EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

sábado, 10 de março de 2012

CLASSE DE INIMIGOS


JUREMIR MACHADO DA SILVA, CORREIO DO POVO, 10/03/2012

Luciano Alabarse é hoje o mais conceituado e ativo diretor de teatro do Rio Grande do Sul. Manda muito bem na montagem de peças clássicas. De quebra, comanda o Porto Alegre em Cena. É dessas pessoas que cobram o escanteio, correm e fazem o gol de cabeça. A necessidade de ser administrador, agitador cultural e outras coisinhas mais não lhe tira jamais o apetite de artista. Fomos ver no Theatro São Pedro a sua mais recente travessura (em cartaz até este domingo), "Inimigos de Classe", adaptação de um texto do inglês Nigel Williams, não confundir com o velho Nigel Mansell na Williams. Essa peça prega uma peça nos espectadores. Como diz o próprio Luciano, avisando os incautos já na entrada, é punk. Soco no estômago. Chute no baixo ventre. Porrada na cara.

Aborda simplesmente o sistema educacional, esse universo turvo de certas escolas e salas de aula em crise permanente, que só chamam atenção da sociedade quando acontecem vários assassinatos. Tem algo nessa peça do absurdo da famosa "Esperando Godot". Os alunos esperam um professor. Enquanto esperam, revezam-se no papel de pedagogos improvisados. Espera vã. É palavrão para todo lado, mágoas, ressentimento, rancor e um show de agressividade. Qualquer tentativa de falar de sentimentos esbarra na zombaria. Esses inimigos de classe na classe mostram as mazelas de uma educação desclassificada. O diretor da escola, quando dá o ar da graça, transfere toda a responsabilidade para os alunos, esses vagabundos e marginais com os quais se torna impossível trabalhar.

O bullying predomina. É interessante ver como esse fenômeno permanece mesmo depois que as pessoas se tornam adultas e, com seus diplomas universitários, exercem profissões das mais conceituadas e fashions. Há, mesmo nas "classes" mais aquinhoadas e afetadas, um prazer perverso no insulto, na humilhação e na baixaria. O futebol tem servido à canalização dessa chinelagem, que se compraz na linguagem chula e na agressão sem motivo aparente, salvo o apelo ao grotesco. Na montagem de Luciano Alabarse, com seu toque autoral qualificado, eu teria feito uma única modificação. Colocaria "Ai Se Eu Te Pego", do incontornável Michel Teló, como fundo para algumas situações. Luciano montou essa peça em 1988 no Teatro de Câmara. Passados mais de 20 anos, o caos em certa parte do sistema educacional parece ter-se agravado. Não é só a autoridade do professor que se perdeu, mas também a respeitabilidade. Os alunos questionam: para que isso?

Aquilo que é ensinado precisa fazer sentido. Houve tempo em que o aluno tinha a obrigação de decorar conteúdos sem saber para que lhe serviriam. A memória era mais valorizada do que a inteligência. O castigo era o destino dos que não tivessem boa memória. Se um aluno rodava em uma disciplina, perdia o ano todo. Era a escola que deveria ser reprovada em competência organizacional. "Inimigos de Classe" é uma aula sobre o atoleiro do sistema educacional. Família, professores, autoridades e alunos dividem esse fracasso que gera uma ilusão: a de que no passado tudo era melhor, um paraíso pedagógico.

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