EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

EDUCAÇÃO INCLUSIVA DEVERIA SER PLEONASMO

ZERO HORA 29 de maio de 2013 | N° 17447 ARTIGOS

Silvana Matos Uhmann*


A escola é o estabelecimento público ou privado no qual se gerencia, sistematicamente, o ensino coletivo. Já em nossa Constituição, é expresso como fundamentos de nossa República o direito à igualdade, sobretudo à educação, concedendo acesso e permanência de todos os estudantes na escola.

Entretanto, parecemos não nos dar conta de que a educação passa por dificuldades que necessitam de solução. Um exemplo disso é a própria educação inclusiva, que se originou a partir da necessidade de respaldo à educação de alunos que por algum momento já vivenciaram (ou vivenciam) experiências de exclusão. Ou seja, a educação como um todo não demonstra conseguir administrar o acesso e permanência de todos os alunos dentro das escolas, exigindo assim o surgimento e existência de “grupos” dentro de uma educação que devia ser para todos.

Tendo como base essas concepções, pode nos parecer retórico em âmbito educacional vivenciarmos uma educação inclusiva, que por sua vez já deveria abarcar – concedendo acesso e permanência na escola – todos os nossos estudantes. Nesse sentido, se voltarmos a pensar sobre a Constituição, leis e diretrizes que permeiam nosso meio educacional, percebemos uma lacuna no que diz respeito à educação. Isto porque o direito à educação (de qualidade) já foi conferido aos alunos – uma educação, que por si só e no sentido literal da palavra, inclua a todos os alunos para aquisição dos conhecimentos científicos abordados pela instituição escola.

Sendo assim, não haveria necessidade de uma educação inclusiva (ou também educação quilombola, educação popular, educação de jovens e adultos), pois todos teriam acesso a uma mesma escolarização, independentemente de suas condições cognitivas, motoras, sensoriais, orgânicas, étnicas ou também aquisitivas. Devemos pensar que a educação já é para todos, aqueles da cidade, do campo, alunos deficientes, ou não. Todos dentro da escola e buscando aprender juntos. Entretanto, parecemos ainda encontrar dificuldades em gerenciar essa educação. Enquanto isso, vamos produzindo “grupos” e espaços dentro da escola que acabam diferenciando o acesso a aquisição dos conhecimentos escolares.

Em suma, ao buscar fazer relação com a figura de linguagem pleonasmo, educação inclusiva poderia ser considerada retoricamente como “subir para cima”, “entrar para dentro” ou “adiar para depois”, já que pensamos aqui em uma educação que já é, ou deve ser, inclusiva (sem a necessidade de ser denominada, ainda, “inclusiva”). Ao nos referirmos a uma educação inclusiva, nos tornamos retóricos, uma vez que a educação, por si só, deve ter esse mesmo papel. A primeira postura educacional necessária é reconhecer a diversidade em uma educação universal, proposta e pensada em igualdade para todos em uma mesma educação.

*Educadora especial pela Universidade Federal de Santa Maria, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unijuí

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Inclusiva em todo o significado da palavra: fazer parte, enquadramento, compreensão, inserção, abraçamento e envolvimento  do aluno numa aprendizagem com qualidade e visão de futuro na sobrevivência em sociedade. Por este motivo, este blog defende a educação multidisciplinar (INCLUSIVA) a partir da identificação de talentos e potencial científico, técnico, desportivo e artístico, complementando com atividades extra-classe e orientando para escolas públicas programadas e dedicada a área específica onde o aluno pode desenvolver suas habilidades, dedicar-se, motivar-se na busca da felicidade, do sucesso profissional e da autonomia futura.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

A EDUCAÇÃO DESAFIADA

ZERO HORA 24 de maio de 2013 | N° 17442


EDITORIAIS


Há mais sinais para otimismo do que para desalento no Anuário Brasileiro da Educação Básica, divulgado nesta semana, mesmo que o Brasil ainda tenha desafios grandiosos no ensino formal. O documento elaborado pelo movimento Todos pela Educação é uma ferramenta para que se compreenda a realidade da educação num país com tantas diferenças e tão complexo. Assim, dados médios, como alertam os organizadores, não podem induzir a conclusões apressadas, antes de se considerarem as peculiaridades de áreas mais carentes do Norte e do Nordeste. Mas, depois do alerta, a melhor conclusão do levantamento é a de que o Brasil está, sim, avançando na educação básica, com aumento de matrículas, maior tempo de permanência dos jovens na escola e melhoria na qualificação dos professores.

A evolução dos indicadores ainda está aquém do esperado, mas ampliam-se expectativas que eram tênues até bem pouco tempo. Um exemplo ressaltado: até 2005, apenas 56% dos jovens de 16 anos haviam concluído o Ensino Fundamental, e em 2011 este número chegou a 65%. Há avanços na maioria das faixas, mas o ritmo precisa ser acelerado, como observa a diretora executiva do movimento, Priscila Cruz, em especial no cumprimento do que determina a emenda constitucional de 2009 que tornou a pré-escola parte da educação básica obrigatória.

Das crianças de quatro e cinco anos, 18% estão fora da escola. É muito, na comparação com países em estágio mais adiantado, mas o dado deve ser percebido no contexto de uma realidade que foi ignorada por décadas por Estados e prefeituras. O não atendimento da educação pré-escolar é, como enfatiza o documento, a grande questão ainda não resolvida da universalização da educação no Brasil. A adolescência fora do colégio também preocupa. São 1,6 milhão de jovens de 15 a 17 anos que não frequentam a escola, ou 15% da população dessa faixa etária. Na lista de avanços, inclui-se a melhoria na formação do magistério, com 74% dos educadores com graduação.

O Anuário foi organizado de acordo com as metas definidas no Plano Nacional de Educação, que listou objetivos a serem perseguidos até 2020, e por isso o estudo contém também uma denúncia. O PNE foi enviado ao Congresso para que se transformasse em lei há dois anos e meio. É uma proposta ainda intocada, como se o Brasil dos legisladores tivesse outras prioridades à frente da educação. O que se manifesta, com o engavetamento do Plano, é o total descaso com o tema.

Tanto que o Anuário foi lançado no Senado, na tentativa de sensibilizar o Congresso para uma realidade que a atividade parlamentar costuma tratar com desdém. Os 20 indicadores definidos são decisivos para a orientação das políticas públicas, tanto da União quanto de Estados e municípios. Mas inúmeros dados do PNE já estão desatualizados, pela incapacidade do Congresso de acompanhar os esforços – inclusive do Executivo – pela melhoria da educação.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

A EDUCAÇÃO ULTRAJADA PELA VIOLÊNCIA


ZERO HORA 20 de maio de 2013 | N° 17438

EDITORIAIS

A EDUCAÇÃO ULTRAJADA




Pesquisa realizada recentemente pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo chama a atenção para uma realidade comum à maioria das unidades da federação: nada menos de 44% dos professores entrevistados já sofreram algum tipo de violência na escola, entre agressões físicas, verbais, assédio moral e bullying. O comportamento agressivo por parte de alunos é apontado como um dos responsáveis por danos à integridade psicológica dos educadores, além de figurar entre as principais causas da desistência do magistério. No momento em que a qualidade do ensino formal constitui-se numa das questões centrais da pauta de prioridades do país, esta é uma questão central, pois demonstra o quanto a educação recebida em casa tende a ser decisiva para o futuro de crianças e adolescentes e para o do próprio país.

O que o levantamento indica de mais preocupante é um número cada vez maior de professores, particularmente os do Ensino Médio, expostos à violência de grupos de alunos com distúrbios de comportamento. A maioria dos educadores já presenciou estudantes sob o efeito de drogas, alcoolizados ou portando armas brancas e de fogo. Sob esse clima de hostilidade permanente, são comuns casos que vão desde pressão psicológica e bullying até puxões de cabelo, pontapés e agressões de maior gravidade, além de riscos aos demais colegas e de danos à estrutura física dos estabelecimentos de ensino. Uma das consequências é que, nesse ambiente, as tensões atrapalham o processo de aprendizado. Ao mesmo tempo, cada vez menos professores se mostram em condições de continuar desafiando o medo no cotidiano para transmitir conteúdos.

O clima de violência crescente em sala de aula tem explicações que começam num ambiente familiar normalmente desestruturado, pouco preocupado em transmitir valores mínimos de respeito ao próximo, e, por isso, precisa ser enfrentado de forma articulada. No momento em que se intensifica a discussão sobre a qualidade do ensino formal no país, a educação familiar aparece como um obstáculo difícil de transpor. Essa não é atribuição da escola, e sim um dever de casa que os pais não estão fazendo, por razões difíceis de serem enfrentadas de um momento para outro.

A questão é que, enquanto o desafio não é enfrentado, as deficiências doensino, explicadas por razões como a falta de motivação de professores e alunos, só tendem a se agravar ainda mais, com prejuízos generalizados para os brasileiros e para a imagem do país de maneira geral. Muitas escolas vêm investindo em medidas preventivas, com ênfase em alternativas como mediação ou arbitragem, além de envolvimento dos pais, quando há condições para isso. Sempre que uma agressão é consumada, porém, é óbvio que a escola precisa agir com o rigor que o aluno não encontrou em casa, para não passar também a ideia de tolerância com a violência.

OI, OI, OI, VEM QUEBRAR COM TUDO

ZERO HORA 20 de maio de 2013 | N° 17438

ARTIGOS

Patrícia Trunfo*



Ontem, ao visitar o face, deparei com uma amiga comentando que não conseguia trabalhar, importunada pelo alto som da trilha sonora de um aniversário de criança, cuja letra dizia ...Oi, oi, oi, vem pra quebrar tudo; vamos dançar com tudo... e, no mesmo momento, parei a refletir sobre cenas do nosso cotidiano que vêm repetindo-se nas escolas, reproduzindo-se no ambiente profissional e que estão contribuindo, em boa parte, para o desmonte das instituições e da real democracia.

De fato, há um bom tempo travam-se discussões sobre as consequências da terceirização exagerada da educação das crianças, da falta de imposição de limites, da chamada “geração construtivista”, que tudo pode, que não tem freios, visto que os pais, ou não têm tempo para educar os filhos ante o excesso de trabalho imposto pelas necessidades da vida moderna, ou não têm base educacional para tanto. A partir disso, formam-se pessoas que não sabem ouvir, não têm conteúdo para o debate e, por falta de formação básica, apresentam uma insegurança que as leva a acreditar que para “dançar com tudo”, precisam “quebrar tudo”.

A minha geração, tenho orgulho disso, foi responsável por muitas mudanças políticas neste país. Fomos – e somos – rebeldes, reivindicamos, mas sempre exigindo democracia. Hoje, tenho certeza de que isso foi possível pela educação sólida que recebemos e que era comum à época. Tínhamos limites, precisávamos ouvir quando o outro falava, respeitávamos os mais velhos, pois não é inteligente desprezar a experiência, e éramos ouvidos e respeitados quando fundamentávamos nossas ideias. Ou seja, dessas crianças, ressalvados os venais por caráter, em sua grande maioria formaram-se adultos com consistência para o debate e que não precisam se impor por atitudes ditatoriais na falta de fundamentos – a falta de razão alimenta o autoritarismo.

Assim sendo, mais uma vez, grande parte dos problemas de um país está na base, na educação. Se as nossas crianças não tiverem limites, não souberem ouvir, não forem chamadas a manifestar suas ideias com afinco, mas também com respeito à opinião alheia, nossa democracia estará ameaçada. As escolas, o ambiente profissional e as nossas instituições demonstram isso diariamente, contaminadas pela falta de ética entre colegas, pela falta de respeito e pela imposição arbitrária de regras desprovidas de fundamentação, a beneficiar sabe-se lá quem. Eduquemos nossos filhos para a democracia, pois, do contrário, todos seremos prejudicados.


*ADVOGADA DA UNIÃO, PROFESSORA UNIVERSITÁRIA

segunda-feira, 13 de maio de 2013

A EDUCAÇÃO PRECISA DE PERGUNTAS

ZERO HORA 13 de maio de 2013


"É preciso um movimento de deslocamento
do professor em direção ao mundo que o cerca"


MARCELO ROCHA *


Segundo pesquisas recentes do INAF/Brasil, que examina os indicadores de alfabetismo funcional no país, realizadas entre 2001 a 2011, houve, neste período, um avanço na ampliação do acesso à escola. Contudo, no que se refere à leitura, escrita e matemática, apenas um em cada quatro estudantes domina estas habilidades básicas. Ainda conforme números do IBGE, 20,4% dos brasileiros com mais de 15 anos não têm condições de participar de todas as atividades em que a alfabetização é necessária. Há dois anos o número de analfabetos funcionais ou de pessoas que conseguem ler e compreender um texto simples está estagnado. Desse modo, a pergunta que se impõe diante destas estatísticas é: se há mais estudantes na escola, por que não há, em uma mesma proporção, um processo de alfabetização plena?

É evidente que seria uma pretensão ter uma resposta categórica para uma questão tão complexa. No entanto, em torno dela, algumas considerações podem ser feitas, sobretudo por professores que, como eu, atuam e preocupam-se, cotidianamente, com os problemas relativos à Educação em nosso país.
Em primeiro lugar, penso que seja necessário repensarmos nossa própria prática docente. Desse modo, e para além dos chavões habituais, isto significa uma espécie de pedagogia do exílio, ou seja, um movimento para fora dos contornos da sala de aula, compreendendo a sociedade como uma grande escola, tal como assevera o educador Henry Giroux. Assim, se a leitura do mundo precede a leitura da palavra, é preciso um movimento de deslocamento do professor dos contornos limitantes de suas disciplinas em direção ao mundo que o cerca.

Além disso, o professor necessita que o poder Executivo não o veja apenas como um sujeito integrado ao aparelho burocrático hegemônico. Na ideologia tecnocrática que fundamenta, muitas vezes, os planos educacionais, há uma tentativa de separação entre conceitualização e organização curricular da implementação e execução destes processos. O professor torna-se, então, um executor de tarefas sem ter sido consultado sobre projetos elaborados por especialistas que, por sua vez, desconhecem realidades singulares de algumas práticas tão distintas e complexas circunstâncias.

Nesse sentido, o governo e as instituições de ensino precisam entender que uma das lições mais importantes a apresentar aos nossos alunos, além do compromisso com nosso campo de estudos, é a da liberdade e autonomia crítica. O professor, tal como afirma Edward Said, precisa assumir o papel de "falar a verdade ao poder". Isso significa que, para além de consolidar autoridades, devemos compreendê-las, interpretá-las e, sobretudo, questioná-las. Por isso, a Educação precisa é de mais perguntas que busquem examinar: por que este campo dispõe sempre de tão parcos recursos? Por que os professores e professoras são, muitas vezes, meros executores de projetos que não são instados a participar? E, finalmente, por que as instituições de ensino são estimuladas, cada vez mais, ao conhecimento instrumental e técnico, visando à formação de mão de obra para o mercado e nem tanto para a reflexão? Por quê?

* Professor Adjunto da Universidade Federal do Pampa, Campus São Borja

A EDUCAÇÃO É O MAIOR PRÊMIO

ZERO HORA 13 de maio de 2013 | N° 17431


EDITORIAIS


Com o propósito prioritário de contribuir para a melhoria da qualidade do ensino no país, o Grupo RBS e a Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho lançam hoje o Prêmio RBS de Educação, idealizado para reconhecer e premiar iniciativas de professores das redes públicas e privadas, e de educadores que trabalhem com o incentivo à leitura em diferentes áreas do conhecimento. O propósito desta iniciativa é valorizar aspectos positivos da educação de forma permanente. A temática da primeira edição é Para Entender o Mundo ao mesmo tempo um indicativo de sentido para a educação formal e uma declaração de fé na palavra escrita como chave para o desenvolvimento da nação.

Leitura e escrita são processos fundamentais da comunicação humana e também podem ser considerados direitos inalienáveis dos indivíduos numa sociedade civilizada. No Brasil, infelizmente, uma parcela da população ainda não superou sequer a barreira do analfabetismo e um contingente ainda maior tem dificuldade para compreender e interpretar mensagens escritas. Por isso, por ser tão relevante e tão essencial para a virada que o país precisa dar na educação, a leitura é o tema escolhido pelo Grupo RBS como desafio aos educadores que atuam dentro e fora da escola. “Quem ajuda a entender as palavras ajuda a entender o mundo” , diz o slogan da promoção.

Muitos ajudam, sabemos disso. Todos os dias, milhares de alfabetizadores, professores, orientadores educacionais e até mesmo militantes de organizações não governamentais trabalham arduamente para ajudar milhões de brasileiros a dominar os códigos da comunicação gráfica e digital. São exatamente esses profissionais que a RBS deseja reconhecer com essa promoção, destacando trabalhos criativos, diferenciados e comprometidos com a educação, mas também estimulando a atividade diária do ensino. O Prêmio RBS de Educação tem caráter formador e será acompanhado por um curso online gratuito sobre Mediação de Leitura, destinado ao aperfeiçoamento de práticas em sala de aula e de outras atividades relacionadas à educação. Todo o projeto conta com o apoio técnico do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), organização da sociedade civil reconhecida nacionalmente por seu trabalho em favor do desenvolvimento social e da melhoria da qualidade da educação no país.

Esta iniciativa é uma das principais ações do Grupo RBS no campo do Investimento Social Privado, como parte da bandeira institucional lançada no ano passado sob o título A Educação Precisa de Respostas. Entre as questões levantadas, uma das mais significativas relaciona-se à valorização dos professores e dos profissionais comprometidos com o processo educativo. Este prêmio é parte das respostas. Mas estamos conscientes de que o maior de todos os prêmios para quem se dedica à educação é a satisfação de ter ajudado alguém a se capacitar para a vida.

domingo, 12 de maio de 2013

A EDUCAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL PRECISA EVOLUIR

Revista EXAME PME

Infográfico | 12/05/2013

Por que a educação pública do Brasil ainda precisa evoluir

A proporção de graduados no país é um terço da dos EUA e os alunos de escolas particulares vão bem melhor no Enem. Confira mais exemplos de índices que precisam melhorar na educação

Gladinston Silvestrini, da



Design: Beatriz Blanco

VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS

O Estado de S.Paulo 12 de maio de 2013 | 2h 08


OPINIÃO

As agressões físicas e morais contra professores da rede escolar pública de São Paulo chegaram a um nível em que o problema ultrapassa a responsabilidade das autoridades educacionais e passa a ser da Secretaria da Segurança Pública e do Ministério Público. É o que se depreende de uma pesquisa do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), que foi realizada em 167 municípios paulistas e ouviu mais de 1,4 mil docentes.

Segundo o levantamento, 44% dos professores da rede estadual de ensino básico já sofreram algum tipo de violência. As agressões mais comuns são as verbais (39%) e o assédio moral (10%). Já a violência física foi relatada por 5% dos entrevistados. O porcentual parece pequeno, mas as agressões cada vez mais colocam em risco a integridade física dos docentes.

Em Sorocaba, por exemplo, repreendida por não ter feito o dever de casa, uma estudante da 3.ª série do ensino médio agrediu o professor de geografia golpeando-o no rosto com um capacete de motociclista. A aluna foi suspensa, mas a mãe foi à escola para agredir verbalmente o professor. Em resposta, um grupo de alunos se solidarizou com o docente e se negou a entrar na classe, o que levou o diretor a suspender as aulas.

Até recentemente, as agressões físicas e morais contra professores se concentravam nas escolas dos bairros mais pobres. Hoje, o problema ocorre em quase toda a rede escolar estadual, independentemente do perfil social e econômico dos bairros onde os colégios estão localizados.

Numa escola estadual do bairro do Limão, na zona norte da capital, alunos atearam fogo nas cortinas das salas de aula. Também lançaram um livro de 400 páginas contra o rosto de um professor. E ainda agrediram fisicamente a diretora com tapas e puxões de cabelo.

Nos colégios do Jardim Ângela, bairro da zona sul situado próximo da Represa de Guarapiranga, numa área que já foi classificada como uma das mais violentas do mundo, as escolas não conseguem terminar o ano letivo com os mesmos docentes que deram as primeiras aulas. Por não suportar agressões sucessivas e não conseguir que os autores sejam efetivamente punidos, muitos docentes acabam entrando em depressão, pedindo transferência ou licença médica e até desistindo da carreira. A área é tão problemática que policiais militares se recusam a fazer o "bico oficial" nas vagas oferecidas pela Prefeitura, em seus dias de folga.

Já nas Perdizes, bairro de classe média, alunos jogaram uma bomba no pé de um professor de biologia, quando escrevia na lousa. "Tive de ir para fora da sala, fiquei em estado de choque e acabei urinando nas calças. Tive uma Síndrome do Pânico, mesmo sem ter me ferido. Fui levado ao hospital, onde fui medicado, e fiquei afastado da escola por 120 dias", diz ele.

Pela pesquisa da Apeoesp, os colégios estaduais com menor número de agressões físicas e morais contra professores são os que já foram objeto de campanha contra a violência. Em média, as taxas de agressão nessas escolas são 10% menores do que nas demais. Para 74% dos docentes entrevistados, a falta de educação e respeito dos alunos - valores que deveriam ser ensinados em casa - é a principal causa das agressões. As autoridades educacionais alegam que, para "prevenir" a violência, implantaram em 2009 um Sistema de Proteção escolar que criou a figura do "professor comunitário", responsável por mediar conflitos. Segundo a Secretaria da Educação, 2,7 mil docentes treinados já estão trabalhando em 40% das escolas estaduais - a meta é atingir todos os demais colégios em 2014.

Mas essa é uma política de eficácia duvidosa. Quando alunos agridem professores, o problema não é de mediação ou arbitragem, mas de desrespeito ao princípio da autoridade. E isso exige não só sindicâncias administrativas, mas abertura de inquérito criminal, proposição de ações judiciais e aplicação de penas severas. Quem agride física ou moralmente um professor tem de responder, assim como seus responsáveis, por esses atos.

ZERO PARA AS GRACINHAS

ZERO HORA - 12 de maio de 2013 | N° 17430


EDITORIAL INTERATIVO


Foi tão grande e tão negativa a repercussão das redações com gracinhas que obtiveram nota de aprovação no último Exame Nacional do Ensino Médio, que o Ministério da Educação obrigou-se a adotar critérios mais rígidos para a correção das provas. Esta semana, o ministro Aloizio Mercadante anunciou que a partir do próximo exame serão anuladas as redações que apresentarem parte do texto deliberadamente desconectada do tema proposto, fechando assim a brecha para o enxerto de receita de macarrão instantâneo ou hino de clube de futebol, como aconteceu no último teste. Só receberão a nota máxima de redação (1.000 pontos, pela contagem do MEC) os alunos que demonstrarem total domínio da norma culta da língua portuguesa. Serão aceitos apenas desvios gramaticais excepcionais e que não caracterizem reincidência.

A mudança de rumo é mais do que oportuna, principalmente porque o MEC também está tocando no principal problema de edições anteriores, que era a leniência nas correções. Até se entende que jovens de poucos recursos intelectuais, ou mesmo debochados, tenham recorrido a absurdos criativos para preencher espaço. O que não dá para aceitar é a frouxidão dos examinadores, que consideraram tais redações adequadas e merecedoras de pontos suficientes para aprovação. Agora não será mais assim: os avaliadores serão monitorados em 33 requisitos e poderão ser eliminados da equipe de correção dos exames se não alcançarem desempenho igual ou superior a 7, numa escala de 0 a 10. Anteriormente, só ficavam fora os que não alcançassem nota 5. Também haverá maior rigidez em relação à discrepância na nota final apresentada por dois corretores, que poderá ser de, no máximo, 100 pontos.

E não se pode dizer que a culpa era apenas dos avaliadores. Eles tinham orientação dos organizadores da prova para “não pegar pesado”, como informou um dos encarregados da correção. Só podiam dar nota zero para situações bem específicas: se o candidato fugisse completamente do tema, se entregasse a prova em branco, se escrevesse impropérios ou agressões aos direitos humanos. Também seriam desconsiderados textos com menos de sete linhas – o que deve ter levado os estudantes a usar os subterfúgios referidos, acrescentando receita de macarrão e letra de hino de futebol numa dissertação sobre movimentos imigratórios para o Brasil no século 21, que era o tema solicitado.

Desde que se transformou numa grande porta de entrada para o Ensino Superior, o Enem vem enfrentando obstáculos, boicotes e até mesmo fraudes, que vão de erros de impressão até o desvio de questionários. Todas essas dificuldades, porém, vêm sendo gradativamente superadas, até mesmo porque o país já entende que avaliações sistemáticas são instrumentos essenciais para a qualificação do ensino. Neste contexto, a tolerância zero com os engraçadinhos é indispensável, principalmente porque faz justiça aos estudantes que se capacitam para obter bons resultados.

- O editorial acima foi publicado antecipadamente no site de Zero Hora, na sexta-feira, com links para Facebook e Twitter. Os comentários selecionados para a edição impressa mantêm a proporcionalidade de aprovações e discordâncias entre as 410 manifestações recebidas até as 18h de sexta. A questão proposta aos leitores foi a seguinte: Editorial aplaude tolerância zero com deboches na redação do Enem. Você concorda?

O LEITOR CONCORDA

Eu, que participo do Enem e que procuro levar a sério, lamento que pessoas não o façam. Já no Enem 2012, ocorreram essas brincadeiras. Esses alunos deveriam receber nota zero. Espero que neste ano cumpram as regras... Com certeza, tolerância zero. Luiz Fernando Medeiros Pinto, Pelotas (RS)

Justiça seja feita. Mesmo que milhares de jovens se preparem para o desafio de entrar numa universidade através do Enem, alunos que ostentam deboches como esses acabam por criar uma imagem de completa impunidade para o país. A atitude de tolerância zero é o primeiro passo para reconhecer o mérito dos verdadeiros alunos, aqueles que acreditam no estudo como a melhor forma de crescimento.Jaqueline Tramontim, Canela (RS)

Acredito que existam tempo e oportunidade para todas as coisas. Alguém que não sabe se portar no Enem não está apto a ingressar em uma universidade. Ismael Diogo, Esteio (RS)

Temos que valorizar a nossa cultura, jamais aceitar que um aluno decore um texto e aplique em uma prova de redação. Temos que levar o aluno a pensar.José Olavo Filho Abreu,Fortaleza (CE)

Não se trata de tolerância zero ou não, simplesmente de mais uma vez acatar o que já é de lei. Ou seja, fugiu do tema, é zero. Não entendo o porquê da dúvida quanto à aplicação do que já está escrito e sacramentado.Giovani Fernandes Bernardi, Porto Alegre (RS)

O LEITOR DISCORDA

Não concordo com o editorial do jornal Zero Hora que aplaude a tolerância zero para os alunos que expressam a sua criatividade nas redações do Enem. O que é maluquice para alguns é pura criatividade reprimida. Quanto maior a maluquice, maior a criatividade. Estão querendo culpar os estudantes por falhas de avaliação comprovadamente existentes. A tolerância zero deve ser aplicada para os baixos salários dos professores. E aqui vai a minha receita de miojo. Walter Soares, Porto Alegre (RS)

sexta-feira, 10 de maio de 2013

PROFESSORES BRIGAM ENTRE SI E CONTRA A PM

G1 - 10/05/2013 18h25

PMs e manifestantes entram em confronto na Avenida Paulista. Confusão começou após assembleia de professores da rede estadual. Grupo descontente cercou carro de som onde está diretoria do sindicato.

Do G1 São Paulo



Confronto após assembleia de professores na Avenida Paulista (Foto: Diogo Moreira/Frame/Estadão Conteúdo)


Manifestantes e policiais militares entraram em confronto na tarde desta sexta-feira (10) na Avenida Paulista, na altura do Masp. A confusão começou após a assembleia de professores da rede estadual de ensino decidir encerrar a greve da categoria. Os professores estavam em greve desde 22 de abril. Descontente com o encerramento, um grupo colocou fogo em objetos na calçada do Vão Livre do Masp e na pista do sentido Consolação.


Eles também jogaram garrafas de água, papéis e outros objetos no carro de som onde estava a diretoria do sindicato. A revolta, entretanto, não provocou espanto em Maria Izabel Noronha, presidente da Sindicato Nacional dos Professores (Apeoesp)."Toda a greve é assim. É um grupo que se põe desta forma e não temos como mudar isto."Os professores da rede estadual de ensino suspenderam a greve após votação feita durante a assembleia. Alguns manifestantes não concordaram com a decisão e fecharam os dois sentidos da avenida por volta das 17h.

Para ela, os manifestantes descontentes representam uma minoria, e fazem parte de uma ala radical. "Eles falam em democracia, mas quando suas ideias não são aceitas, mantém este tipo de comportamento. Lamento que até mesmo uma parte do sindicato esteja fazendo isso. Sempre foi assim, não tenho medo deles", assevera.

Policiais militares cercaram o veículo onde estavam os integrantes da diretoria. Houve empurra-empurra entre os PMs e os manifestantes. Alguns policiais usaram cassetetes para tentar dispersar pessoas que fechavam os dois sentidos da via.
Fogo no sentido Consolação na Avenida Paulista
nesta sexta-feira (Foto: Elaine Almeida/G1)

Às 17h45, os dois sentidos da avenida estavam liberado para o trânsito, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Os manifestantes que não concordavam com o fim da greve caminhavam na Rua da Consolação em direção ao Centro.

Pontos da negociação
Segundo a presidente, 60% dos grevistas votaram pelo fim da greve. Ela fez uma reunião com integrantes da Secretaria Estadual da Educação que, segundo ela, acatou algumas das reivindicações.

Entre as decisões está a diminuição do tempo que professores temporários precisam permanecer fora do cargo após término do contrato. Os professores temporários também não precisarão mais passar por outra avaliação contratual além da avaliação de qualidade feita pela secretaria. "Não tinha mais motivo em continuar uma greve com a participação de só 10% da categoria", afirmou Maria Izabel.

O sindicato marcou outra reunião com a secretaria na próxima semana para discutir outras reivindicações. Aproximadamente duas mil pessoas se concentravam no local por volta das 16h, de acordo com a Polícia Militar.

Manifestantes brigam durante protesto na Avenida Paulista; confusão começou com o fim da greve (Foto: Diogo Moreira/Frame/Estadão Conteúdo)

Reivindicações

Tramita na Assembleia Legislativa uma proposta de reajuste de 2% sobre os 6% já previstos para julho de 2013, chegando a 8,1% de reajuste total. A categoria reivindica um reajuste salarial de 36,74%.

De acordo com a Secretaria Estadual de Educação, um professor que leciona para estudantes do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e Ensino Médio, com uma jornada de 40 horas semanais, recebe, por exemplo, um salário-base de R$ 2.088,27. Com o aumento, passará a receber R$ 2.257,84 em 2013. Em 2014, quando deverá ser concedido novo reajuste de 7%, os vencimentos desse professor chegarão a R$ 2.415,89. Com os novos valores, o salário dos professores de educação básica II será, ainda de acordo com a pasta, 44,1% superior ao piso nacional, que é de R$ 1.567.

A secretaria reiterou que o governo de São Paulo “cumpre integralmente a Lei Nacional do Piso Salarial do Magistério Público.” A pasta informou também estar “à disposição para o diálogo com as entidades sindicais, mas não abre mão de trabalhar também, e sobretudo, diretamente com seus próprios profissionais comprometidos com o avanço da qualidade de ensino.”

quinta-feira, 9 de maio de 2013

MEU FILHO NÃO APRENDE


ZERO HORA 09 de maio de 2013 | N° 17427 ARTIGOS


Renata Kieling*


O bebê nasceu lindo, cresceu forte, encantou a todos com os primeiros passos e arrancou sorrisos nas primeiras palavras. Entrou para a escola, entre ansioso e feliz, cheio de expectativas e pronto para aprender. Mas o que era para ser uma fonte virtualmente inesgotável de descobertas e conquistas revelou-se um pesadelo sem fim. Meu filho não aprende.

Milhares de pais e mães vivenciam esta realidade. No Brasil, estima-se que cerca de 15% das crianças tenham mais de dois anos de atraso escolar, com rendimento acadêmico marcadamente abaixo do esperado para a série.

As causas para um fracasso escolar podem ser muitas, e uma avaliação adequada requer uma abordagem multidisciplinar. Existem síndromes genéticas associadas a dificuldades de aprendizagem; doenças metabólicas que podem conduzir ao quadro; distúrbios psiquiátricos ou neurológicos subjacentes. Algumas crianças, contudo, apresentam transtornos específicos da aprendizagem – dislexia, disgrafia e discalculia.

Entender por que algumas crianças não aprendem – apesar de frequentarem boas escolas e terem um incentivo adequado aos estudos em casa – é um desafio que vem mobilizando um número cada vez maior de pesquisadores. Porto Alegre lidera hoje uma pesquisa nacional de grande porte voltada ao reconhecimento precoce de transtornos de aprendizagem, utilizando modernas ferramentas de neuroimagem. Crianças de diversas escolas públicas da Capital serão acompanhadas pelos pesquisadores do Projeto Acerta, financiado pela Capes, de forma a mapear as trajetórias de aprendizagem, buscando identificar os fatores associados a um desenvolvimento normal e anormal das habilidades de leitura, escrita e matemática.

Hoje, técnicas avançadas de neuroimagem nos permitem identificar diferenças no funcionamento cerebral de crianças com transtornos de aprendizagem, ajudando a esclarecer suas bases biológicas. Contudo, de nada servirão esses avanços se antes não reconhecermos que o insucesso na aprendizagem nem sempre está relacionado a um sistema educacional falho, a professores desmotivados, à preguiça, má vontade ou, pior, à “burrice” da criança.

*MÉDICA PEDIATRA, DOUTORANDA EM NEUROCIÊNCIAS PELA PUCRS


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Eu tenho este mesmo exemplo dentro de casa. Como foi difícil entender o que estava acontecendo diante do despreparo da família que vivia brigando com ele e do despreparo dos professores que não o entendiam. Não raro, diziam que meu filho era vagabundo, não queria nada com nada, vivia no ar, não prestava atenção, não entendia e ainda fazia as coisas erradas e fora do padrão. Para os professores era fácil rodá-lo, criticá-lo ou lançar adjetivos próprios à conduta desleixada do aluno, mas para a família, aquilo era um desafio: entender o porquê.

A busca por especialistas e estudos sobre o assunto proporcionaram a descoberta pela família da pessoa brilhante e capaz que tinham. Uma pessoa com vontade de reconhecer e enfrentar suas próprias dificuldades, de entender as coisas e de ganhar uma autonomia. Restou apenas a consciência de que falta muita na educação brasileira que valorize o aluno e potencialize os professores, dando condições e conhecimento para enfrentar esta diferenciada visão de vida e assim passarem a adotar nas escolas as medidas capazes de identificar alunos com seus talentos e suas dificuldades, e ensiná-los a se conduzir no mundo com o seu modo diferente, prevenindo os bullyings  as discriminações e os adjetivos que atacam a motivação, a dignidade e a autoestima.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

QUEM QUER SER PROFESSOR?

O Estado de S.Paulo 08 de maio de 2013 | 2h 05

OPINIÃO 


O governo federal alardeia que ser professor é exercer "a profissão que pode mudar o País", mas o que se comprova é que se trata de uma carreira que vem perdendo prestígio e pela qual há cada vez menos interessados.

O problema é especialmente grave no ensino de ciências exatas, essencial para o crescimento de qualquer país. Embora não se trate de algo novo, o fenômeno tem se acentuado nos últimos tempos, e há novos levantamentos mensurando o grande desinteresse dos jovens pelo desafio de ensinar e, dessa forma, "construir um Brasil mais desenvolvido", como diz a propaganda oficial destinada a atrair mão de obra para as salas de aula.

Uma pesquisa recente feita com ingressantes nos cursos de licenciatura em matemática e física na Universidade de São Paulo (USP) mostra que cerca de 50% deles não estão muito dispostos a dar aula nas respectivas áreas. O resultado é particularmente importante quando se leva em conta o fato óbvio de que os cursos de licenciatura são justamente aqueles que formam professores para o ensino fundamental e o médio.

A pesquisa constatou que a maioria dos ingressantes nesses cursos de licenciatura optou por eles porque a exigência do vestibular era bem menor, porque o curso é gratuito, porque têm afinidade com matemática ou física e porque abrem caminho para a pós-graduação. O levantamento mostra ainda que os ingressantes em licenciatura se enquadram num perfil socioeconômico mais baixo do que o dos demais cursos na USP, situação que, de acordo com o estudo, se repete em cursos semelhantes em outras partes do Brasil. É, portanto, uma porta de acesso ao ensino superior para as faixas mais pobres da população.

Os estudantes que se disseram em dúvida sobre abraçar a carreira de professor destacaram que podem se sentir estimulados se a escola for "reconhecida por ter um bom trabalho educacional" ou se tiver "autonomia para elaborar projetos educativos, ensinando com certa liberdade". As respostas denotam idealismo dos entrevistados, mas, na prática, impõem condições que hoje não são atendidas na rede pública de ensino, mas apenas nas escolas particulares.

O sistema educacional público no Brasil padece de um erro de enfoque: privilegiam-se os controles de desempenho dos professores - inclusive com a distribuição de prêmios em dinheiro - sem, no entanto, valorizar a carreira em si. Os salários são considerados baixos em vista da importância da profissão. Pretende-se exigir dos professores que sejam conscientes de sua importância social, mas o magro contracheque diz outra coisa.

Além disso, a precariedade das instalações da maioria das escolas públicas evidencia o descaso do Estado com os profissionais de educação, obrigados a lidar com a crônica falta de material e de equipamentos para enfrentar o desafio diário de estimular seus alunos a aprender.

Outro aspecto que foi levantado pelos entrevistados na pesquisa diz respeito ao desprestígio da profissão de professor na educação básica. Estudantes de medicina ouvidos pelos pesquisadores disseram que não se tornariam professores porque, entre outros motivos, a remuneração é baixa, a possibilidade de ascensão profissional é mínima e as condições das escolas são ruins. No entanto, esse mesmo grupo de entrevistados, assim como os demais, enfatizou que considera o professor muito relevante para o País, por ser o responsável pela transmissão de valores e conhecimentos.

Há, portanto, um abismo entre o ideal de uma carreira e sua realidade, demonstrado cabalmente pelo desinteresse dos estudantes de licenciatura. Assim, o déficit de professores de matemática, física e química, que já é de 170 mil, tende a crescer.

O resultado disso é que o desempenho dos alunos da rede pública em ciências exatas, que já é um dos mais fracos do mundo, tem tudo para piorar - a não ser que o governo aja radicalmente e, sem mais delongas, restitua ao magistério o orgulho profissional.