EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

domingo, 27 de setembro de 2015

PERGUNTAS CONSTRANGEDORAS



ZERO HORA 27 de setembro de 2015 | N° 18307


DIANA LICHTENSTEIN CORSO*



Responda rápido: o que temos no meio das pernas? Se você pensou nos órgãos sexuais, errou. Essa pegadinha infantil vem lembrar que às vezes supomos as perguntas mais constrangedoras do que elas realmente são. Isso é porque nossos pensamentos é que são meio travessos. A resposta certa é: os joelhos.

A brincadeira ilustra bem o que ocorre quando as crianças perguntam sobre sexo a seus pais. É uma situação em que elas sabem que os estão colocando em uma posição constrangedora e divertem- se ao vê-los balbuciar. Por isso, antes de começar labirínticas explicações sobre sementinhas, convém descobrir o que exatamente é que elas estão perguntando, pode ser só um joelho.

Elas gostariam de compreender muita coisa, mas somente interrogam sobre aquilo que estão prontas para escutar. Perguntar já é em si um ato de coragem, em geral as explicações são menos assustadoras do que as fantasias que surgem espontaneamente. As fantasias sexuais infantis são compostas a partir de fragmentos de conversas, imagens, enfim, um acervo que a criança está sempre coletando e que a leva, acredite, às conclusões mais disparatadas.

Por esses dias, uma mãe paulista ficou horrorizada quando seu filho de 11 anos, cursando a sexta série, lhe perguntou o que era uma prostituta. A indagação veio a partir de uma leitura recomendada pela escola: uma versão em quadrinhos do clássico Oliver Twist, na qual se recorria a uma linguagem mais contemporânea e própria do gênero. Junto a várias outras famílias, essa senhora participou de um movimento que questionava a direção da escola sobre o tipo condenável de valores que estavam transmitindo.

Mas, afinal, quando devemos falar para uma criança sobre temas que consideramos embaraçosos? A resposta é simples: quando ela perguntar, pois questionar é um signo de confiança em si mesmo e na sinceridade dos pais. Além disso, por que deveríamos lhes negar um desejo de crescer?

Um púbere que tenta falar em casa sobre prostituição está curioso das relações entre amor e sexo e quer saber da posição de sua família a respeito. Ele está entrando em contato com seus próprios desejos, intriga-o como é que isso poderia envolver dinheiro e por que esse é um xingamento tão grave. Mesmo depois de grandes, nossa própria sexualidade persiste enquanto um enigma que morremos sem decifrar. A surdez para a perspicácia dos filhos visa preservar uma fantasia de inocência que é preciosa só para os pais. Manter os filhos numa bolha é o propósito de famílias que tentam viver dentro dela.

A escola está certa. Com Oliver Twist, propõe um debate sobre um menino abandonado frente a uma sociedade hostil, em nada inconveniente para uma sexta série. Já esses pais, talvez não tenham amadurecido para acompanhar o crescimento dos seus filhos.



*Psicanalista dianamcorso@gmail.com

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

EDUCAÇÃO, PIOR DA REGIÃO SUL



ZERO HORA 18 de setembro de 2015 | N° 18298


GUILHERME JUSTINO


RS fica em “recuperação”


PESQUISA APONTA que parte dos alunos gaúchos tem problemas para ler, escrever e fazer cálculos


Para muitas crianças na fase final do ciclo de alfabetização, ainda é difícil entender o sentido de um conto infantil, redigir uma narrativa compreensível e ler as horas em um relógio analógico. Isso porque, entre os alunos do 3º ano do Ensino Fundamental na rede pública, a capacidade de ler, escrever e fazer cálculos matemáticos está longe da ideal em boa parte do Brasil. E, no Estado, o quadro também é desalentador.

Mais da metade desses estudantes tem um nível considerado inadequado em matemática, apresentando dificuldades em operações simples de multiplicação e divisão. Quanto à escrita, uma em cada quatro crianças, apesar de saber escrever, comete erros que comprometem a compreensão da mensagem. É o que aponta a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) 2014, divulgada ontem pelo Ministério da Educação (MEC).

– Os dados são muito preocupantes. A alfabetização é a base de tudo, só com ela a criança adquire autonomia suficiente para seguir nos estudos – entende Ricardo Falzetta, gerente de conteúdo do movimento Todos Pela Educação.

Para a pedagoga Denise Arina Francisco, não atingir os níveis adequados de alfabetização e letramento na idade adequada significa um prejuízo dificilmente reversível, que pode comprometer toda a formação de um estudante.

– A criança que não domina a leitura e a escrita não consegue acompanhar os conteúdos tratados em sala de aula. Isso acaba retraindo ela e até levando a casos de indisciplina. É preciso resolver isso ainda nos primeiros anos – afirma.

SECRETÁRIO FALA EM CONSTRANGIMENTO

O secretário estadual de Educação, Vieira da Cunha, afirma ter recebido com preocupação mais um indicador demonstrando que o Rio Grande do Sul não tem os melhores níveis de ensino. Para ele, o Estado tem involuído, ficando cada vez mais distante do nível de excelência que seria desejável. Em todas as áreas avaliadas, Santa Catarina e Paraná tiveram resultados melhores.

– É constrangedor estar na lanterna da Região Sul. Esses resultados são preocupantes, e mostram o tamanho do desafio que temos pela frente para reverter esse quadro. O lado positivo é que isso acende um alerta, e vai servir de base para novas intervenções pedagógicas – garante o secretário.

sábado, 12 de setembro de 2015

POR QUE GAMIFICAR A EDUCAÇÃO?



ZERO HORA 2 de setembro de 2015 | N° 18292


RAFAEL PARENTE*



O Brasil tem 1,5 milhão de jovens entre 15 e 17 anos fora da escola, principalmente por desinteresse, e 45 milhões de pessoas usando jogos digitais. Se uma das principais queixas dos professores é a desmotivação e a indisciplina dos alunos, crianças e jovens nem piscam enquanto estão jogando. Não precisamos adorar os games para entender que “gamificar” o processo de aprendizagem pode ser uma boa estratégia. Mas o que significa gamificar a educação?

Gamificar significa utilizar dinâmicas, características e arquiteturas presentes nos jogos para promover comportamentos em outros contextos. Não se trata de, necessariamente, usar jogos – digitais ou não –, distribuir pontos ou outros incentivos. As melhores expe- riências de gamificação aproveitam elementos como a curiosidade, a permissão para falhar, o feedback imediato, a colaboração entre jogadores, a apresentação de novos conteúdos por meio de histórias e desafios contextualizados e o sentimento de controle na tomada de decisões para motivar, estimular comportamentos desejados e promover descobertas.

Ao jogar, aprendemos algo novo para “passar de fase”, desenvolvemos habilidades para resolver problemas, reconhecemos a necessidade e o valor do esforço, da persistência e da criatividade para aniquilar vilões ou desbloquear universo. Temos de compreender sistemas de regras para conhecer, experimentar e compreender algo novo; sentimos emoções diversas, como alegria, curiosidade, frustração e orgulho; socializamos, competimos, colaboramos e desenvolvemos a empatia ao assumir novas identidades e perceber diferentes perspectivas apresentadas.

A educação ainda não se convenceu de que novas tecnologias, gamificação, storytelling transmídia e outros elementos são realmente válidos. Nós, educadores, podemos escolher continuar evoluindo lentamente ou abraçar a inovação para redesenhar e ressignificar rotinas e processos, levando nossos alunos a compreender a importância social da Escola. A gamificação da educação é uma das melhores estratégias atuais para que nossos jovens voltem a se apaixonar pelas aulas e pela escola.

*PhD em Educação pela New York University, fundador e diretor do LABi e da Aondê Educacional

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E SUAS METAS PARA O MAGISTÉRIO



ZERO HORA 11 de setembro de 2015 | N° 18291


SIMONE VALDETE DOS SANTOS*



O Plano Nacional de Educação (PNE), instituído pela Lei 13.005/2014, inclui em seus princípios, artigo 2º inciso IX, a valorização dos(as) profissionais da educação, sendo as metas 15, 16, 17 e 18 focadas na formação inicial e continuada e valorização salarial. A meta 18 é sobre o cumprimento do piso salarial nacional dos professores, atualmente R$ 1.917,78 por 40 horas semanais e formação de nível médio. Acompanhamos no mês de julho o primeiro parcelamento da remuneração dos servidores do Poder Executivo, dos que recebiam acima de R$ 2.150. Dos 156 mil professores estaduais, 62 mil (quase 40%) tiveram seu salário parcelado, mais da metade do magistério estadual não recebe acima de R$ 2.150! A dramática situação do parcelamento de salários nos mostra que os professores estaduais, na sua maioria, não recebem o piso nacional salarial.

A estratégia 17.3 do PNE determina a implantação da jornada de trabalho em uma única escola. Nos grandes centros urbanos, é comum o deslocamento docente de uma escola para outra, a fim de completar sua carga horária. Nas escolas do campo, o profissional dá conta de uma série de atribuições, muitas vezes sem a formação pedagógica e de gestão adequadas. O vínculo somente a uma escola possibilitará o envolvimento docente ao projeto político- pedagógico e a convivência qualificada com os estudantes e as famílias. O fracionamento da jornada é sinônimo de muitas turmas e alunos, impossibilitando o acompanhamento mais individualizado das atividades e avaliações.

Os últimos dados da inscrição no Sistema de Seleção Unificado (Sisu), que possibilita o acesso às vagas nas universidades federais, demonstraram alta procura, nas licenciaturas, somente pelo curso de Pedagogia, o qual abre para uma abordagem interdisciplinar, foco nos anos iniciais do Ensino Fundamental e amplia a atuação profissional para além da docência. Nas demais licenciaturas, nas quais o foco é sobretudo o Ensino Médio e os anos finais do Ensino Fundamental, a procura é baixa, desafiando os cursos de formação de professores para abordagens por área do conhecimento, inclusive para contemplar o vínculo docente a uma escola. O cumprimento das 20 metas do PNE possibilitará a qualidade da Educação Básica, qualidade esta condicionada à valorização do magistério.

*Diretora da Faculdade de Educação da UFRGS