EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

domingo, 17 de agosto de 2014

O EXEMPLO DA EXCEÇÃO


ZERO HORA 17 de agosto de 2014 | N° 17893


EDITORIAL


O prêmio internacional concedido a um brasileiro deve inspirar ações transformadoras do ensino de matemática e de outras disciplinas.



O Brasil experimentou nesta semana o efeito multiplicador de uma notícia capaz de fortalecer a autoestima coletiva. É com justificado orgulho que o país aplaude o reconhecimento ao gênio do jovem Artur Avila, que conquistou a Medalha Fields, considerado o Prêmio Nobel da Matemática, por suas pesquisas na área de sistemas dinâmicos. Trata-se de uma conquista cobiçada mundialmente, por expressar a validação da comunidade científica a estudos de amplo alcance. Mas a premiação nos confronta ao mesmo tempo com a realidade de que se trata de uma exceção. A performance particular de Avila contrasta com a realidade de uma nação em que a regra ainda é o aprendizado precário de matemática, como denuncia nossa posição no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Apesar de alguns avanços, nos últimos anos, o último ranking, de 2012, coloca o Brasil na 58ª posição entre os 65 países. Estamos atrás de Chile, México, Uruguai e Costa Rica e muito distantes das melhores performances de europeus, asiáticos e americanos.

O próprio premiado declarou que a medalha é um fato excepcional, por seus significados, não só como conquista pessoal, mas pela possibilidade de contribuir para a percepção que se tem do Brasil no Exterior. Muito antes mesmo de significar melhoria na imagem brasileira lá fora, a premiação deve ser inspiradora de reações internas. Nosso matemático é, como está claro na deferência internacional, um estudioso fora de série. Ele explica como se sentiu motivado a isso: “Gosto de falar de matemática mas com foco na parte mais criativa. Matemática não é árida, tem acesso a muitos recursos. O problema é que na escola o aluno só tem contato com a parte árida, com as regras, as fórmula aqui e ali. Isso o computador tá ali e faz. O matemático faz as coisas que o computador não faz, como a parte criativa, que não é repetitiva”. Não se pretende que estudantes brasileiros se transformem em performáticos com desempenhos semelhantes. Mas é razoável, a partir desse toque sobre criatividade, que sejam buscados melhores resultados no ensino da disciplina.

O Brasil tem exemplos nesse sentido, alguns deles exaltados pela imprensa no final do ano passado. São casos que desafiam um dado constrangedor, segundo o qual apenas 10,3% dos nossos alunos chegam ao final do Ensino Médio com um aprendizado razoável de matemática. As exceções positivas, identificadas num levantamento do Movimento Todos pela Educação, revelaram pelo menos 10 escolas com desempenhos muito acima dessa média. Nenhuma exibe fórmulas milagrosas, mas métodos de ensino sustentados por esforços sistemáticos, que poderiam mobilizar a maioria das escolas do país. Alguns desses colégios estão localizados no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

O aspecto comum entre as escolas é a compreensão de que o aprendizado de matemática é uma evolução de ano a ano, sem que nada possa ser deixado para trás, sob o risco de se perder tudo o que foi ensinado. O Brasil terá de aprender com esses colégios, que não dispõem de recursos extras e não têm prédios e equipamentos muitos diferentes do resto, a andar sempre para a frente. O que os diferencia é a dedicação com disciplina, com o cumprimento de metas e o envolvimento de professores, alunos e comunidades – o que vale para qualquer disciplina, em qualquer nível de ensino.


EM RESUMO

Editorial defende que a conquista da Medalha Fields por um brasileiro é também uma oportunidade de melhoria do aprendizado nas escolas do país.


Editorial publicado antecipadamente no site de Zero Hora, na quinta-feira, com links para Facebook e Twitter. Os comentários para a edição impressa foram selecionados até as 18h de sexta-feira. A questão: Editorial defende mais criatividade no ensino da matemática. Você concorda?

O LEITOR CONCORDA

Concordo, não só na matemática, mas nas demais matérias. Pois, na minha época de escola, as matérias que mais aprendi foram justamente as ensinadas com criatividade. Adorava matemática, história e geografia e consequentemente tirava ótimas notas. Vivemos num ambiente escolar em que cada vez há menos professores preparados. Isso tudo reflete no aprendizado da base da nossa educação. Se houvesse uma mudança positiva, talvez tivéssemos mais brasileiros gênios.

CAROLINE ROCHA SÃO LEOPOLDO (RS)

Concordo com a criatividade no ensino da matemática, que o básico seja lúdico, que as associações com a vida sejam primordiais. Você não consegue aprender porque tem que aprender. Ao fazer associações, entender a origem e os porquês, seu raciocínio se amplia, divaga, cria e enraiza. Você se apropria do conhecimento.

MARLI CHAVES PORTO ALEGRE (RS)

Acredito que, mudando a forma como se ensina nas escolas e com um curriculum melhor, estaremos contribuindo muito com novos profissionais das diversas áreas. A precária estrutura curricular no Ensino Médio, por exemplo, me faz ter algumas dificuldades agora, no Ensino Superior, porque simplesmente não aprendi determinado conteúdo que irei usar para minha futura profissão. Independente da pessoa decidir ir pelo lado das exatas profissionalmente, o ensino da matemática deve ser mais amplo, mais facilitado, com exemplos mais simples, com aulas mais práticas, com maneiras de expor as fórmulas diferentes, só assim poderemos formar profissionais mais capacitados e com uma imagem melhor do seu mundo, independente da área escolhida para se trabalhar. Afinal, matemática está em tudo o que fazemos/vemos/tocamos. Concordo plenamente que deve haver uma mudança, para algo mais criativo no ensino desta disciplina.

AWDREN RIBEIRO PORTO ALEGRE (RS)

O LEITOR DISCORDA

Discordo. Acho que o plano de aula de matemática está muito bem desenvolvido; é responsabilidade do aluno querer aprender ou não. Acredito que o que dificulta esse aprendizado é a liberdade que o Estado impôs ao aluno em sala de aula, dando-lhe o direito de não ser reprovado em séries iniciais, não ser expulso quando necessário e outros atributos que tiram do aluno a “vontade” de aprender.

ALDA PEGORARO ROEDER NOVA PRATA (RS)

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