EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

O ENSINO MÉDIO ENCOLHEU


ZERO HORA 25 de setembro de 2012 | N° 17203

EVASÃO ESCOLAR. Especialistas afirmam que alunos desistem de estudar por causa do modelo desta etapa no Brasil, que estaria ultrapassada

ITAMAR MELO

A crise no Ensino Médio brasileiro ganhou novos contornos na sexta-feira, com a publicação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). No mês passado, os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) escancararam a falta de qualidade na modalidade de ensino. Agora, a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que também há retrocesso na quantidade.

De 2009 a 2011, revela a Pnad, caiu a proporção de jovens na faixa etária correspondente ao Ensino Médio que frequentam a escola. Há três anos, 85,2% dos brasileiros entre 15 e 17 anos eram estudantes. No ano passado, o índice recuou para 83,7%. Houve redução até mesmo em números absolutos, apesar do aumento populacional.

Os dados sugerem uma perigosa reversão de tendência, depois de um período prolongado de expansão do secundário. Em 1992, apenas 59,7% dos brasileiros de 15 a 17 anos eram estudantes. Em menos de duas décadas, o índice avolumou-se em 25%. Os percentuais aumentaram ano a ano, ou pelo menos permaneceram estáveis, até o declínio registrado do ano passado.

No Rio Grande do Sul, a fuga da escola de adolescentes de 15 a 17 anos foi ligeiramente mais acentuada do que no resto do país. De 2009 a 2011, a proporção de estudantes entre esses jovens caiu de 85,3% para 83,5%. Há poucas dúvidas entre os especialistas de que esse grupo etário vem abandonando o sistema de ensino porque o modelo brasileiro de escola secundária se esgotou.

– Há indicadores claros de que o Ensino Médio não é atrativo, em dois sentidos: na maneira como é ministrado pela escola e como forma de conseguir lugar no mercado de trabalho. O ensino é burocratizado, não entusiasma e não oferece perspectivas para a vida prática – afirma Fernando Becker, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Ideia é realizar mudanças no currículo e na organização das disciplinas

No mês passado, depois da divulgação dos resultados do Ideb, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, defendeu a necessidade de reformular o secundário, mexendo no currículo e na organização das disciplinas. Na semana passada, depois da divulgação do números da Pnad, Mercadante reforçou essa necessidade:

– O Ensino Médio é uma estrutura enciclopédica que precisa ser reavaliada. Vamos promover o Ensino Médio inovador, com a integração das disciplinas que compõem o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), português, matemática, ciências humanas e ciências da natureza. Temos de tornar a escola mais atraente nesta etapa e diminuir a repetência.

O secretário estadual da Educação, Jose Clovis Azevedo, não ficou surpreso com os números da Pnad:

– Em 2010, havia 76.344 jovens de 15 a 17 anos fora da escola no Rio Grande do Sul. Eles não viam perspectivas no Ensino Médio, principalmente os de classes mais vulneráveis. Mudar a situação não é fácil, mas, com a reforma, esperamos ter indicadores melhores dentro de três ou quatro anos.


O autor da receita - ÂNGELA RAVAZZOLO, Editora de Educação

O Ensino Médio tem sido tratado como o “patinho feio” da educação brasileira. Avaliações nacionais como o Ideb e os números divulgados pelo IBGE na última sexta-feira reforçam o problema ao apontar queda no desempenho e uma diminuição do número de jovens entre 15 e 17 anos frequentando a escola.

As estratégias para melhorar esse cenário já são conhecidas: integração entre disciplinas, aulas mais atrativas e inovadoras, de acordo com o perfil do adolescente contemporâneo, uso desafiador das novas tecnologias, conexão com a realidade social e com o mercado de trabalho. As receitas existem, e os ingredientes, também. Falta terminar o banquete a tempo, sem perder tempo com burocracias e infinitos debates.

É preciso agora saltar das teorias para a prática. E este salto de qualidade só vai acontecer quando ocorrer, de fato, um investimento concreto e forte na formação, qualificação e remuneração dos professores. Afinal, são eles que encaram, dia após dia, a tarefa complexa de conquistar o coração e a mente de milhões de jovens que, em alguns anos, continuarão tocando o Brasil. De preferência, para a frente.



Professores e alunos estão em processo de adaptação

O professor Jorge Fontinel é um dos responsáveis pelos chamados Seminários Integrados em uma turma de 36 alunos do Colégio Júlio de Castilhos. Ele afirma que a adoção das inovações é gradual:

– Os alunos e os professores estão em processo de adaptação. Ainda há dificuldades, como a participação dos professores das outras áreas.

Nos seminários, os alunos apresentam projetos a partir de suas experiências e interesses. A partir daí, recebem orientação específica dos professores sobre as áreas do conhecimento que precisam ser percorridas para o desenvolvimento do projeto.

A estudante Caroline Vargas Corrêa, 15 anos, elogia a nova proposta de ensino:

– É muito interessante, porque, mesmo sendo mais cansativo, os assuntos são mais aprofundados, e há mais dinâmica na aula.

Escola estadual se adapta à reforma

A necessidade da reforma do Ensino Médio escancarada pelo Inep e pela Pnad já está em andamento no Estado. Antecipando-se ao que vem sendo defendido pelo ministro da Educação, o Rio Grande do Sul reformulou a modalidade nas turmas de 1º ano em todas as 1.053 escolas secundárias estaduais. As inovações serão estendidas ao 2º ano no próximo período letivo e ao 3º em 2014.

– Começamos a discutir a reforma no ano passado. Há uma grande sintonia com o discurso do ministro, que já manifestou o desejo de conhecer a nossa experiência – afirma o secretário estadual da Educação.

O novo currículo, segundo o ministro, deverá ser organizado com base nas quatro áreas de conhecimento cobradas no Enem. Esse discurso casa com o que foi implantado no Rio Grande do Sul a partir da constatação de que o Ensino Médio gaúcho apresentava problemas graves. No Estado, as disciplinas foram reunidas nas quatro grandes áreas, e os professores passaram a trabalhar em conjunto.

O objetivo da mudança é mostrar as relações entre as diferentes áreas e aproximar a escola da realidade. Os alunos também fazem seminários nos quais podem desenvolver projetos de seu interesse. Nas escolas, o período é de ajustamento à nova fase. No Colégio Júlio de Castilhos, da Capital, a diretora Leda Gloeden revela que ainda não foi possível conseguir a adesão de todos os professores, por haver muitas turmas de primeiro ano:

– É o primeiro ano da experiência, é preciso mudar a cultura. Mas os professores estão se engajando, e os alunos passaram a ser protagonistas do processo. Agora, eles têm de se manifestar, de trabalhar em grupos.

Para Seu Filho Ler
Ensino de qualidade é importante para todo mundo
- A pessoa responsável por cuidar das escolas no Brasil é o ministro da Educação. O nome dele é Aloizio Mercadante. Dias atrás, ele veio a Porto Alegre e deu um recado para as crianças:
– Quem estuda vai escolher o que vai fazer na vida. Quem não estuda pode ser escolhido ou não.
- Quando disse isso, o ministro estava tentando mostrar como a escola é importante para cada criança. Quem aproveita os estudos tem chance de ir longe. Quando vira adulto, entende melhor o mundo e pode trabalhar em alguma coisa que gosta.
- A escola também é importante para todo o país. Quando a educação é boa e todas as pessoas têm acesso a ela, existe muito mais conhecimento. E uma sociedade onde as pessoas sabem mais se desenvolve e enriquece melhor.
- O problema é que, no Brasil, cada vez mais adolescentes que deveriam estar no Ensino Médio abandonaram a escola. Por isso, existe hoje a preocupação de melhorar esta etapa da educação.









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