EDITORIAIS
Os jovens que obrigaram os calouros de Engenharia Civil da UFRGS a segurar uma cabeça de porco, lançando sobre eles um líquido com vísceras de peixe e ovos podres, deram um trote no futuro. Uma atitude dessas só desmerece quem a protagoniza. Como confiar em estudantes que apresentam tal grau de irresponsabilidade e mau gosto? A reação da direção da faculdade, que decidiu investigar o ocorrido, é um sinal de que pretensas brincadeiras como a praticada pelos veteranos não podem ser assimiladas com naturalidade por quem tem a atribuição de zelar pela postura de estudantes, professores e funcionários.
Por mais que se argumente em favor da liberdade de expressão, não há como aceitar sem questionamentos esses e outros fatos semelhantes. Também é frágil a desculpa de que todos os envolvidos consentiram o trote, quando se sabe que, nessas circunstâncias, os alunos mais antigos submetem os calouros às suas vontades. Invenções como a dos veteranos da Engenharia não têm a mesma gravidade de trotes que se repetem em universidades de todo o país, com clara conotação discriminatória. Recentemente, alunos da Universidade Federal de Minas Gerais recepcionaram os novos estudantes, em Belo Horizonte, com a simulação de gestos racistas e até mesmo nazistas. O único ponto em comum, lá e aqui, é o desrespeito camuflado como brincadeira.
Universitários de instituições públicas conquistaram o direito de fazer parte de uma elite e de construir carreiras custeadas por todos os cidadãos. Devem ser exemplo de conduta, para colegas que estão ingressando no Ensino Superior e para a comunidade em que vivem. Veteranos sem imaginação poderiam inspirar-se, por exemplo, na solidariedade de estudantes da mesma UFRGS, que promovem o trote solidário, com doação de sangue e arrecadação de alimentos para a população carente. Se ainda resistem a normas civilizadas de convívio, jovens universitários deveriam, pelo menos, tentar ser criativos. Brincadeiras com animais mortos são um recurso primitivo, questionado inclusive em escolas que preparam policiais militares.
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