EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

EDUCAR É DAR LIMITES

EDITORIAL ZERO HORA 13/02/2011


Está provocando debates nos Estados Unidos o livro escrito pela professora de Direito da Universidade de Yale Amy Chua, de origem asiática, que relata sem subterfúgios os métodos disciplinares rigorosos e extremados por ela utilizados na educação de suas duas filhas. O volume de memórias intitulado Battle Hymn of the Tiger Mother (Hino de Batalha da Mãe Tigre) ainda não foi lançado no Brasil, mas alguns conteúdos antecipados pelo caderno Donna do último domingo merecem reflexão por parte das famílias brasileiras. Aqui, como nos Estados Unidos e na maioria das sociedades ocidentais, a educação dos filhos tornou-se um verdadeiro dilema para pais e mães – invariavelmente hesitantes entre os extremos da repressão castradora e da permissividade total. Evidentemente, o assunto é mais complexo, mas não é raro que a insegurança de alguns pais propicie espaço para a existência de jovens individualistas, arrogantes e desajustados. Basta consultar professores de qualquer nível de ensino no país para que se tenha uma ideia da dimensão do problema.

É nas escolas que os acertos e erros da educação familiar mais se evidenciam, pois as crianças e adolescentes passam a conviver com desconhecidos e a se submeter a regras coletivas. Amy Chua exigiu das filhas aplicação total aos estudos, notas 10 como as únicas aceitáveis e nenhuma margem para festas e visitas às amigas. Fez mais: obrigou-as, ainda meninas, a aprender a tocar um instrumento musical de certa complexidade (piano ou violino). Num dos episódios relatados no livro, a filha caçula, então com sete anos, não conseguia tocar uma peça ao piano, depois de ter ensaiado com a mãe por uma semana, e quis desistir. A mãe acusou-a de preguiçosa, ameaçou deixá-la sem almoço e sem festa de aniversário e inclusive de doar suas bonecas favoritas, até que a menina executou a tarefa. O que para muitos parece uma tortura, para a mãe foi apenas uma forma de mostrar que esforço e persistência dão resultado.

Muitos leitores do livro estão protestando, horrorizados com os métodos empregados pela mãe para impor disciplina às filhas. Outros, porém, elogiam sua determinação e dizem que gostariam de ter tido pais assim. As meninas, atualmente com 18 e 15 anos, são bem-sucedidas nos estudos e defendem os procedimentos da mãe. Especialistas, porém, acham que a cobrança demasiada não ajuda na boa educação, mas reconhecem que a imposição de limites é essencial.

O grande mérito do livro da mãe-tigre é colocar em pauta um tema que pais e educadores nem sempre enfrentam com coragem e seriedade. Quanto a seguir sua orientação, ou contrariá-la, cabe a cada família, pois a educação das crianças é direito e dever dos pais. Porém, não pode haver dúvida de que o propósito a ser alcançado é a felicidade dos jovens. E o melhor caminho para se atingir este objetivo pode ser resumido em dois princípios que não são contraditórios: amar de verdade e fixar limites. É responsabilidade intransferível dos pais a fixação de limites para o comportamento dos filhos, mas também esta ação tem os seus próprios limites. Educação não é repressão, mas também não é permissão para tudo. O ponto de equilíbrio é que tem o poder de transformar crianças em adultos felizes e solidários.

Não pode haver dúvida de que o propósito a ser alcançado é a felicidade dos jovens. E o melhor caminho para se atingir este objetivo pode ser resumido em dois princípios que não são contraditórios: amar de verdade e fixar limites.

O editorial acima foi publicado antecipadamente no site de Zero Hora, na sexta-feira. Os demais comentários de leitores sobre a opinião desta página estão em zerohora.com/blogdoeditor.

O leitor concorda -

"Concordo plenamente. Passou-se de um extremo de repressão e autoritarismo a um extremo de liberalidade. Não funciona para ninguém. Crianças, adolescentes e mesmo adultos precisam de limites. É muito mais fácil deixar que façam o que bem entendem, porque educar é doloroso e difícil. O resultado é a falta de educação, de controle e de civilização que temos hoje. Qualquer tarefa mais difícil é desprezada, pois envolve sacrifício de tempo e esforço pessoal. O resultado são pessoas despreparadas para a vida profissional e, por que não dizer, para a vida pessoal. Facilitar tudo para os jovens retira oportunidades de crescimento e de deixar que caminhem por suas próprias pernas. A vida não é fácil. Os pais deveriam pensar nisso antes de superproteger os filhos. É uma sabotagem do futuro." Andrea Nárriman Cezne – Santa Maria (RS)

"Concordo plenamente porque, na verdade, criamos os filhos para saberem que não são as únicas pessoas no mundo, para que respeitem o outro, para que lutem pelos seus objetivos sem passar por cima de ninguém, para que aprendam com seus erros, para que saibam que frustrações fazem parte da vida, mas que tentem ser felizes e busquem sua realização. Mas confesso que é muito difícil achar o meio-termo, não existe receita, porque cada família tem sua dinâmica. Ainda assim, não acredito em radicalizar e deixar fazer tudo ou proibir tudo. Dar limites é mostrar que nos importamos com o ser humano que estamos ajudando a formar. O mais importante é não perdermos jamais o contato com os filhos, perguntar se está tudo bem, conversar, dizer te amo e, principalmente, deixar muito claro que os estaremos apoiando em toda e qualquer situação." Cláudia Asmuz – Porto Alegre (RS)

O leitor discorda
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"Acredito que o conceito impor limites, hoje em dia, com tantas informações acessíveis, se torna algo agressivo. Não basta ensinarmos conceitos tipo respeito, cordialidade e bom senso? Impor limites sem educar, isto é, sem explicar os motivos da proibição de fazer algo, se torna apenas um simples ato de poder, não realizando o objetivo principal, que é formar e preparar o jovem de hoje para o amanhã. A questão toda é que jogamos para cima da imposição dos limites a solução da educação dos jovens, o que é apenas um último ato de poder. Poder é também educar, conversar, mostrar os caminhos que a vida nos oferece (há vários exemplos a serem mostrados, desde o futebol, passando por cinema, música, pessoas próximas etc.), sem termos a necessidade de impor proibições, que no fundo nunca nos garantem o aprendizado dos jovens. Lamentavelmente, há jovens e adultos imaturos, e só mesmo o dia a dia, a experiência, mostra os perigos da vida. Proibir, por si, não educa, apenas retarda o aprendizado." Paulo Roberto Alexandre – Porto Alegre (RS)

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