ZERO HORA 12 de agosto de 2012 | N° 17159
EDITORIAL
Embora recorrente, o debate em torno do número de medalhas conquistadas pelos representantes brasileiros nos Jogos Olímpicos tem um significado maior este ano por anteceder a competição em nosso país. Sempre é constrangedor ver o Brasil atrás de países de menor importância econômica e sem tradição esportiva que justifique o melhor desempenho. Mas é absolutamente injusto e descabido responsabilizar os atletas pela modesta performance de nossa delegação quando se sabe que a maioria das modalidades esportivas recebe pouca ou nenhuma atenção do poder público e da própria sociedade. Sem uma política esportiva melhor planejada e associada à educação, não podemos mesmo ambicionar resultados semelhantes ao de nações que investem fortemente no esporte.
Certamente é necessário investir mais. Mas o importante, mesmo, é investir certo. E cedo: para construir um atleta de elite, é imprescindível investir na criança antes mesmo de saber que ela optará por determinada modalidade esportiva. No Brasil, não são as escolas que encaminham os jovens para o esporte. São os clubes, as academias de ginástica, as associações e federações. Nos países medalhistas, com raras exceções, estudo e esporte estão conjugados desde os primeiros anos da vida estudantil. Normalmente, é na escola que o futuro atleta identifica o esporte em que se sairá melhor, com a ajuda da instituição. A própria Inglaterra é um exemplo disso: além de terem organizado muito bem os Jogos de Londres, os ingleses consolidaram-se como potência olímpica.
Nossa situação é bem diferente. Excetuando-se esportes coletivos de grande ou média popularidade, os atletas brasileiros que se destacam quase sempre têm histórias de vida verdadeiramente extraordinárias. Antes de encarar uma final olímpica, enfrentam toda série de dificuldades, falta de orientação, falta de equipamento, treinamentos precários, pouco intercâmbio – até que conseguem impressionar um profissional capacitado ou um clube com recursos, que os encaminha para o aperfeiçoamento.
Se tivéssemos uma política esportiva centrada na massificação de diversas modalidades e na identificação precoce de potenciais campeões, é bem provável que nossa situação no quadro de medalhas olímpicas fosse bem melhor. Ainda que o objetivo prioritário do esporte não deva ser apenas a vitória, pois antes se destina a formar cidadãos, a desenvolver disciplina, persistência, capacidade de superação, camaradagem, trabalho em equipe e respeito ao próximo, os vencedores se transformam em multiplicadores e em exemplos para gerações futuras.
O Brasil olímpico, hoje, já não corresponde ao Brasil potência econômica mundial, com a sexta economia do planeta, a liderança continental e a relevância de pertencer ao restrito grupo dos países emergentes que estão a um passo do Primeiro Mundo. Não vamos mudar esta situação nos quatro anos que separam Londres do Rio de Janeiro. Mas podemos dar a largada para uma mudança de mentalidade que, no futuro, renderá bem mais do que medalhas olímpicas.
Para construir um atleta de elite, é imprescindível investir na criança antes mesmo de saber que ela optará por determinada modalidade esportiva. Nos países medalhistas, com raras exceções, estudo e esporte estão conjugados desde os primeiros anos da vida estudantil.
O editorial ao lado foi publicado antecipadamente no site e no Facebook de Zero Hora, na sexta-feira. Os comentários selecionados para a edição impressa mantêm a proporcionalidade de aprovações e discordâncias. A questão proposta aos leitores foi a seguinte: Você concorda que o melhor caminho para formar campeões olímpicos é associar educação e esporte?
O leitor concorda
Concordo e tenha certeza de que uma coisa está diretamente ligada à outra. Não basta ser talentoso, pois isto já somos. Temos que seguir exemplos como o da China, onde os dois são desenvolvidos nos atletas desde cedo. Lá é investido tanto na educação quanto no esporte. Aqui, nós não conseguimos investir em nenhum dos dois e com isso muitas vezes as pessoas trocam a educação pelo esporte, mas mal sabem que estão perdendo uma grande aliada. Talvez devêssemos investir nos dois juntos, ao mesmo passo. Pois que belo seria se conseguíssemos formar cidadãos e atletas de alto nível. Isto melhoraria muita coisa, que vai além de uma medalha de ouro nas Olimpíadas. Leonardo Moraes,Porto Alegre (RS)
Concordo plenamente. Quando eu praticava educação física na escola, há muitos anos, tínhamos aulas de atletismo, ginástica e, também, esportes coletivos. Numa escola pública, na Vila Jardim! Hoje, a educação física se resume em vôlei e futebol. Temos que garimpar novos atletas a partir da infância, quando os educadores físicos deveriam avaliar o potencial de cada aluno. Talvez, daí sim, possamos ter quantidade com qualidade e bem mais futuros campeões olímpicos. Evonilda Andrade, Porto Alegre (RS)
Para um país de tamanho e expressão como o Brasil, é uma vergonha um desempenho tão fraco em Olimpíadas. A base de tudo isto está, sim, na escola, associada à educação. Quais são as escolas que têm e dão condições a uma criança praticar salto em distância, natação, ginástica de qualquer natureza, enfim... Também defendo que a televisão aberta deveria apoiar mais todos os tipos de esporte, não só futebol e vôlei. Por que transmitir uma corrida de Fórmula-1 ao invés de uma prova de atletismo ou ginástica? Enfim, temos tantos esportes e atletas que precisam de um incentivo e uma divulgação maior. Ademir Diel, Santo Cristo (RS)
Eu acho que se deva seguir os exemplos dos campeões. Nos EUA, uma variedade de esportes estão integrados na escola (desde natação até futebol). Mas, óbvio, isso não é realidade para nosso Brasil. Fernanda Gray
O leitor discorda
Não necessariamente. O melhor caminho para se chegar ao pódio é persistência e competência. Sabemos que nos países de Primeiro Mundo o esporte é 100% acompanhado pelo Estado, como sabemos também que aqui no Brasil não funciona assim. Por isso, acho que não devemos responsabilizar o Estado pela má atuação de nossos atletas, quando eles se determinam a participar de uma Olimpíada, devem ter consciência de que é deles a responsabilidade de atingir suas metas. Alda Pegoraro Roeder, Nova Prata (RS)
O objetivo principal deve ser a educação. Esporte deve ser consequência de uma escola de qualidade. De que adiantam medalhas de ouro em Olimpíadas com um povo inculto e com fome? Álvaro Dias Neto
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Com certeza é preciso investir nos desportos, mas inseridos no currículo educacional onde se identifica, treina e colhe motivação, talentos e resultados. As atuais políticas educacionais no Brasil aplicam apenas o
conhecimento científico, desprezando o artístico, o técnico e o desportivo. Não é a toa que a educação no Brasil não motiva e não oferece suporte em conhecimento para orientar o jovem para o futuro. Não existe preocupação e nem oportunidades para identificar talentos e habilidades em
atividades prazerosas que as artes, os desportos e as técnicas profissionais podem dar ao aluno que está almejando autonomia e escolha
universitária e profissional. As antigas competições primaveris foram
abandonadas e a motivação dos educadores desportivos ficaram reduzidas a
padrões sem qualquer importância na qualidade de ensino, na disciplina e
na individualização dos alunos. Defendo uma educação multidisciplinar
que agrega o apoio subsidiado da iniciativa privada nas áreas técnicas,
das escolas específicas nas áreas artísticas, e dos clubes e associações
desportivas para promover apoio, intercâmbio e competições de âmbito
municipal, e em âmbito estadual e âmbito federal observando índices
olímpicos.
Este blog mostrará as deficiências, o sucateamento, o descaso, a indisciplina, a ausência de autoridade, os baixos salários, o bullying, a insegurança e a violência que contaminam o ensino, a educação, a cultura, o civismo, a cidadania, a formação, a profissionalização e o futuro do jovem brasileiro.
EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR
Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.
domingo, 12 de agosto de 2012
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