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segunda-feira, 25 de março de 2013

ENEM: SUCESSÃO DE ERROS

ZERO HORA 24 de março de 2013 | N° 17381

“Aquilo era uma palhaçada”. Professoras revelam como foi a reunião de novembro de 2012 que iniciou a polêmica sobre a correção das redações do Enem

LETÍCIA DUARTE

Quatro meses antes da polêmica sobre a avaliação das redações do Enem eclodir em todo o país, as regras já provocavam divergências no Rio Grande do Sul. Realizada no dia 11 de novembro, no auditório da Farsul, a reunião que orientou a forma de correção no Estado foi marcada por debates acalorados.

Com o compromisso de terem suas identidades preservadas, três participantes contaram a ZH os bastidores do encontro, que se estendeu das 8h30min às 17h daquele domingo.

Reunidos no auditório lotado (a capacidade é para 150 pessoas), os presentes assistiram à apresentação em powerpoint conduzida por Vânia Brito e outras cinco supervisoras previamente capacitadas pelo Centro de Seleção e de Promoção de Eventos, da Universidade de Brasília (Cespe/UnB), que aplicou a prova do Enem com a Fundação Cesgranrio.

Cada coordenadora chefiava grupos de aproximadamente 20 corretores e havia passado por um treinamento no dia 18 de outubro, em Brasília.

Orientação para tolerar erros e considerar esforço do aluno

O objetivo da reunião do dia 11 era repassar as orientação de Brasília. Era o primeiro encontro de todos os corretores no Estado, após dois meses de treinamento online conduzido pelo Cespe. Ninguém do Ministério da Educação (MEC) participou. Segundo as três participantes ouvidas por ZH, as instruções foram para tolerar erros e considerar o contexto e o esforço do aluno.

– Diziam para ficarmos no meio-termo. Se tivesse bom conteúdo, era para relevar erros de português – contou uma avaliadora.

As instruções suscitaram questionamentos. Um surgiu quando, apesar de o Enem exigir um texto argumentativo-dissertativo, os corretores teriam sido orientados a considerar poemas, se percebessem uma “argumentação subjacente”. Também contrariando o manual do concurso, que prevê um mínimo de 15 linhas para a redação ser válida, deveriam ser corrigidos textos a partir de sete linhas.

– Quando questionamos, as coordenadoras disseram que pensavam da mesma forma, mas foram orientadas em Brasília. Algumas disseram: “Estamos surpresas e indignadas como vocês, mas a ordem é esta”. Falei que aquilo era uma palhaçada e saí antes – contou uma participante.

Confira o depoimento de três professoras sobre a reunião:

Eles diziam para não ser tão exigente, mas vai do avaliador. Eu cheguei a zerar prova e não tive bloqueio no sistema. Tem problemas, sim, mas tudo depende da pessoa que corrige. Alguns erros são inaceitáveis. Nas correções, eu vi textos em que a pessoa nunca poderia ter terminado o Ensino Médio, sem estrutura de parágrafo, sem conseguir desenvolver uma ideia, problemas de escrita gravíssimos, praticamente analfabetos. Aí a gente tinha que dar nota mínima. Zerava só se fugia do tema ou estava em branco.” - PROFESSORA HÁ 30 ANOS, CORRIGIU 3 MIL REDAÇÕES

“Houve muita revolta na reunião, mas muitas pessoas são contrárias à nossa atitude de falar, acham que não tem que mexer com isso, porque precisam do trabalho. Muitas têm receio de aparecer. O encontro era dirigido pelas coordenadores de cada grupo, mas nada é muito claro. Pelo que a gente sabe, elas não têm vínculo direto com o MEC, são pessoas que entram por indicação e depois vão chamando outras pessoas. Elas ganham salários para montar o grupo, e em cada grupo tem umas 20 pessoas.” PROFESSORA HÁ 12 ANOS, CORRIGIU 3 MIL REDAÇÕES

“Eu fiquei chocada com a desorganização, é uma bagunça. Não quero mais participar porque não é sério. Os critérios são muito subjetivos. Eles diziam para dar nota pensando em qual foi a intenção do aluno, pensando que ele queria fazer tudo certo, não no que ele tinha feito. Eu não quero mais ser chamada, mas há muitos avaliadores que precisam muito do dinheiro, em um mês são R$ 5 mil. “ PROFESSORA HÁ 10 ANOS, CORRIGIU 1.050 REDAÇÕES

Das denúncias às mudanças. 

- O jornal O Globo revela que alunos responsáveis por erros crassos de ortografia e concordância receberam notas elevadas na última edição do Enem. Redações com erros como “rasoavel”, “enchergar” e “trousse” tiveram nota máxima. Em seguida, vêm à tona os casos de um aluno que inseriu uma receita de miojo no texto e obteve nota 560 (de um total de mil), e de outro que incluiu o hino do Palmeiras na redação e ganhou 500 pontos.

- Duas avaliadoras gaúchas rompem um pacto de sigilo e revelam bastidores da correção das provas. Em entrevista ao programa Gaúcha Repórter, da Rádio Gaúcha, uma delas contou que os avaliadores foram orientados a não serem rigorosos nas correções. No mesmo dia, outra professora disse a ZH que a orientação seria fazer “vista grossa” aos erros para “aprovar o maior número de pessoas”.

- O Ministério da Educação (MEC) nega a orientação para abrandar as correções e anuncia mudanças para o próximo exame. Entre elas, a submissão das redações com nota máxima a uma banca e a anulação de redações que contenham brincadeiras.



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