JORNAL DO COMÉRCIO 11/11/2014
José Carlos Sturza de Moraes
Enquanto pais e mães, temos que ensinar nossas crianças a lidar com a frustração. Na escola, desde a Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental isso é muito claro. Inclusive porque ensinamos valores da vida em sociedade, noções de bem comum e respeito ao outro. Lidar com a frustração, com o não atendimento imediato de um desejo, com o adiamento de um momento prazeroso, é lidar com limites (físicos, psíquicos, etários, éticos e morais).
A indisciplina escolar, algumas vezes, tem a ver com a dificuldade de estudantes em lidarem com limites. Não tem origem apenas na falta de boa educação familiar. Diz respeito a contextos familiares, produções midiáticas, exaltação de valores sociais nem tão promotores de ética e respeito, como discriminações variadas. Tem origem na falência da palavra, do diálogo, dentro de casa, dentro de escolas e em outros espaços.
A escola não pode ser responsável sozinha pela tarefa de educar, estabelecer limites e sanções. Existem outros serviços e profissionais que precisam ser acionados e ser parceiros da tarefa educativa. Até porque, muitas vezes, a má conduta na escola é sintoma de violências sofridas por estudantes em casa, e dentro da própria escola, como bullying, homofobia, discriminação racial ou religiosa. Especialmente, assistência social, saúde e conselhos tutelares precisam ser parceiros da escola para tratar dessas questões quando extrapolam o âmbito pedagógico. Em situações mais graves, Ministério Público e Poder Judiciário também precisam fazer sua parte. Além disso, na construção de regras escolares é importante lembrar que escola é sinônimo de comunidade escolar. Não só nós, professores, as devemos construir e atualizar. A indisciplina escolar pode ser trabalhada e canalizada para processos positivos de participação. Precisamos pensar em como realizar a escolha de representantes de turmas, no estímulo a existência de grêmios e outros espaços de livre expressão de estudantes.
Professor e cientista social
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