EDUARDO TORRES E TAÍS SEIBT
VANDALISMO NA ESCOLA. Uma comunidade golpeada
Um chá para escolher a rainha da banda marcial da Escola Municipal de Ensino Fundamental La Hire Guerra, de Eldorado do Sul, está marcado para o próximo sábado, mas não restou sequer um instrumento para a apresentação do Dia da Pátria. Um incêndio provocado por quatro jovens – dois alunos e um ex-aluno, entre eles – consumiu salas de aula na madrugada de ontem.
Os adolescentes, todos conhecidos na comunidade, arrombaram a escola La Hire Guerra e atearam fogo em salas de aula. A mais danificada foi a que guardava os instrumentos da banda.
Além de prejudicarem 700 alunos, que perderão aulas, e danificarem o patrimônio público, eles atingiram o coração de uma comunidade.
– Foi um golpe na nossa autoestima – lamenta a diretora Fabiana Rodrigues, que, desde o começo do ano, empenha-se na recuperação da escola com ajuda de voluntários, pintando paredes e reformando ambientes.
Salas temáticas e uma dedicada a estudantes com necessidades especiais foram queimadas. Milagrosamente, a biblioteca resistiu às chamas, que destruíram o forro em PVC e parte do telhado. Móveis, material pedagógico e computadores foram quebrados.
– Eu fico me perguntando: por que eles fizeram isso? – desabafa a diretora.
É o que todos se perguntam. A perícia preliminar indicou que os adolescentes arrombaram as salas com pontapés e atearam fogo em cortinas após encontrarem uma garrafa de álcool em meio a produtos de limpeza dentro da escola.
Segundo o delegado Alencar Carraro, os dois adolescentes que foram detidos no pátio da escola, um de 14 e outro de 16 anos, alunos do 8º ano, assumiram a autoria dos atos. Eles disseram que tinham bebido e resolveram invadir a escola. Queriam quebrar tudo para não ter aula no dia seguinte, mas não teriam premeditado o incêndio.
Os outros dois garotos detidos negaram envolvimento. Os quatro foram liberados depois de serem ouvidos. O delegado irá pedir internação pelo prazo máximo de três anos.
– Foi um ato gravíssimo, muito além do dano ao patrimônio. Foi um desrespeito à comunidade e mostrou um traço perigoso dos adolescentes, de crença na impunidade – disse o delegado.
Banda era xodó do Sans Souci
A banda era o xodó da comunidade do bairro Sans Souci, o mais populoso de Eldorado do Sul e com o maior índice de tráfico de drogas no município. Dentre os 700 alunos que atende, a escola recebe estudantes da Vila Progresso, uma área de invasão que fica ao lado do bairro e é conhecida pela atuação de traficantes.
A escola é foco de programas sociais, como o projeto Escola Aberta. Os instrumentos para a banda marcial foram comprados graças à união da comunidade, que participou de rifas, almoços e festas para arrecadar fundos.
– Destruíram a nossa alegria – disse, entre lágrimas, a professora Adriana Maciel, 36 anos, uma das coordenadoras da banda.
Cerca de 40 estudantes ensaiavam para o desfile de 7 de Setembro. O envolvimento com o projeto era tamanho que Rosângela Oliveira, mãe de um aluno do 1º ano, era quem costurava as roupas novas do grupo. Elas não foram destruídas pelo fogo porque ainda não tinha dado tempo de organizar os cabides na sala da banda. Está tudo a salvo na casa da costureira.
Em nota oficial, a prefeitura de Eldorado do Sul anunciou que a intenção é conseguir entregar pelo menos parte das salas de aula em condições até amanhã, e retomar as aulas. Um mutirão foi montado na tarde de ontem para a limpeza da escola. Emergencialmente, um vigia será mantido 24 horas no local para evitar saques.
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