ZERO HORA 14/10/2012
A QUARTA PERGUNTA:
Por que apenas 2% dos estudantes querem seguir a carreira de professor?
Realizado pela Fundação Carlos Chagas sob encomenda da Fundação Victor Civita, o estudo A Atratividade da Carreira Docente no Brasil foi concluído em dezembro de 2009 e revelou que, dos 1.501 alunos do Ensino Médio entrevistados em todas as regiões brasileiras, apenas 2% manifestavam o interesse de cursar Pedagogia ou alguma licenciatura – caminhos para a carreira de professor. Destes, praticamente oito em cada 10 são mulheres.
RAZÕES:
1. OFERTA DE SALÁRIOS reduzidos
A baixa remuneração dos professores é um dos temas mais recorrentes para explicar a pouca atratividade da carreira – e os números confirmam a avaliação. Comparações revelam que o salário dos educadores do Brasil está entre os mais baixos do mundo. Conforme uma das análises mais recentes, realizada este mês pela Metas – Avaliação e Proposição de Políticas Sociais a pedido do UOL Educação, um educador da rede pública recebe o equivalente a US$ 15,4 mil anuais nas séries finais do Ensino Fundamental. Comparando-se este valor com o de 37 países de um levantamento divulgado este ano pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o Brasil fica acima só da Indonésia (US$ 2,3 mil) e da Argentina (US$ 14,8 mil).
– Quando os estudantes anteveem o que os espera, especialmente em carreiras cujo campo de conhecimento abre portas para outras atividades mais rentáveis, como biologia, química ou física, decidem que não serão professores – afirma a professora da pós-graduação em Educação da Unisinos Maria Isabel da Cunha, especializada na área de pedagogia universitária.
Tema de casa - Para melhorar a qualidade da educação, é preciso investir mais na formação dos professores, mas também na capacidade dos candidatos. Para atrair os melhores estudantes, é preciso oferecer melhor remuneração – a fim de disputar seu interesse com outras carreiras.
2. MÁS CONDIÇÕES DE TRABALHO
Não é só a remuneração insuficiente que espanta os jovens brasileiros da cadeira de professor da Educação Básica. A infraestrutura deficiente das escolas e o ambiente conturbado atemorizam os possíveis candidatos a mestre.
– Há até uma questão de falta de segurança. Escolas públicas sempre enfrentaram situação de pobreza, mas não havia insegurança, ou a crise da autoridade do professor. É preciso ter muita preparação e compromisso para enfrentar – avalia a professora e pesquisadora Maria Isabel da Cunha.
A dificuldade para disciplinar os alunos é agravada pela impressão de que falta apoio. Pesquisadora-colaboradora da Fundação Carlos Chagas e coordenadora da pesquisa A Atratividade da Carreira Docente no Brasil, Bernardete Gatti revela que a visão dos estudantes no Ensino Médio é de que os professores ficam “abandonados”:
– Eles percebem que os professores não têm apoio pedagógico ou materiais didáticos adequados. A expressão que usam é que o professor fica “largado” na escola.
Tema de casa - É necessário melhorar o ambiente de trabalho dos educadores nas escolas públicas – oferecendo instalações adequadas, material didático farto, orientação pedagógica e acompanhamento mais próximo a fim de proporcionar apoio extra quando necessário.
3. BAIXO PRESTÍGIO SOCIAL DA PROFISSÃO
Os países com melhor desempenho nas avaliações internacionais, como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), implementado pela OCDE, dividem uma característica: professores selecionados entre a fatia de melhores alunos no equivalente à Educação Básica. Nem sempre estão entre os profissionais mais bem pagos do mercado dos seus países, mas entre os trabalhadores com maior reconhecimento social devido ao bom nível cultural e excelente formação.
Em países como Finlândia, Coreia do Sul e Japão, que figuram na parte de cima do ranking educacional, os professores são respeitados e admirados como profissionais de alto nível. No Brasil, o prestígio da profissão caiu nas últimas décadas e hoje se encontra restrito aos mestres do Ensino Superior. Isso faz com que mesmo quem cursa uma licenciatura evite seguir a carreira à qual estaria habilitado. Na USP, por exemplo, cerca de metade de estudantes de algumas licenciaturas rejeita trabalhar como educador.
Tema de casa - O Brasil deve estender o mesmo prestígio dedicado aos professores universitários aos educadores do nível básico, a exemplo do que ocorre em países com os melhores índices educacionais do mundo. Para isso, é preciso investir não só em salário, mas em formação para transformá-los em profissionais com status de especialista.
4. DESGASTE CAUSADO POR ACÚMULO DE OBRIGAÇÕES
Os possíveis candidatos a professor se desestimulam ao comparar a variedade de tarefas que deveriam cumprir na escola com as condições que enfrentariam para o trabalho. Conforme a professora da Unisinos Maria Isabel da Cunha, a democratização do acesso à escola gerou acúmulo de funções:
– Os professores foram assoberbados de funções que antes não eram deles. Hoje, se destaca a importância da sociabilização que se faz na escola, orientação sobre hábitos de higiene, respeito mútuo, questões que antes eram tratadas pela família.
Como os pais trabalham cada vez mais, boa parte da antiga educação doméstica foi transferida aos colégios – que ainda precisam se ocupar do ensino das matérias, manutenção da disciplina, planejamento de aulas, correção de avaliações etc. Isso exige dos professores um preparo e uma disponibilidade que frequentemente as condições de trabalho e o contracheque não compensam. Muitas vezes precisariam trabalhar em mais de uma escola para melhorar a renda. Como resultado, um número ainda maior de possíveis mestres resolve seguir outra profissão.
Tema de casa - Nos últimos anos, o trabalho de professor vem se tornando mais abrangente. Além de ensinar números e letras, muitas vezes os educadores assumem tarefas que antigamente cabiam às famílias. Para isso, precisam de orientação adequada dos sistemas de ensino, bom ambiente de trabalho e remuneração compatível.
COMPARE:
Algumas características da carreira de professor da rede pública no Brasil e em outros países.
Este blog mostrará as deficiências, o sucateamento, o descaso, a indisciplina, a ausência de autoridade, os baixos salários, o bullying, a insegurança e a violência que contaminam o ensino, a educação, a cultura, o civismo, a cidadania, a formação, a profissionalização e o futuro do jovem brasileiro.
EDUCAÇÃO MULTIDISCIPLINAR
Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidade, talento, potencial e vocação. A Educação é uma bússola que orienta o caminho, minimiza dúvidas, reduz preocupações e fortalece a capacidade de conquistar oportunidades e autonomia, exercer cidadania e civismo e propiciar convivência social com qualidade, dignidade e segurança. O sucesso depende da autoridade da direção, do valor dado ao professor, do comprometimento da comunidade escolar e das condições oferecidas pelos gestores.
domingo, 14 de outubro de 2012
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Sou estudante de licenciatura em Pedagogia, e escolhi esse curso com a intenção de mudar o que está acima citado, sei com clareza que essa não é uma missão só minha, e também sei que talvez nunca desfrute de uma Educação como ela tem que ser realizada. Enfim, sou grato a todos que fazem deste blog uma veículo de informação, mas que ele sirva de motivação para todos nós educadores, e que venha a conscientizar as famílias de que, para que a Educação seja o que ela realmente é - e não essa "coisa" que vemos todos os dias - precisamos todos, família, educadores, governo, enfim, todos darmos as mãos pela salvação da educação. Meu muito obrigado!
ResponderExcluirPensamento utópico de todo universitário (eu era assim também), mas tudo muda quando você se depara com a realidade: baixos salários, salas lotadas, alunos desinteressados e indisciplinados, pais ausentes, falta de infraestrutura, e pra piorar, no DF nos imporam o tal do ciclo, que trocando em miúdos, apenas faz do aluno um frequentador da escola, não um estudante. Professor quase faz pirueta para atrair sua atenção e explicar a matéria, boa parte deles ouvem música no celular ou conversam pelo zap, a outra parte está conversando alto e impedindo que uns 3 prestem atenção. Pais que jogam na escola a culpa e as obrigações de tudo, alunos que nos desrespeitam, pais que nos desrespeitam. Alunos não precisam aprender, não precisam fazer atividades ( e não fazem mesmo), no final serão promovidos mesmo, e assim terminam o ens. Médio sem saber ler bem, escrevem o próprio nome errado, não são capazes de interpretar uma pergunta um pouco mais elaborada. O professor precisa simplificar o conteúdo ao máximo, e nem assim eles acompanham. A sociedade está cada vez mais idiota, e somos obrigados e nadar a favor da corrente e contribuir com tudo isso. Na minha época de estudante, precisava estudar e mostrar que aprendi o mínimo para ser considerada apta para a etapa seguinte, hoje eles são automaticamente.
ResponderExcluirAcredito que a escola pública seja boicotada pelo poder público. Com essa máscara de educação democrática, ciclos, educação integral, promoção automática, notas de graça, e muitos outros absurdos, tiram dos alunos as condições mínimas para se conseguir uma boa colocação. E não me venham com essa hipocrisia que a educação não deve pensar em competição! A vida é uma competição! Competimos por vaga na faculdade, nota no ENEM, vagas por emprego, vence o mais estudado! Que condições tem um jovem que terminou o ens médio sem saber interpretar? Que faculdade o aceitará? Que processo seletivo ele vence? Nenhum!! Para eles sobram apenas as sobras. E como sempre foi, e não por acaso, o filho do rico continua rico, o do pobre continua pobre.
ResponderExcluirSou professora de ciências e biologia no DF, recebo pouco ( maior do Brasil, eu sei, mas aqui o custo de vida é bem maior), comecei empolgada e no 3° ano de profissão já percebi que um sistema maior nos engole, e que não adianta lutar, as coisas só pioram, e não é culpa sua, não é dos alunos. Hoje faço outra graduação, como a maioria dos professores, na tentativa de mudar de profissão. Envelheci 15 anos em 6, vejo meus colegas adoecendo, tendo crises depressivas, de pânico, já vi professor chorar em sala de aula, já vi aluna minha agredindo a mãe no pátio da escola, já vi aluno pulando o portão enquanto mandava o diretor ir tomar "naquele lugar" , já vi aluno me chamar de vadia enquanto a mãe o defendia, já vi alunos jogarem as mesas para o alto só para que o professor não desse aula, já vi aluno jogar uma bomba na minha sala e após isso o delegado dar um tapinha nas costas e o liberar , já vi aluno vomitar no capô do carro de professor, já vi aluno risar todo o carro do professor com uma chave, furar o pneu, já vi supervisor mandar professor "enfiar nota goela abaixo" do aluno para que ele não fosse retido, para que ele não ficasse na escola no ano seguinte dando mais trabalho, já vi diretor alterando diários dos professores para aprovar alunos que o ameaçaram, já vi professor mudar de escola por ameaça de aluno, já vi mãe deixando aluno na escola no horário contrário dizendo que não tinha como ficar com ele, já vi aluno desejando a morte de professor só para que ele saísse maos cedo da escola... vi muito mais! Todas as profissões tem seus estresses, mas tem dias bons e dias ruins, agora imagine ter estresse todos os dias, 5 horas por dia, 200 dias no ano, 25 anos... por isso surtamos.! Adolescente por si só é chato, imagine 40 confinados numa sala. Nunca conheci 1 professor que batesse no peito e falasse " estudei pra isso, tô aqui pq gosto e não largo por nada!", a maioria quer mudar.
Natalia.