ZERO HORA 12 de março de 2013 | N° 17369
NA SAÍDA DA ESCOLA
Ao mirar casal de namorados e arremessar ovo no lado de fora de tradicional colégio da Capital, aluno feriu garota com gravidade
Um dos belos olhos azuis de Isabela Hartmann Rost, 14 anos, foi tomado pela escuridão às 12h5min da última quinta-feira, quando ela atravessava a Avenida Nilo Peçanha, em Porto Alegre. Ao lado do namorado, a aluna do 1º ano do Ensino Médio saía da aula no Anchieta, um dos mais tradicionais colégios da Capital, para tomar a carona no carro do pai, quando foi atingida em cheio no olho direito por um ovo.
Oobjeto se despedaçou, e a estudante entrou em pânico no meio do canteiro central da avenida.
– Estou cega – gritou para o pai.
Levada imediatamente ao Banco de Olhos, foi examinada, tratada e recebeu um alerta. Não se tratava de uma ferida momentânea. Há o risco de o ferimento avançar para catarata ou glaucoma. O medo de ter a visão comprometida no olho virou o centro das preocupações de Isabela. Sua vida passou a ser regida pelos horários de aplicação de seis colírios, por idas diárias ao oftalmologista e acompanhamento rígido da pressão ocular.
– Os médicos nos disseram que seria preocupante que a pressão subisse para mais de 40. Se isso for constatado, ela tem de ir para a cirurgia – disse a mãe de Isabela, a funcionária pública federal Cláudia Hartmann, 45 anos.
O ataque foi fruto de uma brincadeira que ocorre há anos no colégio, dizem familiares de alunos, como a psicóloga Rosa Helena Schuch Santos, 55 anos. Ela afirmou que os trotes vêm crescendo no Anchieta:
– Temos de comprometer mais a sociedade, os familiares. E também cobrar uma atitude do colégio.
O ataque caiu no Facebook e mobilizou a comunidade escolar. Quase 400 compartilhamentos foram gerados na página da mãe de Isabela. A rede social reuniu comentários chocantes sobre o trote, protagonizados pelo suposto autor do arremesso do ovo e de apoiadores. “Fui eu que acertei a mina”, escreveu o adolescente, que seria aluno do 3º ano. “Hahahahaha, a cena mais linda”, completou uma amiga.
ANDRÉ MAGS
Sindicato de colégios diz que o episódio é isolado
O ataque na saída de colégio da Capital não é tratado como bullying, já que a adolescente atingida aparentemente não sofria perseguições do suposto agressor. No entanto, chama a atenção a ocorrência de trotes no Colégio Anchieta, enquanto o Sindicato dos Estabelecimentos do Ensino Privado no Estado do Rio Grande do Sul (Sinepe-RS) considerava essa prática erradicada dos colégios particulares há cerca de 10 anos. O presidente da entidade, Osvino Toillier, se diz surpreso com o episódio.
– É um fato absolutamente isolado. As escolas têm convertido tanto o início como o fim do ano em celebrações entre os alunos, com estratégias de trabalhar a recepção e a despedida (dos alunos) – afirmou.
Os trotes seriam promovidos por alunos do 3º ano do Anchieta, especialmente voltados contra estudantes do 2º ano. A diretoria do Anchieta se manifestou por meio de nota, garantindo que irá apurar os fatos.
A professora da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) Denise Miguel, pesquisadora sobre violência escolar e juventude, lembrou de uma lei catarinense que proíbe a realização de trotes como o que feriu a adolescente no Anchieta. Ela ressalta que o colégio deveria apoiar os trotes cidadãos – aqueles em que os novatos são instados a doar sangue ou levar doações de alimentos e roupas. Também sugere muito diálogo com os alunos e pais.
– O rapaz tem que ser responsabilizado, isso é certo. E a escola tem de fazer um processo de reflexão. O fato se deu fora da escola, mas mesmo assim cabe à instituição cuidar, já que são relações estabelecidas dentro dela. Quanto aos pais, é preciso discutir a questão dos limites, qual o sentido da liberdade e até onde ela vai.
Contraponto - O que diz a direção geral do Colégio Anchieta, por meio de comunicado:
NA SAÍDA DA ESCOLA
Ao mirar casal de namorados e arremessar ovo no lado de fora de tradicional colégio da Capital, aluno feriu garota com gravidade
Um dos belos olhos azuis de Isabela Hartmann Rost, 14 anos, foi tomado pela escuridão às 12h5min da última quinta-feira, quando ela atravessava a Avenida Nilo Peçanha, em Porto Alegre. Ao lado do namorado, a aluna do 1º ano do Ensino Médio saía da aula no Anchieta, um dos mais tradicionais colégios da Capital, para tomar a carona no carro do pai, quando foi atingida em cheio no olho direito por um ovo.
Oobjeto se despedaçou, e a estudante entrou em pânico no meio do canteiro central da avenida.
– Estou cega – gritou para o pai.
Levada imediatamente ao Banco de Olhos, foi examinada, tratada e recebeu um alerta. Não se tratava de uma ferida momentânea. Há o risco de o ferimento avançar para catarata ou glaucoma. O medo de ter a visão comprometida no olho virou o centro das preocupações de Isabela. Sua vida passou a ser regida pelos horários de aplicação de seis colírios, por idas diárias ao oftalmologista e acompanhamento rígido da pressão ocular.
– Os médicos nos disseram que seria preocupante que a pressão subisse para mais de 40. Se isso for constatado, ela tem de ir para a cirurgia – disse a mãe de Isabela, a funcionária pública federal Cláudia Hartmann, 45 anos.
O ataque foi fruto de uma brincadeira que ocorre há anos no colégio, dizem familiares de alunos, como a psicóloga Rosa Helena Schuch Santos, 55 anos. Ela afirmou que os trotes vêm crescendo no Anchieta:
– Temos de comprometer mais a sociedade, os familiares. E também cobrar uma atitude do colégio.
O ataque caiu no Facebook e mobilizou a comunidade escolar. Quase 400 compartilhamentos foram gerados na página da mãe de Isabela. A rede social reuniu comentários chocantes sobre o trote, protagonizados pelo suposto autor do arremesso do ovo e de apoiadores. “Fui eu que acertei a mina”, escreveu o adolescente, que seria aluno do 3º ano. “Hahahahaha, a cena mais linda”, completou uma amiga.
ANDRÉ MAGS
Sindicato de colégios diz que o episódio é isolado
O ataque na saída de colégio da Capital não é tratado como bullying, já que a adolescente atingida aparentemente não sofria perseguições do suposto agressor. No entanto, chama a atenção a ocorrência de trotes no Colégio Anchieta, enquanto o Sindicato dos Estabelecimentos do Ensino Privado no Estado do Rio Grande do Sul (Sinepe-RS) considerava essa prática erradicada dos colégios particulares há cerca de 10 anos. O presidente da entidade, Osvino Toillier, se diz surpreso com o episódio.
– É um fato absolutamente isolado. As escolas têm convertido tanto o início como o fim do ano em celebrações entre os alunos, com estratégias de trabalhar a recepção e a despedida (dos alunos) – afirmou.
Os trotes seriam promovidos por alunos do 3º ano do Anchieta, especialmente voltados contra estudantes do 2º ano. A diretoria do Anchieta se manifestou por meio de nota, garantindo que irá apurar os fatos.
A professora da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) Denise Miguel, pesquisadora sobre violência escolar e juventude, lembrou de uma lei catarinense que proíbe a realização de trotes como o que feriu a adolescente no Anchieta. Ela ressalta que o colégio deveria apoiar os trotes cidadãos – aqueles em que os novatos são instados a doar sangue ou levar doações de alimentos e roupas. Também sugere muito diálogo com os alunos e pais.
– O rapaz tem que ser responsabilizado, isso é certo. E a escola tem de fazer um processo de reflexão. O fato se deu fora da escola, mas mesmo assim cabe à instituição cuidar, já que são relações estabelecidas dentro dela. Quanto aos pais, é preciso discutir a questão dos limites, qual o sentido da liberdade e até onde ela vai.
Contraponto - O que diz a direção geral do Colégio Anchieta, por meio de comunicado:
“Diante do episódio ocorrido entre um aluno e uma aluna, o Colégio Anchieta está tomando as providências preconizadas pelo Regimento Interno. O fato, sem dúvida, é profundamente lamentável e tal comportamento não pode ser aceito. Infelizmente, o controle absoluto, por vezes, é impossível, sobretudo, ocorrendo em via pública. O Anchieta está ouvindo as partes interessadas. Agredir um colega sempre é um desrespeito aos princípios da convivência humana em qualquer lugar.”
ENTREVISTA - “Eu não aguento a claridade forte”
Isabela Hartmann Rost Aluna de 14 anos vítima de ataque
Na casa da família no bairro Sarandi, na zona norte da Capital, a estudante relatou na tarde de ontem, na companhia dos pais, o ataque que sofreu na quinta-feira. A família registrou o caso na Polícia Civil:
Zero Hora – Como foi o ataque?
Isabela Hartmann Rost – Eu não vi quem atirou o ovo. Soube que era um ovo quando os pedaços caíram dentro da minha blusa. Aí, imaginei que seria alguém do 3º ano. Meu namorado me puxou e aí percebi que estava sem ver. Me apavorei, podia até ter sido atropelada. Pensei que tinha ficado cega.
ZH – Como está sua visão no olho direito? O ferimento ainda está causando muitos incômodos?
Isabela – Parece que botaram um papel vegetal na frente do olho. E não aguento claridade forte. Também não posso dormir deitada.
ZH – E o teu prejuízo com tudo isso?
Isabela – Estou perdendo o início de todas as matérias. Tenho atestado por 10 dias e não posso fazer Educação Física por um mês. Fiquei muito chateada.
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