EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

terça-feira, 22 de março de 2011

TU NÃO PRESTASTE ATENÇÃO NO QUE EU DISSE?

A atividade de ensino é uma das mais desafiadoras do século 21. Dentre as principais diferenças do ensino que tínhamos até o ano 2000, podemos citar o impacto das novas tecnologias, que abriram as portas da sala de aula para o mundo, e as mudanças no comportamento, estímulos, hábitos e no processo de aprendizagem.

Embora isso possa parecer trivial, é impressionante como nossos professores reforçam modelos mentais velhos e ultrapassados, que já não faziam sentido no mundo analógico (não digital), e que atualmente se configuram em um fator de desestímulo ao aprendizado e ao estudo.

Recentemente um grande amigo foi impactado por um desses modelos mentais. A turma de sua filha recebeu a tarefa de desenvolver um trabalho que deveria apresentar três conceitos: o que é comportamento, atitude e respeito. Na minha percepção, uma atividade excelente. O tema de casa foi feito com grande prazer e os dois conseguiram perceber as diferentes relações em sala de aula. Na segunda-feira, ela levou o trabalho e, para sua surpresa, a resposta foi: “Tu não prestaste atenção no que eu disse? A entrega é somente na sexta-feira!”

Lembrei da crônica de Moacyr Scliar, na qual um menino, de quatro anos, desafia os pais constantemente com o mantra: “Eu vou fugir de casa!”

Crianças não percebem claramente o que isso significa. Mas imaginem se os pais dissessem o mesmo para o filho. Qual seria sua reação? Talvez a mesma de uma criança de 12 anos quando um professor lhe diz: “Tu não prestaste atenção no que eu disse!”

O exemplo ilustra como alguns modelos mentais acabam superando a principal atividade e função que deveríamos exercer enquanto educadores.

Por que penalizar alguém por antecipar um trabalho? Uma resposta poderia ser: utilizamos nossos modelos mentais, independente da situação, percebendo na relação entre professores e alunos uma única dimensão – a relação de poder.

Precisamos mudar esse contexto. Lembrem da poesia de nosso saudoso Mario Quintana, que traduzia o ambiente escolar: “De cada lado da sala de aula, pelas janelas altas, o azul convida os meninos, as nuvens desenrolam-se, lentas, como quem vai inventando preguiçosamente uma história sem fim... Sem fim é a aula: e nada acontece, nada...

Bocejos e moscas. Se ao menos, pensa Lili, se ao menos um avião entrasse por uma janela e saísse pela outra!”

Na Coreia do Sul, um dos líderes em educação no mundo, os professores são chamados de nation builders, construtores da nação. Nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama convocou os jovens que querem fazer algo pelo país a se tornarem professores. Já aqui, as políticas públicas para a formação docente, a desvalorização da atividade e os baixos salários fazem com que nossos jovens não apenas se afastem da carreira, mas também percam o interesse pelo estudo e pelo desenvolvimento.

No momento em que vivemos, de elevada autoestima do país, de crescimento econômico e também de nossa infraestrutura, precisamos valorizar aqueles que têm o poder de transformar o Brasil. Os nossos professores.

GUSTAVO BORBA, DIRETOR DE GRADUAÇÃO DA UNISINOS, DOUTOR EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PELA UFRGS - ZERO HORA 22/03/2011

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