ZERO HORA 08 de julho de 2012 | N° 17124
ASSÉDIO AOS ESTUDANTES - HUMBERTO TREZZI
Cerco ao tráfico nas escolas
Operação Anjos da Lei prendeu 118 criminosos que vendiam drogas para adolescentes e crianças
Negro, magro, baixo e vestido com roupas rasgadas, o sujeito se aproxima do bar e fala algumas palavras com o rapaz loiro e forte. O rapaz olha para os lados, não vê perigo e retira do bolso dois pacotinhos com pedras de crack. Repassa ao outro e recebe, em troca, cédulas de dinheiro, logo embrulhado num saco plástico e colocado na calça pelo vendedor da droga. Tudo acontece ao lado de uma creche e junto a bebês de colo. O que o traficante não sabe é que o jovem negro, aparentemente um consumidor, é na verdade um policial civil do Departamento Estadual de Investigação do Narcotráfico (Denarc).
A ação do agente infiltrado ainda não está concluída. Só terminará quando todos os traficantes da boca de fumo forem identificados e filmados. Operações assim, próximas a escolas, creches e outros estabelecimentos destinados à infância e juventude, são cada vez mais prioridade do Denarc e resultaram na prisão de 118 traficantes em um ano. A meta é prevenir a ação de traficantes junto ao público mais vulnerável ao consumo de drogas, os jovens.
– É a tentativa de salvar as maçãs, antes que todas no cesto apodreçam – compara o delegado Heliomar Franco, diretor do Denarc.
É uma guerra constante, na qual o exército do crime conta com tropa muito mais numerosa. É que não existem policiais, civis ou militares, em número suficiente para colocar um por escola. A saída é agir com inteligência. Uma das técnicas é a infiltração. Agentes jovens, recém-saídos da Academia, se passam por consumidores e frequentam bocas de fumo próximas aos colégios. Outras táticas são a campana (vigilância) e a gravação, incluindo filmagem. De forma secundária, colaboram para formar provas com depoimentos de viciados ou seus familiares, detalhando como os traficantes aliciam clientes.
Flanelinhas presos durante operação
As primeiras prisões, 16, ocorreram em duas operações simultâneas em maio do ano passado em São Leopoldo e Sapucaia do Sul. A ação nas escolas não parou mais. Uma das maiores aconteceu junto ao Colégio Piratini, no bairro Mont’Serrat, em Porto Alegre. Mais de 20 jovens foram detidos enquanto fumavam maconha num terreno contíguo à escola. Acabaram liberados, após ouvir advertências. Já os três traficantes foram presos em flagrante. Dois deles flanelinhas. Nas proximidades do Instituto de Educação Flores da Cunha, no bairro Bom Fim, também é possível flagrar traficantes que se passam por flanelinhas. Adolescentes se juntam a eles para a compra e consomem a droga em frente aos criminosos, embaixo de árvores.
As quantias de drogas apreendidas não são grandes porque os vendedores de porta de escola jamais carregam grandes porções de drogas. Por vezes, nem trazem o produto junto, vão buscá-lo em algum buraco, quando acertada a venda. Agem mimetizados aos estudantes.
O delegado Mário Souza, do Denarc, calcula que traficantes agem em pelo menos 30% dos estabelecimentos de ensino da Região Metropolitana. Por isso o Denarc disponibiliza um Disque Denúncia (0800.518-518), gratuito. Foi para esse número que familiares de alunos da Escola Piratini ligaram. Cansados do assédio do tráfico aos estudantes, procuraram a polícia. O resultado foi a desarticulação de um grupo e a suspensão, temporária, do movimento de traficantes nas proximidades do colégio.
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