EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

O VERDADEIRO BICHO-PAPÃO

ZERO HORA 06 de agosto de 2013 | N° 17514

ARTIGOS

 Flavio Comin*


Quem tem medo da matemática? Muitos de nós formamos desde muito cedo a ideia de que a matemática é difícil, complicada e fazemos de tudo para livrar-nos dela, seja desligando atenção na aula ou abandonando a escola, seja escolhendo profissões das quais a matemática não faça parte. No entanto, como sociedade, qualquer discussão séria sobre a qualidade da educação no país não pode se furtar a examinar o impacto dessa aversão à matemática que acaba sendo o verdadeiro destruidor de sonhos e o grande bicho-papão da maioria das crianças e jovens no Brasil.

Segundo o MEC, apenas 42% dos alunos do 3º ano do Ensino Fundamental dominam operações simples como adição e subtração. A recém publicada Prova ABC mostrou que 70,8% das crianças de oito anos no país não têm aprendizado suficiente em matemática. No Ensino Médio, como mostra a Prova Brasil, 90% dos alunos terminam sem saber a matemática que deveriam. No Pisa, a matemática é onde o Brasil está pior (57º lugar no Pisa de 2009). Institutos e ONGs comprometidas com a melhoria da educação no país falam em “crise no ensino da matemática no país” e clamam por intervenções que atuem nos primeiros anos de educação.

Mas o que pode ser feito? Parece óbvio que qualquer conjunto de soluções deve incluir um plano para que as crianças gostem de matemática. E a solução deve incluir uma concepção pedagógica pela qual as crianças não tenham medo ou vergonha de errar para que possam participar do seu aprendizado e que o ato de pensar seja parte do conhecimento matemático (ao invés de uma concepção baseada no desenvolvimento de capacidades operatórias-formais e de procedimentos repetitivos).

Novas metodologias para o ensino da matemática existem, como a do The Math Circle (o Círculo da Matemática) de Harvard, desenvolvida pelos professores Bob e Ellen Kaplan, nas quais a matemática é trabalhada de forma cooperativa, lúdica e divertida para estimular o aprendizado e gosto das crianças pela matemática. Se nossas crianças não gostarem de matemática desde pequenas, não gostarão depois de grandes. Se não forem estimuladas a construir um pensamento matemático, terão dificuldades com tudo mais que usa matemática, como as ciências.

Pensar seriamente a pedagogia usada para ensinar matemática a nossas crianças não significa ignorar a importância da alfabetização, dado que elas representam capacitações complementares. Mas precisamos parar de “maltratar nossas criancinhas” com metodologias repetitivas, formalistas, chatas, obscuras e estimular novas concepções pedagógicas que respeitem as crianças em sua autonomia e promovam métodos de aprendizado cooperativos que contribuam para a promoção de ambientes de ensino mais humanos.

*PROFESSOR DA UFRGS E DA UNIVERSIDADE DE CAMBRIDGE

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