EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

ÓDIO GRATUÍTO

CORREIO DO POVO, 21/09/2012


Crédito: JOÃO LUIS XAVIER

JUREMIR MACHADO DA SILVA

A banalização da violência tem facetas nem sempre reveladas ou, ao menos, que escapam de gente como eu. Ouvi um relato estarrecedor. Houve um suicídio de adolescente. A jovem seria vítima permanente de bullying. Há quem torça o nariz para isso. São os que consideram normal alguma implicância entre estudantes. Sempre houve bullying. Sempre foi repugnante. Os críticos do politicamente correto atribuem a essa tendência a própria invenção do fenômeno. Mas se trata simplesmente de uma reação à lei do mais forte. A sociedade começa a acordar. Antes de se matar a jovem teria sido agredida fisicamente. Teriam quebrado uma garrafa e passado cacos e restos do conteúdo no seu rosto. Aí ela não suportou.

Entre o momento do pior e a agressão teriam passado poucos minutos, com uma ida ao banheiro e um mergulho no vazio. A adolescência é uma das fases mais complicadas da existência, podendo ser marcada por muitas dúvidas, angústias e dificuldades de afirmação. Num espaço competitivo, isso se agrava e pode resultar em tragédia. Como sobreviver num ambiente de violência física e simbólica? Como se defender num campo de luta sem trégua? Como se fazer respeitar quando não se faz parte do grupo dominante? Como suportar a humilhação quando os adultos minimizam os dados desse enfrentamento cruel e absoluto?

O bullying é cumulativo. Vai minando a resistência de alguém. Destrói passo a passo a autoestima de uma criança ou adolescente. Afeta a sua resistência. Leva o indivíduo ao isolamento, ao recuo, ao inferno. Dá materialidade a uma famosa frase do filósofo Jean-Paul Sartre: "O inferno são os outros". Sartre disse isso aí certamente pensando no fato de que temos dificuldade para aceitar a diferença e sempre culpamos o outro pela nossa intolerância. Os outros, contudo, podem, de fato, infernizar a vida dos menos afeitos ao cotidiano como um esporte de combate. Em algumas escolas, adolescentes mais fortes determinam até que roupas podem ser usadas pelas colegas. Conta-se que, volta e meia, uma menina ouve:

- Não quero te ver mais com esta blusa por aqui.

O mais impressionante vem agora, em relação ao triste caso do suicídio. Depois do salto, ainda respirando, a jovem ficou estendida no chão à espera de socorro. Quando a ambulância chegou, os atendentes abriram a blusa da menina para fazer uma traqueostomia. Foi nesse momento, nesse instante dramático e decisivo, que alunos teriam gritado algo impensável, inimaginável, absurdo, hediondo:

- Olha os peitinhos dela!

Situações como essa geram muitos boatos e provocam medo. As fontes querem ser preservadas. O silêncio se impõe. Tudo vaza por sussurros. As vozes praticamente se apagam quando algum sinal de transparência se acentua. Esse universo opaco, contudo, é o das escolas, não de todas as escolas, de algumas delas. Quantas? Onde? Estarão os adultos suficientemente atentos ao drama dos que sofrem bullying? Será que continuamos a levar meio que na brincadeira algo muito sério? Nos Estados Unidos, o bullying produz assassinatos em série. Será que no Brasil o suicídio, tabu na mídia, é a forma de defesa?

Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br

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