EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

sábado, 18 de julho de 2015

ESPAÇO DE PROTEÇÃO



ZERO HORA 18 de julho de 2015 | N° 18230


EDITORIAIS




Reportagem divulgada por este jornal, sobre a morte de crianças e adolescentes na Região Metropolitana de Porto Alegre, revelou que 46% das vítimas não estavam estudando. Depoimentos de profissionais do ensino indicam que nas zonas periféricas, especialmente em comunidades dominadas pelo tráfico de drogas, as escolas representam um espaço de proteção para jovens de famílias desestruturadas. Evidentemente, não é essa a finalidade original da instituição escolar, que deve ter como prioridade a formação educacional e a preparação dos alunos para a vida e para o mercado de trabalho. Porém, considerando-se o caos da segurança pública no país, as escolas acabam se transformando em verdadeiras ilhas de paz e civilidade nas áreas mais conflitadas.

Esse fenômeno é um indicativo claro para os administradores públicos de que a segurança deve ser intensificada em torno das escolas e também de que as políticas públicas devem priorizar o encaminhamento de crianças para o estudo. Mais: evidencia a importância da gestão escolar, pois acaba recaindo sobre diretores e professores a tarefa de administrar a disciplina interna, que também é contaminada pelo modo de vida dos estudantes.

A Pátria Educadora, apregoada pelo governo federal, tem que começar pela escola, pela garantia de ambiente saudável, pela oferta de condições dignas de trabalho, pela valorização efetiva da atividade educacional. Enquanto o país não consegue enfrentar de forma satisfatória seus dilemas sociais, que pelo menos as crianças e os jovens tenham na escola uma oportunidade de proteção e de encaminhamento para um futuro melhor.

terça-feira, 14 de julho de 2015

EDUCAÇÃO NÃO É PRIORIDADE DOS GOVERNOS!


JORNAL DO COMÉRCIO 13/07/2015



Jocelin Azambuja



Certa vez, na década de 1990, falei com um prefeito do Interior, de município emancipado, e ele me disse, feliz: "Já fiz calçamento em 2,5 quilômetros de ruas da cidade". Aí lhe perguntei: "Prefeito, quantas escolas de Ensino Fundamental completo tens na cidade? Quantas de Ensino Técnico? Quantas de Ensino Médio?" Ele me olhou pensativamente e disse: "Só uma de Ensino Fundamental completo". Respondi: "É, prefeito, as crianças e adolescentes da cidade não pegarão mais pó, acho que será melhor para a saúde e futuro delas".

Governos em geral, com honrosas exceções, priorizam bolsas auxílio, obras inacabadas e asfalto a dar educação ao povo. O modelo vem do governo federal e dos poderes. Depois da gastança, na hora do aperto, se corta o orçamento da educação, agora 19,3%. Jamais os ministérios, os cargos e privilégios, o corte afetará os programas da Educação Básica e Superior.

Temos um novo ministro da Educação, e a presidenta Dilma Rousseff (PT) lançou seu programa de governo, Pátria Educadora, em uma campanha enganosa. Agora, fazem cortes no Sisu, Fies, Pronatec, no Sem Fronteiras, aumento nas taxas do Enem. Todos se perguntam: sem recursos, como fazer a educação de fato avançar?

O Brasil caiu duas posições no ranking mundial dos países em conhecimentos de matemática e ciências passou de 58º lugar para o 60º, é a queda dos nossos níveis de educação. Os governos discursam nas campanhas, que darão educação, saúde... Ao povo, tudo fica só no discurso, na prática é o contrário. Sobram recursos para inchar a máquina pública com ministérios e cargos, com aumentos especiais ao Judiciário e Legislativo.

A educação continuará a ser tema de utopia, nossas crianças e adolescentes continuarão sem oportunidades iguais de futuro, e os sobreviventes à violência, à pornografia, às drogas, à educação de baixa qualidade serão o futuro do Brasil. Continuem cortando o orçamento da educação, é este o futuro que querem para a nossa juventude e País?

Advogado

O RETROCESSO DA DESESCOLARIZAÇÃO




JORNAL DO COMÉR5CIO 14/07/2015



Luciano Centenaro




Desde a remota Antiguidade Clássica, encontramos elementos que simbolizam o conceito de escola que conhecemos. Desde muito tempo, convivemos com esta instituição que até hoje ousa manter-se atualizada e em permanente reformulação. Paira sobre a escola, a crítica de que sua estrutura, seus conhecimentos, sua organização e seus professores pouco alteraram-se nas últimas décadas. Além disso, que esta não consegue acompanhar a mudança exponencial pela qual as gerações de estudantes passam na atualidade.

Diante dessas dúvidas, cresce no mundo o índice de famílias que têm optado por uma alternativa radical na formação de seus filhos. Esta proposta educacional, conhecida como desescolarização, foi difundida na década de 1970 e tem em sua raiz uma crítica ao trabalho desenvolvido nas instituições de ensino. Um dos argumentos mais utilizados pelos que defendem esse método é a autonomia na seleção do currículo escolar.

Mas, de que escola estamos falando? Será possível educar nossos estudantes sem proporcionar espaços criativos de construção coletiva de conhecimento? Será possível auxiliar na formação de cidadãos críticos sem uma relação de alteridade e sem a pedagogia do encontro? Será que nossas escolas realmente homogeneízam seus estudantes e não levam em consideração seus interesses? Com certeza, não. A instituição escolar vai muito além do lugar sagrado onde se constrói conhecimento em cada ambiente e não apenas na sala de aula. É o espaço de acertar e errar para aprender a ser melhor do que um dia já se fora, de partilha das experiências dos estudantes e de aprendizagem de todos os jeitos. É o ambiente único para construir com o outro hoje as argumentações necessárias para fundamentar nossos conhecimentos. Deixar esses aspectos de lado é abandonar os princípios da formação humana. É limitar a convivência com os que pensam diferente e restringir a possibilidade de transformação.

Coordenador Educacional dos Colégios Maristas

quarta-feira, 1 de julho de 2015

ESCOLAS REFÉM DO MEDO



Reféns do medo. Oito escolas fecharam por violência em Porto Alegre neste ano. Levantamento do DG mostra que aulas foram suspensas ou interrompidas em 20 dias, afetando cerca de 2 mil estudantes

Por: Eduardo Rosa
ZERO HORA 01/07/2015 - 07h08min



Foto: Carlos Macedo / Agencia RBS


A guerra do tráfico e os crimes contra o patrimônio não perdoam nem aqueles espaços voltados ao aprendizado e ao crescimento. Neste ano, pelo menos oito escolas da Capital e cerca de 2 mil alunos tiveram aulas suspensas ou interrompidas pela violência.

O levantamento foi feito pelo DG em 41 colégios localizados em regiões de grande vulnerabilidade social: Arquipélago, Bom Jesus, Mario Quintana, Restinga, Rubem Berta e Santa Teresa. No total, foram 20 dias em que algum dos locais mudou sua rotina por toque de recolher, informação de tiroteio, arrombamento ou incêndio. A questão extrapola o "ficar sem aula": a insegurança toma parte do cotidiano.



Um dos exemplos vem da Escola Estadual de Ensino Médio Santa Rosa. Localizada na Avenida Bernardino Oliveira Paim, no Rubem Berta, a instituição suspendeu as aulas por três noites.

— Alguém estava ligando e avisando para não abrir. Alunos perderam aula, vão ter de recuperar durante final de semana ou férias. Isso que prejudicou, a falta de aulas por uma coisa que não estaria acontecendo na escola, mas no bairro — relata o estudante Willian Vargas, 19 anos.


Uma professora, que pede para não ser identificada, afirma que a sensação é de impotência:

— Não sabemos o que fazer com as crianças menores. Alguns pais vêm buscar antes.

No lado oposto da cidade, na Restinga, a Escola Municipal de Educação Infantil Dom Luiz de Nadal não chegou a cerrar os portões em 2015 por situação semelhante. Mas não significa que sua rotina não tenha sido alterada por conflitos.

— O que acontece fora dos muros da escola nos afeta, como as crianças não poderem ir para o pátio. A gente fica tensa, abala a parte psicológica. Os pais ligam e perguntam se podem vir buscar — relata a diretora Maria do Carmo Souza.


Quando chega a notícia de que pode haver tiroteio em determinada região, pais e alunos lançam mão dos telefones. A pergunta é: buscar ou não as crianças? As decisões dependem de cada escola. Alunos podem ir embora mais cedo ou mais tarde. Nesses territórios, o colégio abraça uma função que não é sua — cuidar dos alunos longe de seus muros.


Colégio Paraná, na Zona Sul, sofreu incêndio criminoso | Foto: Carlos Macedo

"Problema é muito mais complexo", afirma sociólogo

O sociólogo e professor da Unisinos Carlos Gadea analisa que fechar as portas por questões de violência é reflexo do que acontece onde está o colégio.

— A escola é a instituição onde mais repercutem as coisas que acontecem ao seu redor. Depende muito do contexto do bairro. Não é problema tanto da escola enquanto local, é muito mais geral e complexo — afirma.

O pesquisador cita Medellín, na Colômbia, como exemplo de mudança na segurança. Ele aponta como positivas ações como proporcionar bibliotecas, esporte, lazer e acesso à internet para as populações:

— Muitos jovens que poderiam entrar no narcotráfico, quando crianças começaram a ir a esses lugares. Aos 14, 15 anos, já tinham passado anos lá aprendendo alguma coisa.

Estado aposta na prevenção

A Secretaria da Educação do Estado elegeu como um dos programas prioritários para a área a criação de Comissões Internas de Prevenção de Acidentes e Violência Escolar (Cipaves) — a meta é instalar pelo menos cem nas regiões com maiores índices de violência. O desdobramento, conta o titular da pasta, Vieira da Cunha, é a participação de outras secretarias, sob a coordenação da Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos.

— A escola pode estar isenta do problema de violência, mas a comunidade está inserida nessa situação. Então, os problemas sempre acabam refletindo na educação — afirma a gerente do projeto, Luciane Manfro.

Vieira vê no ensino de tempo integral uma medida capaz de mudar a realidade de comunidades conflagradas. O secretário quer terminar a gestão com 300 instituições nessa modalidade:

— É uma importante ferramenta. A criança fica o dia inteiro em atividades educativas e prazerosas. É retirada daquele ambiente, fazemos um resgate social.


Na Santa Rosa, aulas foram suspensas em três noites | Foto: Luiz Armando Vaz

Município busca a integração

Integrante da Assessoria Técnica e Articulação em Rede (Atar), da Secretaria Municipal da Educação (Smed), a assistente social Joice Lopes da Silva explica que fechar ou não uma escola depende da tensão na qual a comunidade vive. Isso é avaliado por diretores e secretaria. Depois, as horas têm de ser recuperadas.

— O trabalho da escola passa muito por ter vínculo com alunos e famílias e conseguir entender as questões do território. Se a escola entrasse num enfrentamento, não conseguiria se manter — conta.

Para ela, os momentos mais tensos precisam ser usados para se fazer uma reflexão da violência com alunos e pais e, a partir daí, repensar algumas escolhas e valores.

— Conflitos fazem parte de uma realidade social. Tem se tentado conviver e lidar com essas questões. Não tem como ir contra, a escola aprende a lidar — diz Joice.

A Smed trabalha em rede integrada, com assistência social, Conselho Tutelar e saúde, na qual é discutida a situação do território e de cada aluno.