ZERO HORA 07 de março de 2013 | N° 17364
EDITORIAIS
Governos, pedagogos, pais e todos os que se interessam pela qualidade dos ensinos Fundamental e Médio dispõem de mais um painel sombrio sobre a realidade do aprendizado de crianças e adolescentes. É o relatório De Olho nas Metas, divulgado pelo movimento Todos pela Educação, que enfatiza dados inquietantes relativos a 2012. Na conclusão do Ensino Médio, menos de um terço dos estudantes (29,2%) conhece a língua portuguesa de forma adequada ao período de estudo e, na mesma situação, apenas 10,3% dominam matemática. A defasagem demonstra claramente que estamos ensinando mal e condenando os estudantes ao fim da fila nos rankings mundiais de educação.
Há, nas tentativas de explicação do atraso, um conjunto de fatores, todos conhecidos, mas historicamente negligenciados. A situação do país apenas se agrava com a incapacidade da educação formal de acompanhar as mudanças no comportamento dos jovens, em decorrência da evolução da tecnologia do conhecimento e dos acessos à informação. É assustadora a constatação de que o ensino não consegue cumprir as metas mais elementares em relação ao atendimento escolar à população de quatro a 17 anos, à alfabetização na idade correta, ao desempenho dos alunos nos ensinos Fundamental e Médio, à conclusão dos estudos e ao financiamento da educação. No Ensino Médio, a performance dos alunos se distancia cada vez mais das metas definidas, especialmente no aprendizado da matemática, no qual o objetivo era chegar a um contingente de 19,6% de alunos com conhecimento considerado adequado.
É improvável que um país possa de fato se preparar para os desafios do século 21 se, de cada 10 estudantes, apenas um consegue entender o que o professor transmitiu em sala de aula, quando a matéria em estudo é a matemática. Pior ainda quando se sabe que também o português vem sendo assimilado de forma precária. Jovens que não sabem, na idade esperada, fazer cálculos básicos ou ler e escrever um texto com palavras do cotidiano certamente serão adultos frustrados. O estudo do Todos pela Educação procura medir o desempenho em língua portuguesa e matemática no 5º e no 9º ano do Ensino Fundamental e no 3º ano do Ensino Médio. Se a avaliação abrangesse todas as séries, as conclusões não seriam diferentes.
Retratos como o agora divulgado têm a função de alertar, pelos indicadores das redes pública e privada, sobre a situação do ensino, para que os responsáveis pelas políticas educacionais encontrem as saídas. Há consenso, entre educadores e autoridades, de que o Brasil já perdeu muito tempo com diagnósticos. É preciso reconhecer que, na área federal, foram adotadas ações no sentido de reverter a tendência de agravamento do cenário escolar, como revela o relatório. Mas todos concordam que ainda é pouco e que Estados e municípios também podem fazer mais, para que a escola seja mais efetiva e mais atraente. A apropriação do conhecimento não é uma formalidade. Um país retardatário no Ensino Fundamental sonega aos jovens o acesso ao bem mais valioso para o pleno exercício da cidadania.
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