ÂNGELA RAVAZZOLO
Em O Queijo e os Vermes, o italiano Carlo Ginzburg conta a história de um moleiro perseguido pela Inquisição no século 16. A partir de um personagem específico, o pesquisador reconstrói parte do cenário europeu da época. O livro é um bom exemplo do quanto um caso particular pode ampliar os horizontes de análise de um grupo ou mesmo de uma sociedade.
Há várias formas de se entender ou estudar um problema. E, quando se trata de educação, essas estratégias podem ser ainda mais difusas e divergentes. Mas a lupa colocada sobre a turma 11F na reportagem de Letícia Duarte vai além das estatísticas e das teorias: esmiúça o cotidiano de uma escola e de uma sala de aula com um detalhamento atento.
As lições escancaradas pela turma 11F reúnem características específicas daquele grupo, não há dúvida. Mas não se pode entender esse cenário como um retrato isolado, desconectado de um contexto maior. Os relatos (de pais e de professores) que chegaram à redação e à repórter nos últimos dias só reforçam aquilo que a história ensina: o “pequeno mundo” daquele grupo do Julinho integra, sim, um contexto social e histórico mais amplo, que, mesmo indiretamente, respalda erros e acertos da sala de aula.
Seria mais cômodo imaginar a reportagem como um relato pontual, mas também seria ingenuidade. Como nos mostra Ginzburg ao contar a história do moleiro Menocchio, um olhar micro, cuidadoso e rigoroso, nos aponta para o macro e nos desafia a pensar em profundidade.
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