EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

ENSINAR E APRENDER

FOLHA.COM 25/08/2013 - 03h00

Editorial



Não servem para grande coisa escolas das quais estudantes saem com a impressão de que é possível "aprender sem esforço, construir sem trabalhar, criar sem perseverar", para usar expressão do secretário municipal de Educação de São Paulo, Cesar Callegari.

Tal é, infelizmente, a realidade de muitos estabelecimentos públicos de ensino Brasil afora. Faz bem a Prefeitura de São Paulo ao se arriscar a pôr a mão nesse vespeiro.

Na raiz dessa pedagogia da leniência está uma noção generosa, a da progressão continuada. Para combater as altas taxas de evasão, há duas décadas se adotou o sistema de ciclos, em que o aluno deixa de ser aprovado ou reprovado a cada ano. Em teoria, ele passa a receber apoio para adquirir, ao longo de quatro anos, as competências estipuladas para cada fase.

Com efeito, a evasão recuou. Nas redes públicas paulistas (municipais e estadual), a taxa de abandono no ensino fundamental foi de 9,86%, em 1991, para 1,1%, em 2011. Um resultado admirável.

No que respeita ao aprendizado, a realidade é acabrunhante. Na mais rica cidade do Brasil, por exemplo, só 23% dos alunos da rede municipal terminam o ensino fundamental com proficiência em português, e 10% em matemática.

Sem que seja o único fator por trás desse fiasco, a progressão continuada decerto tem um peso. Aplicada de maneira precária, sem real acompanhamento dos alunos, tal política degenerou no que se chama --pejorativa, mas justificadamente-- de aprovação automática.

Tem pouca utilidade, nessas condições, constatar ao final do quinto ano que um aluno não foi inteiramente alfabetizado --e é esse o caso de 38% dos estudantes.

Há sentido, portanto, em encurtar os ciclos, como quer o prefeito Fernando Haddad --o programa Mais Educação, que propõe essa e outras mudanças curriculares e administrativas, ficará em consulta pública por mais três semanas.

Com avaliações a cada dois anos, por exemplo, pode-se intervir de modo mais precoce para dar ao estudante as condições --como aulas de reforço-- de recuperar-se nas matérias em que se atrasou.

Na mesma direção procede a decisão de emitir boletins bimestrais de avaliação para os pais. Também parece favorecer acompanhamento mais detido que as notas voltem à escala numérica (zero a dez), em lugar de conceitos frouxos, como "plenamente satisfatório", "satisfatório" e "não satisfatório".

Caminhar no rumo certo, porém, não garante que se alcance o objetivo. Assim como a progressão continuada desandou em aprovação automática, as modificações ora prometidas, sem professores bem treinados nem correta alocação de recursos, podem limitar-se a reintroduzir a mera reprovação punitiva --sem fazer a escola voltar a ser um lugar para ensinar e aprender.

LIÇÃO DE CASA: GESTÃO

ZERO HORA 26 de agosto de 2013 | N° 17534

EDITORIAIS


Ainda que seja promissora a aprovação pelo Congresso da destinação de 75% dos royalties do petróleo para a educação, seus desejados efeitos só poderão ser alcançados se o país promover uma verdadeira revolução na gestão da área. A carência de recursos é apenas uma das causas do déficit educacional no Brasil, e de nada adiantará carimbar verbas se sua alocação não levar em conta as graves necessidades do setor. Mesmo que se atinja o almejado investimento de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação, o país continuará distante de outras nações mais evoluídas nesse aspecto. Para que cada estudante brasileiro receba o mesmo volume de recursos que um americano, por exemplo, o governo teria de destinar mais de 30% do PIB atual para a educação, o que se configura desde já absolutamente impossível. O recurso, então, é aperfeiçoar a gestão para que se busque mais qualidade com os meios disponíveis.

Desde antes da vinculação dos royalties do petróleo a investimentos em saúde e educação, já estava claro no debate público que a proposta nada tinha de mágica. O que é uma medida bem-intencionada – a garantia de destinação da maior parte dos royalties para uma área carente – pode se tornar uma disposição perversa se não houver prioridades ajustadas de acordo com um diagnóstico nacional resultante de uma discussão ampla e democrática, com a participação de todos os setores envolvidos. É sabido, por exemplo, que, sob a denominação de “educação”, há subáreas díspares como ensinos Fundamental, Médio e Superior, pesquisa básica e de ponta, inovação tecnológica, extensão, educação à distância e outras. Vê-se, assim, que a definição sobre os royalties é apenas um pequeno passo na resolução de um problema de enorme envergadura, que exige decisões políticas mais do que gestos de efeito. Na gestão pública, nada substitui o debate transparente e responsável e a vontade de encarar desafios. No caso da educação, a gestão é um dos maiores gargalos.

domingo, 25 de agosto de 2013

O QUE VOCÊ VAI SER QUANDO CRESCER?

ZERO HORA 25 de agosto de 2013 | N° 17533

MARTHA MEDEIROS



Numa sociedade competitiva como a de hoje, não é de estranhar que o fator mais importante da vida seja o trabalho. Ele consome nosso tempo e nossas preocupações: temos que ganhar dinheiro, temos que ser os melhores, temos que superar a concorrência e só então... Só então o quê? Morrer?

Crianças mal atingem os cinco anos e já começam a ser sabatinadas sobre o futuro: “O que você vai ser quando crescer?”. E as coitadinhas entram no jogo. Em vez de responderem que pretendem ser surfistas, caroneiras, participantes de um coro ou defensoras da natureza, respondem com a primeira profissão que lhes vêm à cabeça: veterinário, professor, bombeiro. Na verdade, elas não têm a menor ideia do que querem ser – nem os vestibulandos têm – mas já intuem que sua identidade estará atrelada ao que fizerem para se sustentar.

Tanto isso é verdade que os anjinhos crescem, estudam, começam a trabalhar e um dia estão numa festa e são apresentados a alguém. Trocam um aperto de mãos e a primeira pergunta entre os dois desconhecidos será: “O que você faz?”.

E não se ouvirá como resposta “eu levo meus filhos ao estádio, eu participo de rallys aos domingos, eu sou campeão em palavras-cruzadas, eu saio com meu cachorro todo final de tarde, eu vou ao cinema às quintas-feiras, eu namoro a mulher mais incrível do mundo, eu corro maratonas”.

Você responderá que é professor, veterinário, bombeiro. Ou vão achar que você não tem uma vida.

Mas você também. Só que ela ocupa um lugar muito menor do que deveria na sua lista de prioridades. Você passa um terço do dia trabalhando, e outro terço pensando na reunião de amanhã cedo, nas tarefas que ainda não foram concluídas, no cliente que está ameaçando deixar a empresa, no funcionário que não está correspondendo. No terceiro terço você dorme. Mal.

Quem está viciado nesse esquema pode encontrar dificuldade em relaxar. Mas para quem está entrando agora no mercado de trabalho, vale adotar desde cedo uma postura mais equilibrada entre vida pessoal e profissional, começando por repensar essa questão da identidade: você não é o que você faz para ganhar dinheiro, você é o que você faz para ser feliz. As horas de lazer também são produtivas, uma vez que elas abastecem nossa imaginação, sonhos, ideias, reflexões, e sem isso, aí é que não se cria identidade alguma, viramos apenas um número a mais nas estatísticas de mão-de-obra.

Não sei o que o Brasil pretende ser quando crescer, mas tomara que ele cresça com pessoas que, ao chegarem perto da morte, não tenham tantos arrependimentos pelo que deixaram de fazer quando ainda tinham tempo para fazê-las.

sábado, 24 de agosto de 2013

ESNOBADOS

ZERO HORA 24 de agosto de 2013 | N° 17532


CLÁUDIA LAITANO



Nem todo mundo passa pela experiência de ser seriamente humilhado, mas é quase impossível atravessar a vida sem nunca ter se sentido esnobado. Esnobar é uma forma cotidiana e aparentemente inocente de humilhar. Não exige grandes gestos ou palavras duras, basta um olhar – ou não olhar.

Há esnobismos de todos os tipos – culturais, sociais, estéticos, geográficos – e ninguém está livre de esnobar ou de ser esnobado. Pense um instante e é possível que você recorde todas as situações em que se sentiu diminuído, mas talvez tenha um certo trabalho para lembrar quando tratou alguém de forma arrogante. (A memória é muito seletiva nesses casos. )

Você pode não ter nenhuma intenção de humilhar a moça da limpeza do seu prédio, mas se passa por ela sem honrá-la com um bom-dia ou um com-licença está praticando uma modalidade muito comum de esnobismo funcional: a ocupação define se a pessoa é merecedora ou não da sua boa educação.

Entre as muitas formas conhecidas de esnobismo, uma das mais difundidas é a do setor de serviços e comércio. Bancos, salões de beleza, lojas metidas a grã-finas, é vasto o mercado de esnobação de clientes que não parecem se encaixar no perfil desejado.

Em uma cena já clássica do filme Uma Linda Mulher, Julia Roberts é esnobada por uma balconista porque não está bem vestida. Instantes depois, acompanhada de Richard Gere e do saldo ilimitado de um cartão de crédito, ela faz questão de voltar à loja apenas para esnobar a vendedora. De leve.

Há alguns dias, uma das mulheres mais poderosas do mundo veio a público contar que também foi esnobada. Oprah Winfrey entrou em uma loja na Suíça e perguntou o preço de uma bolsa. A vendedora não apenas não reconheceu a apresentadora como descartou a potencial cliente sugerindo que ela não teria cacife para pagar os US$ 38 mil do mimo. Oprah, uma das poucas pessoas que poderia comprar uma bolsa que custa um apartamento, deu uma entrevista a Larry King dias depois afirmando que teria sido vítima de racismo. Alguns acharam que ela foi tratada dessa forma por ser gordinha, já que mulheres acima do peso costumam ser esnobadas em lojas chiques tanto quanto mulheres que parecem não ter dinheiro. A loja garante que tudo foi apenas um problema de comunicação. Seja como for, só ficamos sabendo do episódio porque Oprah é famosa. Todos os dias, em todas as lojas do planeta, e fora delas também, alguém está sendo julgado pela cor, pelas roupas, pela forma do corpo. Parece banal e indolor – até o dia em que acontece com a gente.

Observador incansável dos hábitos da aristocracia, Proust notou que, em uma recepção cheia de pessoas ricas e poderosas, nada demonstra melhor a estirpe de alguém do que a deferência com que trata os que têm menos dinheiro ou poder. Ou seja: chique mesmo é ser gentil e generoso. O resto é tão brega quanto gastar US$ 32 mil com uma bolsa.

FADADA AO FRACASSO



ZERO HORA 24 de agosto de 2013 | N° 17532


PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA

Mais uma greve fadada ao fracasso


Se o objetivo principal da greve dos professores é forçar o governo do Estado a pagar o piso salarial como vencimento básico do magistério, a paralisação está fadada a repetir o fracasso de suas antecessoras. Porque cumprir a lei do piso não é simplesmente garantir que nenhum professor ganhe menos de R$ 1.567 por 40 horas semanais de trabalho. Isso já ocorre hoje, com o pagamento de um completivo. Cumprir a lei é tomar esse valor como básico do nível A1 e, sobre ele, aplicar todos os acréscimos de nível e classe, mais as vantagens individuais de cada professor. Significaria, por alto, um acréscimo de R$ 2 bilhões por ano nos gastos com a folha de pagamento.

Se tivesse dinheiro, o governador Tarso Genro autorizaria o pagamento do piso em um canetaço e veria seu índice de popularidade disparar entre os professores a um ano da eleição. O problema é que o Estado não tem esse dinheiro. Não terá, mesmo que demita todos os CCs ou corte toda a verba de publicidade, as fórmulas mágicas historicamente sugeridas pela direção do Cpers. Os aumentos aprovados para os professores, que somam 76,7% entre 2011 e 2014, não são suficientes para pagar o piso, até porque ele vem subindo acima da inflação.

O presidente da Confederação dos Municípios, Paulo Ziulkoski, calcula que, se for mantida a correção pelo Fundeb, o aumento do piso em 2014 será de 19,1% – três vezes mais do que a inflação. Isso elevaria o piso a R$ 1.866,29 em janeiro do próximo ano. Com as leis aprovadas no governo Tarso Genro, o básico dos professores estaduais passará para R$ 1.260 em novembro de 2014.

Tarso diz que R$ 1.260 seria o valor do piso se a correção fosse feita pelo INPC. Só que não é: o Congresso alterou o projeto do então presidente Lula para que a correção fosse feita pela variação do Fundeb e ele sancionou assim, com a assinatura de Tarso, inclusive.

Desde que o piso foi criado, o governo tenta, sem sucesso, alterar o índice de correção. O secretário da Fazenda, Odir Tonollier, acredita que a mudança será aprovada diante da impossibilidade de Estados e municípios suportarem reajustes tão superiores à inflação. Se não mudar neste ano, dificilmente mudará no ano eleitoral de 2014.

ALIÁS

Se o piso salarial subir para R$ 1,8 mil em 2014, a maioria dos municípios terá sérias dificuldades para pagar os professores em atividade e, mais ainda, os inativos, já que milhares deles são aposentados pelo INSS.



QUADRO BLINDADO

ZERO HORA 24 de agosto de 2013 | N° 17532


INFORME ESPECIAL | TULIO MILMAN


Múltipla escolha

Pequena notícia de jornal: nos Estados Unidos, uma universidade comprou quadros brancos, desses usados pelos professores em aula, com uma característica peculiar: eles são à prova de balas.

Fiquei intrigado. De que adianta quadros à prova de balas se os alunos atiram uns nos outros e não em direção às paredes? É que os equipamentos são móveis. Basta retirá-los de onde estiverem, se esconder atrás deles e esperar que o tiroteio acabe.

Genial.

Detectores de metal, câmeras de vigilância. Nada disso é suficiente. Agora, o professor precisa de um escudo.

Versatilidade.

Já era assim antigamente: quem tem mais de 35 lembra dos famosos casacos reversíveis inventados por uma marca gaúcha. É a mesma tecnologia, aplicada aos suportes físicos da educação.

Imagino a sala de aula daqui a alguns anos: o professor atrás de um vidro blindado, os alunos com capacetes e coletes à prova de balas.

O quadro-negro, ou branco hoje em dia, era uma plataforma para compartilhar conhecimento. Uma espécie de iPadão. Virou ferramenta de defesa pessoal.

Em breve, giz que se transforma em gás de efeito moral e cadeiras autoejetáveis, para necessidade de fugas rápidas.

Favor não esquecer de abrir o teto antes de apertar o botão.

O futuro é logo ali.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

UNIVERSIDADES, NÃO FORTALEZAS

FOLHA.COM 23/08/2013 - 03h00


Soraya Smaili


Na madrugada de 2 de agosto, Ricardo Ferreira da Gama, funcionário terceirizado do campus Baixada Santista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foi assassinado a tiros, em frente à sua casa, por quatro homens encapuzados.

A reitoria da Unifesp lamenta e repudia com veemência mais esse ato de barbárie. Ao mesmo tempo, é obrigada a reconhecer que o assassinato de Ricardo Gama, singular por suas características extremadas, lamentavelmente, não é um caso isolado. A cada dia, situações de violência são vividas por estudantes, funcionários e professores nos seis campi da Unifesp.

Por essa razão, o homicídio recoloca com força um debate necessário sobre a questão da segurança na universidade pública, em geral, e na Unifesp, em particular.

A Unifesp foi a universidade que mais cresceu nos últimos seis anos. O número de estudantes de graduação foi multiplicado por oito, distribuído em seis campi situados em São Paulo (onde estão suas escolas mais antigas), Diadema, Guarulhos, Osasco, São José dos Campos e o da Baixada Santista.

Em boa parte, os campi estão localizados em áreas de vulnerabilidade social, e há uma forte razão para isso: a presença da universidade visa também promover o desenvolvimento social do entorno, segundo uma perspectiva de integração entre ambos.

Não obstante, a Unifesp sofreu uma diminuição no número de funcionários. A carreira de vigilante foi extinta, e as universidades federais foram obrigadas a terceirizar esse e muitos outros serviços, sem contar com os recursos adequados.

Promover a integração da universidade ao meio em que ela se encontra não significa simplesmente abrir as suas portas para a comunidade.

Trata-se, sobretudo, de construir uma reflexão aprofundada sobre a importância que a universidade tem para a sociedade, de modo a conquistar o reconhecimento de sua atividade como relevante para a vida.

Nesse processo de construção de abertura e diálogo, a violência cumpre um papel obviamente destruidor e desagregador.

Alguns professores, estudantes e funcionários, alarmados pela violência, querem mais vigilância, catracas, sistemas de câmera em todos os lugares.

Se é perfeitamente compreensível que as pessoas queiram se proteger, por outro lado somos obrigados a observar que os crimes contra o patrimônio --todos, obviamente, condenáveis-- não podem ser equiparados a agressões físicas e sexuais e até homicídios, como o de Gama.

Não se trata de uma observação secundária. Devemos, obviamente, agir com rigor e rapidez contra qualquer ato ilegal. Mas não podemos correr o risco de criar novos problemas --já por si só gravíssimos-- mediante a transformação dos campi universitários em fortalezas estreitamente vigiadas.

A multiplicação de câmeras, catracas e sistemas de alarme é contraditória com a concepção de uma vida universitária que preserva a liberdade de cátedra, de manifestação e expressão. Nem representa um fato consumado a proposição segundo a qual a presença de uma polícia fortemente armada e pouco treinada para o ambiente universitário é sinal de segurança.
Veridiana Scarpelli



Como, então, devemos tratar a questão? A resposta, evidentemente, não será dada unicamente no âmbito da Unifesp nem sequer pelo conjunto das universidades federais.

Trata-se de um problema social. O momento deve nos permitir o debate das ideias, a busca de soluções. O clamor por mais segurança não resolverá, por si só, o problema social nem diminuirá a vulnerabilidade em que nos encontramos.

A reitoria da Unifesp propõe o debate para a sua própria comunidade, mas também para a sociedade e autoridades brasileiras.

Precisamos encontrar soluções e caminhos para que não nos enveredemos em discussões comocionadas ou reduzidas, que poderão nos levar a medidas de pouca eficácia. Importante é não colocar em risco o papel de promover a reflexão e o debate de ideias próprio a uma universidade digna desse nome.

SORAYA SMAILI, 50, professora de farmacologia, é reitora da Universidade Federal de São Paulo

*

PARTICIPAÇÃO

ADICIONAL PARA PROFESSORES QUE ENSINAM EM BAIRROS VIOLENTOS


Professores que dão aula em bairros violentos podem ganhar adicional em SP. Projeto de lei em discussão na Câmara prevê pagamento de adicional de periculosidade

O GLOBO, COM BOM DIA BRASIL
Publicado:23/08/13 - 10h53


SÃO PAULO - Um projeto de lei em discussão na Câmara Municipal de São Paulo prevê o pagamento de adicional de periculosidade a professores da rede municipal. Segundo uma pesquisa recente, professores dizem que já é um risco trabalhar em algumas escolas públicas. O levantamento, feito em 167 cidades paulistas, mostra que 40% dos professores entrevistados contaram que já tinham sofrido algum tipo de agressão verbal ou física no ambiente escolar. Foi com base nessa pesquisa que um vereador propôs a lei, que tem causado polêmica.

O número de professores agredidos pode chegar a quase 71 mil, entre os 162 mil da rede estadual. Especialistas e autoridades tentam encontrar saídas para motivar a categoria.O projeto da Câmara Municipal pretende igualar a atividade do professor a de profissionais que correm riscos, como policiais. Pelo projeto, quem dá aulas em regiões mais violentas, passaria a ganhar um adicional de periculosidade de 30% sobre o salário.

O presidente do Sindicato dos Profissionais de ensino do município diz que a categoria precisa ganhar melhor e ser mais valorizada, mas não dessa forma. - Trabalhar como professor não é periculoso. É uma atividade de risco? Então, nós precisamos ter políticas públicas que eliminem o fator de insegurança, de indisciplina, de violência no entorno da escola ou dentro dela - diz Cláudio Fonseca.

O projeto de lei que está em discussão na Câmara Municipal de São Paulo foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça, mas ainda precisa passar por outras comissões antes de ir para votação em plenário. Depois de duas votações, segue para a sanção do prefeito Fernando Haddad (PT).

Atualmente, a rede municipal de ensino da capital tem 64 mil professores

terça-feira, 20 de agosto de 2013

ESCOLAS ESPECIAIS: DIREITO Á ESCOLHA

ZERO HORA 20 de agosto de 2013 | N° 17528

 Paulo Paim*



Em todas as oportunidades que tenho, faço questão de reconhecer o trabalho que diversas entidades e organizações não governamentais realizam em favor da educação das pessoas com deficiência.

Sou daqueles que acreditam que, brevemente, todos os alunos com deficiência terão espaço e acesso em escolas regulares. Entretanto, obrigá-los a ter como única opção esse tipo de escola é algo que não condiz com a democracia e a escola cidadã que queremos. É preciso respeitar o direito das pessoas com deficiên- cia de escolher “onde” estudar e com “quem” estudar.

As escolas especiais fazem parte da vida de muitas pessoas, que por um longo tempo não encontraram acolhimento na escola regular, em que as únicas instituições que recebiam essas pessoas eram as filantrópicas ou especializadas. Atualmente, são mais de 2,5 mil Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apaes) espalhadas pelo país e elas atendem mais de 250 mil alunos. Há também as Pestalozzi, Apada, Feneis.

É de parabenizar o ato realizado no início de agosto na capital gaúcha que reuniu pais, alunos, professores de escolas especiais e simpatizantes da causa que foram às ruas para mostrar toda a sua indignação, exigindo a manutenção das Apaes. Esse movimento já está se espalhando pelo Brasil todo. A Comissão de Direitos Humanos do Senado recentemente realizou uma audiência pública sobre o assunto.

Pesquisas demonstram que a sociedade não deseja a extinção dessas escolas. Se as escolas especiais ainda são desejadas é, provavelmente, em razão de que lá as pessoas com deficiência encontram seus pares, são acolhidas, encontram equipe multidisciplinar, acessibilidade e professores qualificados.

Exclusão, para mim, é o que está acontecendo ao retirar a palavra “preferencialmente” da Meta Quatro do Plano Nacional de Educação. Isso significa que as pessoas com deficiência e seus responsáveis não terão mais o direito de escolher o tipo de escola e deverão “unicamente” ingressar no ensino regular, que, atualmente, não está preparado para receber esses alunos.

O Estatuto da Pessoa com Deficiência, proposta de nossa autoria, está prestes a ser aprovado pelo Congresso Nacional. A nossa intenção é assegurar a expressão “preferencialmente” no texto do artigo 40, dando opção ao tipo de escola que a pessoa com deficiência deseja frequentar.

Antes de se pretender que as escolas especiais sejam excluídas, é preciso ter clareza quanto ao lugar para onde será deslocado o público que hoje é atendido por elas. Defendo a possibilidade de uma inclusão real, que ultrapasse o plano da utopia.*SENADOR (PT-RS)

ESCOLAS DEPREDADAS

ZERO HORA 20 de agosto de 2013 | N° 17528

EDITORIAIS



A deplorável situação das instalações de escolas públicas exposta em reportagem do programa Teledomingo, da RBSTV, desafia as prefeituras e o governo estadual a reagirem contra a falta de segurança nesses estabelecimentos. O balanço, divulgado na véspera da reabertura parcial da Escola Municipal La Hire Guerra, incendiada por um grupo de jovens em Eldorado do Sul há mais de uma semana, confirma a necessidade de uma ação específica por parte do poder público. Por mais que professores, alunos e a própria comunidade nas quais as escolas funcionam se preocupem em zelar pelo patrimônio público, só essa boa vontade não tem sido suficiente.

O levantamento feito em 11 instituições da Capital incluiu tanto pequenos estabelecimentos quanto escolas tradicionais como Instituto de Educação Flores da Cunha, Júlio de Castilhos e Parobé. A situação, que de maneira geral se repete por todo o Estado, deixa claro que cadeados, cercas de ferro, muros, arame farpado e câmaras de vídeo, quando existem, são insuficientes para evitar atos de vandalismo, que aparecem sob a forma de pichações, vidros quebrados, furtos e até incêndios criminosos.

É difícil acreditar que um ambiente escolar nessas condições possa garantir aos alunos a tranquilidade que necessitam para o aprendizado e a transmissão de valores como o respeito ao bem público, a ordem e a disciplina. Não há como se aceitar como inevitável a convivência no cotidiano do ensino com paredes riscadas, janelas e portas danificadas – seja por desgaste do tempo ou, muito menos, por atos de vandalismo.

Sem condições de atuar com um patrulhamento específico, a Brigada Militar alega que só pode agir ao ser demandada, normalmente quando as agressões ao ambiente escolar já foram cometidas. Os organismos de segurança, porém, precisam buscar, em conjunto com as comunidades, alternativas, de preferência preventivas, que contribuam para reverter essa situação inaceitável.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

DEVER CUMPRIDO

G1 TV GLOBO FANTÁSTICO 18/08/2013 21h10

'Certeza de dever cumprido', diz pai de menino que devolveu carteira no RS. Lucas, de 12 anos, caminhava com o irmão e um amigo quando encontrou uma carteira com R$ 1,5 mil. Ele a devolveu para Dona Evanir, de 74 anos.




Um momento de honestidade deixou um menino famoso nesta semana no Sul do Brasil. Lucas, de 12 anos, caminhava com o irmão e um amigo quando encontrou uma carteira com R$ 1,5 mil.

“Eu tropecei na carteira. Abri e vi que tinha o número dentro. Na hora pensei em devolver”, conta Lucas Rosa.

Na sexta-feira, ele reencontrou a dona da carteira, Dona Evanir, de 74 anos. “Agradeço de todo o meu coração e que seja um homem bem feliz na sua vida”, ela diz.

A carteira guardava a pensão e a aposentadoria da Dona Evanir. “Pago luz, água, comida”, ela conta.

Lucas mora com o irmão Ozeas e o pai, que é pedreiro. A casa ainda está em construção, mas o caráter dos meninos já está bem alicerçado pelo pai que, há nove anos, cria o Ozeas e o Lucas sozinho.

Enéas conta o que foi mais difícil na educação dos meninos: “Ensiná-los a separar o bem do mal, a respeitar as pessoas. É muita emoção e muito orgulho também. Porque é a certeza que o dever está cumprido”, diz o pai do menino.

O gesto de Lucas comoveu e inspirou novos atos de solidariedade. O xará Lucas, de 8 anos, abriu mão de um de seus bens mais preciosos. Deu o videogame dele para o novo herói de Porto Alegre. “Eu fiquei feliz em ajudar alguém”, diz o menino.

Mais importante do que o presente, é a nova amizade que foi feita.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

ATOS PELA EDUCAÇÃO

ZERO HORA 16 de agosto de 2013 | N° 17524

NAS RUAS. Atos na Capital pedem melhorias na educação

Grupo protestou contra o Ensino Médio Politécnico e o piso de professores



Dois protestos realizados ontem em Porto Alegre pediram melhorias no sistema educacional gaúcho. Pela manhã, os manifestantes partiram em caminhada até o Palácio Piratini e depois seguiram para a prefeitura. À tarde, o grupo se reuniu em frente ao Colégio Protásio Alves, na Avenida Ipiranga.

Comandado pelo Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers/Sindicato) e pelo Bloco de Luta, o protesto ocorrido pela manhã partiu do Colégio Júlio de Castilhos e tomou ruas do Centro. Em frente ao Palácio Piratini, pedindo melhorias na educação e passe livre para estudantes, os líderes tentaram, sem sucesso, uma audiência com o governador Tarso Genro. A manifestação prosseguiu, com os discursos de representantes da marcha. O ato chegou a provocar transtornos no trânsito.

Em torno das 12h30min, os manifestantes começaram a se deslocar em direção à prefeitura. No Paço Municipal, cobraram o encaminhamento da proposta de passe livre para votação na Câmara de Vereadores.

À tarde, em frente ao Colégio Protásio Alves, na Ipiranga, os manifestantes demonstraram – com cartazes e gritos de guerra – sua insatisfação com o Ensino Médio Politécnico, com o piso salarial dos professores e com o valor das passagens de ônibus. O grupo fechou a Ipiranga e permaneceu alguns minutos em frente ao prédio de Zero Hora.

– Temos aula sobre Copa do Mundo em vez de matérias importantes. Não sei como vou conseguir fazer o Exame Nacional do Ensino Médio nessas condições – lamentou a aluna do primeiro ano Tamires Garcia, 16 anos.

A professora Kátia Martini diz que a situação das escolas estaduais é “cruel”.

– O pior é ver a estrutura onde eles (alunos) estudam – reclama Kátia.





NA RUA DE CANOAS, ESTUDANTES DANÇAM PELA EDUCAÇÃO PÚBLICA

Cerca de 2 mil crianças e jovens do Ensino Fundamental da rede pública “acordaram” Canoas na segunda-feira passada. Estudantes de sete a 14 anos realizaram um espetáculo artístico urbano em prol da educação na cidade.

– Celebramos com música, canto e dança as boas práticas das escolas públicas. Foi uma ação de exercício de cidadania por meio da arte e da educação – destacou Rubiélson Medeiros, fundador da ONG Canta Brasil, uma das instituições idealizadoras da ação.

Batizada de Canoas Cidade do Mundo, a intervenção artística teve duração de oito minutos e estava sendo ensaiada desde abril. Contou com a participação de 42 escolas públicas. A ação, com jeito de flash mob, teve letra e música próprias.

POÇO DE RECURSOS







ZERO HORA 16 de agosto de 2013 | N° 17524


CAIO CIGANA

R$ 179 bi para saúde e educação

Projeção até 2022 aponta quanto as duas áreas receberão de dinheiro oriundo dos royalties do petróleo extraído do pré-sal


A aprovação do projeto que assegura a destinação dos recursos dos royalties do petróleo para a saúde e educação vai direcionar mais R$ 179,1 bilhões para reforçar o investimento nas duas áreas até 2022. Os cálculos da consultoria da área de minas e energia da Câmara dos Deputados são baseados na projeção de crescimento da extração no país em uma década.

De acordo com o texto, que após ser votado pelos deputados na terça-feira agora segue para sanção presidencial, 75% dos recursos serão aplicados em educação e os 25% restantes, em saúde. A proposta prevê ainda que metade do dinheiro que engordará o chamado fundo social, que já conta com recursos, também seja direcionado para as duas áreas. Pela proposta anterior, seriam apenas os rendimentos do fundo.

Embora esteja definida a destinação do dinheiro, ainda não está claro o caminho da verba. Considerado o técnico da Câmara que melhor conhece o setor, o consultor legislativo Paulo César Ribeiro Lima avisa que a forma e os critérios para a distribuição do dinheiro ainda terão de ser definidos. De qualquer forma, em um primeiro momento, os recursos serão centralizados pela União. Para terem acesso facilitado ao dinheiro, Estados e municípios precisarão adaptar as suas legislações e explicitar que aplicarão a verba nas duas áreas.

– A União vai ter de distribuir esses recursos e a prioridade será para aqueles Estados e municípios que determinarem em suas respectivas legislações que os royalties e as participações especiais terão a mesma destinação que a União deu: educação e saúde. Mas prioridade não quer dizer exclusividade – diz Lima, braço direito do deputado André Figueiredo (PDT-CE) na relatoria da matéria.

As receitas dos royalties terão origem apenas em áreas cuja declaração de comercialidade tenha ocorrido a partir do dia 12 de dezembro do ano passado e válidas para contratos celebrados pelo formato de regime de concessão, de cessão onerosa e de partilha de produção. Os anteriores irrigam o fundo social, com apenas metade da verba atrelada às duas áreas.

Apesar de ver um avanço no texto, a Confederação Nacional dos Municípios (CMN) avalia que os recursos não podem ser considerados a redenção para as áreas de saúde e educação porque o maior volume do dinheiro será obtido apenas ao final de 10 anos. Para a entidade, também falta esclarecer quais serão os gastos autorizados com a verba.

Por enquanto, a maior parte dos recursos virá dos royalties e da participação especial. As projeções indicam que, dos R$ 179,1 bilhões previstos até 2022, apenas R$ 16,4 bilhões tem origem no fundo, que passará a ser representativo na composição do montante a ser direcionado para saúde e educação somente a partir de 2019.



EDUCAÇÃO - R$ 134,3 bilhões é quanto a educação, área mais beneficiada, deve receber até 2022. Além de investimentos, os recursos poderão ser utilizados para custeio e pagamento de salário de professores. A prioridade será a educação básica em tempo integral.

SAÚDE - R$ 44,8 bilhões é a parcela para saúde, o equivalente a 25% dos recursos. A área não estava inicialmente contemplada, mas em junho garantiu participação por uma emenda sugerida pelo DEM. Ainda não há detalhamento sobre a aplicação do dinheiro.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

SEM EDUCAÇÃO, SEREMOS ESCRAVOS DA IGNORÂNCIA

ZERO HORA 15 de agosto de 2013 | N° 17523


DENISE SOUZA COSTA*


As recentes manifestações populares revelam várias faces deste novo momento da democracia brasileira. A sociedade em rede se mobilizou e reencontrou seu espaço, nas ruas, e foi ouvida. A cidadania ativa fortaleceu a democracia, porém, para seu pleno exercício, precisamos formar cidadãos cada vez mais aptos e capazes de tomar suas próprias decisões e de assumirem as suas responsabilidades. Sendo assim, quanto maior for o nível de escolaridade de um país, maiores condições terão seus integrantes de formarem juízos de valor para fazerem suas escolhas e participarem da construção de soluções concretas para uma sociedade mais justa e igualitária.

É neste contexto que a educação torna-se indispensável, pois sua tarefa essencial deve ser o desenvolvimento da capacidade de aprender e de promover a autonomia da pessoa para ser o cidadão ativo e conectado deste novo tempo. Essa atuação só se efetiva no contexto de um Estado democrático, no qual a verdadeira liberdade não se restringe à liberdade física. Na era do conhecimento, esta só será plena com a liberdade intelectual. Nesta, o sujeito desenvolve aptidões que o capacitarão a fazer um melhor julgamento e decidir de que modo os valores fundamentais, consagrados pela sociedade e formalizados como direitos na ordem constitucional, devem ser concretizados pelos poderes públicos com eficiência e transparência. Assim, o instrumento hábil para que a pessoa atinja esse status é a educação formal de qualidade somada à educação para uma cidadania responsável. É neste sentido que o conceito de cidadania se amplia para além da nação, pois nas suas relações com o mundo em rede, o cidadão passa a agir de forma independente, conectado com temas globais como pluralidade cultural, paz, desigualdades sociais, meio ambiente, saúde e segurança. Será por meio da educação efetiva e de qualidade que se alcançará o Estado democrático de direito, entendendo que a educação favorece o progresso pessoal e o fortalecimento da cidadania, além de contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável em todas as suas dimensões, econômica, social e ambiental. Os direitos fundamentais serão assegurados e concretizados pelo poder público a partir do momento em que os seus titulares se tornarem conhecedores desses direitos e de seus deveres, caso contrário, estarão condenados à vontade do Estado, escravos da ignorância.

*ADVOGADA, PRESIDENTE DA COMISSÃO DE EDUCAÇÃO DA OAB/RS

ROYALTIES DO PRÉ-SAL VÃO PARA A EDUCAÇÃO E SAÚDE


ZERO HORA 15 de agosto de 2013 | N° 17523

EFEITO PRÉ-SAL. Royalties vão para educação e saúde
Novas regras valem apenas para campos com operação a partir de 3 de dezembro de 2012


Sem debates e em votação simbólica, deputados federais aprovaram ontem as regras para a distribuição de recursos do fundo social do pré-sal, com destinação de recursos para educação e saúde assim que for sancionado pela presidente Dilma Rousseff. As novas regras valem para áreas de exploração que tiveram operação comercial com início a partir de 3 de dezembro de 2012, o que permitiu o surgimento de estimativas extraoficiais que situam o reforço nos recursos para as duas áreas em R$ 2 bilhões a partir de 2014 – valor que ainda tem de ser apurado e confirmado.

A estreia está prevista para 22 de outubro, quando será ofertada a área de Libra, para a qual a Agência Nacional do Petróleo (ANP) estima de 8 bilhões a 12 bilhões de barris em óleo recuperável (que pode ser extraído) – a maior oferta em leilões internacionais. A disputa marca o início do sistema de partilha da produção, em que o vencedor é definido com base na quantidade da produção que divide com o governo, excluída a parte que compensa o operador pelos gastos.

Essa parcela, chamada de óleo-lucro, é a principal fonte de recursos do fundo social do pré-sal. Acabou excluída do texto a exigência de que pelo menos 60% do óleo-lucro vá para a União. O edital de leilão da área de Libra prevê o mínimo de 40% para a União. Conforme o ministro da Educação, Aloízio Mercadante, em futuros leilões para exploração de outras áreas, em que não haja garantia clara da existência de óleo, o percentual de 60% poderia afugentar interessados.

Dinheiro deverá servir para gerações futuras

Uma das principais mudanças – que poderá ser revista quando o patrimônio do fundo crescer – foi o alvo da divisão. O fundo foi criado para servir às gerações futuras, por isso estava previsto que apenas os rendimentos das aplicações do fundo fossem usadas, mesmo que para saúde e educação. Como foi rejeitada a inclusão de todos os campos no mar já em operação – proposta em 2010 pelo então deputado gaúcho Ibsen Pinheiro (PMDB) –, a Câmara alterou essa premissa. Os deputados decidiram que os ativos do fundo (capital) seriam usados para a vinculação de recursos para a saúde e educação – e não apenas os rendimentos.

O argumento, acatado pela maioria, foi de que isso permitiria que os recursos fossem usados já no curto prazo. O governo alertou que em 35 anos o dinheiro do fundo social, pela fórmula aprovada na Câmara, estaria reduzido à metade. Com isso, o governo se compromete a sancionar a proposta da Câmara, garantindo o uso dos ativos do fundo num primeiro momento. Em contrapartida, logo após a sanção enviará novo projeto de lei que, em quatro anos, definiria uma transição do uso dos ativos do fundo social para utilização exclusiva dos rendimentos.


PRINCIPAIS PONTOS

A votação relâmpago foi permitida por um acordo fechado mais cedo entre governo e partidos da base aliada. Depois, foi sacramentado com a oposição. O acerto envolveu um meio-termo entre o que o governo defendia, os termos aprovados no Senado e o texto aprovado na Câmara em julho. Um dos argumentos para construir o acordo foi evitar insegurança jurídica para o primeiro leilão de blocos de petróleo e gás natural na região do pré-sal sob o novo modelo de exploração, chamado de partilha da produção.

O que ficou acertado no Congresso e irá para sanção da presidente Dilma Rousseff

- Divisão dos royalties e das participações governamentais – serão destinados 75% para a educação e 25% para a saúde.

- Recursos do fundo social – serão aplicados imediatamente metade do capital – não só os rendimentos, como estava previsto antes.

- Data de corte – entram na nova regra royalties e participações governamentais de áreas que tenham entrado em operação comercial após 3 de dezembro de 2012.

- Operação comercial – é quando a área ou bloco é transformada efetivamente em campo, por meio de declaração enviada pela empresa responsável pela exploração.

- Recursos da União com o pré-sal – destina ao fundo social todos os royalties e a participação especial da União obtidos com o pré-sal em contratos de concessão (anteriores à mudança do modelo para partilha da produção).

- Estados e municípios – até a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a participação dos Estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, será mantida a regra atual, que privilegia unidades da federação mais próximas às áreas de produção.

- Administração dos recursos – a partir da sanção da presidente Dilma, Estados e municípios vão gerenciar de duas formas os recursos do petróleo: a maior parte terá aplicação livre. A parte relativa às novras regras será obrigatoriamente destinada à saúde e à educação. Na medida em que aumentar a participação dos recursos do pré-sal, a parte “carimbada” para as área de saúde e educação vai ficar maior, e a de aplicação livre deverá diminuir.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

EDUCAÇÃO PARA O TRABALHO

ZERO HORA 14 de agosto de 2013 | N° 17522

HEITOR JOSÉ MÜLLER*


Uma das precondições para fazer o Brasil avançar é a melhoria de seu sistema educacional. Ninguém põe em dúvida a necessidade de um salto de qualidade no ensino básico, sintonizado com a formação integral para o exercício de atividades profissionais que contribuam com maior produtividade para o país e com mais qualidade de vida para a população. A Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) rea-firma seu comprometimento com essa causa ao se somar aos esforços do movimento Educação para o Mundo do Trabalho, liderado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). A meta é definir com a sociedade, até setembro, melhores oportunidades de formação de crianças e jovens em um prazo compatível com a velocidade que o país precisa para garantir não apenas mão de obra, mas inteligência inovadora.

O que os industriais propõem com essa iniciativa é um convite à ação. Há uma percepção de urgência na melhoria da qualidade do ensino. O país registrou avanços que precisam ser reconhecidos. Ainda assim, não pode se conformar com uma realidade na qual 3,6 milhões de crianças e jovens de quatro a 17 anos continuam fora da escola. E é igualmente inaceitável que 14 milhões de brasileiros de 15 anos de idade ou mais não saibam ler ou escrever.

Os números se tornam ainda mais incômodos diante da contínua redução de espaço para tarefas mecânicas e rotineiras. O uso de novas tecnologias, especialmente as relacionadas com a comunicação e a informação, desafia o ambiente do trabalho e o da aprendizagem. Cada vez mais se exige o domínio e o desenvolvimento de habilidades necessárias para conviver com um cotidiano inovador, no qual o profissional é cobrado continuamente a pensar, a planejar e a reformular rotinas no exercício de suas atividades.

Diante dessas exigências, as ações têm que se concentrar na qualificação de disciplinas essenciais para o aprendizado e para a continuidade dos estudos, a começar por língua portuguesa e matemática. A assimilação adequada de conteúdos nessas áreas do conhecimento é indispensável para garantir facilidade de comunicação, de interpretação, de raciocínio e mais espírito crítico. Quem domina essas ferramentas tem mais facilidade para aumentar o número de anos de estudos, para falar uma segunda língua e para aprender continuamente – pressupostos do novo mundo do trabalho.

A sociedade – incluindo desde os pais aos empregadores – precisa se empenhar mais por um ensino de qualidade. A Fiergs, juntamente com agentes do Serviço Social da Indústria (Sesi), do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), está decidida a fazer a sua parte, contribuindo para a definição de uma agenda de curto e médio prazo em favor da educação.


*PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO RIO GRANDE DO SUL (FIERGS)




SINFONIA DE ESPERANÇA


ZERO HORA 4 de agosto de 2013 | N° 17522

BRUNA SCIREA

A banda mais corajosa da cidade

Incêndio criminoso que destruiu escola em Eldorado do Sul não abalou músicos, que prometem desfilar no 7 de Setembro



Crislaine Martins, 21 anos, é a primeira a chegar aos ensaios. É tarefa dela buscar a chave da sala de aula, alinhar os músicos em fila e entregar-lhes os instrumentos que há mais de duas décadas trazem melodia à Escola Municipal La Hire Guerra, no bairro Sans Souci, em Eldorado do Sul.

Há 13 anos na banda marcial, a jovem conquistou conhecimento e respeito suficientes para assumir a função de regente-mor. Por isso, nas apresentações, ela vai à frente. De bastão em mãos, a maestrina dita o tempo, a velocidade e a ordem aos 40 músicos, com idades entre 13 e 43 anos. Eles a seguem com graça e disciplina.

Ao chegar à escola ontem à tarde, no entanto, já não havia mais porta para abrir, nem instrumentos para distribuir. A sala de aula que abrigava cerca de 60 objetos da banda – entre eles baquetas, cornetas, pratos e liras – não resistiu às chamas de um incêndio criminoso, supostamente provocado por adolescentes na madrugada de segunda-feira.

Ainda assim, Crislaine estava lá. Mesmo que tudo fosse silêncio, havia motivos para a jovem colorir o ambiente com o bastão de fitas azuis e amarelas que trouxera de casa: sua função passara a ser de maestrina da esperança. Tomou para si a missão de fazer com que cada integrante da banda acredite que, na data para a qual tanto ensaiam, o dia 7 de setembro, todos estarão na rua com novos instrumentos.

– Vamos conseguir. Somos unidos, amigos de muito tempo – dizia.

Solidariedade e doações de instrumentos animam alunos

Embora chovesse dentro e fora da escola, não se viu sequer um pingo de abalo entre os músicos. Com as mãos nas cinzas, a garota reunia as teclas do que um dia fora uma lira, seu instrumento preferido. Depois de buscar uma haste de metal, ousou tocar, até encontrou o tom certo.

– Essa nota aqui é a sol, Diego – indicou, sorridente, ao colega.

Se depender do número de ligações solidárias que a escola vem recebendo, a expressão deve permanecer constante na feição da jovem. A coordenadora da banda, Adriana Maciel, logo chegou com o alento. Pelas suas contas, sete pessoas já haviam telefonado, oferecendo instrumentos musicais.

– Vamos fazer do limão a limonada. A nossa banda vai para a rua, meus amores – sentenciou a diretora da escola, Fabiana Rodrigues.

– Vai ter que ir – emendou a regente.


“Sans Souci é uma família”, diz costureira

A polícia deve ouvir hoje os quatro adolescentes suspeitos do ataque, além dos seus pais.

– Estamos levantando todos os dados. Pelo que temos até agora, pretendo solicitar a internação dos quatro – diz o delegado Alencar Carraro.

A prefeitura mantém, de maneira emergencial, vigilância durante 24 horas na escola. As aulas serão retomadas nos próximos dias, em turnos reduzidos, na parte não atingida da escola e no salão paroquial.

Até o fim da semana, a orquestra desafinada de marteladas que põem ao chão o que sobrou do telhado será substituída pelo som do recomeço. As 10 salas atingidas devem ser reconstruídas nos próximos 45 dias, garante o prefeito Sérgio Munhoz.

Enquanto isso, a comunidade tenta ajudar a banda que não quer se calar. A costureira voluntária Almeri Ramos Leal, 70 anos, trabalha com ainda mais vigor para aprontar os uniformes para o desfile cívico. Por sorte, ela atrasou-se na entrega. Na hora do fogo, as peças ainda estavam à beira de sua máquina, à espera de um último arremate.

Moradora do bairro há 40 anos, ela resume o espírito da comunidade. Seus três filhos se formaram na instituição – um deles tocava tarol. Agora, espera pela volta da banda, símbolo da reconstrução da escola:

– Vou chorar, porque sou muito chorona. A nossa Sans Souci (comunidade) é uma família – comenta.


ZERO HORA N° 17522 DO LEITOR. Vandalismo

Fiquei estarrecido com a notícia e as fotos da escola incendiada pelos jovens vândalos de Eldorado do Sul. No meu entender, os pais desses jovens deveriam ser chamados a responder por esse vandalismo, juntamente com seus filhos. Se não com dinheiro ou bens, com o seu trabalho. Aliás, esses moços já são grandinhos o suficiente para pegarem no batente e ajudarem na reparação do dano que causaram.

Paulo Alfredo Borges Lucena, Contador – Porto Alegre

O incêndio criminoso da escola de Eldorado do Sul, por quatro desajustados sociais, é o retrato exato do estado doentio da sociedade brasileira. “Apreendidos” no local do sinistro, confessam a autoria e são liberados no mesmo dia. Pior que isso, só as explicações das “sociólogas de plantão”, segundo as quais os jovens estão dizendo: esta escola não nos representa. Tenham a santa paciência.

Vanderlei Gonçalves, Militar – Porto Alegre






A ESCOLA AGREDIDA



ZERO HORA 14 de agosto de 2013 | N° 17522

EDITORIAIS


Especialistas ouvidos a respeito do episódio em que um grupo de adolescentes colocou fogo na escola, em Guaíba, são quase unânimes em considerar a atitude dos jovens mais como um pedido de ajuda ou como um gesto de contestação à instituição do que propriamente como uma ação delituosa. É também essa a interpretação da lei. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, os autores da depredação podem, no máximo, receber como punição uma medida socioeducativa que vai da prestação de serviços à internação, a critério do Juizado da Infância e da Juventude.

Parece pouco, considerado o dano causado. O incêndio provocado pelos jovens destruiu salas de aula, inclusive uma destinada a alunos com necessidades especiais, e inutilizou os instrumentos da banda escolar, formada por cerca de 40 meninos e meninas que se preparavam para o desfile de 7 de Setembro. Os garotos que assumiram a autoria do vandalismo alegaram que tinham bebido e que queriam quebrar as instalações da escola para não ter aula no dia seguinte.

Diante de tamanha insensatez, é natural que muitas pessoas queiram uma punição rigorosa e exemplar para os infratores. Porém, se não cabe ser excessivamente tolerante, até mesmo porque a impunidade acaba servindo de estímulo para outros jovens, também não se pode tratar adolescentes como delinquentes irrecuperáveis. Entre a permissividade e a insensibilidade, certamente a Justiça encontrará uma alternativa apropriada para o caso. Uma boa lição de cidadania seria fazer com que os garotos voltem a cumprir seus deveres de estudantes num turno e trabalhem pela recuperação da escola no outro.

NÃO HÁ CULPADOS

ZERO HORA 14 de agosto de 2013 | N° 17522


ANMOL ARORA*



De manhã, quando peguei, como de costume, a Zero Hora e deparei com a foto da escola incendiada em Eldorado do Sul, fiquei me perguntando: o que está havendo? O que posso fazer? A resposta para a primeira pergunta já tenho há bastante tempo, que vai desde problemas sociais, pobreza, drogas, falta de esperança, falta de amor, falta de limites, questões espirituais etc. A resposta para a segunda pergunta é a que mais me interessa neste momento. Não gasto mais tempo culpando os outros, reclamando e repetindo expressões como que horror.

Dirijo uma ONG que faz meditação pela paz e, por incrível que pareça, a nossa escola pioneira do projeto fica em Eldorado do Sul. Há pouco mais de um ano, a Escola Hiroshima esteve na capa de Zero Hora e a foto era um grupo de crianças meditando pela paz... Outras escolas do município já participaram dessa meditação. E agora? A notícia de vandalismo também me abalou. Após algumas respirações profundas e um pouco de reflexão, sinto vontade de trabalhar mais ainda pela paz. Também me sinto responsável pelo que está acontecendo. Não há culpados, somos todos responsáveis! O que quero compartilhar é que a grande mudança na sociedade só ocorrerá quando todos se sentirem responsáveis por tudo o que acontece neste planeta! Se continuarmos culpando os outros, desde os pais, educadores, governo, autoridades, seremos tão infantis quanto as nossas crianças!

Está na hora de usarmos a mesma energia que gastamos fazendo comentários de indignação e surpresa para algo mais construtivo e revolucionário. Dentro de nós, a energia do positivo e a do negativo são a mesma. Cabe a cada um decidir para onde vai conduzir a sua energia. Gandhi conseguiu mobilizar uma nação como a Índia a partir de um pequeno grupo de pessoas que resolveram se queixar menos e fazer algo profundo e duradouro como a independência do país. Vamos reclamar menos e fazer mais!!! Este é o momento de levar um instrumento para a banda da escola, um abraço para os professores, uma palavra de fé para os alunos, material de construção, uma meditação pela paz para Eldorado do Sul, ou apenas ter um pensamento positivo de onde você estiver... E se você não tem vontade de fazer nada disso, pelo menos evite falar mal... não precisamos de mais pessoas falando mal... e lembre que cada um de nós é responsável por tudo, tudo mesmo... não somos mais crianças...*PSIQUIATRA, ONG MENTE VIVA

terça-feira, 13 de agosto de 2013

SÍMBOLO DESTRUÍDO

ZERO HORA 13 de agosto de 2013 | N° 17521

ENTREVISTA | ÂNGELA RAVAZZOLO


Quem percorre ruas e avenidas de Porto Alegre, ou de outras tantas cidades do país, depara regularmente com pichações, monumentos quebrados, lixo espalhado, paradas de ônibus destruídas. O vandalismo e o desrespeito pelo patrimônio público não são assuntos novos no Brasil.

Mas, quando esse tipo de violência ocorre dentro de uma escola, o choque tende a ser maior. Ou pelo menos deveria ser. A sala de aula pode ser o lugar ideal para abrigar o que a sociedade tem de melhor: a vontade de aprender e crescer, aproveitando de forma saudável as diferenças e ainda todos os embates e contradições que o aprendizado pode despertar.

Ainda que as salas de aula do século 21 venham exigindo um novo olhar de educadores, para atender um jovem inquieto e que exige novos métodos pedagógicos, o incêndio que aconteceu em Eldorado do Sul desestabiliza porque nos coloca diante de uma constatação assustadora: um espaço sagrado foi demolido por aqueles que mais precisam dele.

Embora os autores da destruição formem um grupo pequeno, este ato isolado terminou por atingir um grupo maior e valores fundamentais. E o prejuízo não fica apenas nos dias de aula perdidos ou nos custos financeiros da reforma, mas especialmente atinge um símbolo. A recuperação material dos prédios é urgente, mas é preciso que essa reconstrução inclua também a relação da comunidade com a sua escola, que é também o seu maior patrimônio.

Editroa de Educação

VANDALISMO E CRISE DE VALORES

ZERO HORA 13 de agosto de 2013 | N° 17521

VANDALISMO NA ESCOLA. Especialistas alertam para crise de valores



Mais do que um ato isolado de vandalismo, o incêndio provocado por jovens traz à tona uma crise social ainda pouco entendida por pais, filhos e professores. Conforme o sociólogo e diretor do Instituto Latino-americano de Estudos Avançados da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), José Vicente Tavares dos Santos, este tipo de violência pode ser visto como um protesto de um grupo de jovens que não tem condições de verbalizar suas insatisfações, e utilizam a depredação e a agressão como um pedido de ajuda:

– Embora seja condenável, é preciso escutar estes jovens, que expressam uma crise da juventude.

Uma série de fatores sociais faz com que os estudantes não reconheçam mais na escola um lugar de socialização e aprendizado, mas sim um ambiente que não responde aos seus anseios e expectativas, complementa a socióloga, doutora em educação e coordenadora da Área de Juventude e Políticas Públicas da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, no Rio, Miriam Abramovay.

Este descontentamento, apesar de refletir na escola, é muito mais do que uma revolta contra a instituição de ensino, diz a psicóloga, doutora em educação e professora da faculdade de Educação da UFRGS, Marisa Eizirik. Para a especialista, a insatisfação manifesta uma crise de valores, que é consequência, entre outras coisas, de uma deficiência em outras instituições – a família e a sociedade – de exercer os papeis estruturantes na formação dos jovens.

– Com as carências nos demais agentes civilizatórios, a escola se tornou o depositário desta expectativa de formar o cidadão, e ela não está dando conta disso – detalha.

O enfraquecimento das figuras de autoridade, em especial da paterna, pode suscitar este tipo de atitude, que é mais violenta e menos reflexiva, comenta José Vicente. Os jovens, que muitas vezes crescem sem a noção de limites, não encontram espaço para significar o que sentem, pensam e observam, e acabam expressando suas angústias em atos violentos. Para Santos, a escola é o local onde explodem os conflitos sociais, e esta acaba sendo prejudicada em uma sociedade na qual a violência tem sido parte dominante da cultura.

JAQUELINE SORDI

UMA COMUNIDADE ESCOLAR GOLPEADA

ZERO HORA 13 de agosto de 2013 | N° 17521


EDUARDO TORRES E TAÍS SEIBT


VANDALISMO NA ESCOLA. Uma comunidade golpeada


Um chá para escolher a rainha da banda marcial da Escola Municipal de Ensino Fundamental La Hire Guerra, de Eldorado do Sul, está marcado para o próximo sábado, mas não restou sequer um instrumento para a apresentação do Dia da Pátria. Um incêndio provocado por quatro jovens – dois alunos e um ex-aluno, entre eles – consumiu salas de aula na madrugada de ontem.

Os adolescentes, todos conhecidos na comunidade, arrombaram a escola La Hire Guerra e atearam fogo em salas de aula. A mais danificada foi a que guardava os instrumentos da banda.

Além de prejudicarem 700 alunos, que perderão aulas, e danificarem o patrimônio público, eles atingiram o coração de uma comunidade.

– Foi um golpe na nossa autoestima – lamenta a diretora Fabiana Rodrigues, que, desde o começo do ano, empenha-se na recuperação da escola com ajuda de voluntários, pintando paredes e reformando ambientes.

Salas temáticas e uma dedicada a estudantes com necessidades especiais foram queimadas. Milagrosamente, a biblioteca resistiu às chamas, que destruíram o forro em PVC e parte do telhado. Móveis, material pedagógico e computadores foram quebrados.

– Eu fico me perguntando: por que eles fizeram isso? – desabafa a diretora.

É o que todos se perguntam. A perícia preliminar indicou que os adolescentes arrombaram as salas com pontapés e atearam fogo em cortinas após encontrarem uma garrafa de álcool em meio a produtos de limpeza dentro da escola.

Segundo o delegado Alencar Carraro, os dois adolescentes que foram detidos no pátio da escola, um de 14 e outro de 16 anos, alunos do 8º ano, assumiram a autoria dos atos. Eles disseram que tinham bebido e resolveram invadir a escola. Queriam quebrar tudo para não ter aula no dia seguinte, mas não teriam premeditado o incêndio.

Os outros dois garotos detidos negaram envolvimento. Os quatro foram liberados depois de serem ouvidos. O delegado irá pedir internação pelo prazo máximo de três anos.

– Foi um ato gravíssimo, muito além do dano ao patrimônio. Foi um desrespeito à comunidade e mostrou um traço perigoso dos adolescentes, de crença na impunidade – disse o delegado.

Banda era xodó do Sans Souci

A banda era o xodó da comunidade do bairro Sans Souci, o mais populoso de Eldorado do Sul e com o maior índice de tráfico de drogas no município. Dentre os 700 alunos que atende, a escola recebe estudantes da Vila Progresso, uma área de invasão que fica ao lado do bairro e é conhecida pela atuação de traficantes.

A escola é foco de programas sociais, como o projeto Escola Aberta. Os instrumentos para a banda marcial foram comprados graças à união da comunidade, que participou de rifas, almoços e festas para arrecadar fundos.

– Destruíram a nossa alegria – disse, entre lágrimas, a professora Adriana Maciel, 36 anos, uma das coordenadoras da banda.

Cerca de 40 estudantes ensaiavam para o desfile de 7 de Setembro. O envolvimento com o projeto era tamanho que Rosângela Oliveira, mãe de um aluno do 1º ano, era quem costurava as roupas novas do grupo. Elas não foram destruídas pelo fogo porque ainda não tinha dado tempo de organizar os cabides na sala da banda. Está tudo a salvo na casa da costureira.

Em nota oficial, a prefeitura de Eldorado do Sul anunciou que a intenção é conseguir entregar pelo menos parte das salas de aula em condições até amanhã, e retomar as aulas. Um mutirão foi montado na tarde de ontem para a limpeza da escola. Emergencialmente, um vigia será mantido 24 horas no local para evitar saques.



segunda-feira, 12 de agosto de 2013

UM MILHÃO E MEIO DE JOVENS FORA DA ESCOLA

ZERO HORA 12 de agosto de 2013 | N° 17520

EDITORIAIS

Fora da escola




É preocupante a informação de que cerca de 1,5 milhão de jovens entre 19 e 24 anos, concentrados nas faixas mais pobres da população brasileira, não trabalham, não estudam nem procuram emprego. Extraído de pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas, o dado reflete um fenômeno já abordado em outros estudos: o de uma geração que, de tão expressiva, já vem sendo designada pelo neologismo nem-nem-nem. Segundo o levantamento, esses jovens, excluindo donas de casas e mulheres com filhos, passaram de 8% da população total nessa faixa etária em 2006 para 10% em 2011. Os nem-nem-nem estão expostos a uma fragilidade tripla. Em primeiro lugar, cerca da metade deles (46%) podem ser considerados pobres, uma vez que vivem em domicílios situados entre os 40% mais pobres na distribuição de renda. Em segundo, a maioria possui baixa escolarização e qualificação, o que certamente limitará suas opções caso desejem procurar emprego depois dos 24 anos. Por último, são consideráveis as chances de que, ao chegar à idade madura, venham a se tornar dependentes de benefícios sociais, como programas de transferência de renda do governo.

Os nem-nem-nem são um fenômeno relativamente recente no país. Ao deixarem de procurar emprego, tornam-se invisíveis para as pesquisas de emprego e se colocam fora do alcance de políticas sociais que permitiriam sua preparação para inclusão no mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, sua inatividade é um fator a torná-los presas mais fáceis para a delinquência e o crime. Por mais difícil que seja o acesso a esses jovens, é urgente contatá-los para que sejam recuperados para uma vida produtiva. No momento em que assiste a uma melhoria significativa de seus indicadores sociais, especialmente os que se referem à escolaridade média da população, o Brasil não pode se dar o luxo de acalentar uma geração perdida.