CORREIO DO POVO, 21/09/2012
Crédito: JOÃO LUIS XAVIER
JUREMIR MACHADO DA SILVA
A banalização da violência tem facetas nem sempre reveladas ou, ao
menos, que escapam de gente como eu. Ouvi um relato estarrecedor. Houve
um suicídio de adolescente. A jovem seria vítima permanente de bullying.
Há quem torça o nariz para isso. São os que consideram normal alguma
implicância entre estudantes. Sempre houve bullying. Sempre foi
repugnante. Os críticos do politicamente correto atribuem a essa
tendência a própria invenção do fenômeno. Mas se trata simplesmente de
uma reação à lei do mais forte. A sociedade começa a acordar. Antes de
se matar a jovem teria sido agredida fisicamente. Teriam quebrado uma
garrafa e passado cacos e restos do conteúdo no seu rosto. Aí ela não
suportou.
Entre o momento do pior e a agressão teriam passado
poucos minutos, com uma ida ao banheiro e um mergulho no vazio. A
adolescência é uma das fases mais complicadas da existência, podendo ser
marcada por muitas dúvidas, angústias e dificuldades de afirmação. Num
espaço competitivo, isso se agrava e pode resultar em tragédia. Como
sobreviver num ambiente de violência física e simbólica? Como se
defender num campo de luta sem trégua? Como se fazer respeitar quando
não se faz parte do grupo dominante? Como suportar a humilhação quando
os adultos minimizam os dados desse enfrentamento cruel e absoluto?
O
bullying é cumulativo. Vai minando a resistência de alguém. Destrói
passo a passo a autoestima de uma criança ou adolescente. Afeta a sua
resistência. Leva o indivíduo ao isolamento, ao recuo, ao inferno. Dá
materialidade a uma famosa frase do filósofo Jean-Paul Sartre: "O
inferno são os outros". Sartre disse isso aí certamente pensando no fato
de que temos dificuldade para aceitar a diferença e sempre culpamos o
outro pela nossa intolerância. Os outros, contudo, podem, de fato,
infernizar a vida dos menos afeitos ao cotidiano como um esporte de
combate. Em algumas escolas, adolescentes mais fortes determinam até que
roupas podem ser usadas pelas colegas. Conta-se que, volta e meia, uma
menina ouve:
- Não quero te ver mais com esta blusa por aqui.
O
mais impressionante vem agora, em relação ao triste caso do suicídio.
Depois do salto, ainda respirando, a jovem ficou estendida no chão à
espera de socorro. Quando a ambulância chegou, os atendentes abriram a
blusa da menina para fazer uma traqueostomia. Foi nesse momento, nesse
instante dramático e decisivo, que alunos teriam gritado algo
impensável, inimaginável, absurdo, hediondo:
- Olha os peitinhos dela!
Situações
como essa geram muitos boatos e provocam medo. As fontes querem ser
preservadas. O silêncio se impõe. Tudo vaza por sussurros. As vozes
praticamente se apagam quando algum sinal de transparência se acentua.
Esse universo opaco, contudo, é o das escolas, não de todas as escolas,
de algumas delas. Quantas? Onde? Estarão os adultos suficientemente
atentos ao drama dos que sofrem bullying? Será que continuamos a levar
meio que na brincadeira algo muito sério? Nos Estados Unidos, o bullying
produz assassinatos em série. Será que no Brasil o suicídio, tabu na
mídia, é a forma de defesa?
Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br
Este blog mostrará as deficiências, o sucateamento, o descaso, a indisciplina, a ausência de autoridade, os baixos salários, o bullying, a insegurança e a violência que contaminam o ensino, a educação, a cultura, o civismo, a cidadania, a formação, a profissionalização e o futuro do jovem brasileiro.
EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR
Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
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