Artigo da leitora Deborah Silva de Queiroz, o GLOBO, 23/04/2011 às 17h25m
Na semana após a Prefeitura do Rio anunciar a contratação de porteiros e inspetores de alunos, visando a melhoria da segurança nas escolas municipais cariocas, a direção da minha escola, Escola Municipal Presidente Arthur Costa e Silva , em Botafogo, é punida com uma advertência, porque um aluno, ano passado, evadiu-se da escola, foi para o Quadrado da Urca e pulando da ponte se machucou.
Detalhe: a escola tem uma inspetora que trabalha no turno da manhã e o fato se deu no turno da tarde; não tem porteiro; a entrada fica longe da secretaria por uma falha no projeto arquitetônico, e além de tudo, é "Polo para Educação e Trabalho", ou seja, há um movimento grande de crianças de outras escolas ou que vêm em horário invertido para as atividades extraclasses.
Como pode um professor desempenhar suas funções digna e tranquilamente se, além de ser um educador, ainda tem que ser inspetor de aluno? Já apartei brigas em corredor numa outra escola em que lecionei! Como pode uma direção escolar ser punida uma vez que desenvolve um trabalho pedagógico impecável, com projetos pedagógicos reconhecidos pela comunidade escolar, além de administrativamente nunca ter apresentado problema?
Como pode um professor desempenhar suas funções digna e tranquilamente se, além de ser um educador, ainda tem que ser inspetor de aluno?
O aluno fugiu da escola em Botafogo e foi para a Urca, e o professor que estava em sala de aula foi chamado para esclarecer os fatos na segunda CRE. A nossa parte nós exercemos apesar de todas as precariedades e somos reconhecidos socialmente - a profissão é entendida como um sacerdócio.
O mais curioso é que justamente nós tínhamos elaborado um documento em que sugeríamos a presença de porteiros e inspetores na escola, na quarta-feira 13 de abril, quando ocorreu mais um Centro de Estudos na rede municipal do Rio. Lemos a carta encaminhada pela secretária Claudia Costin e respondemos com as nossas necessidades. Uma semana depois a direção é punida porque o aluno fugiu da escola e se machucou. Podemos concluir, então, que a precariedade levou a uma arbitrariedade por parte da Secretaria Municipal de Educação, que sequer aceitou que as diretoras e a coordenadora pedagógica colocassem seus cargos à disposição, uma vez que nem elas nem a comunidade escolar aceitam essa punição.
Pedimos que essa decisão seja revista, em vista da carência de profissionais que deveriam estar nas escolas cuidando dos alunos e da integridade física e moral dos mesmos.
Estou na rede municipal de ensino há dez anos, lutando diariamente diante da precariedade que gera pequenas tragédias cotidianas, como o aluno que levou uma arma calibre 38 para a escola, que disparou em minha sala de aula na E. M. Estácio de Sá, dentro da Fortaleza São João, felizmente, não atingindo ninguém.
As diretoras deveriam ser punidas? Claro que não! Então, por que essa punição justamente quando é divulgada a carência de segurança nas escolas com a falta de profissionais necessários e imprescindíveis para a segurança dos alunos? O que essa gestão está querendo mostrar? Que se preocupa com a integridade física de seu alunado? Se isso fosse tão verdadeiro as escolas não estariam sem porteiros e inspetores de alunos! E isso é justamente o que a mídia não vê: as pequenas tragédias cotidianas nas escolas municipais do Rio de Janeiro.
Este blog mostrará as deficiências, o sucateamento, o descaso, a indisciplina, a ausência de autoridade, os baixos salários, o bullying, a insegurança e a violência que contaminam o ensino, a educação, a cultura, o civismo, a cidadania, a formação, a profissionalização e o futuro do jovem brasileiro.
EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR
Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.
domingo, 24 de abril de 2011
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