No Brasil, mais de 300 mil postos de trabalho deixam de ser preenchidos anualmente por falta de capacitação profissional, segundo levantamento feito pelo Sistema Nacional de Emprego. O esporte olímpico brasileiro, que também padece de falta de mão de obra, verá essa situação se agravar com a realização da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Este é um ponto crucial a ser enfrentado em prol do desenvolvimento do esporte para além de 2016.
Há três meses, o Comitê Olímpico Brasileiro mantém 12 postos de trabalho abertos na sua estrutura, quase 10% de seu quadro total, sem que se consigam encontrar pessoas com os perfis adequados a assumir responsabilidades específicas. Há seis meses, uma das 29 Confederações Olímpicas Brasileiras procura preencher, sem sucesso, o seu cargo de diretor-executivo. A distância entre oferta e procura deve piorar muito. Apenas até o final de 2011, o Comitê Rio 2016 deverá contratar cerca de 150 colaboradores, o que dobrará seus quadros atuais. Em 2016, durante a realização dos Jogos, a equipe do Comitê Rio 2016 deverá chegar a 4.000 funcionários contratados - e cerca de 70 mil voluntários.
Nas últimas décadas, a grande mazela do esporte olímpico no Brasil sempre foi a falta de recursos. Após a vitória da candidatura do Rio de Janeiro, em 2 de outubro de 2009, esse quadro vem se modificando em velocidade impressionante. Os valores ainda não são os ideais, se compararmos com as grandes potências mundiais, mas agora os olhos do mundo se viraram para o Brasil, e todas as grandes e médias empresas de marketing esportivo, por exemplo, decidiram fincar bandeira no nosso país.
Por sua vez, os grandes patrocinadores mundiais, dos mais diferentes mercados, estão traçando suas estratégias para atrelar suas marcas ao esporte. Como costumamos dizer, vivemos uma década de oportunidades no esporte, que teve início com os Jogos Pan-Americanos Rio 2007 e vai até o Rio 2016. Ter seu nome associado aos valores do esporte, tais como trabalho em equipe, liderança, qualidade e planejamento com foco no resultado, passou a ser imprescindível para as grandes empresas com interesse em investir no Brasil. Para atender esses clientes, as agências de propaganda e marketing estão criando seus braços esportivos, pois, se não tiverem esse serviço para oferecer, outra terá.
Cidades e estados brasileiros querem ter seus representantes no Time Brasil e, em função disso, aumentaram seus investimentos esportivos. Alguns dos patrocinadores dos Jogos Olímpicos Rio 2016, além de apoiarem os Jogos, querem reforçar sua imagem, seja por meio do investimento direto nos atletas brasileiros, seja por meio do patrocínio das confederações olímpicas ou dos clubes esportivos.
Passamos então a ter outro problema: falta de mão de obra qualificada para satisfazer tamanha demanda, dos agentes públicos e privados. Os clubes, federações e confederações necessitam de executivos com bagagem não só esportiva, mas de planejamento, gerenciamento de projetos, administração de recursos humanos e relacionamento interpessoal.
Cabe lembrar que não estamos falando apenas dos 17 dias dos Jogos Olímpicos, mas da onda criada por uma década do esporte no Brasil, que teve início com os Jogos Pan-Americanos de 2007; foi reforçada em 2009, com a vitoriosa campanha Rio 2016; terá ainda este ano os Jogos Mundiais Militares; posteriormente, em 2013, a Copa das Confederações; e, em 2014, a Copa do Mundo de Futebol. Essa década de ouro será concluída em grande estilo com a realização, em 2015, de todos os pré-eventos dos Jogos e, finalmente, com a realização dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016.
Diversas universidades têm qualificado pessoas para esse mercado em ebulição. Por sua vez, o COB, com toda a experiência acumulada de seus colaboradores e contatos esportivos internacionais, e, principalmente, em função da necessidade urgente em seus próprios quadros, bem como a de confederações, federações, clubes e secretarias de esportes, não poderia deixar de participar desse processo.
Estrategicamente, criamos o Instituto Olímpico Brasileiro (IOB), com o objetivo de qualificar mão de obra para o novo nicho de mercado de administradores esportivos, que visa a atender às necessidades de vários agentes do esporte olímpico brasileiro.
O IOB tem também entre seus objetivos uma melhor preparação para os treinadores das modalidades que ainda não possuem tal área estruturada e o desenvolvimento de processos por meio dos quais o ex-atleta possa fazer uma transição segura das competições ao mercado de trabalho.
Essa mão de obra que se qualificará para estes grandes eventos em território brasileiro com certeza será um dos grandes legados para o futuro do nosso país.
Além disso, desenvolvemos uma força-tarefa COB e Rio 2016 para, por meio de uma série de palestras nos principais MBAs do país, tentar arregimentar talentos para se juntar àquele que já é um dos maiores projetos do Brasil: o de realizar de forma espetacular os Jogos Olímpicos Rio 2016 e posicionar o Brasil entre os 10 maiores medalhistas dos Jogos Olímpicos.
Temos trabalhado com empresas de recrutamento de pessoas, mas sentimos que os talentos ainda não descobriram que este mercado está aberto para eles. Ainda mais do que isso: está precisando deles!
MARCUS VINÍCIUS FREIRE é superintendente-executivo de Esportes do Comitê Olímpico Brasileiro. O GLOBO, 06/05/2011 às 18h37m
Este blog mostrará as deficiências, o sucateamento, o descaso, a indisciplina, a ausência de autoridade, os baixos salários, o bullying, a insegurança e a violência que contaminam o ensino, a educação, a cultura, o civismo, a cidadania, a formação, a profissionalização e o futuro do jovem brasileiro.
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sábado, 7 de maio de 2011
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