EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A ALMA DA SOCIEDADE

ABRÃO SLAVUTSKY, PSICANALISTA - ZH 07/10/2011

A alma da sociedade é a educação. A missão de toda geração é legar sua herança cultural por meio da arte de educar. Uma arte que implica sempre um desafio, pois não é fácil gerar em um filho a capacidade de dominar suas pulsões. Para tanto, faz-se necessário ao desenvolvimento infantil o instituto da proibição, pois nessa fase é indispensável coibir e, portanto, frustrar. Ao mesmo tempo, é preciso educar com liberdade, tendo em vista a autonomia criativa. O ideal da educação é que prejudique o mínimo – afinal, somos imperfeitos – e realize o máximo. Além disso, é preciso considerar que cada sujeito tem suas disposições constitucionais próprias, e o que vale para um pode não valer para o outro. Na educação é necessário dizer não, tendo o cuidado de interferir pouco na imaginação infantil. Guimarães Rosa queixava-se dos adultos que atrapalharam seus brinquedos na infância.

Felizmente, toda criança evolui no espaço da brincadeira, porque ela não vive só no mundo real, mas também no mundo imaginário, do faz de conta. Muito já foi escrito sobre o universo das fantasias, um universo cada vez mais valorizado nas indispensáveis histórias infantis. Por outro lado, a educação transcorre numa sociedade e adaptar um filho à ordem social é tão necessário quanto problemático. Em regimes autoritários, proíbem-se a liberdade de pensamento e as indispensáveis rebeldias. Já nas sociedades mais permissivas, o desafio é pôr limites aos atos impulsivos. Não faltam relatos de crianças e adolescentes mimados que sofrem e fazem sofrer nas escolas.

É nesse processo educativo que se deve debater a palmada. Será a palmada tão educativa quanto se pensava antigamente? A palmada não educa. O ato de bater não é amoroso: é uma descarga agressiva, um gozo sádico. Apesar disso, não há por que condenar os pais que se valeram ou que ainda se valem desse expediente. Interessante que nos países escandinavos, mesmo a educação sendo rígida, vigoram leis que proíbem os pais de usar a violência contra os filhos. Não sei até que ponto a lei da palmada é necessária, mas não creio que vá mudar muita coisa. Em todo caso, admito que logo simpatizei com ela, pelo fato de levar o Brasil a debater o que ocorre no cotidiano educacional. E também porque tive a sorte de ter um pai que jamais batia, limitando-se a repreender com o olhar.

Vivemos tempos em que a modernidade líquida diluiu a solidez das instituições. Não por acaso, o desamparo é a matéria-prima da psicanálise. Nesse sentido, é lógico que os pais, muitas vezes aflitos e perplexos com a educação de seus filhos, saiam à cata de alguma fórmula que lhes assegure sucesso. Mas não há fórmulas prontas. Devemos ser orientadores, sem esquecer que somos aprendizes pedagógicos. Para aprender a ser mãe e a ser pai, é necessário aprender a ouvir os filhos. As conversas são valiosas e as boas palavras fortalecem. Sugiro, por fim, que usemos as mãos não para dar palmadas, mas para aplaudir a boa educação.

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