EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

terça-feira, 17 de maio de 2011

O CERTO E O ERRADO

A polêmica em torno do livro distribuído pelo Ministério da Educação (MEC) que defende uma suposta supremacia da linguagem oral sobre a escrita, admitindo a troca dos conceitos de “certo e errado” por “adequado ou inadequado”, serve de alerta para os riscos do excesso de tolerância nesta e em outras áreas do aprendizado. Por mais que a autora apresente argumentos para defender como válidas as frases “nós pega o peixe” e “os menino pega o peixe”, a defesa da obra, custeada com dinheiro público, abre caminho também para a aceitação de que “dois mais dois são cinco”, como adverte a escritora Ana Maria Machado, da Academia Brasileira de Letras.

Todos são livres para falar como querem e como podem, mas a escola é o espaço do aprendizado. Esse é um princípio válido não só para uma aula de português, mas para qualquer área do ensino. Mesmo que a educação formal também se defronte com a subjetividade e, em constante atualização, muitas vezes se veja obrigada a relativizar e até revisar conceitos, é tarefa da escola a transmissão do conhecimento. Nesse contexto, o respeito às formas de expressão consagradas pela fala e definidas como manifestações da oralidade popular em nada é conflitante com a obrigação de fazer prevalecer, em sala de aula, o aprendizado de regras básicas da língua.

É exatamente nesse ponto que o Ministério da Educação comete um equívoco, ao acolher, recomendar e distribuir o livro Por uma Vida Melhor, da professora Heloísa Ramos. Não cabe ao reduto escolar, que deve compreender o contexto social em que atua, estimular, como método de ensino, a reprodução dos modos de falar e de escrever que, segundo a própria autora da obra, podem ser considerados inadequados. Os educadores certamente cometerão um retrocesso se recomendarem, em respeito às variedades linguísticas, que seus alunos continuem conjugando verbos e formulando concordâncias em desacordo com o que há de mais elementar na gramática. Não é essa a missão de quem ensina, ou a escola se transformaria apenas num ambiente de aceitação e compreensão de todas as manifestações consideradas populares.

A controvérsia provocada não é nova e repete, com outras abordagens, um falso conflito entre a linguagem oral, em especial de populações de baixa escolaridade, e a chamada linguagem culta. A educação formal de adolescentes, à qual o livro se destina, é desafiada a lidar com sabedoria com esse confronto, bem ao gosto de linguistas e gramáticos, para ensinar aos jovens o que eles necessitam de fato aprender. E o que precisam, em primeiro lugar, numa aula de português, é compreender e poder exercitar normas de ortografia e de gramática. Nada disso significa que a língua não evolua e passe, como ocorreu recentemente, por reformas, atualizações e a incorporação de expressões regionais.

Boas escolas e bons educadores certamente utilizarão a polêmica para aperfeiçoar seus métodos e suas relações com os alunos. O que não pode prosperar, e que de alguma forma está subentendido na exaltação do “inadequado”, é a tentativa de perceber contingentes de estudantes como incapazes de um dia se apropriarem do saber representado pela denominada linguagem culta. Todos, sempre respeitados pelo modo como se expressam, são sujeitos potencialmente capazes e têm o direito de aprender na escola aquilo que a escola tem o dever de ensinar.

EDITORIAL ZERO HORA - 17/05/2011

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