Agressões físicas e verbais são algumas das situações vividas por educadores de Joinville. Eles mostram, no Dia do Professor, que a dedicação à sala de aula é uma missão que exige uma dose de coragem - Julimar Pivatto, DIÁRIO CATARINENSE, 15/10/2011 | 15h34min
Em novembro do ano passado, uma orientadora educacional de uma escola municipal chamou a família de um aluno para conversar sobre o comportamento dele. E foi surpreendida com a atitude do estudante, que na época tinha 13 anos.
O garoto passou a agredi-la verbalmente, chamando-a de "vaca". A mãe, que estava do lado, nada fez. A professora ficou preocupada e com medo que, futuramente, pudesse ser agredida fisicamente. Por isso, ao contrário de tantos outros professores que passam pela mesma situação, foi registrar um boletim de ocorrência contra o aluno.
— Fiz isso também para servir de alerta porque não foi um caso isolado. É algo cada vez mais comum — disse a orientadora.
Mas o que mais chamou a atenção dela é que a mãe do aluno não demonstrou qualquer reação com a atitude do filho.
— Infelizmente, hoje em dia as famílias estão mais distantes. E pensam que a nossa obrigação é educar. Mas isso vem de família, a escola precisa ensinar — explica.
A situação chegou a desanimar a orientadora. Em mais de 20 anos trabalhando em escolas, foi a primeira vez que algo parecido aconteceu.
— A gente fica desanimada, dá vontade de parar. Como eu trabalho na parte de orientação, volta e meia algum aluno desobedece, faz pouco caso. Mas nunca tinha chegado ao ponto de ofender — disse.
O fato dela ter registrado um BO fez com que o aluno mudasse a atitude em alguns pontos e o relacionamento entre os dois mudou. Ela acredita que iniciativas por parte do poder público, de promover cursos de capacitação para professores, seria interessante.
— Acho que a gente deveria ser melhor orientado para saber como agir neste momento. Eu trabalho orientando, procurando sempre conversar e abraçar, mesmo quando o aluno é desobediente. Acho que é com carinho que a gente conquista eles — afirma.
Núcleo tenta prevenir conflitos entre professor e aluno
A Gerência Regional de Educação em Joinville tem até um programa específico para tratar dos problemas que envolvem a relação professor-aluno: é o Núcleo de Educação e Prevenção (Nepre), que atua em várias áreas, entre elas a capacitação de professores que sofrem com agressões de alunos, sejam elas físicas ou verbais.
O coordenador pedagógico do programa, Jorge Schemes, diz que não é possível mensurar o número de ocorrências como estas nas escolas, já que nem todos os professores se manifestam.
— Posso dizer que é cada vez mais comum. Nós trabalhamos para incentivar o professor a denunciar, se for preciso, até a registrar boletim de ocorrência — disse Schemes.
O coordenador deu dois exemplos recentes, que chamaram a atenção. O primeiro deles foi em uma turma do segundo grau.
— A professora de química ia dar a primeira aula naquela turma. Quando foi sentar, tinha 20 tachinhas na cadeira, embaixo de um pano. Ela registrou um BO e os adolescentes hoje respondem por ato infracional — relatou.
O outro exemplo é de uma situação de constrangimento cada vez mais comum.
— Os alunos tiraram uma foto do professor com o celular, sem que ele soubesse. Dias depois, viu que foi criada uma página no orkut com o nome ‘Eu odeio o professor’. Ele tirou cópias de todas as páginas e conseguiu ser indenizado por danos morais — disse ainda Schemes.
O que o Nepre faz é oferecer capacitação para orientar os professores como agir em situações de conflito como estas.
— Temos de tomar cuidado também para não abusar da autoridade. Para evitar conflitos, damos dicas de casos de disciplina e indisciplina e como lidar em cada momento — afirma.
Problema acaba na delegacia
A maioria dos boletins de ocorrência registrados em casos como este ficam na Delegacia da Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso, no Bucarein. A delegada responsável, Alessandra Rabello, comentou que as ocorrências deste gênero são cada vez mais comuns.
— Não temos como fazer um levantamento dos dados porque não existe, por exemplo, o crime de bullying. Ele pode ser considerado agressão, constrangimento ou ameaça.
A delegacia faz o primeiro atendimento, registra o boletim e então encaminha o caso para a Promotoria da Infância e Juventude, que decide a punição para cada caso.
O melhor é priorizar a prevenção
A orientadora educacional Sandra Domingues prefere trabalhar com a prevenção.
— Hoje, o bullying toma conta das escolas e está difícil de combatê-lo. Mas há formas de amenizar essa situação — comenta.
Ela diz ter uma receita para enfrentar a agressividade dos alunos.
— Se ele vier com raiva, eu dou um sorriso. Se eu responder com violência, só vai piorar as coisas — disse.
Profissionais reunidos em seminário
O Instituto Joinville promove, nesta segunda-feira, um seminário, às 19 horas, para debater o problema. Será o 4º Encontro do Comitê Estratégico de Educação, com o tema “Indisciplina, violência e o desafio do professor”.
O evento será na Câmara de Vereadores e contará com uma apresentação de teatro e logo depois uma palestra com a psicóloga Roberta Balsini. Segundo o coordenador do comitê, Ernesto Berkenbrock, o objetivo é mostrar que não é só o aluno que sofre de bullying.
— Fala-se pouco sobre isso. Queremos instigar essa discussão, levantar o tema — afirma Ernesto. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas através do e-mail instituto@institutojoinville.org.br. Mais informações sobre o seminário nos telefones 3027-4056 e 3461-2556.
Este blog mostrará as deficiências, o sucateamento, o descaso, a indisciplina, a ausência de autoridade, os baixos salários, o bullying, a insegurança e a violência que contaminam o ensino, a educação, a cultura, o civismo, a cidadania, a formação, a profissionalização e o futuro do jovem brasileiro.
EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR
Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.
domingo, 16 de outubro de 2011
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