EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

ESCOLAS USAM DISCIPLINA MILITAR E ATIVIDADES CULTURAIS PARA EVITAR EVASÃO

G1 - PROFISSÃO REPÓRTER Edição do dia 25/11/2014


O Profissão Repórter visitou três estados para conhecer diferentes projetos. Em Goiás a disciplina é militar, já em Porto Alegre o atendimento é individual.



Disciplina ou criatividade? Hip hop ou hino nacional? O Profissão Repórter visitou três estados brasileiros para conhecer escolas com diferentes projetos para melhorar o desempenho dos alunos e acabar com o mau comportamento na sala de aula.

Vinte mil alunos de Goiás seguem disciplina militar em escolas públicas de ensino fundamental e médio. A Polícia Militar comanda escolas do estado em 15 cidades. O método é polêmico e desagrada alguns pais e professores, pela interferência dos coronéis no conteúdo didático, principalmente nas aulas de história.

O fardamento é obrigatório e pago pela família dos estudantes. Jovens que não puderam pagar ou tiveram dificuldade em se adaptar às regras impostas pela Polícia Militar deixaram a escola. Pela tradição do colégio militar, os meninos devem ter a cabeça raspada e as meninas devem usar os cabelos presos e não são permitidas unhas coloridas ou maquiagem.



Em Porto Alegre (RS), uma turma de alunos que já repetiram de ano mais de uma vez são levados para uma aula diferente, nas ruas da cidade. A ideia é aproximar a escola da realidade dos estudantes.

Em um dos bairros mais violentos da cidade, um projeto chamado Trajetórias Criativas leva o mundo dos jovens para dentro da escola. Com atividades interessantes, o colégio recuperou alunos que haviam perdido o interesse em frequentar as aulas.

Em uma unidade para reincidentes da Fundação Casa, em Limeira (SP), a aula de álgebra está mais puxada do que de costume. Seis alunos da turma se preparam para a final das Olimpíadas de Matemática, que reuniu 18 milhões de estudantes do Brasil. A turma pequena, de no máximo 15 alunos, permite que o professor vá de mesa em mesa e a aula, rende. Essa é a única unidade da Fundação Casa onde as aulas de reforço são feitas na internet.

A dificuldade para os jovens saídos da Fundação Casa é conseguir a matrícula em outras escolas públicas. Muitas vezes, a entrada do estudante é negada, porque são considerados maus exemplo para outros alunos.


 COMENTÁRIOS


JARBAS VANIN, PORTO ALEGRE - Discordo que a Policia Militar deva assumir escolas estaduais, não é sua função constitucional, mas também discordo que a situação de falência do sistema básico e fundamental e ensino noo Brasil continue prejudicando o futuro destas crianças e adolescentes, na reportagem Caco Barcelos se apega a filigranas para desmerecer o mérito de todo o programa, quando fala em " lei do silêncio para os alunos" esquece de dizer, que não é lei do silêncio, mas sim respeitar o momento do outro falar, oportunizar que o outro se exprima. Falar em golpe militar ou ditadura, militar é bobagem, qualquer pessoa minimamente esclarecida vai ler e saber o que realmente aconteceu e é isto o que importa. Não é um colégio com estilo militar ou civil, que vai mudar a verdade histórica, ficam ensandecidos porque este modelo dá certo para muitas coisas, eu não sei se é o melhor, mas quem tem filho drogado, viciado, perdido nas praças em más companhias certamente vai preferir ver seu filho em um destes colégios e sendo aprovado em uma boa faculdade pelo ENEN.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

O QUE É O ENSINO INTEGRAL

ZERO HORA 25/11/2014 | 05h01

O que é o ensino integral, meta do governo para a educação pública. Apenas o aumento da carga horária para dois turnos, comprometimento do Brasil para 50% das escolas públicas, não garante a melhora na educação

por Fernanda da Costa



Foto: Arte / Zero Hora

Discutida há anos como uma solução para melhorar a qualidade da educação no país, o ensino integral é uma das metas do novo Plano Nacional da Educação (PNE), cuja sanção da presidente Dilma Rousseff foi publicada no Diário Oficial da União em junho. Não há volta: em 10 anos, 50% das escolas públicas e 25% dos estudantes terão acesso a pelo menos sete horas de aprendizagem por dia. Quantidade, no entanto, não garante qualidade.

Conforme especialistas em educação, o aumento da carga horária não é a receita para a melhora do desempenho dos alunos, mas um dos ingredientes. Em entrevista à Zero Hora em junho, após a sanção presidencial ser publicada, a educadora Guiomar Namo de Mello relatou que o risco de apenas aumentar o tempo é oferecer duas vezes uma escola ruim.

— Se a escola é ruim em um período, em dois ela é pior — afirmou.

As experiências de colégios que já oferecem ensino integral pelo país apontam que o aumento do tempo só poderá melhorar a aprendizagem se for relacionado com uma mudança no espaço e no conteúdo. Ou seja, para vencer a guerra contra os baixos desempenhos educacionais — entre os 65 países comparados no último Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), de 2012, o Brasil ficou em 58º lugar em matemática —, as escolas brasileiras precisam entrar no campo de batalha com essas três armas: tempo, espaço e conteúdo.

“O investimento em apenas um dos aspectos não assegura, por si só, a efetivação de uma proposta de educação integral. Quando se aborda a questão da educação integral, não se fala somente de ampliação da jornada na escola, mas também de uma concepção de educação mais ampla”, informa o estudo Percursos da Educação Integral: em busca de qualidade e equidade, publicado pela Fundação Itaú Social e pela Unicef.

Com o aumento do tempo garantido pela meta do PNO, o Brasil agora tem o desafio de trabalhar pela qualidade dessas horas extras. Para isso, com base em experiências existentes no país, a pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ana Maria Cavaliere identifica dois caminhos a serem trilhados pela educação brasileira: a "escola de tempo integral" e o "aluno de tempo integral".

O primeiro modelo foca o “fortalecimento da unidade escolar, com mudanças em seu interior pela atribuição de novas tarefas, mais equipamentos e profissionais com formação diversificada”, conforme explica a professora em seu artigo Escolas de tempo integral versus alunos em tempo integral. Já o segundo modelo, de acordo com o mesmo artigo, tem ênfase “na oferta de atividades diversificadas aos alunos no turno alternativo ao da escola, fruto da articulação com instituições multissetoriais, utilizando espaços e agentes que não os da própria escola” (veja o quadro ao lado). Essa alternativa, que foca o entorno da escola, abre espaço para que as parcerias com organizações não-governamentais se tornem cada vez mais comuns no país, assim como nos Estados Unidos.



Escola de Canela oferece educação integral há 20 anos

A participação faz a diferença. É com esse tema que a Escola Estadual de Educação Básica Neusa Mari Pacheco (Ciep), localizada em Canela, na Serra, modificou a realidade de um bairro onde a criminalidade prevalecia. Com educação integral há 20 anos, a escola reduziu as taxas de repetência e evasão, que eram de mais de 50%, para apenas 5%, conforme o atual diretor Márcio Gallas Boelter.

Ex-aluno e professor há 18 anos, Boelter viu de perto a mudança que a escola fez no bairro Canelinha. Desejo da comunidade desde a década de 70, o ensino integral passou a ser oferecido oficialmente na escola em 1994, quando a instituição fez parte da política de criação dos Cieps no governo gaúcho.

— Nossa escola cresceu em tamanho e em qualidade e paramos de ver nossos alunos entrarem na Febem, como costumava acontecer antes do ensino integral. A escola mudou a realidade do bairro, onde a criminalidade diminuiu — relata o diretor, há dois anos no cargo.

Hoje, dos 1.187 alunos do Ciep, mil estudam nove horas. Os dispensados do turno inverso são apenas os estudantes do Ensino Médio que apresentam carteira de trabalho ou confirmam presenças em cursos profissionalizantes. Além das disciplinas do currículo comum, todos os alunos têm aulas de Comunicação, Recreação, Canto, Teatro, Dança, Natação, Turismo, Atividades Agrícolas e Atividades Ecológicas. A escola também oferece Língua Inglesa e Língua Espanhola no currículo desde o 1º ano do Ensino Fundamental.

— Não são oficinas, são disciplinas curriculares, ministradas por professores concursados. Esse é o nosso diferencial — explica Boelter.

Para as aulas de natação, a escola conta com uma piscina térmica semiolímpica, construída em 1998 com recursos da comunidade. Outras conquistas dos pais foram um vestiário, em 2008, e uma academia com sala de dança, em 2009. Conforme o diretor, 40% dos recursos da escola são arrecadados pela comunidade, por meio de jantares, sorteios e rifas.


Foto: Fernando Gomes, Agência RBS

O Ciep também tem um Centro Agrícola 16 hectares — 4 deles doados pelo Estado e 12 conquistados pela comunidade — para as aulas de Agricultura. No local, são produzidas frutas e verduras para o refeitório da escola. Já para as aulas de Ecologia, os alunos contam com um Centro Ecológico de 4 hectares, uma área de preservação permanente onde são estudadas árvores e animais silvestres, como tatus e pacas.

Com atividades em espaços próprios, o Ciep se aproxima da modalidade “escola de tempo integral”. Em 2010, a escola venceu o Prêmio Sesi de Qualidade na Educação, na categoria Melhor Escola Pública do País, superando outras 1,7 mil instituições.

Já a escola Escola Municipal de Ensino Fundamental José Bonifácio, de Novo Hamburgo, aposta em diversas parcerias com organizações não-governamentais para oferecer educação integral. Com limitações de espaço, a instituição conta com parcerias com uma paróquia para aulas de futsal, com o Sindicato dos Comerciários para natação, com uma escola de samba para aulas de percussão e com uma escola técnica para robótica. Por isso, se enquadra na modalidade "aluno de tempo integral".

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

BULLYING, PEDIDOS DE INDENIZAÇÃO NA JUSTIÇA A CADA DOIS DIAS

 


O ESTADO DE S.PAULO 24 Novembro 2014


Justiça de SP já recebe um pedido de indenização por bullying a cada 2 dias. Ameaça na escola. Nº de casos passou de 7 para 220 em cinco anos, conforme levantamento feito pelo ‘Estado’ em cinco grandes escritórios paulistanos; agressões rendem reparação por danos morais e materiais e valores concedidos por juízes chegam a R$ 15 mi


PAULO SALDAÑA e VICTOR VIEIRA




SÃO PAULO - Entre 2010 e 2013, o número de pais que processaram colégios privados por bullying passou de 7 casos para ao menos 220, segundo levantamento feito pelo Estado com cinco grandes escritórios de São Paulo. Só neste ano, já foram registradas 174 ações judiciais motivadas por agressões dentro ou fora do universo escolar - 1 a cada 2 dias. As vítimas pedem indenização por danos morais e materiais, que, na média, alcançam R$ 15 mil.



Ainda que muita gente considere fato normal das relações entre os jovens, as ações de agressão, física ou moral praticadas de forma repetitiva contra uma criança podem resultar em sérios prejuízos de aprendizado ou mesmo deixar sequelas para a vida. A explosão de queixas se deve, segundo especialistas, à maior preocupação das famílias com o tema e também à dificuldade de educadores e pais em identificar situações, principalmente quando desenvolvida na internet.



Pelo entendimento predominante dos juízes, as escolas podem ser responsabilizadas por conflitos dentro do colégio em período letivo, o que inclui atividades em ambiente virtual. Pais dos agressores também podem ser punidos até criminalmente.



"Cada situação concreta é analisada: se houve negligência, imprudência ou imperícia (da escola)", explica Ana Paula Siqueira Lazzareschi, advogada especialista no assunto. A maioria dos casos que chegou à Justiça, de acordo com ela, começa ou ocorre inteiramente nas redes sociais - envolvendo jovens que se relacionam na escola. "O cyberbullying ainda é de difícil compreensão", avalia. "Mas ainda existe confusão dos pais, que acham que tudo é responsabilidade da escola", pondera.



Exemplos. Na opinião de uma mãe que foi à Justiça, o medo de desgaste maior para as crianças e famílias inibe a ocorrência de mais processos. "Muitos pais não têm condições financeiras ou apoio para levar esses casos à Justiça", afirma Fany Simberg, de 50 anos, mãe de Rafael, adolescente disléxico que sofreu preconceito no colégio. "Meu filho foi atacado por professores e colegas", relembra.



Fany moveu uma ação contra o colégio particular onde Rafael estudava. Depois de oito meses de tramitação nos tribunais, o caso foi arquivado, sem responsabilização. "Por essas dificuldades, meu filho trocou nove vezes de escola, entre particulares e públicas do Estado e Município", conta ela, que há dez anos ajuda pais com problemas semelhantes ao de Rafael na Associação Inspirare. A vítima, hoje com 19 anos, ainda está no 3.º ano do ensino médio.



O jeito retraído do filho da gestora de recursos humanos Cristiane Ferreira Almeida, de 36 anos, foi suficiente para que virasse vítima de perseguição. Começou com brincadeiras e terminou em espancamento.



Durante anos Cristiane nem sequer havia percebido algo de diferente, mas o filho era vítima de um grupo de companheiros. "Percebi que ele começou a ter insônia, dor no estômago, sentia medo de ir pra escola. Aí fui ver o que ocorria", diz. Depois da intervenção com a diretoria, tudo piorou. "O menino começou a ser espancado, até o dia em que ficou muito machucado na porta da escola." Depois do caso, há cinco anos, Cristiane também abriu uma ONG para conscientizar famílias.



Twitter. Uma advogada de São Paulo, que pediu para não ser identificada, percebeu que algo afetava o desempenho da filha. "Ela ficava sendo xingada sem parar, com ataques sempre pelo Twitter", disse a mãe. "Exigi uma abordagem mais séria da escola, que interveio e as coisas se tranquilizaram."



Para o advogado Célio Müller, especialista em questões judiciais que envolvem atividade educacional, as famílias estão mais sensíveis a seus direitos e o tema do bullying é o que atrai mais a atenção. "É natural que essa questão fosse judicializada." Müller pondera que a própria popularidade recente do tema provoca, muitas vezes, confusão. "Há casos que não se configuram como bullying, de famílias superprotetoras. Seria importante que o tema evoluísse para que o bullying fosse definido pela lei."

Bullying não é qualquer agressão ou bate-boca, alerta especialista

Expert em psicologia escolar da PUC explica que, em geral, vítima se apresenta em condição de inferioridade em relação a agressor


"Bullying" entrou de vez no vocabulário dos brasileiros nos últimos anos, mas a palavra inglesa não se refere a qualquer tipo de agressão ou bate-boca entre colegas. São classificadas com esse termo as violências físicas ou psicológicas feitas sistematicamente contra uma pessoa.

"No geral, a vítima se apresenta numa condição de inferioridade em relação ao agressor", explica Marilda Pierro, especialista em psicologia escolar da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Para ela, outro erro é considerar o bullying um fenômeno à parte, "desvinculado de outras formas de violência na sociedade".

De acordo com a especialista em bullying e doutora em Educação Cleo Fante, é importante diferenciar o bullying de uma ação pontual e também de brincadeiras que são próprias da idade. "O tema é novo e ganhou muita visibilidade. Mas não podemos nem pensar em banalização, porque se banaliza pode haver a legitimização por quem pratica e por quem sofre." Cleo também ressalta que o fenômeno não pode ser confundido com casos, por exemplo, de racismo no futebol.

O pesquisador Fábio Camilo da Silva, mestre em avaliação psicológica, acaba de lançar uma ferramenta que se propõe identificar possíveis vitimas ou autores de bullying dentro do ambiente escolar. A chamada Escala de Avaliação do Bullying Escolar (EAB-E). "A gente criou escala direcionada para profissionais da educação que pode ser utilizada pelo coordenador, ou mesmo em outros ambientes. Em qualquer momento que tenha reunião com intuito escolar, como aulas de balé", diz ele. A deia, segundo ele, é que as crianças respondam ao conjunto de questões e, com base nisso, sejam criados dados científicos que deem base para fazer interferências. Silva lembra que, antigamente, a propagação de informações era diferente, o que coloca atualmente a prática em outra dimensão. "Hoje as consequências são maiores."

A prevenção e o combate ao bullying, de acordo com Marilda Pierro, da PUC-SP, depende da aproximação correta dos professores. "Como todo e qualquer ato reprovável socialmente, as agressões tendem a ser camufladas", afirma. "Havendo confiança e proximidade entre educadores e educandos, as coisas ficam mais fáceis", recomenda.

Situações de violência, na opinião da pesquisadora, também podem se tornar oportunidades pedagógicas. "Se os conflitos não forem evitados ou ignorados, é possível tratá-los como objeto de reflexões e aprendizagem para a convivência respeitosa", aponta.

Famílias. Saber identificar é também um desafio para as famílias. Uma publicitária de São Paulo que pediu anonimato diz que precisou de muita conversa com a filha de 10 anos para perceber que era hora de ir até a escola - uma das mais tradicionais da cidade. "Ela não achava a escola mais interessante e fomos tentando entender o por quê. Aos poucos ela foi falando que não se sentia mais à vontade de falar na sala porque sempre tiravam sarro dela. E teve crises de choro". Antes que as gozações contínuas evoluíssem, a mãe foi até a escola, que soube contornar a situação. "Em uma viagem, a escola colocou no mesmo quarto minha filha exatamente com a menina que mais a perseguia. Foi algo muito positivo", diz ela. "A minha preocupação é mais relacionada à maneira como isso pode comprometer o aprendizado."

Procura de colégios por apólices de seguro cresce 30% em dois anos

Estratégia é evitar prejuízos com indenizações relacionadas a bullying, além de obter orientação jurídica; escolas não comentam


SÃO PAULO - Para evitar prejuízos com indenizações, grandes escolas recorrem a seguros contra o bullying. O total de apólices cresceu cerca de 30% em dois anos, segundo seguradoras e corretoras. O Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (Sieesp) tem orientado os filiados a fazer o seguro de responsabilidade civil para indenizações relacionadas a bullying, além de oferecer orientação jurídica.


"As famílias estão conscientes de seus direitos. A partir do momento que passa do portão para dentro, a responsabilidade é da escola", diz o presidente do Sieesp, Benjamin Ribeiro da Silva. Segundo ele, as escolas têm cada vez mais realizado trabalhos educativos e de conscientização. "O bullying sempre existiu. É difícil eliminar 100%. Estamos oferecendo cursos de formação, trabalhando pedagogicamente a questão, mas o seguro acaba precavendo contra situações que não se consiga identificar", completa.

As escolas não divulgam se têm o seguro antibullying e também preferem não comentar o assunto. O receio é passar a impressão de descaso com as causas do problema.

Essa modalidade de seguro é oferecida há dois anos pela Ace e, neste ano, a Tokio Marine passou a ofertar a colégios pacotes que cobrem processos do tipo. Segundo a Tokio Marine, os contratos da área de ensino cresceram 28% e representam 22% da carteira de seguro empresarial.

De acordo com Fernando Coelho dos Santos, cuja corretora integra a holding Brasil Insurance, o número de contratos avançou 35% desde 2012, quando a Ace criou o produto que também trata da chamada responsabilidade civil profissional. Ele não revela o número exato, mas aponta que mais de 300 escolas já têm o seguro.

As clientes são de porte médio ou grande. "O bullying deu exponenciação na procura, porque aumentou a percepção do risco." O seguro cobre indenizações e também arca com custos com advogado e tratamento psicológico, mesmo que a demanda não chegue à Justiça.

Risco calculado. Santos explica que as próprias ações de prevenção são analisadas no cálculo de risco do segurado. "Fazer seguro não é incentivo para parar de cuidar da prevenção. É um ato de gestão e de defesa da escola."

Bullying já marca o relacionamento de 45% dos estudantes

Estudos mostram que é necessária uma interação complexa de fatores para que o problema desapareça

Hoje vivemos em uma sociedade na qual, para uma parcela expressiva de pessoas, a felicidade está ligada àquilo que lhes pode trazer prazer, poder e impunidade. A linguagem que mais conhecem e usam com maior frequência é a agressividade, seguindo um modelo presumidamente de origem familiar, mas que termina por invadir as escolas por meio do bullying, que marca o relacionamento entre cerca de 45% dos estudantes brasileiros.

Muitos estudos têm mostrado que é necessária uma interação complexa de fatores, que elevam o risco do aparecimento de condutas violentas nas crianças e jovens, para que o bullying apareça. Mas os estímulos familiares são os que influenciam por mais tempo a formação do ser humano. Assim como as vítimas, os agressores precisam do apoio da escola, da família e de profissionais especializados. Sem ajuda adequada, muitas dessas crianças poderão vir a ser delinquentes na juventude e adultos desajustados no futuro.


MARIA IRENE MALUF É ESPECIALISTA EM PSICOPEDAGOGIA E NEUROAPRENDIZAGEM

REVISTA POLÊMICA



ZERO HORA 24 de novembro de 2014 | N° 17993

EDUCAÇÃO SEGURANÇA EM DEBATE


EM MEIO À CONTROVÉRSIA envolvendo vistoria de alunos em colégio estadual de Caxias do Sul, diretora da instituição questiona papel da escola e dos familiares na educação. Caso foi parar na delegacia após confusão

Uma decisão ousada e controversa da diretoria de um colégio de Caxias do Sul causou reboliço na Serra. Na última quinta- feira, alunos do Ensino Médio da Escola Estadual Santa Catarina passaram a ser revistados na entrada e na saída da instituição. A medida deveria se estender até o final do ano letivo, mas, devido à revolta da comunidade escolar, durou apenas um dia, sem se repetir na sexta-feira. Indignada com a proporção que a história tomou, Ione Brandalise Biazus, diretora do colégio, o quinto maior da cidade, desabafou:

– A escola precisa de regras. A família abandona aqui e acha que temos de lidar com eles, sem limites.

Diante da perplexidade de pais e alunos com a atitude, a Brigada Militar foi acionada. Diretora e alunos foram encaminhados à Delegacia da Polícia Civil após a confusão.

A decisão de contratar vigilantes para as vistorias nas mochilas teria sido tomada pelo Conselho Escolar – formado por pais, alunos e equipe diretiva. A medida valia apenas para estudantes do turno da manhã, do 2º e do 3º anos do Ensino Médio.

Entre os motivos que levaram ao polêmico esquema de segurança estaria a ousadia de estudantes do 3° ano, que compareceram à escola, na segunda-feira passada, trajando pijamas e babydolls. Eles também teriam pendurado peças íntimas nos mastros onde as bandeiras são hasteadas. A “brincadeira” pretendia celebrar o fim do ano letivo e a conclusão do Ensino Médio.

Os estudantes também teriam quebrado bancos da instituição e ameaçado ir à escola com armas, drogas e bebidas alcoólicas. Juntou- se a isso o fato de alunos já terem sido flagrados com drogas e armamentos ao longo do ano letivo. No momento das revistas, nenhum objeto ilícito foi localizado pela equipe de vigilância, segundo a direção.

A 4ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) manifestou-se contrária à medida da escola, dizendo que a direção havia perdido o controle da situação, e recomendou que, em casos de desordem e ameaça, a BM fosse acionada.

Professor da Faculdade de Direito da UFRGS, Sérgio Borja diz que o direito à privacidade, em princípio, é absoluto e que o colégio não é autoridade para determinar tal ação.

– Isto é discutível, ainda mais se há indícios de violência. Entretanto, enquanto não houver mudança legislativa, tem de ser cumprido. O mais correto teria sido trazer o poder de polícia para junto da escola para fazer este tipo de serviço – disse o professor.

Para Domingos Silveira, professor de Direito da Infância e Direitos Humanos da UFRGS, a atitude da escola foi desproporcional. Ele disse que a ação fere, em tese, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) ao submetê-los a um vexame:

– Pouco importa o argumento de que é para a segurança deles próprios. Isto demonstra uma falta de controle que não é a revista que vai devolver.

Na sexta-feira, professores da escola manifestaram apoio à diretora nas redes sociais.

Ao jornal Pioneiro, a diretora destacou que a intenção da revista era proteger os próprios alunos. Ione condenou o distanciamento da família da vida escolar dos filhos, chaga que atinge não só o caso de Caxias, mas várias escolas no país. Leia, ao lado, trechos da entrevista.

PAPEL DOS PAIS

É uma minoria de pais que vem aqui participar. Os pais são convidados a participar do Conselho Escolar, para vir nas reuniões da Associação de Pais, para atividades da escola. São sempre os mesmos que estão aqui. Só que, no momento em que precisamos dos pais, em vez de virem somar, para juntos resolvermos os problemas, eles fazem o que fizeram quinta: ligam para a Brigada Militar. Estávamos resolvendo o problema com diálogo.

PAPEL DA ESCOLA

A responsabilidade foi jogada para a escola. Os políticos em campanha eleitoral dizem: “as metas têm de ser elevadas”. Estou ouvindo desaforo de pais por telefone dizendo que eu tirei os melhores professores da escola. Eu não tenho autonomia nem para mandar os péssimos professores embora.

REGRAS

A escola precisa de regras. A família abandona os jovens aqui e acha que nós temos de lidar com eles sem limite algum. No momento em que tu estabeleces limites, queres formar uma pessoa melhor para a sociedade. Ele vai saber respeitar as regras de trânsito, os idosos, o pai e a mãe.

DROGAS NO COLÉGIO

É problema de todas as escolas. A partir do momento em que eu tiver aluno drogado aqui dentro, e a família não comparece, vou fazer o quê? Os pais não estão olhando as mochilas, eles não vieram buscar boletim. Aí, questionam por que eu não chamei para pegar os boletins. Foi todo o calendário da escola com os filhos para casa, com todas as datas, e a família não aparece.

VALORES

Fui aluna desta escola. A minha família está apreensiva pelo que pode acontecer comigo, estou recebendo ameaças. Que valores são esses? A sociedade quer que tipo de jovem ali fora? Que está se matando com bebida, com droga? Depois mostram na TV “mais um jovem...”. Tudo o que a gente está fazendo é educar, o que a família não faz. O que a família fez? Ficou contra a escola, ligou para a Brigada quando revistamos as mochilas.

SENTIMENTO

Tive de abrir as portas da escola e fazer de conta que está tudo maravilhoso, só que não está. Se eu pudesse, botava uma faixa ali fora, “educação em luto”. Vontade de entregar meu diploma e dizer que sempre acreditei na educação. Que famílias são essas? E os familiares que somem? Deixam os alunos aqui abandonados e estão em outra cidade.

DESAFIOS

Eles (os alunos) não querem ser cobrados por nada. É uma briga com o uniforme, mas o uniforme é segurança. Semana passada, tiramos pessoas uniformizadas daqui que não eram da escola. Não é para dar medo? Falo isso para os pais e eles não acreditam. Precisam ver o que aconteceu em São Paulo e no Rio de Janeiro, de alunos desequilibrados entrando, matando gente para fazer alguma coisa? Não tem problema chegar e dizer assim: “diretora, eu não concordo com isso”. Mas venham nas reuniões.

PREPAROPROFISSIONAL

Os professores muitas vezes passam a maior parte do tempo trabalhando problema disciplinar, menos atividades e conteúdos pedagógicos, porque têm problemas que não dá para fechar os olhos, porque os pais fecharam. Cansei, este ano, de ter pais aqui dizendo “diretora, encaminha meu filho ou filha para o Conselho Tutelar, porque eu não sei mais o que fazer. Eu descobri que, embaixo do travesseiro do meu filho, tem maconha ou cocaína”. Eu disse “mãe, eu não posso fazer nada na sua casa”.

FUTURO

Impotência e indignação. Essas palavras traduzem a semana. Assim, ninguém mais quer ser diretor de escola. Ninguém mais quer ser vice-diretor, tanto é que estou sozinha de novo. A minha vontade, hoje, sinceramente, é ir na coordenadoria e entregar meu cargo. Mas eu ainda acredito que a educação é o caminho.

SUSPENSÃODA REVISTA

As revistas foram suspensas porque não poderia ter vistoria sem a presença da Brigada. A Brigada não compareceu, nem a Patrulha Escolar, era para os órgãos estarem aqui. Se a BM tivesse comparecido, teria ocorrido revista.

APELO

Temos 1.026 alunos inscritos para o primeiro ano do Ensino Médio em 2015. Teremos 157 vagas. O meu apelo é que os pais que conseguirem essas vagas mudem essa história e venham fazer com que o Santa recupere todos os valores que são importantes para formar uma pessoa melhor, porque esse era o nosso objetivo. Olhem de forma diferente para essa escola e venham para somar, não para dividir. Se não, já façam a matrícula em outra escola.
REVISTA EM DEBATE
-Na quinta-feira, os alunos do turno da manhã da Escola Estadual Santa Catarina, de Caxias do Sul, foram revistados na entrada e na saída do colégio por um vigilante contratado para isso.
-A vistoria na mochila dos estudantes de 2º e 3º ano do Ensino Médio revoltou pais e alunos.
-A medida teria partido do Conselho Escolar após alunos terem ido à escola trajando pijamas e babydolls e quebrado bancos da instituição. Adolescentes teriam ameaçado a direção, afirmando que iriam à escola com drogas, armas e bebidas alcoólicas.
-A diretora foi parar na delegacia acompanhada de alunos, e um boletim de ocorrência foi registrado sobre o assunto.
-Apesar de ter reiterado que a vistoria se estenderia até o fim do ano letivo, o esquema foi desmontado na manhã seguinte à confusão e nenhum aluno foi revistado novamente.

domingo, 23 de novembro de 2014

REVISTA EM MOCHILA DE ALUNOS REVOLTA COMUNIDADE ESCOLAR

Revista em mochilas de alunos do Santa Catarina revolta comunidade escolar de Caxias do Sul

Coordenadora pedagógica afirma que medida é protetiva aos alunos

ZERO HORA ONLINE 20/11/2014 | 10h07
Revista em mochilas de alunos do Santa Catarina revolta comunidade escolar de Caxias do Sul Jonas Ramos/ Agência RBS/
A revista foi condenada pelos estudantes da Escola Estadual Santa Catarina Foto: Jonas Ramos/ Agência RBS
Uma revista feita em mochilas por um vigilante contratado pela Escola Estadual Santa Catarina na manhã desta quinta-feira, em Caxias do Sul, gerou revolta de alunos e pais. De acordo com a coordenadora pedagógica do colégio, Inajara Serentini, depois de uma série de atitudes de alunos do 3º ano do ensino médio durante esta semana, o Conselho Escolar, formado por pais, alunos e equipe diretiva, optou pela contratação de uma equipe de segurança que será responsável por vistoriar as mochilas de todos os alunos do turno da manhã antes do início das aulas.


— Tememos que isto revolte os alunos, mas é uma forma que encontramos de protegê-los — afirma Inajara.

Veja imagens da revista:


Segundo Inajara, estudantes do 3° ano compareceram à escola, segunda-feira, trajando pijamas e babydolls. A “brincadeira” pretendia celebrar o fim do ano letivo e a conclusão do ensino médio.


Segundo a professora, ainda que nenhum objeto ilícito tenha sido encontrado nas mochilas na revista desta quinta, drogas e armamento já foram flagrados com alunos ao longo deste ano letivo. A revista foi condenada pelos estudantes. Por volta das 9h, Renata Rodrigues Correia, 17 anos, do 3º ano, ainda estava trêmula.

— Eu não acho necessário que todos os alunos sejam revistados, e por alguém que não é a diretora. Eu nunca passei por isso — afirma a jovem.

A colega Elis Bittencourt, 18 anos, concordava:

— Isto nos intimida. Não é justo que por causa da atitude de um ou dois colegas se faça revista em todos nós. É constrangedor.

O caso está sendo resolvido na Delegacia de Polícia. 


ZH 20/11/2014 | 11h48


Após revista em mochilas de alunos da Escola Santa Catarina, Polícia Civil de Caxias do Sul registra boletim de ocorrência. A revista gerou revolta entre a comunidade escolar na manhã desta quinta-feira


Após revista em mochilas de alunos da Escola Santa Catarina, Polícia Civil de Caxias do Sul registra boletim de ocorrência Jonas Ramos/Agencia RBS
Diretora e dois alunos foram levados ao plantão da Polícia Civil Foto: Jonas Ramos / Agencia RBS


A revista em mochilas de alunos da Escola Estadual Santa Catarina, em Caxias do Sul, gerou um boletim de ocorrência. Após a confusão na escola, a diretora e dois alunos maiores de idade foram levados pela Brigada Militar à Polícia Civil para registro. Na delegacia, a diretora, Ione Brandalise Biazus, disse que as revistas continuarão até o fim do ano letivo.

— O problema é que os pais não acompanham os filhos no decorrer do ano. O que mais me doeu foi um pai que foi na escola essa semana e disse "não vim para falar de aprendizagem, vim perguntar se meu filho vai entrar na escola ou não" — desabafou.

Conforme a diretora, uma reunião entre o Conselho Escolar e a Associação de Pais determinou a contratação de segurança particular para revistar o material dos alunos.

Aluno do terceiro ano do ensino médio, Gustavo Nazzari, 18 anos, disse que não sabia da determinação e que todos os alunos estão revoltados.

— Foi imposto de um dia para o outro. E não precisaríamos ter vindo para a delegacia, poderíamos ter conversado — ponderou.

Também aluno do terceiro ano, Yuri Pereira, 18, disse que trata-se de uma imposição:

— Ou a gente deixa revistar, ou não entra na escola.

A revista é dirigida a alunos do 2º e do 3º ano do ensino, ambos no turno da manhã. À tarde não haverá revista.

Ainda segundo a diretora, outras medidas para segurança dos alunos devem ser tomadas no ano que vem. Segundo ela, mais câmeras de segurança foram instaladas na semana passada.

MINHA VONTADE É ENTREGAR O CARGO

"Minha vontade é entregar o cargo", desabafa diretora de escola de Caxias, após polêmica sobre revista em mochilas

Diretora da Escola Estadual Santa Catarina condena distanciamento da família da vida dos filhos

ZH ONLINE 23/11/2014 | 13h43
"Minha vontade é entregar o cargo", desabafa diretora de escola de Caxias, após polêmica sobre revista em mochilas Felipe Nyland/Especial
Diretora da Escola Estadual Santa Catarina condena distanciamento da família da vida dos filhos Foto: Felipe Nyland / Especial
Após cancelar a revista nas mochilas dos alunos do turno da manhã da Escola Estadual Santa Catarina nesta sexta-feira, em Caxias do Sul, a diretora Ione Brandalise Biazus desabafou ao Pioneiro sobre os desafios do sistema educacional e do relacionamento entre pais, professores e alunos. Ela lamenta as críticas que recebeu após a polêmica da revista nas mochilas.


Papel dos pais

É um desabafo do que todos os gestores sentem. E aqui no Santa tem algo diferenciado, porque todos querem entrar no Santa. A partir do momento que conseguem uma vaga no ensino médio, eles desaparecem da escola. É uma minoria de pais que vêm aqui participar. Todos são convidados desde a primeira reunião, na primeira semana de março. Os pais são convidados para participar do Conselho Escolar, para vir nas reuniões da Associação de Pais, para participar das atividades da escola. São sempre os mesmos pais que estão aqui. Só que no momento que precisamos dos pais, ao invés de vir somar, para juntos resolvermos os problemas, eles fazem o que fizeram quinta: ligam para a Brigada Militar. Nós estávamos resolvendo o problema com conversa, com diálogo. Então vai contra o que um jornalista do Pioneiro escreveu, que faltou diálogo. Eu fui muito destratada, muito ofendida por alunos cujos pais nunca vieram aqui.

Regras
A escola precisa de regras. A família abandona os jovens aqui e acha que nós temos que lidar com eles sem limite algum. No momento que tu faz reuniões, estabelece limites, tu quer formar uma pessoa melhor para a sociedade. Ele vai saber respeitar regras de trânsito, o idoso, pai e mãe, só que os pais na grande maioria abandonaram.

Papel da escola
A responsabilidade foi jogada para escola. Os políticos em campanha eleitoral dizem: “as metas tem que ser elevadas”. Eu estou ouvindo desaforo de pais por telefone dizendo que eu tirei os melhores professores da escola. Eu não tenho autonomia nem para mandar os péssimos professores embora! Eu ouço da 4ª CRE: “é o que tem”. Não tem professor para o mercado do Estado. Os bons professores vão para a área privada, porque lá eles são reconhecidos não só financeiramente.

Entorpecentes
Droga não é problema só do Santa, é de todas escolas. Mas enquanto eles (alunos) estão aqui, a gente quer zelar para que não usem. A partir do momento que eu tiver aluno drogado aqui dentro e a família não compareceu, vou fazer o quê? Só que mais alunos estão indo para esse lado! Os pais não estão olhando as mochilas, eles não vieram buscar boletim. Aí vieram questionar por que eu não chamei para pegar os boletins. Foi todo o calendário da escola com os filhos para casa, com todas as datas, e a família não aparece. Não aparece.

Valores
Eu fui aluna dessa escola. A minha família está apreensiva pelo que pode acontecer comigo, eu estou recebendo ameaças. Que valores são esses? A sociedade quer que tipo de jovem ali fora? Que está se matando com bebida, com droga? Depois mostram na TV “mais um jovem...”. Tudo o que a gente está fazendo é educar, o que a família não faz. A gente faz palestra de bullying, palestra de droga, álcool, tudo isso. O que a família fez? Ficou contra a escola, ligou para a Brigada Militar quando revistamos mochilas.

Sentimento
Hoje (sexta) eu tive que abrir as portas da escola e fazer de conta que está tudo maravilhoso, só que não está. Se eu pudesse botava uma faixa ali fora “educação em luto”, porque é assim que eu me sinto. Vontade de entregar meu diploma e dizer que sempre acreditei na educação. Que famílias são essas? Que não venham se queixar que querem baixar a idade para o voto, mas para ver o que eles fazem dentro da escola aí não existe regra? E os familiares que somem? Deixam os alunos aqui abandonados e estão em outra cidade. E só ligam e dizem “eu não posso comparecer”.

Desafios
O Santa tenta propor inúmeras atividades, mostra fotográfica, de talentos, para ir numa área que os jovens gostam e conhecem. Por outro lado, eles não querem ser cobrados por nada. É uma briga com o uniforme, mas o uniforme é segurança. Semana passada tiramos pessoas uniformizadas aqui dentro que não eram da escola. E isso não é para dar medo? Mas eu falo isso para os pais e eles não acreditam! Eles precisam ver o que aconteceu em São Paulo e no Rio de Janeiro, de alunos desequilibrados entrando, matando gente para fazer alguma coisa?
Os pais se revoltaram contra a direção. Que direção eles querem? Não tem problema algum eles chegarem e dizerem assim: “diretora, eu não concordo com isso”. Mas venham nas reuniões e escutem, eu sempre fui transparente com os pais. “Está acontecendo isso, o que vocês acham? O que nós precisamos fazer?”.

Preparo profissional
Falta muito preparo, o professor se sente impotente perante algumas situações. De aluno drogado tu nunca sabe a reação. Depende o tipo de droga que ele usou: ou ele vai estar paradão, ou vai estar muito agressivo. Tem professores que preferem ficar quietos, deixa ele dormindo lá, no estado que ele está por medo do que possa gerar se chamar atenção. Aí os professores muitas vezes passam a maior parte do tempo trabalhando problema disciplinar, menos atividades e conteúdos pedagógicos, porque tem problemas que não dá para fechar os olhos porque os pais fecharam. Eu cansei esse ano de ter pais aqui dizendo “diretora, encaminha meu filho ou filha para o Conselho Tutelar, porque eu não sei mais o que fazer. Eu descobri que embaixo do travesseiro do meu filho tem maconha ou cocaína”. Eu disse “mãe, eu não posso fazer nada na sua casa”. Os pais vêm pedir socorro. E quando a gente tenta pedir para que os outros olhem, para que os filhos que estão num caminho legal não caiam nisso, a escola é errada?

Futuro
Impotência e indignação. Essas palavras traduzem a semana. Assim ninguém mais quer ser diretor de escola. Vice-diretores eu estou trocando, com exceção da tarde e da noite, todo ano um. Ninguém mais quer ser vice-diretor, tanto é que estou sozinha de novo. A minha vontade hoje, sinceramente, é ir na coordenadoria e entregar meu cargo. Mas eu ainda acredito que a educação é o caminho. Eu acredito. Eu vou estar aqui no meu último ano de gestão, que vai ser o sexto, mas eu não sei como vai iniciar, até porque é um ano de mudança de partido, a gente não sabe que apoio a gente vai ter, de que forma a gente vai ter.

Frustrações
Tu acha que eu me sinto como vendo essa reportagem no jornal, na delegacia? Como se a escola tivesse levado eles para lá. Eu fui convidada com os alunos a ir lá prestar esclarecimentos. Eu não tinha nada a temer, eu fui lá esclarecer o que estava acontecendo. Em momento algum eu chamo a Brigada, eu chamo a Patrulha Escolar que resolve os problemas aqui, internos, como aconteceu o ano inteiro. Aí colocaram o trabalho do ano inteiro num jornal a nível de Caxias, de Estado, dizendo que a direção levou os alunos para a delegacia por causa do pijama. Não tem nada haver com um pijama. Foi pelas denúncias, foi pelo material ilícito que estava entrando na escola que foi feita, no caso, a revista. Era uma medida sócio protetiva. Eu preocupada com os filhos dos outros... Para quê? Para ser julgada como estão julgando.

Suspensão da revista
As revistas foram suspensas porque não poderia ter vistoria sem a presença da Brigada Militar. Estava tudo combinado que iria acontecer tudo igual a quinta, mas a Brigada não compareceu, nem a Patrulha Escolar, que era para hoje (sexta) os órgãos estarem aqui. Se a BM tivesse comparecido teria ocorrido revista.

Apelo
Nós temos 1.026 alunos inscritos para 2015 para o primeiro ano do ensino médio nessa escola. Teremos 157 vagas. O meu apelo é que os pais que conseguirem essas vagas mudem essa história e venham fazer com que o Santa recupere todos os valores que são importantes para formar uma pessoa melhor, porque esse era o nosso objetivo. Não adianta ter uma estrela no símbolo se eu não consigo fazer com que quem está aqui dentro vá para uma sociedade para ser pessoas diferentes, que tenham um olhar de respeito, de solidariedade, de compromisso com as leis e as regras da sociedade. Aos pais que conseguirem vaga aqui, é o meu apelo: que olhem de forma diferente para essa escola e venham para somar, não para dividir. Se não, já façam a matrícula em outra escola.

* Pioneiro

sábado, 22 de novembro de 2014

PARA 89% DOS BRASILEIROS, ESCOLAS PÚBLICAS SÃO VIOLENTAS



O Estado de S. Paulo 21 Novembro 2014 | 10h 00


Luiz Fernando Toledo e Victor Vieira



Pesquisa ouviu 3 mil pessoas em todo o País; ambiente de agressões é visto como entrave para avanço de qualidade

SÃO PAULO - Estudo do Instituto de Pesquisa Data Popular apontou que 89% dos brasileiros consideram que há muita violência nas escolas públicas do País. Alunos desrespeitosos e professores desmotivados são outros gargalos apontados no estudo. A segurança, de acordo com o levantamento, é o fator mais relevante para assegurar a qualidade de ensino, seguido por valorização de professores e funcionários.

A pesquisa "A educação e os profissionais da educação", realizada a pedido da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), ouviu 3 mil pessoas de todo o País em setembro deste ano. Os casos mais recorrentes de violência relatados foram agressão verbal (40%), física (35%), bullying (23%), vandalismo (21%), e discriminação (16%) e roubo (12%). Violência sexual e assassinato também são mencionados, em menor número.

Qualidade de ensino. Para 32% dos entrevistados, a qualificação e preparação dos professores representam o que há de mais importante para se obter educação de qualidade. Também são mencionados a preparação do aluno para o mercado de trabalho (15%), melhores salários aos professores (14%), infraestrutura (12%), fim da reprovação automática (12%),entre outros itens.

Como benefício do ensino qualificado, 55% disseram que haveria redução da violência. Em segundo lugar, o combate à pobreza (50%). Empregos melhores (44%) e formação profissional mais sólida também foram mencionados.O estudo ainda apontou que, para 59% dos brasileiros, o País está longe de ter uma educação de qualidade. Outros 33% acreditam que o Brasil está "próximo" de atingir tal objetivo e apenas 6% afirmam que a meta já foi conquistada.

Em relação às perspectivas de entrada no mercado de trabalho, os entrevistados se dividiram - 48% consideraram que quem estuda em escola particular tem melhores chances. Já 45% dizem que não o tipo de escola não influencia no futuro emprego. Houve ainda quem dissesse que a escola pública assegura mais possibilidade de empregos melhores - 6%.

"A educação é vista hoje como a porta de futuro de uma sociedade melhor", afirmou Renato Meirelles, presidente do Data Popular. "As pessoas falavam que se pode tirar o Bolsa-Família, o emprego, mas a educação ninguém tira", disse. Segundo Meirelles, existe um descompasso entre a importância simbólica dada ao professor e o valor que a população imagina que o profissional receba.

"Perguntamos qual a profissão com nível superior com os melhores salários. O professor apareceu com 1% das citações", disse Renato Meirelles. "Depois, perguntamos qual deveria ser a profissão melhor remunerada. Aí eles apareceram no topo da lista", completou.

Mudança de paradigma. Para a especialista em violência escolar Miriam Abramovay, a percepção de insegurança na sociedade se repete dentro da sala de aula. "Tivemos uma democratização muito grande do ensino, mas a escola não mudou para receber uma população que ela não recebia antes ", afirma a pesquisadora da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO).

A formação de professores para entender o universo dos alunos, de acordo com Miriam, é uma solução. "Mas se pensam apenas medidas punitivas, repressivas", critica. Outra saída é dar mais voz às crianças e adolescentes. "Os jovens devem ter participação ativa. Devem fazer seus próprios diagnósticos sobre o que acontece na escola", defende.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

PENALIDADES ESCOLARES FRENTE À SOCIEDADE



Zero Hora 19 de novembro de 2014 | N° 17988


PROFESSOR GARCIA*




Merece uma reflexão profunda o documento normativo do Conselho Estadual de Educação (Ceed/RS) que proíbe as expulsões, suspensões e transferências compulsórias de alunos das escolas públicas e privadas do Rio Grande do Sul. Uma escola não se limita a transmitir conhecimento em diferentes situações. Ela constitui, também, um laço afetivo familiar. Cabem aos professores e aos pais as responsabilidades de ensinar e preparar os alunos para a vida, e apresentar caminhos e direções a seguir. Mas, sem a autonomia para gerir as instituições e os diferentes comportamentos, os educadores poderão perder o respeito dos alunos dentro da sala de aula. Tudo precisa ser levado em consideração, digo isto pela experiência de ter sido coordenador das escolas São José e Nossa Senhora das Dores, por 20 anos. O próprio Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe/RS) já manifestou posição contrária ao parecer e essa avaliação não pode ser desprezada. Segundo o Sinepe/RS, “o entendimento do Ceed não representa a melhor opção educacional, já que até mesmo um aluno violento, que porventura cause sérios danos a professores ou outros integrantes do convívio escolar, deverá ter sua permanência garantida na escola”.

A autonomia da instituição educacional tem que ser respeitada e o aluno precisa tomar conhecimento de que, além de direitos, possui deveres e obrigações a cumprir. Caso contrário, correremos o risco de tornar impossível o exercício do magistério. Profissão já pouco valorizada, mas de fundamental importância para a formação do caráter de milhares de crianças e adolescentes, em todo o país.

Também é preciso levar em consideração as omissões familiares, o uso de drogas e a falta de orientação. O papel do educador não pode ser confundido com os deveres dos pais. A função de educar é da família. A missão da escola é transmitir ensino e aprendizado. O assunto é tão controverso, que necessita o aval não só da comunidade escolar como da sociedade gaúcha. Todos os lados precisam ser analisados de modo que, em caso de aprovação do referido documento, as consequências não sejam desastrosas.

Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

INDISCIPLINA E LIMITES

 

JORNAL DO COMÉRCIO 11/11/2014 


José Carlos Sturza de Moraes



Enquanto pais e mães, temos que ensinar nossas crianças a lidar com a frustração. Na escola, desde a Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental isso é muito claro. Inclusive porque ensinamos valores da vida em sociedade, noções de bem comum e respeito ao outro. Lidar com a frustração, com o não atendimento imediato de um desejo, com o adiamento de um momento prazeroso, é lidar com limites (físicos, psíquicos, etários, éticos e morais).

A indisciplina escolar, algumas vezes, tem a ver com a dificuldade de estudantes em lidarem com limites. Não tem origem apenas na falta de boa educação familiar. Diz respeito a contextos familiares, produções midiáticas, exaltação de valores sociais nem tão promotores de ética e respeito, como discriminações variadas. Tem origem na falência da palavra, do diálogo, dentro de casa, dentro de escolas e em outros espaços.

A escola não pode ser responsável sozinha pela tarefa de educar, estabelecer limites e sanções. Existem outros serviços e profissionais que precisam ser acionados e ser parceiros da tarefa educativa. Até porque, muitas vezes, a má conduta na escola é sintoma de violências sofridas por estudantes em casa, e dentro da própria escola, como bullying, homofobia, discriminação racial ou religiosa. Especialmente, assistência social, saúde e conselhos tutelares precisam ser parceiros da escola para tratar dessas questões quando extrapolam o âmbito pedagógico. Em situações mais graves, Ministério Público e Poder Judiciário também precisam fazer sua parte. Além disso, na construção de regras escolares é importante lembrar que escola é sinônimo de comunidade escolar. Não só nós, professores, as devemos construir e atualizar. A indisciplina escolar pode ser trabalhada e canalizada para processos positivos de participação. Precisamos pensar em como realizar a escolha de representantes de turmas, no estímulo a existência de grêmios e outros espaços de livre expressão de estudantes.

Professor e cientista social

ESTAMOS ACABANDO COM O PAÍS

REVISTA VEJA 09/11/2014 - 08:25

Reunião de pais e mestres: é nela que temos de exigir uma escola sem doutrinação marxista para nossos filhos


Gustavo Ioschpe

 
Reunião de pais e mestres: é nela que temos de exigir uma escola sem doutrinação marxista para nossos filhos (Gilberto Tadday/VEJA)


Há algumas semanas, dei uma palestra em um evento sobre educação, organizado por uma grande empresa e sediado em uma escola. Havia muitos educadores e alunos na plateia. Compartilhei alguns dos dados preocupantes sobre o fracasso do nosso sistema educacional. Expus minha oposição ao plano — agora consagrado em lei — de investirmos 10% do PIB em educação, notando que o único país que investe nesses patamares é Cuba. (Não porque aprecie sobremodo a educação, mas porque não tem PIB: qualquer meia dúzia de vinténs já dá 10% do PIB cubano...)

Depois da minha fala, vieram as perguntas do público. Sempre que há professores na plateia, estas perguntas se repetem: não é muito simplista/reducionista/alienado falar apenas em qualidade do ensino através do domínio dos conhecimentos de linguagem, matemática e ciências medidos por meio de exames como a Prova Brasil, o Enem e o Pisa? A função da educação não vai muito além disso? Não seria formar o cidadão crítico e consciente, engajado na construção de um país mais justo? Respondi o que sempre respondo nesses casos: a educação brasileira está tão mal — incapaz até mesmo de alfabetizar seus alunos ou ensinar-lhes as operações matemáticas básicas — que podemos gerar um consenso abarcando desde os stalinistas do PSTU até o neoliberal mais empedernido. Quer você deseje gerar o próximo Che Guevara, quer um operário preparado apenas para trabalhar numa linha de montagem, ambos precisam ser alfabetizados e dominar as operações matemáticas básicas. Então vamos primeiro focar a criação de um sistema educacional que garanta a 100% de seus alunos o direito de aprender pelo menos essas competências básicas, e deixemos as discussões ideológicas para outras áreas e outros momentos. Para mim, isso tudo é de uma obviedade mais do que ululante.

Qual não foi a minha surpresa quando, ao terminar, fui interpelado por uma meia dúzia de adolescentes, na faixa dos 15 anos, alunos daquela escola, dizendo-se indignados com meu desprezo por milênios de linguagem oral, meu menosprezo pelos analfabetos (“Então o senhor acha que é preciso ler para ter conhecimento?!”) e minhas críticas ao “grande” modelo cubano. Sim, sim, tem bastante gente ainda pensando assim em 2014, não estou brincando! Caiu o Muro de Berlim, e eles ainda estão sonhando em descer a Sierra Maestra. Você deve estar pensando que essa escola era da rede pública de alguma biboca do nosso interior profundo, administrada por uma prefeitura de partido socialista, certo? Pois é, eis a minha surpresa: essa escola, senhores e senhoras, está no Rio de Janeiro, na divisa entre a Barra da Tijuca e Jacarepaguá, e — esta é a melhor parte — pertence ao Sesc. Sim, o Serviço Social do Comércio, mantido pelos empresários e funcionários das áreas de comércio e serviço através de impostos cobrados na folha salarial. Longe de ser exceção, essa dinâmica é a regra: escolas e universidades de entidades privadas, algumas inclusive com fins lucrativos, estão entupindo o cérebro de seus alunos com a mais rasteira e ignóbil doutrinação política marxista. Depois, quando esses alunos se tornam adultos e passam a comandar o país, os donos e diretores dessas escolas e universidades passam anos a fio reclamando (com razão) do intervencionismo estatal e do viés antiempresarial dos líderes... que eles mesmos formaram!

Não acredito que esse tiro no pé seja intencional. É só miopia ou visão de curto prazo. Nas universidades, as áreas de pedagogia e licenciaturas são muito desprestigiadas, e acabam se tornando incompetentes. Formam maus professores, mas ninguém se importa, porque, como muito poucos prefeitos ou governadores são cobrados pela qualidade do ensino que oferecem, mesmo o mau professor não terá muita dificuldade de se encaixar no mercado, desde que tenha o diploma. Como os cursos não precisam ter qualidade, o jeito de reter aquele aluno é dizendo-lhe o que ele gosta de ouvir. De preferência, algo fácil de entender. Como esse é um público muito idealista, que já vem doutrinado do ensino médio, e como os pedagogos responsáveis por esses cursos também estão, na maioria dos casos, imbuídos de um sentido de missão revolucionária, o que você acha que esses cursos fazem? Trilham o caminho difícil de transmitir o domínio da didática e da matéria a ser ensinada ou optam por falar do papel revolucionário do professor, da missão grandiloquente da formação do cidadão crítico etc.? Sim, eles optam pelo caminho do ensino raso recheado por profundo doutrinamento. E assim se formam os professores que formarão as futuras gerações.

Lendo estas linhas você deve estar com um misto de compaixão e desprezo pelos proprietários de nossas universidades, investindo hoje na criação do seu opositor de amanhã. Mas eles não são os maiores culpados pela situação que vivemos. Sabe quem é? Você. Sim, você, que tem recursos para ler esta revista e, provavelmente, para pôr seu filho em uma escola particular. Você que faz parte da elite financeira e intelectual do país, que representa a sua liderança. Pois eu pergunto a você: qual foi a última vez que leu um livro didático de história ou geografia adotado pela escola do seu filho? Se você for como a maioria dos pais, deve fazer muito tempo. Você sabe que seus filhos estão ouvindo nas escolas diatribes contra o capitalismo e a burguesia brasileira (leia-se: você) e elogios ao modelo cubano e outros lixos socialistas? Provavelmente não sabia. É provável que só esteja preocupado com que seu filho entre em uma boa universidade, preferencialmente pública, em que o doutrinamento rastaquera praticado na escola será substituído por uma panfletagem esquerdista travestida de intelectualidade. Ou talvez até saiba o que está se passando mas não tenha vontade suficiente para debater com os professores e diretores, mantidos pela sua mensalidade, o lixo mental que seu filho recebe diariamente. Você que se preocupa com a saúde física do seu filho a ponto de obrigá-lo a comer arroz integral e tomar suco verde não dispõe da mesma energia e entusiasmo para fazer com que seu cérebro seja preservado dos detritos descarregados diariamente pela escola que você financia.

Talvez acredite que não importa o que seu filho ouve na escola: você corrige os desvios de caminho em casa. E pode ser até que tenha razão. Mas os 83% de alunos que estudam em escolas públicas têm pais cujo nível de instrução é muitas vezes insuficiente até para ajudar na alfabetização do filho. Certamente não conseguirão fazer o mesmo nem saberão que seu filho está sendo vitimado pela historiografia marxista, ou mesmo que há outras historiografias possíveis.

O resultado das últimas eleições mostra que não é possível construir um país nos três meses que antecedem a votação. Mostra que, sim, é ótimo que a nossa elite ganhe muito dinheiro, progrida e tenha condições de passar um tempo em Miami, Paris ou onde bem lhe aprouver, mas que só isso não basta: precisamos de uma elite empenhada em alterar a realidade do país, não em fugir dela. O Brasil está criando pessoas que desconfiam da democracia, dos valores republicanos, de sua própria capacidade empreendedora. Se as lideranças do país continuarem se abstendo da discussão que mais importa — a de valores, de identidade, de aspirações nacionais —, continuaremos colhendo atraso e frustração. Não se constrói um país desenvolvido sem elites. Esse debate é indelegável.

Já passou da hora de termos uma escola apolítica, sem doutrinação, que consiga fazer com que nossos alunos pensem e tenham os instrumentos para pôr de pé seus sonhos de vida. Não podemos nos furtar desse debate nem adiá-lo. Ele começa hoje, na sua sala de jantar, na escola de seus filhos. Aproveite essa liberdade enquanto a temos.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A GAIOLA DAS CERTEZAS



ZH 06 de novembro de 2014 | N° 17975


GABRIELA FERREIRA



Houve um tempo em que a responsabilidade social da universidade se limitava à formação de pessoas e à produção de conhecimento. Mas isso já vai longe no passado. Hoje, a universidade expande seu foco e agrega à sua missão a atuação direta no processo de desenvolvimento econômico da sociedade. Isso representa desafios na geração de condições para o desenvolvimento e também a necessidade de análise crítica desse processo de criação de valor e suas consequências.

O cenário exige mudanças, especialmente para os pesquisadores. É preciso olhar para além do conhecimento produzido; é preciso pensar em como podemos criar as pontes entre o saber e sua aplicação. Às vezes, até, é preciso colocar a mão na pá e na massa e ajudar a construir essas pontes. Não é nossa expertise, naturalmente. Não é para isso que fomos moldados. Mas é isso que, cada vez mais, a sociedade espera de nós. Certamente essa atitude seria justa, digna e legítima.

Dostoiévski diz que tememos não ter certezas e, por isso, trocamos o voo (que representa o novo) por gaiolas, que “são o lugar onde as certezas moram”. É, não é fácil voar. Como pesquisadores de universidades, temos importantes diferenças em relação aos parceiros na construção do desenvolvimento, como empresas e governo. São diferentes nossos objetivos, nossa linguagem e nossos tempos. Isso não impede que possamos trabalhar juntos, mas nos coloca, muitas vezes, no vazio de um caminho ainda não trilhado. Até onde olhamos para o saber construído, pensando nas necessidades da sociedade, e quando começamos a atuar demandados por elas? Qual o limite entre exercer nossa necessária imparcialidade para refletir sobre os problemas sociais e nos pautar por eles?

Sim, o voo é incerto. Queremos que nosso conhecimento seja aplicado, sem dúvida. Mas trabalhar para isso desacomoda, traz o desconhecido e requer um novo olhar. Por isso, apesar de vivermos novos tempos, nós, pesquisadores, podemos decidir nos dedicar ao nosso principal papel, que fazemos bem e no qual ninguém pode nos substituir: produzir conhecimento. É justo, é digno e é legítimo. Mas é a nossa gaiola das certezas.

Diretora de inovação de desenvolvimento da PUCRS

terça-feira, 4 de novembro de 2014

SHAKIRA E A EDUCAÇÃO



ZH 04 de novembro de 2014 | N° 17973

JOCELIN AZAMBUJA


Diariamente temos informações sobre a vida dos artistas, de grandes estrelas, mas a maioria sobre futilidades, o dinheiro que ganham e gastam, fofocas etc.

No último fim de semana, lendo ZH, descobri um lado especial do casal Shakira e Piqué. Lembro da Shakira adolescente, vindo com sua mãe ao Brasil, lançando sua carreira internacional, já demonstrando sua potencialidade como artista que conquistou o mundo.

Acredito que os seres humanos se diferem por seus dons e se tornam de fato especiais quando revelam sua essência. Nessa entrevista, acabei descobrindo o que nos identificava e o que me levava a gostar tanto dessa artista, que conquistou o mundo e tem 105 milhões de seguidores em redes sociais: o seu amor pela educação.

Shakira declarou na entrevista sua paixão pela educação e o trabalho que desenvolve em suas fundações, construindo escolas para crianças carentes, na Colômbia, no México e na Argentina, dando oportunidades de futuro a milhares delas.

Ela foi tocada em sua vida por essa forma de poder ajudar a transformar uma sociedade através da mais forte e real arma, a educação. Descobriu que ganhar dinheiro só para si não vale a pena, tem que ter um objetivo maior. Disse: “É incrível a transformação que a educação causa não somente na vida das crianças, mas também na vida de famílias e comunidades inteiras. Por isso, tenho essa paixão pela educação, não consigo parar de falar isso”.

Sei bem o que é ter amor pela educação e acreditar que essa é a única saída para uma sociedade. Perguntaram-lhe ainda: “Qual a sua posse mais preciosa?”. E respondeu: “Minha voz. Não só para cantar, mas também para falar por todas as crianças como parte da minha luta por educação para todos”.

Pude sentir o que a diferencia de outros artistas, a sua essência, sua luta pela educação, que dá um sentido maior a sua vida. Que bom seria se mais artistas, empresários, homens e mulheres com poder econômico também tivessem essa visão e ajudassem de fato a dar uma chance de futuro para as crianças necessitadas do mundo.

Advogado, conselheiro da ACPM-Federação

O PAPEL DA ESCOLA DIANTE DA CRISE MORAL



ZH 04 de novembro de 2014 | N° 17973

MARIA ELISA SCHUCK MEDEIROS


Retorna para discussão, no plenarinho da Assembleia Legislativa, o parecer do CEED que prevê norma impedindo as escolas do Estado a suspender, afastar ou expulsar estudantes, mesmo que envolvidos em transgressões disciplinares. Sem dúvida, esse parecer está sendo motivo de muita polêmica na sociedade gaúcha. Vivemos hoje numa sociedade promovida por bolsas-auxílio e agora querem instituir a bolsa “bagunça” dentro das escolas. Sim, pois retirar a autonomia das escolas de instituir suas regras e suas medidas pedagógicas diante da transgressão das mesmas é constituir a libertinagem dentro desse espaço.

A sociedade brasileira está passando por uma crise moral. Piaget, Freud, Durkheim e Kohlberg concordam em suas teorias de que a moral implica princípios e regras. Esses princípios e regras são os deveres que temos enquanto sujeitos de uma sociedade, assim o dever é entendido como uma obrigatoriedade. Como seria nosso convívio na sociedade se não existisse a imposição de alguns deveres? Certamente, a vida em sociedade seria impossível, seria um caos.

A escola tem o papel de formar seus alunos para que suas ações sejam por dever e não conforme o dever, sem autoritarismo, sem exclusão social, educando para o bem viver. Mas quando as regras de respeito ao outro são transgredidas, trazendo prejuízos para o desenvolvimento de um grupo, a escola necessita tomar atitudes que vão além do diálogo. O espaço escolar tem diversos exemplos em que foram aplicadas medidas pedagógicas e foram saudáveis para os estudantes, pois apresentaram melhoras significativas. Ao invés de impedir as escolas de suspender, afastar ou expulsar estudantes, seria interessante que esse parecer propusesse a obrigatoriedade da escola de formar sujeitos autônomos moralmente, uma vez que o heterônomo moral transgride as regras por não terem sido apropriadas pela sua inteligência. Essa construção da autonomia moral somente será possível se os princípios e regras forem discutidos e refletidos. Nesse contexto, o importante é que os estudantes legitimem as regras que fazem da escola um espaço de construção de saberes.

Mestre em Educação pela UFRGS, diretora do Colégio La Salle Canoas

sábado, 1 de novembro de 2014

EU ACUSO



FOLHA.COM 04/11/2013 03h00




Luiz Felipe Pondé


Muitos alunos de universidade e ensino médio estão sendo acuados em sala de aula por recusarem a pregação marxista. São reprovados em trabalhos ou taxados de egoístas e insensíveis. No Enem, questões ideológicas obrigam esses jovens a "fingirem" que são marxistas para não terem resultados ruins.

Estamos entrando numa época de trevas no país. O bullying ideológico com os mais jovens é apenas o efeito, a causa é maior. Vejamos.

No cenário geral, desde a maldita ditadura, colou no país a imagem de que a esquerda é amante da liberdade. Mentira. Só analfabeto em história pensa isso. Também colou a imagem de que ela foi vítima da ditadura. Claro, muitas pessoas o foram, sofreram terríveis torturas e isso deve ser apurado. Mas, refiro-me ao projeto político da esquerda. Este se saiu muito bem porque conseguiu vender a imagem de que a esquerda é amante da liberdade, quando na realidade é extremamente autoritária.

Nas universidades, tomaram as ciências humanas, principalmente as sociais, a ponto de fazerem da universidade púlpito de pregação. No ensino médio, assumem que a única coisa que os alunos devem conhecer como "estudo do meio" é a realidade do MST, como se o mundo fosse feito apenas por seus parceiros políticos. Demonizam a atividade empresarial como se esta fosse feita por criminosos usurários. Se pudessem, sacrificariam um Shylock por dia.

Estamos entrando num período de trevas. Nos partidos políticos, a seita tomou o espectro ideológico na sua quase totalidade. Só há partidos de esquerda, centro-esquerda, esquerda corrupta (o que é normalíssimo) e do "pântano". Não há outra opção.

A camada média dos agentes da mídia também é bastante tomada por crentes. A própria magistratura não escapa da influência do credo em questão. Artistas brincam de amantes dos "black blocs" e se esquecem que tudo que têm vem do mercado de bens culturais. Mas o fato é que brincar de simpatizante de mascarado vende disco.

Em vez do debate de ideias, passam à violência difamatória, intimidação e recusam o jogo democrático em nome de uma suposta santidade política e moral que a história do século 20 na sua totalidade desmente. Usam táticas do fascismo mais antigo: eliminar o descrente antes de tudo pela redução dele ao silêncio, apostando no medo.

Mesmos os institutos culturais financiados por bancos despejam rios de dinheiro na formação de jovens intelectuais contra a sociedade de mercado, contra a liberdade de expressão e a favor do flerte com a violência "revolucionária".

Além da opção dos bancos por investirem em intelectuais da seita marxista (e suas similares), como a maioria esmagadora dos departamentos de ciências humanas estão fechados aos não crentes, dezenas de jovens não crentes na seita marxista soçobram no vazio profissional.

Logo quase não haverá resistência ao ataque à democracia entre nós. A ameaça da ditadura volta, não carregada por um golpe, mas erguida por um lento processo de aniquilamento de qualquer pensamento possível contra a seita.

E aí voltamos aos alunos. Além de sofrerem nas mãos de professores (claro que não se trata da totalidade da categoria) que acuam os não crentes, acusando-os de antiéticos porque não comungam com a crença "cubana", muitos desses jovens veem seu dia a dia confiscado pelo autoritarismo de colegas que se arvoram em representantes dos alunos ou das instituições de ensino, criando impasses cotidianos como invasão de reitorias e greves votadas por uma minoria que sequestra a liberdade da maioria de viver sua vida em paz.

Muitos desses movimentos são autoritários, inclusive porque trabalham também com a intimidação e difamação dos colegas não crentes. Pura truculência ideológica.

Como estes não crentes não formam um grupo, não são articulados nem têm tempo para sê-lo, a truculência dos autoritários faz um estrago diante da inexistência de uma resistência organizada.

Recebo muitos e-mails desses jovens. Um deles, especificamente, já desistiu de dois cursos de humanas por não aceitar a pregação. Uma vergonha para nós.



Luiz Felipe Pondé, pernambucano, filósofo, escritor e ensaísta, doutor pela USP, pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv, professor da PUC-SP e da Faap, discute temas como comportamento contemporâneo, religião, niilismo, ciência. Autor de vários títulos, entre eles, 'Contra um mundo melhor' (Ed. LeYa). Escreve às segundas.