Jornal do Comércio de 14/05/2012
Ciência e formação ética para a inclusão social
Terezinha RiosMestre em Filosofia da Educação/Puc-SP
É hora de voltar a nossa questão originária: qual é o
papel da ciência na promoção da inclusão, do ponto de vista ético? A
ciência leva os seres humanos a conhecer de modo sistemático e
organizado a realidade. Instrumentaliza-os no sentido de ampliar,
construir e reconstruir incessantemente o mundo. Se assim consideramos,
somos levados a pensar no desafio que se coloca para os educadores de
levar o conhecimento científico à escola de maneira que ele possa trazer
a contribuição à inclusão. A escola é um espaço no qual se socializam
saberes e valores, com o objetivo exatamente de colaborar na construção
da cidadania. Para que isso se concretize efetivamente, há que se contar
com a presença da ética. A ética é um elemento importante na formação
do professor, mas não a vejo convertida em uma disciplina. Nas propostas
oficiais de organização curricular para o ensino básico, ela aparece
como um tema transversal, isto é, que “atravessa” o trabalho das
diversas disciplinas. Na formação de professores, o que deve haver é
espaço para o desenvolvimento de uma atitude crítica, espaço que pode – e
deve – ser encontrado em qualquer uma das disciplinas, ou mais
especificamente na filosofia da educação, na psicologia, na sociologia. O
que importa não é necessariamente a denominação, mas o objetivo a que
se propõe.
Se não se levar em conta a dimensão ética do trabalho
de todos os professores, efetivamente a escola falhará na socialização,
na partilha de saberes e valores. Na verdade é através da atitude mesmo
do professor, da forma como ele se relaciona com os seus alunos e traz a
eles o conhecimento, que se revelam os valores.
Graças ao
trabalho da ciência – e o dos educadores/pesquisadores na escola –
descobrem-se e aprimoram-se formas mais complexas e aprimoradas de
viver. A pergunta que nos desafia, eticamente, é a da utilização do
conhecimento científico para a criação de um mundo feliz, de uma vida
boa. Na verdade, a preocupação em dominar e transformar o mundo nem
sempre correspondeu à de compreendê-lo, de perguntar pelo sentido da
ação e da transformação. Trata-se, então, de mobilizar esforços para que
a ciência, articulada aos demais saberes, complementares de um
conhecimento ampliado e aprofundado dos seres humanos sobre si mesmos e
sobre o mundo, seja instrumento ao alcance de todos, não abrigue em seu
espaço a discriminação e o privilégio, mas faça valer os direitos que
ela mesma, enquanto instrumento de cultura, tem auxiliado a construir no
processo histórico da humanidade.
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