EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

TRANSPORTE ESCOLAR RUIM

Transporte escolar ruim compromete segurança e aumenta evasão de alunos - O GLOBO, 26/02/2011 às 21h24m. Marcelo Remígio e Isabela Martin


RIO e FORTALEZA - No mês da volta às aulas, o caminho é de obstáculos para boa parte dos 4,9 milhões de estudantes da rede pública brasileira que dependem de transporte escolar. Veículos sem manutenção, ônibus que quebram e viagens longas que cobrem mais de uma região desestimulam os estudantes. Entre os alunos, a viagem é acompanhada por uma incerteza: a frequência nas aulas.

A precariedade do serviço é apontada pela União Nacional dos Dirigentes de Educação (Undime) como fator determinante para a evasão escolar. Os municípios reclamam da falta de recursos para melhorias. Cada aluno custa por ano, em média, R$ 876, mas as prefeituras recebem do governo federal R$ 145, em média. A ajuda por parte dos estados também é insuficiente. Segundo a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), quando há recursos estaduais, somados aos federais, o montante não paga mais que 30% das despesas.

Para cobrir a diferença nos custos de transporte - calculada pela CNM em R$ 1,2 bilhão ao ano - , os municípios deixaram de renovar a frota periodicamente. O presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, alerta que a manutenção de ônibus, Kombis e vans tem sido prejudicada. Não é difícil encontrar veículos com pneus carecas e sem equipamentos exigidos por lei, como cintos de segurança. A situação é pior no Nordeste, onde a idade média da frota supera 19 anos. A dificuldade enfrentada pelos estudantes para chegar até a escola se reflete em números. A evasão escolar chega a 11,4% nas séries iniciais do ensino fundamental e 15% nas finais, enquanto a média nacional é de 7,4% e 14,1%, respectivamente.

Apesar de o governo do Ceará ter transferido R$ 30 milhões para as prefeituras em 2010 para a ajuda no custeio do transporte de alunos do ensino médio, a qualidade do serviço é reprovada na maioria dos 184 municípios. Nos últimos dois anos, oito pessoas morreram em acidentes com veículos escolares públicos no Ceará. Em Limoeiro do Norte, a 194 quilômetros da capital, uma criança de 2 anos morreu ao cair de um buraco no piso de um ônibus.

UNIFORMES: POR QUE NÃO?


Já houve tempo em que crianças e adolescentes usavam uniformes escolares no Brasil. Notadamente na rede pública, o uso de uniformes foi mesmo uma regra bastante observada. Passaram-se os anos e a norma foi sendo relativizada e, mesmo, abandonada. Mais recentemente, algumas prefeituras têm implantado programas para o uso de uniformes escolares, a partir de doações e/ou incentivos. Afinal, uniformes escolares são mesmo importantes? Dois argumentos parecem indicar que sim.

Primeiramente, a não exigência de uniformes permite a reprodução dos padrões de consumo oferecidos aos alunos por suas famílias. Esta diferenciação pela roupa, pela marca, pelo iPod, pela joia, pelo boné, pelo tênis, evidencia uma característica das juventudes urbanas nas sociedades pós-modernas: elas se movimentam em grupos que existem, antes de tudo, por seus signos visuais. Os jovens se movem a partir de emblemas. Tudo se passa como se, antes da fala, houvesse outra linguagem que precisasse estar escrita sobre seus corpos. O processo de “tribalização” dos jovens, então, é inevitavelmente a dinâmica de estetização de seus valores e preferências culturais. Sem compartilhar esta estetização – vale dizer, sem transformar seu corpo em signo –, o jovem sente-se como que apartado do mundo, isolado e sem “parentesco” entre os seus. Sua máxima, por isso mesmo, poderia ser: “Aparento, logo existo”. Estas dinâmicas são relevantes para o percurso de autonomia entre os jovens e devem ser compreendidas, mas carregam para a escola um problema novo: elas dificultam a construção de uma identidade estudantil. Não se trata, então, de reificar o debate sobre os uniformes como se sua equação pudesse oferecer alguma resposta para a crise da educação. Trata-se, singelamente, de reconhecer que o uso de uniformes aproxima simbolicamente os estudantes. Para além disso, é provável que reforce a noção civilizatória de que todos são “iguais”, pouco importando sua origem social, seu sobrenome, a casa onde mora, as viagens que já fez, sua mesada ou a banda de sua preferência.

O segundo argumento surge das pesquisas que têm encontrado, em vários países, fortes correlações entre o uso de uniformes e: a) maiores taxas de presença e aprovação; b) menores taxas de suspensão de alunos e c) expressiva redução nos indicadores de violência nas escolas (ver, por exemplo, trabalho de Virgínia Draa – “School uniforms in urban public high schools”, disponível em: www.eric.ed.gov/PDFS/ED497409.pdf ). Além de uma maior proteção nas escolas pela facilidade de identificar intrusos, o uso de uniformes pode oferecer alguma proteção a milhares de estudantes brasileiros que moram nas periferias e que, muitas vezes, são tratados como “suspeitos” pelo simples fato de serem jovens, pobres e/ou negros. Para um garoto negro que more em uma área de exclusão, seu deslocamento pelas ruas pode ser algo especialmente perigoso – notadamente em circunstâncias em que a polícia surge como uma força de intervenção armada e onde há grupos de outros jovens atuando no tráfico de drogas.

Marcos Rolim - Jornalista - ZERO HORA, 27/02/2011

domingo, 20 de fevereiro de 2011

APROVAR OU ENSINAR?

O Ministério da Educação acaba de criar o Ciclo de Alfabetização e Letramento, que substitui o sistema de ensino seriado e acaba com a reprovação de alunos nos três primeiros anos do Ensino Fundamental. O objetivo da medida é inquestionavelmente bem-intencionado: evitar que o insucesso escolar nas séries iniciais continue causando evasão e repetência, com os consequentes prejuízos para a autoestima das crianças. De acordo com o governo, a pesquisa que embasa esta decisão mostra que o país teve em 2009 um índice de aprovação de 94,9% no primeiro ano, o que significa a reprovação de cinco em cada grupo de cem alunos. O MEC acredita que a aprovação automática facilitará a alfabetização de todas as crianças até os oito anos de idade.

Não é, ainda, uma obrigatoriedade. As secretarias de Educação e escolas que não quiserem adotar a recomendação poderão continuar com o sistema seriado, que prevê avaliação ao final de cada ano, com a correspondente promoção ou permanência. Está, portanto, oficializada uma grande dúvida no ensino brasileiro: o que é melhor para o aluno que está ingressando no mundo das letras, o avanço automático ou cobrança de rendimento?

Infelizmente, o governo não apresentou argumentos convincentes para a recomendação adotada. Embora seja lamentável a reprovação de 5% dos aproximadamente 10 milhões de alunos que frequentam o primeiro ano do Ensino Fundamental, o levantamento não aponta as causas do insucesso, que podem oscilar da ausência continuada em sala de aula à incompetência da escola para efetivamente ensinar. O que existe de concreto são experiências esparsas de promoção continuada, nem sempre animadoras. Na rede municipal do Rio de Janeiro, por exemplo, a divisão dos nove anos do Ensino Fundamental em três ciclos revelou-se desastrada. Levantamento feito em 2009 mostrou que 13 mil alunos de 4º e 5º anos precisavam ser realfabetizados e outros 17 mil do 6º ano se encontravam na condição de analfabetos funcionais.

Cabe reconhecer, porém, que existem experiências positivas de promoção automática no ensino brasileiro. E também não pode haver dúvida de que reprovar é sempre pior do que aprovar sem o suficiente aprendizado para a promoção, pois esta segunda possibilidade pelo menos mantém a criança na escola por mais tempo. Mas reprovar ou fingir que a criança aprendeu não podem ser as únicas alternativas. O ideal é eliminar a reprovação ensinando efetivamente os alunos, por meio do comprometimento das autoridades e da escola com a educação e com a realidade das crianças, sem salas de aula superlotadas, com professores preparados, bem remunerados e, também eles, avaliados.

Simplesmente eliminar a reprovação pode passar a ideia de que ninguém precisa se esforçar e que o aprendizado chega ao natural. Pode, também, estigmatizar a avaliação como um processo prejudicial e traumatizante, o que não é correto. O desempenho dos alunos, independentemente do sistema adotado, tem que ser avaliado constantemente, para que os professores e a escola saibam quem está ficando para trás e adotem medidas corretivas antes que o problema se torne irreversível.

Não há fórmula mágica em educação. A mágica é ensinar.

EDITORIAL ZERO HORA 20/02/2011

O LEITOR CONCORDA

"Muito oportuno o editorial de ZH. Ao iniciarmos mais um ano letivo, provoca reflexão quanto aos índices de reprovação, mas, mais do que estes, refere a dificuldade do “ensinar” com qualidade. Com tantos projetos e outras práticas que a escola precisou adotar, sobra menos tempo para o contato do aluno com o material de estudo efetivo. Escovar dentes, merendar, recreação... outras refeições... tudo dentro das quatro horas letivas... letivas? Sobra o que mesmo de tempo para aprender? A provocação é importante. Vamos pensar mais a respeito do tempo pedagógico. Quem sabe não é uma das causas do baixo rendimento?" Neiva Costa – Rosário do Sul (RS)

"Acredito que não há outra certeza maior no mundo do que esta: a melhor forma de não reprovar é ensinar. Hoje em dia, encontramos salas de aula cheias de alunos preguiçosos e mal acostumados desde o jardim da infância. Culpa de casa? Também, mas também culpa da falta de vontade dos professores, que empurram as aulas com a barriga, no velho jogo “eu finjo que ensino e tu finges que aprende”, culpando tudo pelo desânimo e deixando completamente de lado o propósito dos tantos anos de estudo a que se submeteram, com tanto sacrifício por vezes. Se os professores passarem a ensinar de verdade, ninguém será reprovado. Principalmente porque “este movimento” se iniciará lá nas séries iniciais, o que tem uma chance enorme de virar hábito e se manter durante a vida de todas as pessoas. Desta forma, os futuros pais darão mais importância ao estudo e aos professores, ao invés de idolatrar a televisão e o caos que ela prega; e os futuros governantes tratarão os professores com dignidade e respeito." Marina DallOnder – Bento Gonçalves (RS)

O LEITOR DISCORDA

"Não basta ensinar apenas, é preciso avaliar o conhecimento adquirido, pois somente a avaliação dirá se houve interesse do aluno em aprender. Se não aprendeu, precisa repetir a aula ou o ano. Caso contrário, teremos um futuro profissional fracassado." André Luiz Silva Ramos – Canoas (RS)

"Não concordo com a não reprovação de um aluno. Esta preocupação com traumas é exagerada. Se a criança tem dificuldades especiais, necessita ensino especial, o que não é o caso da grande maioria das crianças. Acho que o necessário é ensinar a criança e prová-la. Se a criança não tem interesse de aprender e não é corrigida pela família, com base no desempenho no colégio e em conversa com os professores, a responsabilidade não é da escola, nem do Estado, mas da família. Considero injusto colocar a responsabilidade da falta de interesse e comprometimento de uma criança sobre a escola e os professores, a menos que se comprove irregularidade no ensino e comportamento dos profissionais envolvidos na educação da criança no ambiente escolar. Não se pode desvincular o comportamento da criança na escola, da educação que recebe da família. É a família que está em crise hoje. As matérias do ensino continuam sendo as mesmas de anos e anos atrás, com algumas mudanças." Edison Coelho Paula – Porto Alegre

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

BULLYING - CARTILHA DO BEM É ELABORADA POR JOVENS

CARTILHA DO BEM. Estudantes ensinam a combater o bullying - ZERO HORA, 17/02/2011

Uma diferença que dá origem a um apelido. Um apelido que vira uma piada. A piada que se torna uma agressão. Este é o roteiro básico do bullying, que dissemina a violência repetitiva contra uma pessoa no ambiente escolar.

Zero Hora convidou quatro jovens para conversar sobre o assunto. Juntos, John Amaral Dias, 17 anos, Ana Carolina Motta Martins, 14 anos, Marianne Silva Schaeffer, 15 anos, e Vanessa Dias de Moura, 14 anos, elaboraram uma cartilha para combater o bullying.

O principal alvo do bullying é a autoestima da vítima. Com a personalidade em construção, o jovem vive em um ambiente marcado pela diferença, mas muitas vezes não a tolera. Identificar o problema rapidamente é fundamental para resolvê-lo. Mário Felizardo, pesquisador e coordenador do programa Diga Não ao Bullying, diz que o pais devem observar o comportamento dos filhos:

– Um bom indício é olhar para a vida social do filho. Ele tem amigos fora da internet? É convidado para festas? Conforme as respostas, já é possível ter um bom indício se há algo errado.

É PRECISO....

- Sair do mundinho das panelinhas.
- Não embarcar na onda dos bullies.
- Enturmar os novos colegas desde o primeiro dia de aula.
- Ser mais extrovertido em relação aos colegas.
- Não ter vergonha de si mesmo.
- Apresentar o colégio para o aluno novo.
- Vencer a vergonha de conhecer e conversar com os colegas que estão chegando.
- Ajudar a própria escola a combater o bullying.
- Respeitar as diferenças culturais e religiosas.
- Conversar para evitar brigas.
- Deixar os colegas à vontade no novo ambiente.

FIQUE ATENTO

- As crianças normalmente não relatam o sofrimento vivenciado na escola por medo de represálias e por vergonha.

- A observação dos pais sobre o comportamento dos filhos é fundamental, assim como o diálogo franco entre eles.

- Um dos sintomas é a aversão à escola, não gostar de falar sobre a rotina de aula.

- É importante ver se a criança tem amigos no colégio, se é convidada para festas e outros eventos sociais.

- Perguntas indiretas, como, por exemplo, aproveitar quando a criança está assistindo a um desenho violento e questionar se cenas como aquela ocorrem na escola.

- Os pais não devem hesitar em buscar ajuda de profissionais da área de saúde mental, para que seus filhos possam superar traumas e transtornos psíquicos.

BULLYING NÃO É LEGAL

- A Lei 13.474/2010, aprovada pela Assembleia Legislativa em 25 de maio de 2010, estabelece políticas públicas contra o bullying nas escolas do Estado.

- Alguns dos objetivos da lei são: disseminar conhecimento sobre o fenômeno, identificar concretamente, em cada instituição, a incidência e a natureza das práticas de bullying e desenvolver planos locais para prevenção e combate.

Fonte: Conselho Nacional de Justiça e Mário Felizardo, pesquisador e coordenador do programa Diga Não ao Bullying.

FALA O PROFESSOR!

Nylza Osório Jorgens Bertoldi, professora, educadora, educadora emérita do RS. Zero Hora 17/02/2011


Que bom que a sociedade organizada, através dos seus economistas, engenheiros, advogados, empresários, enfim, mobiliza-se para recuperar o desmonte na educação. Mas é preciso, antes de emitir juízos de valor e lançar o olhar nefasto para um horizonte sombrio, somar esforços para derrubar as barreiras que emperram as estruturas de um sistema que não propicia os avanços esperados.

A educação precisa ser repensada numa visão imediata de comprometimento, uma prioridade sem volta, pois dela provêm a saúde, a segurança e a sustentabilidade do planeta. Basta de diálogos, promessas, burocracias de gabinetes governamentais. A hora é de ação. Sou de uma geração saudosista, sim, e não vai nisso nenhuma visão limitada de pensar, pois vi o Rio Grande do Sul disputar com outros Estados da federação o lugar de destaque na qualidade do ensino e ser referência nacional em educação. E hoje pergunto: o que fizeram com a educação? Não é difícil identificar. Como professora do magistério público estadual por mais de 35 anos, hoje aposentada, posso falar:

A partir da década dos anos 80, como referencial de tempo, a escola foi invadida pelos novos paradigmas que balançaram os valores éticos e morais da sociedade com o advento da pós-modernidade: adultinização precoce, liberdade sexual, drogas e rebeldia contaminando o ambiente escolar e desgastando emocionalmente o professor, cuja autoridade enfraquecida foi alvo do desrespeito, falta de limites, agressividade por alunos infratores, protegidos pelos conselhos tutelares e direitos humanos. E o que foi feito pelas políticas públicas para devolver o direito de ensinar? A educação se alicerça num tripé: governo-universidade-família.

Ao governo, cabe com urgência a valorização do professor. Sabemos que não é o dinheiro que muda a qualidade, mas é o reconhecimento do desempenho profissional numa carreira com “status” que atraia talentos e nela permaneçam com dignidade, dá acesso aos bens culturais e o retorno recai na melhoria da educação. O Estado vem se afastando do compromisso com a oferta de uma educação pública que faça jus às tradições do Rio Grande. Remuneração, escolas equipadas, atrativas pelos programas pedagógicos, evitariam a evasão e a reprovação de alunos, zerando as vergonhosas distorções.

Aos cursos de formação de professores em escolas normais e universidades, uma vez que, no magistério estadual, 85% dos docentes têm curso superior, cabe a responsabilidade de rever suas práticas pedagógicas. Estágios probatórios em escolas públicas oportunizarão conviver com alunos e carências do ambiente de trabalho, isto é, fazendo frente à realidade profissional.

Por fim, o apoio da família, fortalecendo laços de aproximação com professores e colegas, eliminando discriminações e preconceitos, o aluno amando a escola como o seu segundo lar com estima e autoconfiança e os pais como legítimos parceiros da escola. Isto não é tudo, porque são permanentes as exigências da educação, mas é o começo para o resgate de uma escola evoluída em suas funções, mais humana e integrada à comunidade onde atua.

É preciso que o professor valorizado e respeitado volte a ser ouvido, incluído e consultado nas decisões de governo pelo legítimo direito de quem vive a educação e de quem é professor.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

POTÊNCIA OLÍMPICA? É TARDE DEMAIS.

Potência olímpica? É tarde demais. Meta do COB para o Rio é levar o Brasil ao top 10 no quadro de medalhas. Mas não há tempo para formar campeões do zero - 13 de fevereiro de 2011 - Valéria Zukeran - O Estado de S.Paulo

O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) tem buscado se informar com especialistas sobre o que fazer para tornar o Brasil uma potência olímpica até 2016. Na recente apresentação da mais tradicional equipe de atletismo do País, a BM&F, o diretor, Sérgio Coutinho Nogueira, contou que foi um dos procurados pela entidade. "Eles me perguntaram o que poderia ser feito captar talentos e a criar um campeão para 2016. Minha resposta foi: "É tarde demais". Basta pensar que a Maurren (Maggi) levou 13, 14 anos das primeiras competições até que chegasse ao ouro em Pequim (no salto em distância)."

Em setembro do ano passado, o COB divulgou sua meta para a Olimpíada do Rio: subir do atual 23.º lugar no quadro de medalhas, obtido em Pequim em 2008, para 10.º. É um objetivo ousado se considerado o fato de que o Brasil conquistou 15 medalhas na China (3 de ouro) contra 40 da França, que ficou em 10.º (7 de ouro). Nos bastidores esportivos há consenso de que um país costuma conquistar, em média, metade das medalhas de ouro nas modalidades em que se considera entre os favoritos. A conta do COB é que, dos atuais 8 ouros, o Brasil passe a lutar por 13 em 2016. Porém o plano pode dar errado se outros países progredirem mais.

O cruzamento de informações entre o quadro de medalhas e o programa olímpico de Pequim mostra que as principais conquistas das três maiores potências nos Jogos tiveram origem nas 10 modalidades que mais oferecem medalhas (veja abaixo). A China conquistou ouro em 8 dos 10 esportes mais "medalheiros", enquanto os Estados Unidos ficaram no mais alto do pódio em 7 e a Rússia em 5.

Não fica difícil concluir que, para um país se tornar potência olímpica, será necessário forte investimento nos esportes mais generosos na oferta de ouros. A China percebeu a relação, tanto que, no balanço dos Jogos de 2008, já anunciava o aumento dos investimentos em modalidades que proporcionam muitas medalhas - como, por exemplo, o ciclismo - com o objetivo de aumentar sua hegemonia.

No Brasil. Se tomarmos o exemplo dos campeões olímpicos nacionais, a constatação é de que a observação de Coutinho Nogueira extrapola os limites do atletismo. Em geral, a trajetória da iniciação de um talento até o ouro levou mais de uma década, casos de Robert Scheidt e Cesar Cielo, quando não duas, como com Maurren Maggi e Rogério Sampaio.

Nas confederações, os dirigentes são cautelosos na hora de opinar se é possível revelar e preparar um campeão olímpico em cinco anos. "Nunca podemos descartar a possibilidade do surgimento de um fora de série, mas sabemos que, pelo menos no caso do judô, a base da equipe que representará o Brasil em 2016 já se destaca em Mundiais das categorias de base e começa a disputar vagas nas seletivas para a seleção permanente olímpica principal", observa o coordenador técnico da Confederação Brasileira de Judô, Ney Wilson.

A natação usa estatísticas para fazer a projeção de seus campeões olímpicos em 2016 baseada em uma pesquisa organizada pelo supervisor Ricardo de Moura, que aponta os medalhistas em potencial. Boa parte já compete na categoria adulta.

Nem mesmo esportes no qual os talentos precisam nascer precocemente, como a ginástica, a perspectiva de um campeão em cinco anos é vista com otimismo porque, se é possível termos campeãs com 16 anos, foi por meio de crianças que competiam em média 8 anos antes.

Nas modalidades nas quais o Brasil não tem tradição, como a luta olímpica e o tiro (apesar de o esporte ter proporcionado a primeira medalha olímpica brasileira), isso é considerado impossível. Na luta, ainda há a esperança de captar talentos vindos de outras modalidades. "Talvez seja possível criar um campeão olímpico em cinco anos se ele tiver base de outro esporte de luta, principalmente o judô. Mas acredito que, hoje, 80% da nossa equipe olímpica de 2016 já esteja praticando luta", diz o superintendente da Confederação Brasileira de Lutas Associadas (CBLA), Roberto Leitão.

No tiro a tarefa é mais inglória. Esperanças olímpicas são obra do acaso, como o jovem Felipe Wu, prata nos Jogos Olímpicos da Juventude. Filho de chineses praticantes do tiro, o jovem foi iniciado cedo. "Mas isso é difícil de ocorrer no Brasil. Há preconceito em relação ao esporte. Muitos pais associam o tiro esportivo com violência, apesar de isso estar longe da realidade", garante o assessor da presidência da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo, Ronaldo Silva Freire.

A conclusão ao conversar com técnicos e dirigentes esportivos é preocupante: com exceção de algum talento excepcional, o investimento no esporte desde o anúncio do Brasil como sede olímpica servirá para 2020. A colheita do COB em 2016 será, fundamentalmente, resultado das sementes plantadas nas categorias de base entre 1996 e 2000.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - O Brasil jamais será potência olímpica enquanto estiver deprezando os esportes na educação do povo brasileiro. Por exemplo, até os anos setenta, havia olimpíadas inter-escolares na maioria dos municípios gáuchos e hoje são raros aqueles municípios que continuam patrocinando esta competição saudável entre as escolas públicas e privadas.

Como eu defendo uma ampla reforma do ensino brasileiro que hoje só prioriza o conhecimento científico, proponho que seja obrigatória dentro das escolas públicas e privadas a prática esportiva voltada à saúde, à competição e à descoberta de potencial olímpico. Aos Governantes incumbem organizar as competições e patrocinar as escolas que atingirem metas e os atletas que mostrarem talento, habilidade e potencial olímpico, premiando os professores pelo esforço e descoberta.

È também essencial que se desenvolva o espírito olímpico nos jovens e na formação dos professores de educação física para capacitá-los no descobrimento e formação de atletas, distribuíndo incentivos, subsídios e descontos fiscais àqueles clubes e empresas que se envolverem em projetos olímpicos e competições escolares.

EDUCAR É DAR LIMITES

EDITORIAL ZERO HORA 13/02/2011


Está provocando debates nos Estados Unidos o livro escrito pela professora de Direito da Universidade de Yale Amy Chua, de origem asiática, que relata sem subterfúgios os métodos disciplinares rigorosos e extremados por ela utilizados na educação de suas duas filhas. O volume de memórias intitulado Battle Hymn of the Tiger Mother (Hino de Batalha da Mãe Tigre) ainda não foi lançado no Brasil, mas alguns conteúdos antecipados pelo caderno Donna do último domingo merecem reflexão por parte das famílias brasileiras. Aqui, como nos Estados Unidos e na maioria das sociedades ocidentais, a educação dos filhos tornou-se um verdadeiro dilema para pais e mães – invariavelmente hesitantes entre os extremos da repressão castradora e da permissividade total. Evidentemente, o assunto é mais complexo, mas não é raro que a insegurança de alguns pais propicie espaço para a existência de jovens individualistas, arrogantes e desajustados. Basta consultar professores de qualquer nível de ensino no país para que se tenha uma ideia da dimensão do problema.

É nas escolas que os acertos e erros da educação familiar mais se evidenciam, pois as crianças e adolescentes passam a conviver com desconhecidos e a se submeter a regras coletivas. Amy Chua exigiu das filhas aplicação total aos estudos, notas 10 como as únicas aceitáveis e nenhuma margem para festas e visitas às amigas. Fez mais: obrigou-as, ainda meninas, a aprender a tocar um instrumento musical de certa complexidade (piano ou violino). Num dos episódios relatados no livro, a filha caçula, então com sete anos, não conseguia tocar uma peça ao piano, depois de ter ensaiado com a mãe por uma semana, e quis desistir. A mãe acusou-a de preguiçosa, ameaçou deixá-la sem almoço e sem festa de aniversário e inclusive de doar suas bonecas favoritas, até que a menina executou a tarefa. O que para muitos parece uma tortura, para a mãe foi apenas uma forma de mostrar que esforço e persistência dão resultado.

Muitos leitores do livro estão protestando, horrorizados com os métodos empregados pela mãe para impor disciplina às filhas. Outros, porém, elogiam sua determinação e dizem que gostariam de ter tido pais assim. As meninas, atualmente com 18 e 15 anos, são bem-sucedidas nos estudos e defendem os procedimentos da mãe. Especialistas, porém, acham que a cobrança demasiada não ajuda na boa educação, mas reconhecem que a imposição de limites é essencial.

O grande mérito do livro da mãe-tigre é colocar em pauta um tema que pais e educadores nem sempre enfrentam com coragem e seriedade. Quanto a seguir sua orientação, ou contrariá-la, cabe a cada família, pois a educação das crianças é direito e dever dos pais. Porém, não pode haver dúvida de que o propósito a ser alcançado é a felicidade dos jovens. E o melhor caminho para se atingir este objetivo pode ser resumido em dois princípios que não são contraditórios: amar de verdade e fixar limites. É responsabilidade intransferível dos pais a fixação de limites para o comportamento dos filhos, mas também esta ação tem os seus próprios limites. Educação não é repressão, mas também não é permissão para tudo. O ponto de equilíbrio é que tem o poder de transformar crianças em adultos felizes e solidários.

Não pode haver dúvida de que o propósito a ser alcançado é a felicidade dos jovens. E o melhor caminho para se atingir este objetivo pode ser resumido em dois princípios que não são contraditórios: amar de verdade e fixar limites.

O editorial acima foi publicado antecipadamente no site de Zero Hora, na sexta-feira. Os demais comentários de leitores sobre a opinião desta página estão em zerohora.com/blogdoeditor.

O leitor concorda -

"Concordo plenamente. Passou-se de um extremo de repressão e autoritarismo a um extremo de liberalidade. Não funciona para ninguém. Crianças, adolescentes e mesmo adultos precisam de limites. É muito mais fácil deixar que façam o que bem entendem, porque educar é doloroso e difícil. O resultado é a falta de educação, de controle e de civilização que temos hoje. Qualquer tarefa mais difícil é desprezada, pois envolve sacrifício de tempo e esforço pessoal. O resultado são pessoas despreparadas para a vida profissional e, por que não dizer, para a vida pessoal. Facilitar tudo para os jovens retira oportunidades de crescimento e de deixar que caminhem por suas próprias pernas. A vida não é fácil. Os pais deveriam pensar nisso antes de superproteger os filhos. É uma sabotagem do futuro." Andrea Nárriman Cezne – Santa Maria (RS)

"Concordo plenamente porque, na verdade, criamos os filhos para saberem que não são as únicas pessoas no mundo, para que respeitem o outro, para que lutem pelos seus objetivos sem passar por cima de ninguém, para que aprendam com seus erros, para que saibam que frustrações fazem parte da vida, mas que tentem ser felizes e busquem sua realização. Mas confesso que é muito difícil achar o meio-termo, não existe receita, porque cada família tem sua dinâmica. Ainda assim, não acredito em radicalizar e deixar fazer tudo ou proibir tudo. Dar limites é mostrar que nos importamos com o ser humano que estamos ajudando a formar. O mais importante é não perdermos jamais o contato com os filhos, perguntar se está tudo bem, conversar, dizer te amo e, principalmente, deixar muito claro que os estaremos apoiando em toda e qualquer situação." Cláudia Asmuz – Porto Alegre (RS)

O leitor discorda
-

"Acredito que o conceito impor limites, hoje em dia, com tantas informações acessíveis, se torna algo agressivo. Não basta ensinarmos conceitos tipo respeito, cordialidade e bom senso? Impor limites sem educar, isto é, sem explicar os motivos da proibição de fazer algo, se torna apenas um simples ato de poder, não realizando o objetivo principal, que é formar e preparar o jovem de hoje para o amanhã. A questão toda é que jogamos para cima da imposição dos limites a solução da educação dos jovens, o que é apenas um último ato de poder. Poder é também educar, conversar, mostrar os caminhos que a vida nos oferece (há vários exemplos a serem mostrados, desde o futebol, passando por cinema, música, pessoas próximas etc.), sem termos a necessidade de impor proibições, que no fundo nunca nos garantem o aprendizado dos jovens. Lamentavelmente, há jovens e adultos imaturos, e só mesmo o dia a dia, a experiência, mostra os perigos da vida. Proibir, por si, não educa, apenas retarda o aprendizado." Paulo Roberto Alexandre – Porto Alegre (RS)

sábado, 12 de fevereiro de 2011

A DISCIPLINA EDUCA E A ORDEM GARANTE O RESPEITO

Aplicar métodos disciplinares é saúdável, mas rigorosos e extremados não educam. Pelo contrário, geram ainda mais atritos e violência.

Na imposição da disciplina consciente, o jovem aprende seus direitos e deveres, com responsabilidade dentro dos seus limites, de terceiros e das leis que regem o bem comum, que nada mais é do que a ordem pública (paz social). A disciplina consciente advem do respeito à autoridade e do conhecimento das normas e limites do direito e dos deveres de cada pessoa no seu espaço dentro da família, da sociedade e do Estado.

No Brasil, a gama de direitos e privilégios na constituição de 1988 esqueceu os deveres, submetendo o direito coletivo ao do indivíduo, estimulando anarquia, a desobediência, indisciplina e violência, e enfraquecendo a autoridades dos pais e do Estado.

E os exemplos de impunidade incentivam os jovens a pensar que "não dá nada" e "tudo pode". Uma democracia verdadeira exige leis e justiça capazes de definir o equilíbrio entre direitos e deveres, os limites de cada um e a autoridade que cabe ao Estado e aos pais.

A educação fica com a responsabilidade de ensinar, disciplinar e orientar o caminho.

A disciplina educa, mas só a ordem garante o respeito. E num regime democrática esta ordem é imposta pelas leis, aplicada pela justiça e norteada pelos instrumentos de coação, educação e cidadania com autoridade e disciplina.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A DESVALORIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO


OPINIÃO - O Estado de S.Paulo - 04/02/2011

Realizado anualmente, o último Censo da Educação Superior do Ministério da Educação (MEC) constatou que o número de formandos dos cursos de Pedagogia e Normal Superior - que preparam professores para as primeiras séries da educação básica - caiu pela metade, em quatro anos. Em 2009, 52 mil docentes concluíram esses cursos, ante 103 mil, em 2005. O Censo também registrou queda no número de graduandos nos cursos de licenciatura, que preparam professores para lecionar nas últimas séries do ensino fundamental e nas três séries do ensino médio. Em 2005 foram 77 mil e, em 2009, 64 mil. No mesmo período, porém, o total de formandos no ensino superior passou de 717 mil para 826 mil.

Isso ocorre porque, ao contrário do que ocorria há quatro ou cinco décadas, quando o professor dos antigos cursos de 1.º e 2.º graus gozava de enorme prestígio social, as novas gerações não se sentem atraídas pelo magistério público. Por causa do aviltamento dos salários, mas em grande parte também por causa das péssimas condições de trabalho - especialmente nas escolas públicas situadas em bairros pobres e nas periferias das grandes cidades - e da subsequente desvalorização da carreira, os jovens de hoje estão optando por cursos que proporcionam, tanto no setor público quanto na iniciativa privada, carreiras com salários mais altos e trabalho mais gratificante.

Para tentar reverter essa tendência de queda do número de alunos nos cursos superiores destinados à formação de docentes e acabar com o déficit de professores qualificados nas escolas públicas, o MEC tomou duas importantes medidas. A primeira foi a criação, em 2008, do piso nacional para o professorado, com o objetivo de unificar o salário de ingresso no magistério público, em todo o País. Este ano, o piso foi estabelecido em R$ 1.183 para os professores com jornada de 40 horas semanais de aula. No entanto, por falta de recursos orçamentários, pelo menos seis Estados continuam pagando bem abaixo desse valor.

A segunda medida foi adotada pelo MEC em 2009, com o lançamento do Plano Nacional de Formação de Professores. A iniciativa tinha por objetivo qualificar os 636 mil professores das redes escolares municipais e estaduais de ensino infantil, fundamental e médio que não tinham curso superior ou vinham lecionando em área diferente daquela em que se formaram, assegurando vagas em universidades públicas e adotando estímulos pecuniários, sob a forma de prêmios e bolsas de estudo. A ideia era oferecer pelo menos 331 mil vagas, até 2011. Mas, como a experiência está em andamento e a conclusão dos cursos de pedagogia e licenciatura leva tempo, a medida ainda não surtiu os efeitos esperados pelas autoridades educacionais.

Para os especialistas em educação, o cenário é preocupante. A falta de professores preparados compromete ainda mais a qualidade do ensino da rede escolar pública e condena milhões de crianças e adolescentes a uma formação abaixo dos padrões exigidos pelo mercado de trabalho e pelo desenvolvimento científico e tecnológico. O gargalo do sistema educacional está, justamente, na deficiência da formação nos níveis fundamental e médio.

Além disso, para melhorar as condições de aprendizagem dos estudantes, o MEC incorporou mais uma série ao ensino fundamental, que passou a ser de nove anos. Adotada em 2006, a medida vem sendo implementada gradativamente e, a partir de 2016, em todos os municípios brasileiros as crianças terão de começar a ser alfabetizadas aos 5 anos de idade. Sem professores em número suficiente para lecionar nas primeiras séries das redes municipais e estaduais de ensino fundamental, essa política certamente fracassará.

A única maneira de reverter esse quadro, trazendo mais jovens para o magistério público, é oferecer um salário inicial atraente e assegurar boas condições de trabalho. Sem isso, não há como tornar a carreira atraente - e, sem professores preparados e motivados, o Brasil não superará o seu passivo educacional.