O GLOBO, 16/05/2011 às 21h33m - Gisele Azevedo Rodrigues
Saber que o Ministério da Educação endossa a presunçosa síndrome "Guimarães Rosa", que tomou conta de alguns professores e linguistas, me faz descrente e preocupada. O Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, já acatou as simplificações da escrita na Internet como variação linguística inevitável dos últimos tempos - confesso que me assustei quando lá vi algumas reproduções do que se escreve hoje nas redes sociais equiparadas a estágios, digamos, bem mais nobres do nosso idioma.
Mas ler nos jornais sobre o livro que pretende ensinar o Português a jovens e adultos, até aqui mantidos à margem dos mínimos bens culturais e educacionais, é um golpe quase fatal para quem prega e defende o bom uso da língua porque acredita que, por trás dele, está a conquista da subjetividade, da liberdade e da autonomia.
Em outras palavras, acredito que a construção linguística evolui e se torna mais complexa proporcionalmente ao amadurecimento cognitivo, à aquisição de conhecimento e à capacidade de elaboração do pensamento. Quem lê, quem estuda, quem conhece e adquire referências certamente é quem escreve mais corretamente e se apropria da língua com mais facilidade.
Não é preciso mergulhar fundo na teoria para saber que a construção da identidade do sujeito está intimamente ligada à sua capacidade de se apropriar da linguagem, de ter o que dizer e de se fazer entender. Na contramão, o Estado apunhala o jovem e o adulto que estão em busca disso quando lhes diz que "nós pega" e "os menino" são variações aceitáveis da língua, em nome de uma suposta valorização da diversidade e da "desenvoltura linguística".
Os expoentes do MEC estão dando um passo grande em direção à perpetuação das diferenças históricas que aniquilam qualquer chance de crescimento real no país
Não, definitivamente comer o "s" de um plural não é valorizar regionalismos ou a pluralidade. É desconstruir a língua, é simplificar a lógica, é mediocrizar. Quem já deu pão e circo agora ensina que, se falar é fácil, escrever pode ser mais simples ainda. Não importa como. Uma forma perversa e perigosa de dominação. Autoritarismo e alienação travestidos de tolerância e evolução. É a mesma lógica que faz algumas universidades públicas manterem cotas de vagas para egressos de escolas públicas como forma de compensar mais de dez anos de ensino de baixa qualidade, fruto de baixos salários e pouco investimento.
Os expoentes do MEC estão dando um passo grande em direção à perpetuação das diferenças históricas que aniquilam qualquer chance de crescimento real no país. Lembrando as palavras de Fernando Pessoa, eu acredito que a minha pátria é a minha língua. Ou vice-versa. E é por essas e outras que chamo pelo nome cada professora de Português dos meus três filhos. É nas mãos delas que está a autonomia deles. E por elas tenho enorme gratidão. Viva a Língua Portuguesa!
Este blog mostrará as deficiências, o sucateamento, o descaso, a indisciplina, a ausência de autoridade, os baixos salários, o bullying, a insegurança e a violência que contaminam o ensino, a educação, a cultura, o civismo, a cidadania, a formação, a profissionalização e o futuro do jovem brasileiro.
EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR
Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.
terça-feira, 17 de maio de 2011
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