

Falo no entorno da minha geração. Saíamos de casa, por mais simples ou pobre que fosse ou mesmo por principesca que nos parecesse, em direção ao nosso primeiro templo com mestres de carne e osso. A escola. Em casa, sentávamos ao lado de nossos irmãos diante de nossos pais. Gente que tinha a nossa cara e o nosso cheiro. Orávamos diante de um mestre invisível. Na escola, éramos colocados em meio a criaturas estranhas, seres que nunca tínhamos antes visto. Nos primeiros recreios, encontrávamos quem morava na nossa rua sem saber de como estávamos colocados sob o mesmo teto, mas em espaços distantes. Assim começavam a ser definidas as nossas primeiras dificuldades e que cabia a cada um de nós resolvê-las. De nada adiantava mamãe saber a tabuada se eu não a soubesse.

Na minha primeira sala de aula deveriam habitar em torno de 40 crianças. Era um grupo escolar do Estado. Meninos e meninas de todas as etnias eram juntados sem nenhum preconceito. Brigas surgiam naturalmente e, naturalmente, havia o armistício e logo eram esquecidas. Todos usavam guarda-pó. Quem não pudesse comprar o uniforme, o Estado fornecia. Ao meu lado sentava uma menina portuguesa. Tinha a minha idade, mas era grande. Porém, ela era mulher e eu me sentia bem homem. Sei lá por qual motivo discutimos. A portuguesa trabalhava na horta de seus pais. Tinha braços e mãos fortes. Deu-me um tapa ao lado do ouvido. Não cai, mas o zumbido ainda hoje permanece em mim. Anos depois, no Exército, chamei um tenente R-2 de bunda-mole. Peguei uma cadeia e não fui promovido a cabo.

A professora de música foi a minha primeira paixão. A sua missão era ensinar hinos pátrios. Numa das aulas, ao piano, ela executou trechos de tico-tico no fubá, de Zequinha de Abreu. Pediu segredo sobre a falcatrua. Guardei o segredo como se fosse apenas meu. Todas essas aventuras eu vivenciei simplesmente por ter não saber o que era a morte. Na infância e na juventude, lembro outra vez, todos nós éramos imortais. Apanhei da portuguesa, não fui promovido a cabo, guardei o segredo de minha primeira paixão porque jamais pereceria por tais delitos. Hoje, no entanto, uma angustia profunda envolve meu coração de simples mortal. Tivesse eu de entrar naquela primeira sala de aula, teria medo. Hoje, as crianças e os jovens já conhecem os cadáveres de seus amiguinhos. Crianças e jovens de hoje não são mais imortais.