PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA
Não bastasse a constatação de que redações com erros crassos como trousse, enchergar e rasoavel tiraram nota 10 no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), uma professora entrevistada ontem na Rádio Gaúcha pelo jornalista Daniel Scola revelou que a orientação dada aos corretores de textos era pegar leve com os erros. Isso explica por que uma redação que reproduzia a receita da massa miojo não foi desclassificada, como também não tiveram zero os textos que não chegaram à metade das 15 linhas exigidas como tamanho mínimo.
A professora contou que, no treinamento, os avaliadores foram orientados a não dar zero para ninguém e a ignorar erros como a confusão entre “imigrante” e “emigrante”. Se o aluno zerar a redação, será excluído do processo de seleção e, segundo a professora, é isso que o Ministério da Educação quer evitar.
O MEC lavou as mãos. Em vez de detalhar qual é a orientação dada aos avaliadores, passou a tarefa para o Centro de Seleção e de Promoção de Eventos da Universidade de Brasília (Cespe/UnB), que aplicou a prova em conjunto com a Cesgranrio. O diretor-geral do Cespe, Paulo Portela, negou que a orientação tenha sido para evitar zero ou notas baixas.
Com a alegação de que não terá ninguém disponível para falar sobre o tema, a assessoria do ministro Aloizio Mercadante descartou a possibilidade de uma entrevista esclarecedora. Até decisão em contrário, o ministério só vai se manifestar por nota oficial.
A tolerância com o erro desestimula os professores que tentam ensinar seus alunos a escrever corretamente. Mais ainda, estimula os maus alunos a fazer corpo mole.
A correção inadequada das provas distorce os resultados do Enem e produz estatísticas enganosas. O pior é que, sendo a nota do Enem o critério de seleção para entrada na faculdade, a negligência na correção pode estar produzindo injustiças na hora de preencher as vagas.
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