EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

terça-feira, 31 de março de 2015

A VIOLÊNCIA ESTÁ TAMBÉM EM NÓS!



ZERO HORA 31 de março de 2015 | N° 18118


ANTONIO MARCELO PACHECO*



Vivemos na constante iminência da presença das violências, assim mesmo no plural. São violências simbólicas e violências físicas que assaltam sujeitos de grupos e espaços sociais distintos: são professores que apanham de pais e alunos, são adolescentes que matam por motivo fútil, são índices semanais de mortes no trânsito, são as ofensas, as injúrias que violentam a honra, a imagem e o nome de indivíduos e de grupos sociais.

É fácil responsabilizar o Estado como fonte primária dessa produção de violências que homeopaticamente vêm nos tornando imunes, passivos e domesticados ao reagir à violência. Sujeitos das violências que nos amedrontam, nos tornamos reféns desta mesma violência, (re)produzindo-a em tentativas desesperadas no nosso sobreviver.

Contudo, isto é impossível. As violências, precisamos reconhecer com certa dose de coragem, estão na sociedade, nos sujeitos e não somente nos representantes do Estado. Policiar a polícia que mata é uma obrigação cidadã, mas quem tem a coragem para policiar a sociedade sem precisar da farda para construir uma existência razoavelmente segura para a própria sociedade?

Quando pais partem para a agressão contra professores na frente de seus filhos adolescentes, quando jovens saindo de inferninhos que, fechados pela ação do Estado, são reabertos por este mesmo Estado, matam, quando agentes de trânsito são humilhados pela cor de sua pele a partir de preconceitos que estão em todos os grupos sociais, quando observamos que o Brasil tem um índice de homicídios que supera países que estão em plena guerra civil, é obrigatório reconhecer o que queremos desconhecer: temos participação nesse processo na medida de nossa irresponsabilidade.

As violências precisam reencontrar sua matriz básica que está no abandono da ideia de solidariedade, da condição de compromisso e da necessária percepção da empatia que nos torna igualmente sujeitos. Não iguais, mas todos humanos. As violências são sociais, muito mais do que institucionais e é preciso vencer o medo e protagonizar a resistência às violências mesmo que de forma anônima e mundana, mas sempre humana.

*Sociólogo e membro do Grupo Violência e Cidadania da UFRGS

APERTO DO FIES CAUSA DESISTÊNCIA UNIVERSITÁRIA

ZERO HORA 31/03/2015 | 05h03

Alunos desistem da faculdade após aperto nas regras do Fies. Até 20 mil estudantes gaúchos estão com dificuldades para pedir financiamento público

por Erik Farina



Sistema anuncia esgotamento de vagas para maior parte dos cursos Foto: Reprodução Internet / Reprodução Internet


Alunos que recém entraram na universidade na expectativa de acessar o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) começam a desistir dos cursos. Com critérios de seleção mais rígidos, o Ministério da Educação (MEC) passou a limitar o número de vagas. No Rio Grande do Sul, de 15 mil a 20 mil alunos ainda tentam, sem sucesso, obter o financiamento público pela primeira vez, conforme as universidades particulares.

Apenas cerca de 4 mil estudantes gaúchos conseguiram ingressar no Fies neste ano, para um universo de 95 mil que já dispõem do benefício no Estado. Em média, 12 mil novos alunos no Rio Grande do Sul obtém o benefício a cada semestre.

— O problema é que as universidades desconhecem o número de vagas que podem oferecer, e não conseguem definir a situação junto ao aluno. Só o MEC tem essa informação — afirma Bruno Eizerik, presidente do Sindicato do Ensino Privado do Estado (Sinepe).

Conforme o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que gerencia o sistema do Fies, as requisições de novas inscrições são liberadas por instituição de ensino e por curso, conforme critérios de qualidade, distribuição regional e disponibilidade de recursos.

Desde ontem, só conseguem acessar o Fies apenas a alunos com notas superiores a 450 pontos no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) e que não tivessem zerado a redação. O MEC também limitou o financiamento a estudantes matriculados em cursos que não tenham atingido nota máxima em avaliações nacionais.

— Na prática, não é o que está acontecendo. Mesmo alunos com boas notas no Enem e que entram em cursos com nota máxima no MEC têm sido barrados no sistema do Fies — assegura Oto Moerschbaecher, membro do Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas (Comung).

O quadro é bem diferente de anos anteriores, quando os pedidos ao Fies eram aceitos desde que os alunos comprovassem que não poderiam pagar o curso.

Como as aulas já iniciaram, os alunos passaram a ser chamados aos departamentos financeiros para discutir alternativas. Algumas universidades pedem que o estudante assista a aula até 30 de abril, quando terminam as inscrições para o Fies. Outras, condicionam a manutenção dos estudos ao pagamento da mensalidade.

Para muitos, é uma pausa forçada na tentativa de obter diploma. Arlete dos Santos Brochado, 34 anos, ingressou no curso de Fisioterapia na Faculdade Anhanguera de Pelotas no último verão, mas cancelou ontem a matrícula por não conseguir definir a situação com o Fies. A faculdade propôs que ela pagasse uma parte das mensalidades agora e o restante no final do semestre, o que alegou não ter condições de aceitar.

— Só comecei o curso porque sabia que poderia pegar o Fies. Agora, vou aguardar mais um semestre para tentar entrar na faculdade de novo e buscar mais uma vez financiamento — lamenta.

Especialistas veem méritos na tentativa do governo de restringir o acesso ao programa, já que os gastos com Fies subiram exponencialmente nos últimos anos. No entanto, cobram mais clareza quanto aos critérios.

— O modelo que vinha sendo adotado de financiamento não era o mais eficiente. Mas é importante que os novos critérios sejam claros, e que se mantenha o foco na qualidade educacional — afirma Juarez Freitas, especialista em administração pública e professor de Direito na PUC-RS e na UFRGS, para quem a chegada de Renato Janine Ribeiro ao MEC pode marcar um reinício nas discussões sobre financiamento estudantil.

domingo, 29 de março de 2015

SEM EDUCAR, NÃO SE AVANÇA



Renato Janine Ribeiro, novo ministro da Educação: "Sem educar, não se avança". Substituto de Cid Gomes no Ministério da Educação, Janine se manifestou nas redes sociais sobre os desafios do cargo

REDAÇÃO ÉPOCA
Atualizado em 28/03/2015 13h27




O professor da USP Renato Janine Ribeiro será o novo ministro da Educação (Foto: Marcos Alves / Agencia O Globo)

O novo ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, se manifestou pela primeira vez sobre os desafios do cargo que assumirá no começo de abril. Em um texto publicado no Facebook, Janine agradeceu o apoio que recebeu nas redes sociais. "Incrível como há tanta gente acreditando que a educação é O, ou um dos principais, caminho(s)!", escreveu.

Janine disse que ainda não falará sobre políticas específicas do ministério, porque ainda precisa edudar e conhecer em mais detalhes os programas do governo, mas que a partir de 6 de abril, quando tomará posse, estará a disposição para o diáologo com a sociedade. "Espero que a educação constitua um destes pontos que permitam unir o País, gente de um lado ou de outro mas que sabe que sem educar não se avança".

Confira o post de Janine na íntegra:

Ufa! Não tive tempo até agora de agradecer os cumprimentos nem de comentar minha nomeação para a Educação, pela presidenta Dilma. Primeiro de tudo, obrigado a todos os que postaram comentários ou mandaram mensagens inbox. Incrível como há gente torcendo pelo Brasil! Incrível como há tanta gente acreditando que a educação é O, ou um dos principais, caminho(s)!

Na quinta-feira recebi uma ligação do ministro Aloisio Mercadante, me convidando a ir a Brasilia para vermos a possibilidade de eu ocupar este cargo. Aceitei. Cancelei alguns compromissos - um deles seria participar da performance, longa mas que deve ser fascinante, da Marina Abramovic no Sesc. Fui recebido por ele e pela presidenta, com quem tive longa conversa. Depois, fui ao MEC, onde o secretário executivo, que permanecerá, me fez um briefing inicial de um dos ministérios maiores, mais complexos e mais ricos da Esplanada. Bom lembrar que são 50 milhões de alunos e 2 milhões de professores! É o Brasil que está lá - subindo a ladeira.

Por enquanto, agradeço a todos! E espero que a educação constitua um destes pontos que permitam unir o País, gente de um lado ou de outro mas que sabe que sem educar não se avança.

Espero a compreensão de todos, especialmente dos jornalistas, para o fato de que não tenho como, neste momento, dar entrevistas sobre as questões do MEC. O ministério continua nas mãos competentes do secretário executivo. Tomarei posse no dia 6 de abril e depois disso terei o prazer, e cumprirei o dever, de dar todas as entrevistas que forem necessárias. Só peço compreensão para a necessidade de estudar os dossiês antes de entrar em detalhes sobre eles.

Afinal, como pode alguém ir para a Educação se não começar estudando??

sexta-feira, 27 de março de 2015

CRISE DE AUTORIDADE E INVERSÃO DE PAPÉIS.



ZERO HORA 27 de março de 2015 | N° 18114


LETÍCIA DUARTE | Colaborou Itamar Melo

O EXEMPLO VEM DE CASA

 ESPECIALISTAS AFIRMAM QUE casos de superproteção ou omissão em relação aos filhos podem revelar pais desnorteados sobre o limite de atuação da escola


Um aluno do 6º ano do Ensino Fundamental comparece à sala de aula com 30 minutos de atraso. Em observância às normas da escola, a professora orienta-o a ir até a direção para solicitar uma autorização de entrada. Minutos depois, o garoto reaparece, acompanhado pela mãe. A mulher mete o pé na porta, entra na sala, xinga a professora do filho, puxa-a pelos cabelos e a arrasta pátio afora. O aluno, horrorizado, suplica que a mãe cesse as agressões.

Esse episódio grotesco ocorreu no dia 4 deste mês, na Escola Municipal Irmão Pedro, em Canoas. Trata- se de um caso absurdo e despropositado, mas não completamente desvinculado de um fenômeno que tem preocupado os especialistas. A agressão no colégio da Região Metropolitana parece ser uma manifestação radical e extrema de uma crise no papel educacional desempenhado por pais e mães.

No dia a dia, esse fenômeno se manifesta em uma série de eventos prosaicos, como no caso do pai que quer ser o melhor amigo do filho, do casal que leva a criança de três anos para escolher a escolinha que quer frequentar, da vizinha que fala que o filho de quatro anos tem uma personalidade tão forte que “não tem mais jeito” de educá-lo, da mãe que chega exausta depois de um dia de trabalho e decide não insistir com a filha para que ela coma algo saudável, porque afinal tem pouco tempo para “curtir”. Em comum, essas situações mostram pais desnorteados em relação ao seu papel, oscilando entre a omissão (que pode sobrecarregar a escola) ou a superproteção (potencial geradora de conflitos com professores).

– Claro que a gente não conhece a situação específica dessa mãe de Canoas, mas podemos falar genericamente de um fenômeno de grupo. Os pais estão completamente perdidos. Eles têm muita dificuldade de tolerar a frustração. Então como é que vão colocar limites adequadamente? Uma coisa que se verifica nos últimos tempos é que não são mais as crianças que têm o adulto como modelo, mas o contrário. Nesse episódio, não é a mãe quem tem noção de realidade, mas o filho, que pede para ela parar a agressão – analisa Tania Marques, professora de psicologia da educação da Faculdade de Educação da UFRGS.

PSICÓLOGA FALA EM DITADURA DA CRIANÇA

Incapazes de estabelecer limites e ansiosos por evitar qualquer conflito com os filhos, mas prontos a comprar brigas por eles, os pais enfrentam uma crise de autoridade. Vivem também uma inversão de papéis no interior da família, quadro tão alastrado que há quem entenda que estamos vivendo uma “ditadura da criança”, como define a psicóloga Aidê Knijnik Wainberg.

Essas mudanças tornam mais complexos os processos educativos tanto em casa quanto na escola, levantando a pergunta: afinal, quem educa quem? Aidê lembra que, depois de gerações crescendo com o discurso de “liberdade total” na educação, agora a escola de psiquiatria francesa volta a recomendar mais repressão e hierarquia.

– Antes havia uma geração em que nada era permitido, depois veio outra em que tudo é permitido. E, agora, volta a ideia da repressão. Então, os pais ficam atrapalhados. Até os especialistas ficam perdidos. O que vale mesmo? – questiona.

Para em seguida completar:

– O que vale é o bom senso.

O difícil é encontrar bom senso entre adultos cada vez mais atordoados com sentimentos como culpa, ansiedade e insegurança. Com pouco tempo para ficar com os filhos, frequentemente os pais jogam para a escola a responsabilidade de educá- los, numa tentativa de terceirização. Uma missão fadada ao fracasso por vários motivos, especialmente porque o sistema de ensino tradicional também está em crise.

– Muitas vezes, a escola culpa a família, e a família culpa a escola. Isso é preconceito, não contribui. Escola e família precisam trabalhar juntas. Mas também existem muitos professores desmotivados, e se estão desestimulados, provavelmente sua autoridade vai estar comprometida. Quem só reproduz conteúdo, em geral vai enfrentar problema de autoridade, porque ensinar é quase como um traço autoral – alerta Luciana Fevorini, doutora em psicologia escolar e diretora do colégio Equipe de São Paulo.

DILEMAS COTIDIANOS, APRENDIZADO DIÁRIO

Fora da imagem idealizada da família de comercial de margarina, pais, mães e outros agregados enfrentam uma série de dilemas cotidianos, como aprender a dizer não, impor regras e limites. Uma missão nem sempre simpática. Mas necessária.

– Quem educa vai ter de fazer papel de fada e de bruxa ao mesmo tempo. Só que as pessoas têm receio em exercer o papel da bruxa. Às vezes é chato dar limites, isso vai frustrar o outro. Mas frustrar é necessário para educar. Impor limites é cuidar do outro – observa Tania Marques.




SENTENÇAS

"Os pais estão completamente perdidos. Eles têm muita dificuldade de tolerar a frustração. Então,
como é que vão colocar  limites adequadamente?"
TANIA MARQUES, Professora de psicologia da educação da Faculdade de Educação da UFRGS


"Antes havia uma geração em que nada era permitido, depois veio outra em que tudo é permitido. E agora volta a ideia da repressão. Os pais ficam atrapalhados. Até os especialistas ficam perdidos. O que vale mesmo?"
AIDÊ KNIJNIK WAINBERG. Psicóloga


"Escola e família precisam trabalhar juntas. Mas também existem muitos professores desmotivados,
e se estão desestimulados, provavelmente sua autoridade vai estar comprometida."
LUCIANA FEVORINI Doutora em psicologia escolar  e diretora do colégio Equipe




COMENTÁRIO DO BENGOCHEA
- Sem suporte em leis severas e numa justiça ágil e coativa, todas e quaisquer medidas administrativas e políticas serão inúteis para garantir a segurança e consolidar uma cultura de respeito, de ordem e de autoridade. A certeza da punição educa e orienta.


domingo, 22 de março de 2015

FIES, A BARBEIRAGEM DO GOVERNO

REVISTA ISTO É N° Edição: 2364 | 20.Mar.15


Problemas sistemáticos no programa de financiamento estudantil, depois de uma série de medidas desastradas do MEC, comprometem o futuro de estudantes em todo o País. Está cada vez mais difícil renovar contratos e fazer novas inscrições


Camila Brandalise



Estava ruim e ficou pior. Nos últimos três meses, desde que foram anunciadas mudanças no Programa de Financiamento Estudantil (Fies), alunos do ensino superior e aspirantes a universitários têm enfrentado dificuldades para renovar contratos e requerer o subsídio pela primeira vez. Basicamente, a alegação é que há instabilidade no sistema, o SisFies. Mas, antes disso, a definição de um teto de reajuste de mensalidades (6,4%), a exigência de nota mínima no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e várias outras circunstâncias estabelecidas já limitavam o acesso ao programa. As trapalhadas culminaram com um discurso da presidente Dilma Rousseff, que deu como desculpa para tanta confusão o fato de ter deixado o Fies na mão de universidades particulares, o que explicaria o aumento drástico e descontrolado de vagas. Mas agora o estrago já está feito e a situação fica cada dia mais dramática, já que o Ministério da Educação (MEC) não presta esclarecimentos sobre as novas regras nem às instituições nem aos alunos. Para exigir uma solução do governo, entidades estudantis e universidades apelam para a Justiça, movendo ações contra a União e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O maior prejudicado pela barbeiragem, claro, tem sido o estudante, que vê se esvair o sonho do diploma.


ESPERA
Fila de alunos na FMU, em São Paulo, para regularizar contratos com o Fies.
Problemas com o sistema do programa impedem que universitários
renovem acordos e façam novas matrículas

Percebendo que, em vez de respostas, surgem apenas mais dúvidas, alunos de diversas instituições têm organizado manifestações em diferentes cidades do País para chamar a atenção para os problemas enfrentados. Em São Paulo, um grupo das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) bloqueou parte de uma avenida no Centro para protestar por não conseguir ser atendido pela instituição, que alegou problemas no sistema. No segundo ano do curso de Direito da Universidade São Judas Tadeu, também na capital paulista, Carla Natacha Gomes da Silva, 23 anos, alega que protestar é a única opção possível. “Se os problemas não forem solucionados, pretendo juntar outros alunos e fazer manifestações. Meu risco é grande, caso não tenha o financiamento terei que trancar o curso.” Carla diz que não consegue renovar seu contrato, firmado em 2012, por problemas insignificantes. “Há vezes que meu CPF é considerado inválido. Outras, o erro aparece ao preencher o CEP de casa”, diz. Segundo o advogado especializado em financiamento estudantil Saulo Rodrigues, a confusão coloca em jogo o princípio universal do livre acesso à educação. “Por isso, quem se sentir lesado pode acionar o judiciário”, afirma. É o que universitários e instituições já estão fazendo.


PROTESTO
Manifestação de alunos da Furb, de Blumenau (SC). Diretório de estudantes
venceu ação civil pública contra União para que todos os
contratos com o Fies sejam renovados

Na Faculdade Regional de Blumenau (Furb), em Santa Catarina, o diretório central dos estudantes entrou com uma ação civil pública contra a União e o FNDE. Na terça-feira 17, uma juíza da vara federal da cidade deferiu o pedido e deu à União o prazo de dez dias para regularizar todos os contratos, caso contrário a multa será de R$ 10 mil por dia, segundo o presidente da entidade estudantil, John Maicon Albanis, 23 anos. “Entramos em contato com o MEC por vários motivos e o ministério nunca se manifestou. A saída legal foi a única alternativa para resolver o entrave”, diz. Ainda cabe recurso da decisão.



Medidas similares foram tomadas em outras partes do País, como Distrito Federal, Alagoas, Pará e Paraíba. “Nesses últimos dias, o cenário só melhorou porque os prejudicados estão tendo ganho de causa”, afirma Elizabeth Guedes, vice-presidente Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup) e diretora executiva da Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Educação Superior (Abraes). Além de travas no sistema, outra reclamação dos alunos, segundo Elizabeth, é a exigência da nota de corte de 450 pontos no Enem para novos contratos. “É prejudicado, principalmente, quem vem de camadas sociais menos favorecidas”, diz. “No fundo, é tudo problema de orçamento, não acredito que tenha a ver com preocupação com a qualidade do ensino.”

Por todo Brasil, instituições reclamam também da falta de atenção do MEC. Em comunicado, a Universidade Veiga de Almeida, do Rio de Janeiro, sinaliza que o maior problema é a falta de informações oficiais com relação a todas as mudanças, gerando uma grande preocupação nos estudantes. “Passamos todas as informações obtidas, que são aquelas veiculadas pela imprensa”, afirmou a entidade. A Veiga de Almeida não foi informada oficialmente sobre a quantidade de vagas do programa. Mesmo assim, muitos alunos não conseguem concluir o pedido de novo contrato porque o sistema acusa não haver mais vagas. Além disso, os estudantes de Enfermagem, que possui o conceito 5, o máximo atribuído pelo MEC, deveriam ser automaticamente contemplados pelo Fies, mas também não puderam se inscrever ainda. “Até o dia 19 de março, o FNDE não se pronunciou a respeito, embora já tenhamos enviado uma solicitação específica pedindo orientação”, informa a Veiga de Almeida. Em Brasília, o Centro Universitário Estácio adiantou o lançamento de um programa próprio de financiamento estudantil para suprir a lacuna. “Sempre acompanhei os processos de renovação de contratos e de novos inscritos no Fies bem de perto. Nunca tivemos tantos problemas quanto neste ano”, diz Adriano Luís Fonseca, reitor da entidade.



Elizabeth Guedes, representante de entidades ligadas ao ensino superior, classifica os recentes acontecimentos como desumanos. “Estão jogando os alunos contra as escolas”, diz. Segundo ela, se Dilma conhecesse a burocracia do sistema, ela não teria feito a crítica sobre o programa estar nas mãos das universidades particulares. “Ela não sabe nem como foi feito. As decisões partiram do MEC. É fumaça para esconder erro de planejamento orçamentário.” Especialistas concordam que, por se tratar de dinheiro público, é justo que o governo delimite as regras e decida como vai distribuir a verba. O problema é ter feito de uma hora para outra, sem planejamento, sem conversa com entidades da área e, pior, com pouquíssimos esclarecimentos aos afetados. Para Renato Hyuda de Luna Pedrosa, coordenador do laboratório de estudos em educação superior da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), os investimentos destinados ao Fies de fato aumentaram muito, pulando de R$ 7,57 bilhões em 2013 para R$ 13,75 bilhões em 2014. “Há um custo para o tesouro. Como no primeiro mandato da presidente não houve tanto controle fiscal, agora o governo está repensando esse crédito subsidiado.” Porém, como se vê pelo desespero dos estudantes, essa revisão está sendo feita da pior maneira possível.



Fotos: marcelo D’Sants/frame/Ag. o Globo;Jjaime Batista da Silva/Blog do Jaime

segunda-feira, 9 de março de 2015

DIMENSÕES DA GESTÃO ESCOLAR



ZERO HORA 09 de março de 2015 | N° 18096


CEZAR MIOLA*


Em 2015, serão eleitos os novos diretores de escolas estaduais do Rio Grande do Sul.


As múltiplas tarefas desses dirigentes impõem aos ocupantes da função um perfil profissional que exige qualificação e capacidade de fazer as gestões pedagógica, administrativa e de pessoal. Além disso, é preciso dar atenção ao clima organizacional, ao relacionamento com a comunidade escolar e à resolução de conflitos.

O desempenho dessas atividades requer preparo. Dados do Ministério da Educação indicam que a maior parte dos diretores tem formação em diferentes licenciaturas, mas que, em regra, não aprofundam competências relacionadas às exigências administrativas demandadas a cada dia. E, nos cursos preparatórios colocados como requisito para exercer a direção escolar (os quais deveriam ser exigidos antes das investiduras, e não após), normalmente são pouco explorados temas como noções de contabilidade, regras de contratação, licitações, convênios e gestão de recursos. Embora sem o olhar voltado diretamente às questões pedagógicas, não podem ser desprezados, já que garantem melhores condições estruturais ao ensino.

Sabidamente, a melhoria da educação é uma tarefa que não se encerra nos muros da escola. Deve incluir a comunidade escolar – as famílias, sobretudo – e o poder público. Mas o conhecimento técnico acerca da múltipla dimensão da direção escolar é pressuposto para se encaminhar soluções adequadas aos objetivos maiores da educação: “o desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (art. 205 da Constituição da República).

Nesse sentido, ainda neste ano, o Tribunal de Contas do Estado deve lançar um curso para capacitar diretores e outros profissionais da educação, com foco, principalmente, em questões administrativas, financeiras e pedagógicas, num ambiente de transparência e em busca da máxima eficiência. A oferta do acesso a informações, além de auxiliar na prevenção de erros, tem potencial para ampliar a participação e o engajamento da comunidade. Afinal, só se controla e se transforma aquilo que se conhece.



*Presidente do Tribunal de Contas do Estado

PAIS BRASILEIROS OPINAM SOBRE ACAMPAMENTO MILITAR PARA CRIANÇAS

G1 FANTÁSTICO Edição do dia 08/03/2015


Pais brasileiros opinam sobre acampamento militar para crianças. Fantástico recebeu pais e mães que avaliaram o treinamento linha-dura para crianças e adolescentes indisciplinados.





Na sexta-feira (6), o Fantástico recebeu pais e mães para conversar sobre uma polêmica que você acompanhou no último domingo (1º).

Na enquete feita na internet durante o Fantástico na semana passada, 86% dos telespectadores disseram que sim, que colocariam os filhos em um acampamento linha-dura, caso ele fosse muito malcriado.

Convidamos algumas famílias para tentar entender um pouco melhor esse número. A Cláudia disse que colocaria, sim, a filha dentro de um acampamento desse. Por quê?

“Sim. E hoje eu brinquei e falei: ‘eu preciso saber onde é esse acampamento para poder já colocá-la’. Eu tenho essa postura realmente rígida. Uma vez eu levei ela a uma delegacia onde eu trabalhava, eu levei ela à cela dos presos e eu falei que era a creche da polícia. Que se ela fizesse malcriação ela iria para ali, ali fica quem não obedece os pais”, conta Cláudia da Silva Tavares, analista.

A Júlia, filha da Cláudia, tem hoje 10 anos. Já o Ludimar e a Adriana não colocariam a Izabelle, de 13, em um acampamento desses. Mas eles são professores e veem situações que, para eles, só seriam resolvidas com uma tropa de choque.

“O aluno queria entrar na escola em um momento de prova e a coordenação pediu para não deixar ninguém entrar. E ele simplesmente começou a me agredir verbalmente, me xingando e socou. Ele queria socar minha cara”, lembra Adriana Santos de Oliveira, professora.

“Eu vejo que falta atitude dos pais. As crianças hoje não têm norte”, avalia o professor Ludimar Corrêa de Oliveira.

O comandante do Colégio Militar no Rio também fez sua avaliação.

“Realmente ficamos chocados com aquele tipo de terapia, se pode chamar assim. Pela submissão das crianças, aquele tipo de violência. O treinamento militar não é aquilo e nem com criança, do jeito que nós vimos ali. O treinamento militar é feito por profissionais que escolheram ser militares, treinam para a defesa do seu país e seguem as normas de treinamento militar normal”, diz o coronel Alex Costa, comandante do Colégio Militar do Rio de Janeiro.

“Eu concordo com disciplina, mas sem tortura. Não vou entregar meu filho para um acampamento para dormir três horas, lá na minha casa ele não faz isso”, diz Daniele Lopes Machado, cantora.

O João e a Daniele são pais do Gabriel e do João Vitor. “Ela não tem que estar gritando com meu filho a toda hora. Ela tem que disciplinar”, avalia o taxista João Claudio Garcia.

“Eu acho que tem violência. Um tapa da mãe em um filho ou ver uma cena dessa do filho sofrendo dói muito mais na gente do que neles”, avalia a gerente administrativa Sandra Xastre.

Os especialistas já estão cansados de falar que dor não educa. “Quando eu bato, quando eu grito, quando eu xingo, eu estou dando uma punição. Estou introduzindo dor. Com dor a gente não aprende. A gente educa com supressão de prazer. É diferente. Eu retiro um prazer. Se você não for tomar banho agora, você não vai poder ver seu desenho animado na televisão”, diz Cristina Werner, terapeuta familiar.

NOS EUA, PAIS CONTRATAM PROFISSIONAIS PARA LEVAR FILHOS INDISCIPLINADOS ATÉ INTERNATOS

G1 FANTÁSTICO Edição do dia 08/03/2015


Pais contratam profissionais para levar filhos indisciplinados até internatos. Indústria de intervenção contra crianças malcriadas nos Estados Unidos vai além de acampamentos de inspiração militar.





A indústria de intervenção contra crianças indisciplinadas nos Estados Unidos vai além dos acampamentos de inspiração militar que mostramos no domingo (1º).

Quando os pais não conseguem levar os filhos malcriados por conta própria para um acampamento ou um internato, eles contratam profissionais como Evan James, conhecido como "Bullet".

"Famílias me contratam para tirar seus filhos adolescentes de casa e transportá-los para unidades de tratamento ou colégios internos que os pais escolheram. Recebo de 500 a 1.000 ligações por mês solicitando meus serviços", ele conta.

A empresa de Bullet fica em Los Angeles. É uma das mais de 50 que oferecem esse tipo de serviço nos Estados Unidos.

Muitas vezes adolescentes são tirados de casa contra a vontade

Muitas vezes, o adolescente é tirado de casa contra a vontade, como é possível ver nos vídeos que o Bullet posta na internet para promover a empresa dele.

Assim como os acampamentos que mostramos domingo passado, esse tipo de serviço de transporte de crianças indisciplinadas também não tem regulamentação nos Estados Unidos.

"Tem uns caras por aí que não têm a menor ideia do que estão fazendo e acabam machucando um monte de crianças. Essa indústria precisa, sim, de mais regulamentação", avalia Bullet.


G1 FANTÁSTICO Edição do dia 01/03/2015


Acampamento militar para crianças indisciplinadas vira polêmica nos EUA. Com inspiração em seus tempos de militares, ex-fuzileiros navais comandam treinamento pesado para filhos indisciplinados.




Polêmica das boas para discussão em família. Um tratamento de choque para crianças indisciplinadas: são os acampamentos linha dura - que usam uma espécie de regime militar para tentar mudar o comportamento de meninos e meninas que, na visão dos pais, estão fora de controle. O método é bastante controverso e levanta a questão: educar no grito funciona?

A placa aponta o caminho da felicidade eterna, mas leva a um lugar que lembra uma prisão. Atrás das grades funciona um acampamento - para crianças.

Flórida, Estados Unidos. Ali é o território de Glenn Ellison. Há 14 anos, o ex-fuzileiro naval comanda o acampamento Camp Consequence. Todos os anos, cerca de 300 crianças são mandadas para lá para serem "endireitadas" pelo Glenn.

E não é por ordem da Justiça, não. Elas não são menores infratores. É por decisão dos pais - pais desesperados que não sabem mais o que fazer com os filhos malcriados. O acampamento de Glenn é apenas um dentro de um controverso mercado que movimenta U$ 2 bilhões por ano nos Estados Unidos. Estima-se que existam mais de mil programas nestes moldes no país.

Na Califórnia, funciona a base de outro fuzileiro naval aposentado. Keith Gibbs, que atende pelo apelido de "sargento", ganha a vida assim há 10 anos.

Será que esse regime militar para crianças é a solução para o mau comportamento?
Você mandaria o seu filho - por mais indisciplinado que ele seja - para um acampamento assim?

No momento, 33 crianças com idades a partir de sete anos estão chegando para o acampamento do Glenn. Geralmente o programa funciona durante um fim de semana por mês, mas uma vez por ano, Glenn promove um acampamento especial de 30 dias seguidos. Custa cerca de U$ 2 mil, o equivalente a quase R$ 6 mil fazer o filho passar por isso.

Os pais também ficam acampados, participam de palestras com o próprio Glenn. As atividades começam com um exercício que Glenn chama de "choque e pavor", com inspiração em seus tempos de militar.

Bryce, de 10 anos, é uma das crianças mais novas da turma. A mãe dele explica por que decidiu colocá-lo no acampamento de Glenn. "O Bryce me desrespeita e desafia. Chegou ao ponto de eu receber ligações da escola dizendo que ele vai ser suspenso. A gente viajou recentemente e ele ficou falando palavrões na piscina do hotel, até que nós fomos expulsos. Achei o Glenn através de amigos. Soube também de um terapeuta que indicou esse acampamento aos clientes", conta a mãe de Bryce.

Mas não seria exagero disciplinar um menino de dez anos dessa maneira?
"Exagero é um garoto de 10 anos mandar na minha casa! Isso sim é exagero", reclama a mãe do menino.

A qualquer momento os pais podem desistir e levar os filhos embora. Mas Glenn confia no seu método: "nós somos muito respeitados na comunidade, temos o aval de delegados, procuradores de Justiça", se defende Glenn.

Na Califórnia, Keith Gibbs - conhecido como "sargento" - também se orgulha dos diplomas na parede. "Tenho cartas de recomendação da Câmara Estadual, dos escoteiros, do Departamento de Assistência Social, da Corte Juvenil, do Departamento de Polícia. Como é que eu posso estar fazendo alguma coisa errada? Tá bom, eles ficam um pouco sujos, e daí?", diz Keith.

Quando não está trabalhando como segurança, Keith está comandando o programa que criou há dez anos. "Começamos com crianças de 14 a 18 anos. Mas percebemos que nessa idade, muitas delas já haviam abandonado a escola, entrado para as gangues, usavam drogas, já eram casos perdidos. Percebi que precisava atender crianças mais novas, por isso diminuímos a idade mínima para cinco anos", explica Keith.

A maioria das crianças atendidas pelo sargento Keith vêm de bairros perigosos e são filhos de pais separados. Como Ellijah, de oito anos. A mãe decidiu inscrevê-lo como uma medida preventiva.

"Todos os homens que ele conhece, do pai aos tios, estão presos ou mortos. Quero que alguém ensine a ele: você não pode fazer o que quer, na hora que quer", conta a mãe do garoto. Ellijah é uma das 17 crianças que vão ficar sob custódia do sargento Keith por um fim de semana.

Não existe um órgão nos Estados Unidos que regule esse tipo polêmico de acampamento. Alguns desses acampamentos foram acusados de abusos e por isso foram fechados.

Um advogado criminal faz um alerta: "existe muita discussão sobre esse mercado. Não estou dizendo que todos os programas são ruins, mas eu represento pessoas que, quando crianças, passaram por programas desse tipo e, hoje, aos trinta e poucos anos, ainda têm pesadelos e sofrem de estresse pós-traumático".

“Todos esses acampamentos seguem a mesma filosofia: para endireitar alguém é preciso forçá-lo a fazer determinada coisa. Só que a força nunca funcionou”, comenta o advogado criminal Thomas Burton.

E você? Mandaria o seu filho malcriado para um lugar assim? Na enquete realizada pelo Fantástico durante o programa, 86% dos telespectadores responderam que sim.

terça-feira, 3 de março de 2015

MAIS ESCOLAS OU MAIS PRESÍDIOS?



ZERO HORA 03 de março de 2015 | N° 18090


CLAUDIA BARROS*


Todos buscam conviver em uma sociedade com índices toleráveis de criminalidade e altos níveis de educação. Mas se você pudesse fazer algo para diminuir a violência, por onde começaria? Alguns começariam por construir mais presídios, endurecer as penas e reduzir a maioridade penal. Vale lembrar que a maioria dos jovens em conflito com a lei teve seus direitos fundamentais violados por ação ou omissão dos próprios pais ou do Estado.

Para cada criança em situação de rua ou marginalizada há uma família desintegrada, falta de emprego, saúde, educação e de moradia digna. Essas carências os colocam em situação de vulnerabilidade, fazendo com que, desde cedo entrem em contato com o delito, seja como infratores, seja como vítimas do tráfico, da exploração sexual, do trabalho infantil e da violência doméstica. Tais situações são absolutamente negativas para a estrutura psicológica de meninos e meninas que encontram no delito uma forma de inserção social e sobrevivência.

Para acabar com esse ciclo, a ciência aponta as políticas sociais com foco na primeira infância. A relação entre as políticas públicas e a arquitetura do cérebro fica clara quando vemos como o contexto sociofamiliar afeta o desenvolvimento da criança. Aquela que cresce em um ambiente saudável vai ter mais oportunidades de aprendizado e estará mais apta a superar as dificuldades. Porém, a fome e as violências enfrentadas logo no início da vida podem interromper o desenvolvimento saudável do cérebro. É nesse ponto que devem incidir as políticas sociais básicas.

Aumentar os níveis de educação e saúde gera efeitos positivos como a inclusão social, aumento da renda e redução da criminalidade. Políticas públicas efetivas têm impacto positivo sobre as comunidades. Priorizar o acesso à educação infantil (creche e pré-escola) garantirá que pais e mães possam trabalhar, gerar renda, consumir, movimentar a economia e, por fim, afastar os filhos do contato com o delito, reduzindo índices de violência e criminalidade. É preciso construir mais escolas e menos presídios. Somente com forte investimento em políticas sociais básicas, como saúde e educação prioritária na primeira infância, é que poderemos fazer deste o país sonhado por todos.

*Defensora pública do RS


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Concordo em parte com a nobre defensora, porém os modelos de escolas e de presídios existentes no Brasil são arcaicos, inoperantes e contraditórios aos objetivos que almeja a formação cultural de uma sociedade livre, justa e solidária. Nos países desenvolvidos há uma sintonia entre a educação e a ordem pública para o desenvolvimento de uma cultura de solidariedade e respeito à autoridade. As leis e a justiça existem para garantir a ordem e os limites dos direitos na convivência em sociedade, e a educação é um importante instrumento para garantir o conhecimento e uma cultura de respeito às leis, à autoridade e aos direitos dos outros, que violados serão punidos de forma exemplar. Portanto, escolas são prioridades como são os presídios.

segunda-feira, 2 de março de 2015

EDUCANDO CRIANÇAS INDISCIPLINADAS

G1 FANTASTICO Edição do dia 01/03/2015

Acampamento militar para crianças indisciplinadas vira polêmica nos EUA. Com inspiração em seus tempos de militares, ex-fuzileiros navais comandam treinamento pesado para filhos indisciplinados.




Polêmica das boas para discussão em família. Um tratamento de choque para crianças indisciplinadas: são os acampamentos linha dura - que usam uma espécie de regime militar para tentar mudar o comportamento de meninos e meninas que, na visão dos pais, estão fora de controle. O método é bastante controverso e levanta a questão: educar no grito funciona?

A placa aponta o caminho da felicidade eterna, mas leva a um lugar que lembra uma prisão. Atrás das grades funciona um acampamento - para crianças.

Flórida, Estados Unidos. Ali é o território de Glenn Ellison. Há 14 anos, o ex-fuzileiro naval comanda o acampamento Camp Consequence. Todos os anos, cerca de 300 crianças são mandadas para lá para serem "endireitadas" pelo Glenn.

E não é por ordem da Justiça, não. Elas não são menores infratores. É por decisão dos pais - pais desesperados que não sabem mais o que fazer com os filhos malcriados. O acampamento de Glenn é apenas um dentro de um controverso mercado que movimenta U$ 2 bilhões por ano nos Estados Unidos. Estima-se que existam mais de mil programas nestes moldes no país.

Na Califórnia, funciona a base de outro fuzileiro naval aposentado. Keith Gibbs, que atende pelo apelido de "sargento", ganha a vida assim há 10 anos.

Será que esse regime militar para crianças é a solução para o mau comportamento?
Você mandaria o seu filho - por mais indisciplinado que ele seja - para um acampamento assim?

No momento, 33 crianças com idades a partir de sete anos estão chegando para o acampamento do Glenn. Geralmente o programa funciona durante um fim de semana por mês, mas uma vez por ano, Glenn promove um acampamento especial de 30 dias seguidos. Custa cerca de U$ 2 mil, o equivalente a quase R$ 6 mil fazer o filho passar por isso.

Os pais também ficam acampados, participam de palestras com o próprio Glenn. As atividades começam com um exercício que Glenn chama de "choque e pavor", com inspiração em seus tempos de militar.

Bryce, de 10 anos, é uma das crianças mais novas da turma. A mãe dele explica por que decidiu colocá-lo no acampamento de Glenn. "O Bryce me desrespeita e desafia. Chegou ao ponto de eu receber ligações da escola dizendo que ele vai ser suspenso. A gente viajou recentemente e ele ficou falando palavrões na piscina do hotel, até que nós fomos expulsos. Achei o Glenn através de amigos. Soube também de um terapeuta que indicou esse acampamento aos clientes", conta a mãe de Bryce.

Mas não seria exagero disciplinar um menino de dez anos dessa maneira?
"Exagero é um garoto de 10 anos mandar na minha casa! Isso sim é exagero", reclama a mãe do menino.

A qualquer momento os pais podem desistir e levar os filhos embora. Mas Glenn confia no seu método: "nós somos muito respeitados na comunidade, temos o aval de delegados, procuradores de Justiça", se defende Glenn.

Na Califórnia, Keith Gibbs - conhecido como "sargento" - também se orgulha dos diplomas na parede. "Tenho cartas de recomendação da Câmara Estadual, dos escoteiros, do Departamento de Assistência Social, da Corte Juvenil, do Departamento de Polícia. Como é que eu posso estar fazendo alguma coisa errada? Tá bom, eles ficam um pouco sujos, e daí?", diz Keith.

Quando não está trabalhando como segurança, Keith está comandando o programa que criou há dez anos. "Começamos com crianças de 14 a 18 anos. Mas percebemos que nessa idade, muitas delas já haviam abandonado a escola, entrado para as gangues, usavam drogas, já eram casos perdidos. Percebi que precisava atender crianças mais novas, por isso diminuímos a idade mínima para cinco anos", explica Keith.

A maioria das crianças atendidas pelo sargento Keith vêm de bairros perigosos e são filhos de pais separados. Como Ellijah, de oito anos. A mãe decidiu inscrevê-lo como uma medida preventiva.

"Todos os homens que ele conhece, do pai aos tios, estão presos ou mortos. Quero que alguém ensine a ele: você não pode fazer o que quer, na hora que quer", conta a mãe do garoto. Ellijah é uma das 17 crianças que vão ficar sob custódia do sargento Keith por um fim de semana.

Não existe um órgão nos Estados Unidos que regule esse tipo polêmico de acampamento. Alguns desses acampamentos foram acusados de abusos e por isso foram fechados.

Um advogado criminal faz um alerta: "existe muita discussão sobre esse mercado. Não estou dizendo que todos os programas são ruins, mas eu represento pessoas que, quando crianças, passaram por programas desse tipo e, hoje, aos trinta e poucos anos, ainda têm pesadelos e sofrem de estresse pós-traumático".

“Todos esses acampamentos seguem a mesma filosofia: para endireitar alguém é preciso forçá-lo a fazer determinada coisa. Só que a força nunca funcionou”, comenta o advogado criminal Thomas Burton.

E você? Mandaria o seu filho malcriado pra um lugar assim?

domingo, 1 de março de 2015

O POVO BRASILEIRO NÃO DÁ IMPORTÂNCIA À EDUCAÇÃO



ZERO HORA 01 de março de 2015 | N° 18088


MARCELO GONZATTO


COM A PALAVRA. “O povo brasileiro não dá importância à educação”



Poucos homens públicos associaram tanto seu nome a uma causa única quanto o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), 71 anos. O engenheiro mecânico nascido em Recife (PE), primeiro em sua família a alcançar o Ensino Superior, fez da defesa da educação uma pregação monotemática. Depois do doutorado em Economia na Universidade de Sorbonne, em Paris, onde viveu nove anos exilado para escapar da ditadura militar, deu início a UMA VIDA PÚBLICA VOLTADA AO COMBATE DO ANALFABETISMO E DA MÁ QUALIDADE DOS COLÉGIOS BRASILEIROS. Foi reitor da Universidade de Brasília, governador do Distrito Federal, quando criou o programa Bolsa-Escola, e um polêmico ministro da Educação entre 2003 e 2004 – chegou a pedir que jovens marchassem a Brasília para pedir mais dinheiro para o ensino. Após concorrer à Presidência em 2006, foi eleito para o Senado em 2010. Autor de duas dezenas de livros, recém lançou O Erro do Sucesso, obra em que aborda o esgotamento da civilização industrial e a necessidade do surgimento de uma nova sociedade baseada no humanismo. Na entrevista a seguir, Cristovam detalha sua visão sobre os desafios da educação brasileira.

Como o senhor define a qualidade da educação brasileira hoje?

Se a gente compara a educação brasileira de hoje com a de 30 anos atrás, melhorou. Se compara com o que se exige hoje da educação, nós pioramos. É como se nós avançássemos ficando para trás, porque as exigências educacionais crescem mais rapidamente do que a educação brasileira melhora. Há 30 anos, nem tinha escola para 30% das crianças. Agora, elas estão na escola, mas em escolas muito deficientes.

O país se preocupou primeiro em aumentar o número de matrículas para depois focar na qualidade. Foi uma estratégia correta?

Mas esse depois não está acontecendo. A qualidade não está melhorando com a velocidade que o mundo exige. Até poucos anos atrás, uma pessoa sem saber ler tinha emprego. Hoje, é difícil ter emprego sem o Ensino Médio. Recentemente, conversei com um empresário europeu que deixou de investir em Alagoas porque não tinha mão de obra qualificada, e o ramo dele era criação de cavalos. Ele precisava de um número de veterinários que falassem inglês e lessem em inglês que ele não encontrou.

Quais as principais razões para esse cenário?

Duas razões. A primeira é cultural. Por algum motivo, o povo brasileiro, incluindo você, eu, sendo pobres ou não, não dá importância à educação. Ninguém é considerado rico no Brasil por ser culto. Você é considerado rico pela casa, pela conta bancária, pelo tamanho do carro, mas não pelo grau de cultura e educação. Mesmo quem gasta dinheiro para estudar não está em busca de cultura, está em busca do emprego que a educação lhe dá. E a segunda razão é social e política: o Brasil é um país dividido em duas classes bem separadas. Tudo o que é da parte rica, a gente resolve. O que é da parte pobre, a gente abandona.

Foi para forçar a aproximação dessas duas realidades que o senhor propôs que todo político fosse obrigado a matricular os filhos em colégio público?

Não, foi por questão ética. Se a gente cuida das coisas públicas, não deveria se esconder nas soluções privadas. Mas, voltando à segunda causa do atraso, que é política, nós melhoramos a educação dos filhos dos ricos – inclusive usando dinheiro público para isso. Aí abandonamos a educação dos pobres como abandonamos água, esgoto, transporte, segurança.

O governo aposta no dinheiro do pré-sal para financiar a educação, que deverá receber o equivalente a 10% do PIB. Esse é o caminho?

Não, porque não diz como é que terá de ser investido o dinheiro. Se você jogar dinheiro no quintal de uma escola, não melhora a educação. Então é preciso dizer como vai gastar o dinheiro, depois a gente diz de onde vem o dinheiro. Não se fez esse exercício. Em segundo lugar, o pré-sal é uma hipótese, e pouco provável.

O senhor acha arriscado vincular a educação brasileira ao pré-sal?

Não é arriscado, é absurdo. Veja bem, é certo reservar o pré-sal para a educação, mas é absurdo vincular a educação ao pré-sal. Primeiro, porque ninguém sabe se vem esse dinheiro. Segundo, ninguém sabe quanto é. Terceiro, se vier, vai demorar muito. Com o preço atual do petróleo, o pré-sal não tem possibilidade de ser explorado. Não compensa. E, com a crise atual da Petrobras, não vejo como vai se explorar o pré-sal.

Qual seria a melhor forma de financiar a educação?

Definir de onde se tira o dinheiro. Eu fiz um estudo em que propus 15 fontes de financiamento. Com essas fontes, nós teríamos dinheiro sobrando.

Seriam parcelas de tributos já existentes?

Por exemplo: o governo gastou R$ 250 bilhões em isenções fiscais. Só isso já resolveria. Provavelmente, a gente não poderia acabar com toda isenção, tiraria uma parte. Se a gente quiser mesmo fazer uma revolução, por que não cria uma CPME, do jeito que teve uma CPMF (extinta Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, que visava a financiar a saúde), para a educação?

Mas haveria aceitação no Brasil a um novo tributo?

Não, porque não se dá importância à educação. Outra: do dinheiro que o BNDES investe em Eike Batista e cia., se a gente pegasse uma parte disso, resolveria a educação. Até agora, o lema “Brasil, Pátria Educadora” é só um slogan publicitário. Qual foi o gesto concreto da presidente? Reduziu R$ 7 bilhões do orçamento da educação.

O país investe quatro vezes mais dinheiro por aluno na Educação Superior do que na Educação Fundamental. Por que se criou essa distorção, a maior registrada em uma pesquisa com 44 países?

Pela mesma razão que eu disse que o Brasil é um país dividido em dois. No que é da camada de cima, a gente investe. No que é da camada de baixo, a gente não investe. Ensino Superior é da camada de cima, Educação Básica é da camada de baixo. Então, não tem dinheiro para baixo, só para cima.

O senhor propôs a federalização da Educação Básica. Seria uma forma de combater essa distorção?

Não há outra maneira de combater a dispersão se não for uma questão nacional. Se deixar como assunto municipal, não tem como ser equilibrado ao longo do Brasil, porque os municípios são muito pobres e desiguais.

Países como a Finlândia investem na formação e na seleção dos melhores professores. Qual a melhor política para o Brasil nessa área?

A primeira condição, mas não suficiente, é o salário. Se você paga bem, você tem condição de atrair jovens melhores, mais preparados para aquela profissão. A segunda é, já que vai pagar bem, escolher bem os professores. O que significa não só o concurso, mas a prática, para ver se essa pessoa realmente tem vocação e tem preparo. Uma terceira é avaliação periódica do professor.

Isso tem relação com outro tema polêmico que é a meritocracia. É boa ideia vincular desempenho a prêmio financeiro?

Todos nós reconhecemos aquilo que a gente gosta e respeita. O professor tem de ser melhor reconhecido, e para isso temos de reconhecer a diferença entre um e outro. Tem de ter instrumentos que valorizem os melhores. Uma das maneiras é a remuneração, sim. É preciso que todos ganhem muito bem, e todos trabalhem bem. Os que não trabalham bem não têm de ser contratados. Têm de perder o emprego, ser substituídos. Entre os que trabalham bem, a gente tem de dar reconhecimento. Pode ser medalha, prêmio, salário. Não sou contra, só não gosto é da mediocracia. Estamos temendo a meritocracia, e estamos caindo em uma mediocracia. Quando a gente não reconhece os melhores, a gente reconhece os medíocres.

O piso nacional do magistério é capaz de mudar a situação dos professores?

Não. O piso foi uma lei minha, gostaria até que fosse chamada de Lei Buarque. O piso é o ponto de partida, mas no Brasil é muito pequeno, e ainda tem Estado e município que não paga. Temos de ter salário médio satisfatório, com carreira que defina piso mínimo bom. Calculo que, para atrair bons jovens para o magistério, devemos pagar um salário médio de R$ 9 mil por mês. E aí não há município que possa pagar. Por isso, defendo a adoção da educação das crianças pelo governo federal.

Mas o senhor chegou a fazer uma projeção do impacto que representaria um salário desses?

Claro. Primeiro, isso não seria feito de repente. Substituiríamos o sistema que está aí por um sistema federal, aos poucos, em 20 anos. Pagando R$ 9 mil para um professor, ao fim de 20 anos, se o PIB crescer 2% ao ano, que é uma taxa pequena na história do Brasil, embora seja maior do que a do ano passado e deste, vai precisar só de 6,4% do PIB para todos os gastos com educação de base. Se somar um bom ensino pré-escolar, dobrar o dinheiro das universidades e fizer um grande programa educacional para as massas, vai precisar de 9,5%. Não chega aos 10%. A lei já obriga a gastar isso.

A questão é como gastar?

Não, a questão é gastar mesmo o que a lei manda, o que eu temo que não vai ser cumprido. Sabe por quê? Porque o PIB não tem dinheiro. Não existe um lugar chamado PIB. Existe um lugar chamado conta bancária. Existe o cofre das empresas ou do governo, mas não tem um cofre onde esteja guardado o PIB. É uma abstração. Foi colocado o PIB exatamente para não cumprir, porque se fosse colocado que iria gastar 10% da sua renda, você não iria querer. Se fosse 10% dos impostos atuais, o governo não iria querer. Aí disseram “vamos botar o PIB, porque daí ninguém sabe de onde vai sair”.

Uma das críticas que se faz à formação dos professores é de que é muito teórica. O senhor concorda?

Não se ensina o professor a ensinar no Brasil. A gente ensina técnicas pedagógicas, filosofia, e o aluno entra na faculdade sem querer ir para a sala de aula. Ele quer ser teórico, porque a sala de aula não paga bem, não dá condições. Se você pesquisar nos nossos cursos de licenciatura e pedagogia, uma alta porcentagem dos alunos não quer ir para a sala de aula. Cai na formação teórica para ver se consegue lugar na universidade como professor.

E por que é tão difícil mudar o perfil dos cursos de formação?

Porque a Educação Básica não tem valor. O que tem valor é o Ensino Superior. Então os professores do Ensino Superior dominam, e a universidade usa a educação de base como pretexto. É o contrário do que deveria ser. A gente deveria usar a universidade para resolver o problema da educação de base. Não fazemos isso porque há uma ditadura da universidade sobre o setor educacional.

O senhor não é cobrado por seus colegas da academia por dizer isso?

Claro, muito. Mas eles sabem que é verdade, só não querem reconhecer. Quer ver um exemplo? O Enem já existe há algum tempo. Ninguém dava importância até servir de vestibular para a universidade. Quando era para avaliar a educação de base, ninguém se preocupava em saber a nota do aluno. Outra coisa: as pessoas não percebem que, pior do que as baixas notas, é o fato de que quem faz o Enem são os melhores. Os 13 milhões de analfabetos não fazem o Enem, e 60% dos alunos não terminam o Ensino Médio e não têm direito de fazer o Enem. Nós nos surpreendemos com 500 mil que tiraram nota zero (na redação), mas ninguém se surpreende que há outros 13 milhões que tirariam zero porque não sabem ler.

O senhor criou o Bolsa-Escola para atender esse tipo de problema. O Bolsa-Família cumpre bem esse papel hoje?

Não, porque deixou de ser “escola” e passou a ser “família”.

Mas mantém a obrigatoriedade de os filhos frequentarem a escola...

Mas não se pratica isso, e não se melhorou a escola.

Deveria ter se mantido separado do Bolsa-Família um programa específico para a educação?

Exatamente. O Lula cometeu erros em relação ao Bolsa-Família do ponto de vista educacional e do interesse nacional, e acertos do ponto de vista eleitoral. O primeiro erro foi mudar o nome. Quando uma mãe recebe Bolsa-Escola, ela pensa: “Eu recebo esse dinheiro porque meu filho vai à escola”. Quando recebe Bolsa-Família, ela pensa: “Eu recebo esse dinheiro porque a minha família é pobre”. Segundo erro: tirou o programa do Ministério da Educação e levou para o Ministério da Assistência Social. A ministra já disse “eu não vou cortar bolsa de uma família pobre porque o filho faltou aula. Não posso deixar essa família sem comida”. Eu também acho, daí vem o terceiro erro: misturou o Bolsa-Escola com Vale-Alimentação, Vale-Gás e outras coisas.

E quais são os acertos eleitorais?

Quando a família era obrigada a algo, ela não se sentia devedora do governo, estava cumprindo um papel. O ProUni foi criado, do ponto de vista teórico, quando eu era ministro. Mandei o projeto para a Casa Civil e ficou engavetado por um ano. Quando saiu da gaveta, mudaram o nome de Programa de Apoio ao Estudante para ProUni. No meu programa, o beneficiado teria de ser alfabetizador de adultos durante seis horas por semana, ao longo de um semestre. O Lula tirou isso. Se o menino que recebe bolsa do ProUni fosse alfabetizador de adultos, ele iria sentir que estava dando a sua contribuição, e a bolsa seria uma remuneração. Não seria um presente, então ele não se sentiria devedor do governo. A família não se sentia devedora do Bolsa-Escola, mas se sente devedora do Bolsa-Família. O nome também foi um acerto eleitoral, porque o nome “família” sensibiliza mais do que “escola”.

O senhor foi ministro da Educação no governo Lula, mas acabou demitido por telefone após um ano, em 2004. Ficou ressentido?

Eu me ressinto porque, primeiro, estava em uma viagem oficial indo me encontrar com o presidente. As pessoas não sabem disso. Eu estava na comitiva presidencial para uma visita à Índia. Só que tive de lançar um livro em Portugal e viajei um dia antes. Saí do gabinete do Lula para o aeroporto. Minha última palavra com o Lula foi: “Nos vemos em Nova Délhi”. É um bom título para um livro. Segundo, eu me ressinto porque eu queria ficar na história do Brasil como o político que erradicou o analfabetismo e iniciou a revolução educacional. Fiquei frustrado.

O senhor foi criticado por ter um perfil mais teórico do que de gestor...

Veja como isso não resiste. Eu fiz o Bolsa-Escola, não é coisa de teórico. Fui governador quatro anos, fui reitor quatro anos. Até hoje, as pessoas se lembram das coisas que eu fiz. Onde está o teórico?

Não ficou marcado ao cobrar mais dinheiro para a educação e sugerir protestos contra o próprio governo como uma marcha de estudantes e um apitaço na Esplanada?

Claro. Começou logo no início, quando disse no Jornal Nacional que o Brasil não precisava do programa Fome Zero, bastava aumentar o valor do Bolsa-Escola e o número de beneficiados. O Lula não gostava do Bolsa-Escola. Quando levei essa ideia para ele em 1990, foi recusada porque o PT dizia que era uma medida compensatória e tinha era de criar emprego e dar bons salários. Nunca perceberam que não tem como ter emprego e salário sem educação. Sem educação, o trabalhador vai receber bolsa. Depois, porque o Fernando Henrique pegou (o programa), aí o Lula ficou com raiva.

O senhor era pressionado a não falar

essas coisas?

O Lula me ligou. Quando falei para os jovens se manifestarem, ele ligou e disse: “Pô, Cristovam, não dá para falar isso...”. Mas confesso que não esperava naquele momento (a demissão), porque havia feito o Lula ganhar um prêmio da Unesco por um programa de alfabetização, a ideia da federalização estava começando em 29 cidades.

O seu nome é sempre relacionado à educação. O que o senhor considera seu maior legado até o momento?

Coloquei a educação na pauta graças à minha candidatura a presidente. Durante dois meses, se falou em educação todos os dias. Eu era criticado por ter uma nota só. Mas, se eu tivesse duas ou três notas, ninguém iria lembrar. O importante, para mim, foi colocar a educação como tema, o que não existia, não entrava.

A despeito de todos os problemas, o senhor ainda acredita que o Brasil pode virar um país de elite na educação?

Se começar esse trabalho que eu defendo através do processo de federalização e construindo a escola ideal como se deseja, em 20, 30 anos, o Brasil estaria entre os primeiros países. Se continuar como está, mesmo melhorando, a gente fica para trás porque os outros países estão melhorando mais do que nós. Turquia, Colômbia, Peru, Chile estão melhorando mais do que nós. Nós estamos ficando para trás.