JUCA GIL,
PROFESSOR DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UFRGS
Todas as vezes que surgem novos dados relativos a processos de medição da qualidade do ensino, ocorre o mesmo frenesi, numa mistura de espantos, busca de culpados e casos exemplares a serem imitados.
Não há dúvida de que ter acesso a informações pode contribuir para a compreensão do que ocorre com nossa educação, mas é fundamental esclarecer algumas limitações advindas tanto dos dados quanto das suas interpretações.
Instrumentos como Ideb, Enem, Prova Brasil, Pisa e outros são tratados frequentemente como se fossem oráculos através dos quais enxergaríamos “a” realidade. Eles se postam num pedestal (ou são postados?), pretensamente neutro, em que a verdade seria retratada. Essas ferramentas de viés avaliativo são parciais e buscam demonstrar recortes ancorados em determinados valores e concepções do que seja “qualidade”.
O Ideb é a bola da vez, e convido-o a algumas reflexões. O que você diria da qualidade do ensino de uma escola que não consegue ensinar biologia, história e inglês aos seus alunos? E ela também é péssima em física e educação artística... Segundo a medição do Ideb, tudo isso seria indiferente, e a nota da escola até poderia ser alta, pois somente são aferidas informações relativas a português e matemática. Em contraste, o que você pensaria de uma escola com resultados excelentes no ensino de química, geografia e educação física? Nesta escola haveria também ótimos trabalhos em relação à sexualidade, às drogas, e o bullying seria coisa do passado. Você diria que ela é inadequada só porque não está entre os melhores Idebs do Estado? Há “qualidades” ignoradas pelo Ideb.
Outra opção sedimentada de leitura tende a focar o olhar predominantemente sobre as mazelas das escolas públicas, quando os dados indicam também visões alternativas. Por exemplo, as melhores escolas do Brasil são públicas! Sim, a começar pelas federais. Mas não só estas: entre as 10 melhores escolas gaúchas no Ideb dos anos iniciais do Ensino Fundamental figuram apenas instituições estaduais e municipais. A nota média das escolas privadas gaúchas (6,7) está abaixo da pontuação das 10 melhores escolas públicas do Estado (entre 7,3 e 8,2). E, se a nota média privada é 6,7, pode-se afirmar que boa parte delas tem notas abaixo desse patamar, com 6 ou 5 pontos. Para quem acredita na lógica concorrencial, o que dizer do fato de as escolas privadas gaúchas terem desempenho pior do que suas congêneres catarinenses e paranaenses, em todas as séries avaliadas, tanto em português quanto em matemática? Há indícios de que pagar mensalidades escolares não garante aos gaúchos uma boa posição em tempos de vestibulares nacionais.
Três leituras: 1) o Ideb não tem nada de neutro e expressa uma visão limitada de qualidade; 2) a ladainha de que o poder público é ineficiente não é uma verdade inabalável; 3) as escolas privadas não são a maravilha que alguns creem.
Todas as vezes que surgem novos dados relativos a processos de medição da qualidade do ensino, ocorre o mesmo frenesi, numa mistura de espantos, busca de culpados e casos exemplares a serem imitados.
Não há dúvida de que ter acesso a informações pode contribuir para a compreensão do que ocorre com nossa educação, mas é fundamental esclarecer algumas limitações advindas tanto dos dados quanto das suas interpretações.
Instrumentos como Ideb, Enem, Prova Brasil, Pisa e outros são tratados frequentemente como se fossem oráculos através dos quais enxergaríamos “a” realidade. Eles se postam num pedestal (ou são postados?), pretensamente neutro, em que a verdade seria retratada. Essas ferramentas de viés avaliativo são parciais e buscam demonstrar recortes ancorados em determinados valores e concepções do que seja “qualidade”.
O Ideb é a bola da vez, e convido-o a algumas reflexões. O que você diria da qualidade do ensino de uma escola que não consegue ensinar biologia, história e inglês aos seus alunos? E ela também é péssima em física e educação artística... Segundo a medição do Ideb, tudo isso seria indiferente, e a nota da escola até poderia ser alta, pois somente são aferidas informações relativas a português e matemática. Em contraste, o que você pensaria de uma escola com resultados excelentes no ensino de química, geografia e educação física? Nesta escola haveria também ótimos trabalhos em relação à sexualidade, às drogas, e o bullying seria coisa do passado. Você diria que ela é inadequada só porque não está entre os melhores Idebs do Estado? Há “qualidades” ignoradas pelo Ideb.
Outra opção sedimentada de leitura tende a focar o olhar predominantemente sobre as mazelas das escolas públicas, quando os dados indicam também visões alternativas. Por exemplo, as melhores escolas do Brasil são públicas! Sim, a começar pelas federais. Mas não só estas: entre as 10 melhores escolas gaúchas no Ideb dos anos iniciais do Ensino Fundamental figuram apenas instituições estaduais e municipais. A nota média das escolas privadas gaúchas (6,7) está abaixo da pontuação das 10 melhores escolas públicas do Estado (entre 7,3 e 8,2). E, se a nota média privada é 6,7, pode-se afirmar que boa parte delas tem notas abaixo desse patamar, com 6 ou 5 pontos. Para quem acredita na lógica concorrencial, o que dizer do fato de as escolas privadas gaúchas terem desempenho pior do que suas congêneres catarinenses e paranaenses, em todas as séries avaliadas, tanto em português quanto em matemática? Há indícios de que pagar mensalidades escolares não garante aos gaúchos uma boa posição em tempos de vestibulares nacionais.
Três leituras: 1) o Ideb não tem nada de neutro e expressa uma visão limitada de qualidade; 2) a ladainha de que o poder público é ineficiente não é uma verdade inabalável; 3) as escolas privadas não são a maravilha que alguns creem.
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