EDITORIAIS
O Brasil, que já ocupava um incômodo 53º lugar no ranking internacional da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), caiu para a 57ª colocação no comparativo entre 65 países analisados pelo Pisa, a mais abrangente avaliação do ensino global. Num gráfico, a realidade do aprendizado poderia ser representada por uma linha em queda.
Sobram explicações para a dificuldade de avanço da educação brasileira. Uma delas é que os esforços oficiais se intensificaram nos últimos anos, mas continuam faltando disciplina e persistência nas políticas públicas para a área educacional.
Em consequência dessas falhas, e mesmo com alguns ganhos registrados em matemática, poucos alunos na faixa dos 15 anos, avaliada pelo estudo da OCDE, conseguem entender as relações entre os números referidos no primeiro parágrafo deste texto, principalmente quando representadas graficamente. Poucos também têm condições de assimilar uma ideia simples como a transmitida pelo segundo parágrafo, devido às dificuldades no aprendizado do português. Os problemas se acentuam quando os jovens são solicitados a fazer relações entre um parágrafo e outro. Falta-lhes conhecimento para entender a conexão.
O fato novo e promissor é que, aos poucos, profissionais da educação, especialmente professores, começam a reagir contra as adversidades da profissão e empreendem ações individuais para elevar a qualidade do ensino. No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, por exemplo, essa disposição ficou evidenciada na excelência dos projetos inscritos no recente Prêmio RBS de Educação. A maioria deles comprovou, na prática, que recursos financeiros são importantes, mas nada supera a motivação, o engajamento, a criatividade, a descoberta dos caminhos para chegar direto ao aluno, motivando-o a se interessar pelos conteúdos e a aprender a usá-los em situações do cotidiano.
O ponto em comum entre os países situados no extremo oposto do Brasil na lista do Pisa – os seis primeiros são todos asiáticos – é justamente o fato de contarem com educadores fascinados pela missão de transmitir conhecimento e reconhecidos pela nobreza do papel que exercem perante a sociedade. Isso não significa apenas ganhar bem – embora os salários, nesses casos, sejam incomparavelmente superiores aos pagos no Brasil, que até hoje não conseguiu sequer garantir um piso de ganhos para a categoria.
Por que, então, o país que mobiliza uma explosão de criatividade no Carnaval, que atrai multidões aos estádios de futebol e consegue reunir elevadas somas em tempo recorde para abrigar a Copa do Mundo não consegue fazer o mesmo com a educação? Simplesmente pela incapacidade de transformar o ensino numa obsessão, empreendendo esforço máximo na corrida pelo conhecimento e pela inovação.
Políticas públicas adequadas, como as que investem no aluno, como o Ciência sem Fronteiras, e as que tentam resgatar a dignidade da figura do professor para assegurar a qualidade perdida com a massificação do ensino são fundamentais. As respostas mais eficazes, porém, tendem a vir mesmo é dos próprios educadores. São eles que, bem preparados, bem pagos e reconhecidos pela sociedade, poderão levar o país a transformar a educação numa prioridade de fato e os alunos a dominar disciplinas básicas, como português e matemática, para avançar nas demais.
O quinto editorial da série de análises dos fatos do ano destaca iniciativas isoladas para qualificar a educação no país.
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