EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

MAL NA PROVA

















ZERO HORA 04 de dezembro de 2013 | N° 17634


KAMILA ALMEIDA


Ranking expõe baixo desempenho do país


Classificação do programa Internacional de Avaliação de Alunos aponta Brasil em uma modesta 57ª posição, resultado de desempenhos não menos discretos – para não dizer fracos – em matemática (58º lugar), ciências (59º) e leitura (55º). Para os gaúchos, resta ao menos um consolo: entre os Estados brasileiros, o Rio Grande do Sul aparece na terceira posição, atrás apenas de Espírito Santo e Distrito Federal.

Ajulgar pelos dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) 2012, divulgados ontem, o avanço do Brasil em educação está mais para um engatinhar do que para um caminhar. Apesar de ter melhorado a nota em matemática desde 2003, saindo dos 356 pontos daquele ano e atingindo 391 pontos em 2012, o relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostrou que o Brasil ficou em 58º lugar neste quesito entre os 65 países ranqueados. O estudo analisa o desempenho de jovens de 15 anos, a partir da 7ª série. Na classificação geral, considerando as três áreas avaliadas, o Brasil ficou na 57ª posição.

Sobre o desempenho ruim, especialistas apontam conclusões preocupantes. Por exemplo: partindo do pressuposto de que a prova testa não apenas os conteúdos dominados em sala de aula, mas também de que forma o aprendizado prepara o estudante para a vida e para o mercado de trabalho, os jovens brasileiros estão entre os mais despreparados do mundo.

– A maioria não consegue ir além de resolver um problema básico. Em leitura, conseguem apenas localizar uma informação explícita em um texto que lhes é familiar. É preocupante, já que estamos falando de jovens de 15 anos que acumulam defasagens ao longo dos anos – diz a pedagoga Suely Nercessian Corradini, que estudou o Pisa em sua tese de doutorado em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). – Com estes resultados, estamos fazendo com que os nossos jovens sejam privados de um convívio social mais efetivo no futuro.

Avanço depende de investimento

Os resultados de 2012 mostram ainda que o Brasil ficou na média da América Latina. Superior à Colômbia e ao Peru, a pontuação do país foi muito inferior às de Chile e Uruguai.

Mas nem tudo é má notícia: o Brasil teve a melhor evolução no desempenho de matemática entre os 65 países analisados e reduziu a repetência escolar, ao mesmo tempo em que ampliou o número de estudantes na faixa etária de 15 anos. Para a gerente de projetos do Movimento Todos Pela Educação, Andrea Bergamaschi, a inclusão de 420 mil alunos nesta faixa etária teria sido um dos fatores responsáveis por puxar a média para baixo.

A desigualdade de saberes, bastante influenciada pela questão socioeconômica, também foi apresentada no relatório. Do total de estudantes que fizeram a prova, 26% vêm de famílias de baixa renda. Em países como Coreia e Cingapura, mais da metade dos estudantes nestas condições consegue ter aprendizado adequado, resultado que no Brasil é de 1,9%.

– Já foi um avanço. Colocar criança na escola é o primeiro passo para uma educação de qualidade. Mas boa parte desses jovens chega com uma defasagem que a escola não está conseguindo suprir – diz Andrea.

Mozart Ramos, do Conselho Nacional de Educação (CNE), lembra que os países que mais avançaram foram aqueles que investiram na formação e na valorização da carreira de professor:

– Só conseguiremos dar uma melhorada na magnitude que o país precisa quando tiver jovens querendo ser professores por aqui.



Nos melhores colocados, professor é valorizado


Quatro distritos da China – Xangai, Hong Kong, Taipé e Macau – estão no topo do ranking do estudo divulgado pela OCDE. A Finlândia, que aparecia em terceiro na classificação geral em 2009, caiu para 12º lugar, em razão do investimento intensivo em educação da China nos últimos anos.

As boas práticas adotadas nessas localidades incluem um processo de seleção para a contratação dos professores com foco na competência técnica. Também são levados em conta outros fatores importantes, como a gestão do tempo e o uso de táticas eficazes de ensino, que permitem constituir uma estrutura mais sólida de ensino. Avalia-se também a capacidade de gestão em sala de aula, como a habilidade de se comunicar e organizar o tempo.

Em geral, nesses países, os professores recebem altos salários e são valorizados na sociedade. Também fazem trabalho colaborativo: um professor assiste à aula do outro e as melhores práticas são socializadas.

Em regra, os países melhor colocados valorizam a educação, com investimento financeiro e formação de professores, que têm, no mínimo, mestrado. Na Finlândia, por exemplo, por meio de uma entrevista, o candidato é avaliado se tem habilidade e motivação para ensinar, além de saber se tem inteligência emocional e habilidade interpessoal.


Pontuação menor, mesma posição


O Rio Grande do Sul manteve a mesma posição de 2009, porém, com nota geral mais baixa – caiu de 424 para 420. A diretora de projetos do Movimento Todos pela Educação, Andrea Bergamaschi diz que o ranking dos Estados reflete os parâmetros para uma educação de qualidade. Unidades do Norte e Nordeste, regiões com a maior quantidade de professores sem nível superior, aparecem nas últimas posições.

– Professores sem qualificação adequada não possuem condições de desafiar o aluno – disse Andrea.


O QUE FALTA?

As iniciativas em educação que não foram suficientes para mudar a situação no Brasil

MAIS ALUNOS MATRICULADOS - Entre 2003 e 2012, o país expandiu a matrícula nas escolas primárias e secundárias, com crescimento de 65% em 2003 para 78% em 2012. No mesmo período, o Brasil foi o segundo país que mais incluiu estudantes na faixa etária de 15 anos: mais de 420 mil. Este é o segundo maior aumento, depois da Indonésia.

CLIMA MELHOR - O clima disciplinar nas escolas brasileiras foi melhor em 2012 do que em 2003, e as escolas foram capazes de atrair e reter professores qualificados com mais facilidade. Cerca de 85% dos alunos no Brasil informaram que se sentem felizes na escola, e cerca de 73% deles estão satisfeitos com as instituições de ensino. No entanto, apenas 39% acreditam que as condições são ideais para a sua escola. 

INVESTIMENTO - O Brasil gasta o equivalente a R$ 63 mil na educação por aluno entre as idades de seis e 15 anos – cerca de um terço das despesas médias dos países da OCDE (R$ 196,3 mil). 


O QUE DEU ERRADO?

 - Segundo Andrea Bergamaschi, do Todos pela Educação, o país tem de entender a necessidade de aprendizado do aluno para que consiga reformular um currículo, criando uma unidade nacional e, com isso, modificando a formação dos professores. - Enquanto a educação não for de qualidade, apenas a inclusão de mais estudantes no sistema não vai adiantar. Um percentual alto desses jovens (67,1%) só consegue atingir o nível 1 em matemática, por exemplo, em uma escala que vai de 1 a 6.

- Apesar de investir em projetos, não se faz um acompanhamento constante e qualitativo deles, o que faz com que se percam no meio do caminho.

- O investimento também não é suficiente. O relatório mostrou que em todos os níveis de despesas, os países que tiveram os melhores desempenhos distribuem recursos educativos de forma mais equitativa entre as escolas socioeconomicamente favorecidas e desfavorecidas.


O TESTE - Saiba mais sobre a avaliação realizada pela OCDE

 O que é a prova? - Chamada de Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), avalia a cada três anos estudantes na faixa dos 15 anos de países membros da OCDE e convidados, com o Brasil.

O que é avaliado? - Leitura, matemática e ciências. Em cada edição, o foco é em uma área. Neste ano, foi a matemática. A última vez que esta habilidade esteve em foco foi na avaliação de 2003.

Quem organiza e aplica a prova? - A prova é organizada pela OCDE e aplicada por órgãos nacionais. No Brasil, foi aplicada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação.

Como ela é feita? - A prova dura duas horas e é formada por questões de múltipla escolha e perguntas abertas. Além disso, os estudantes respondem a questionários sobre a família e aspectos ligados ao aprendizado.




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