EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

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sábado, 1 de setembro de 2012

REDES SOCIAIS CUTUCAM PODER DO PROFESSOR NA ESCOLA

ZERO HORA Educação no Brasil 01/09/2012 | 05h04

 Internet ajudou a romper espaço íntimo da sala de aula e, como em Florianópolis (SC), pode abalar a autoridade do educador

No Colégio Farroupilha, na Capital, alguns professores estendem contato com alunos nas redes sociais Foto: Andressa Barros / Kzuka

Bruna Scirea


A estudante Isadora Faber, de Florianópolis (SC), tem 13 anos e o respeito de mais de 195 mil curtidores. Pode não conhecer todos eles, mas “cutucou” cada um com sua coragem de questionar, publicamente, o que a indignava na escola.

Desde 11 de julho, quando criou a comunidade Diário de Classe, no Facebook, Isadora expõe estruturas abaladas do colégio em que estuda. É o reflexo de um novo contexto em que espaços e momentos – antes restritos a um pequeno grupo – tornam-se transparentes e acessíveis a um clique. E quando a exposição comove, mobiliza centenas em poucos instantes.

— Hoje, temos a capacidade de ser protagonistas em narrativas que antes eram circunscritas a meios de difusão analógicos ou de comunicação interpessoal — analisa Daniel Bittencourt, coordenador do curso da Comunicação Digital da Unisinos.

De acordo com o coordenador o prestígio de Isadora pode não se encaixar na esfera de poder do conhecimento, onde se inserem os professores. Ele entende que a notoriedade nas redes sociais se dá pela reputação, pela empatia e pela capacidade de ser protagonista de uma história que sensibiliza outras pessoas.

— Ao mesmo tempo que é fascinante, gera perigo. Uma atitude mais rígida de um professor, mas pedagógica, no entanto, pode ser interpretada e divulgada como autoritarismo. Se todos têm possibilidade de denunciar, temos de educar para que esse recurso seja voltado somente para benefícios — adverte Bittencourt.

Daniel de Queiroz Lopes, doutor em Informática na Educação, vê a pluralidade de vozes como a grande característica desse novo cenário. O problema, segundo ele, é que a escola vive ainda um regime de funcionamento analógico e hierarquizado, enquanto os alunos vivem em outro ritmo: são autores e emitem opinião. Se na escola a autoridade não lhes pertence, na internet equilibram as forças.

Para a doutora em Educação Roséli Cabistani, vídeos, fotos e comentários que exponham não apenas problemas estruturais, mas também relações pessoais no meio digital, não aparecem como fontes de preocupação.

— A sala de aula é um espaço intermediário entre o público e o privado. A forma como as pessoas se dirigem umas às outras e a maneira como o ensino é realizado devem ter como base o respeito e a qualidade — acredita.

Para evitar qualquer exposição ou conflito desnecessário, ela sugere diálogo entre professores e alunos – que pode se dar em sala de aula ou mesmo com o uso de recursos digitais.

"Não tem como ficar de fora"

Doutor em Informática na Educação, Daniel de Queiroz Lopes enxerga as redes sociais como catalisadoras de processos que poderiam demorar para acontecer. Se a infraestrutura escolar esperava há tempos por reforma, bastou Isadora Faber tornar público o problema no Facebook para que, um mês mais tarde, as fotos – que mostravam mesas e vidros quebrados –, fossem substituídas por imagens de resultado. As postagens agora mostram portas novas, rolos de tinta e colegas testando o novo bebedouro.

— Não tem como ficar de fora dessa onda de transparência que estamos vivendo. É preciso que as instituições entendam e saibam se posicionar nesse novo momento — avalia Lopes.

Para o pesquisador, quando a escola vira assunto na internet, surge, antes de qualquer crítica, a oportunidade de lidar com os alunos de forma aberta e na linguagem que dominam. Por isso, aconselha que as instituições não se anulem diante das manifestações no mundo online. Pelo contrário, participem e convidem a comunidade para a discussão dos temas impostos pelos adolescentes neste meio.

— Uma escola democrática lida com a opinião adversa. Esse ponto é fundamental para que se formem cidadãos conscientes e conectados com sua época. Quando a escola encontra o seu espaço de interatividade no novo contexto digital, a relação que estabelece com os alunos melhora muito — acredita.

Aproximação maior com o Facebook

Paula Minozzo

“Espero que todos os meus aluninhos estejam estudando e, portanto, não estejam lendo esta mensagem.”

O recado, publicado por Teresinha Hauser, 58 anos, em seu perfil pessoal no Facebook teve, em poucos minutos, mais de 130 curtidas. A professora do Colégio Farroupilha, na Capital, tem mais de 800 amigos na rede social. O contato dela com os alunos é estendido fora de sala de aula, e o site passa a ser uma ferramenta de comunicação importante entre eles.

— O Facebook me aproxima ainda mais dos alunos e dos ex-alunos — conta Teresinha, que dá aulas de matemática.

O estudante Henrique Zaslavsky, 16 anos, gosta dessa interação. Mais: acha que é uma boa para o relacionamento entre docentes e alunos. Os professores que não têm acesso às redes sociais são incentivados pelos estudantes a se cadastrarem.

— Até uma certa idade, a gente vê o professor como um carrasco. Depois, notamos que ele é um amigo. O Facebook ajuda nisso — opina.

Christian Sperb, 30 anos, começou a carreira de professor há quatro e confessa usar as redes sociais para saber quem está online na véspera das provas. A atitude de Christian não incomoda alunas como Débora Medeiros, 17 anos, que não vê problema em ter os professores como amigos virtuais.

Já o cuidado dos professores nas publicações nas redes sociais, segundo Christian, tem que ser redobrado. Foto sem camisa, por exemplo, nem pensar.

Se em casa a gurizada tem total liberdade para acessar a web, na escola a situação é diferente. O uso do celular e da internet móvel é proibido dentro de sala de aula, mas a professora Teresinha abre raras exceções para que os estudantes possam tirar fotos ou copiar algo referente à disciplina.

Outro docente, Aknaton Ribeiro, 45 anos, também se sente um tanto inseguro com o uso das novas tecnologias.

— Tem de cuidar o que se fala. Se tem algum aluno filmando, fico receoso de onde isso pode parar — conta o professor.

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