EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A GAIOLA DAS CERTEZAS



ZH 06 de novembro de 2014 | N° 17975


GABRIELA FERREIRA



Houve um tempo em que a responsabilidade social da universidade se limitava à formação de pessoas e à produção de conhecimento. Mas isso já vai longe no passado. Hoje, a universidade expande seu foco e agrega à sua missão a atuação direta no processo de desenvolvimento econômico da sociedade. Isso representa desafios na geração de condições para o desenvolvimento e também a necessidade de análise crítica desse processo de criação de valor e suas consequências.

O cenário exige mudanças, especialmente para os pesquisadores. É preciso olhar para além do conhecimento produzido; é preciso pensar em como podemos criar as pontes entre o saber e sua aplicação. Às vezes, até, é preciso colocar a mão na pá e na massa e ajudar a construir essas pontes. Não é nossa expertise, naturalmente. Não é para isso que fomos moldados. Mas é isso que, cada vez mais, a sociedade espera de nós. Certamente essa atitude seria justa, digna e legítima.

Dostoiévski diz que tememos não ter certezas e, por isso, trocamos o voo (que representa o novo) por gaiolas, que “são o lugar onde as certezas moram”. É, não é fácil voar. Como pesquisadores de universidades, temos importantes diferenças em relação aos parceiros na construção do desenvolvimento, como empresas e governo. São diferentes nossos objetivos, nossa linguagem e nossos tempos. Isso não impede que possamos trabalhar juntos, mas nos coloca, muitas vezes, no vazio de um caminho ainda não trilhado. Até onde olhamos para o saber construído, pensando nas necessidades da sociedade, e quando começamos a atuar demandados por elas? Qual o limite entre exercer nossa necessária imparcialidade para refletir sobre os problemas sociais e nos pautar por eles?

Sim, o voo é incerto. Queremos que nosso conhecimento seja aplicado, sem dúvida. Mas trabalhar para isso desacomoda, traz o desconhecido e requer um novo olhar. Por isso, apesar de vivermos novos tempos, nós, pesquisadores, podemos decidir nos dedicar ao nosso principal papel, que fazemos bem e no qual ninguém pode nos substituir: produzir conhecimento. É justo, é digno e é legítimo. Mas é a nossa gaiola das certezas.

Diretora de inovação de desenvolvimento da PUCRS

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